quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Festa de Santa Tatiana em Moscou

O Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa celebrou no último dia 25 de janeiro a Festa de Santa Tatiana, Mártir, segundo o calendário juliano, na igreja a ela dedicada junto à Universidade Estatal de Moscou.

Santa Tatiana é a padroeira dos estudantes na Rússia. No país celebra-se em sua memória o Dia do Estudante.

Ícone de Santa Tatiana
Litania da Paz

Pequena Entrada
Incensação

Solenidade da Conversão de São Paulo em Blumenau

O Bispo Diocesano de Blumenau, Dom Rafael Biernaski, celebrou no último dia 25 de janeiro na Catedral Diocesana de São Paulo Apóstolo a Santa Missa por ocasião da Solenidade da Conversão de São Paulo, Titular da Catedral e Padroeiro da Diocese.

Procissão de entrada

Ritos iniciais
Liturgia da Palavra
Bênção com o Livro dos Evangelhos

Fotos das Vésperas da Conversão de São Paulo em Roma

No último dia 25 de janeiro o Papa Francisco presidiu na Basílica de São Paulo fora dos Muros as Vésperas da Festa da Conversão de São Paulo (que na Basílica tem status de Solenidade, por ser o padroeiro), por ocasião da conclusão da 51ª Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Ján Dubina. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Para ler a homilia do Papa, clique aqui.

O Papa saúda os representantes de outras confissões cristãs 


Procissão de entrada
 

Homilia do Papa: Vésperas da Festa da Conversão de São Paulo

Celebração das Vésperas na Solenidade da Conversão de São Paulo Apóstolo
Homilia do Papa Francisco
Basílica de São Paulo fora dos Muros
Quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A leitura tirada do livro do Êxodo fala-nos de Moisés e de Maria, irmão e irmã, que elevam um hino de louvor a Deus nas margens do Mar Vermelho, juntamente com a comunidade que Deus libertou do Egito. Eles cantam a sua alegria porque naquelas águas Deus os salvou de um inimigo que se propunha destruí-los. Precedentemente, o próprio Moisés fora salvo das águas e a sua irmã tinha assistido ao acontecimento. Com efeito, o Faraó deu esta ordem: «Atirareis ao Nilo todos os meninos que nascerem» (Ex 1,22). Contudo, tendo encontrado o menino dentro do cesto, no meio dos juncos do Nilo, a filha do Faraó deu-lhe o nome de Moisés, pois dizia: «Salvei-o das águas!» (Ex 2,10). Assim, a história da salvação de Moisés das águas prefigura uma salvação maior, a de todo o povo, que Deus teria feito passar através das águas do Mar Vermelho, derramando-as depois sobre os inimigos.
Muitos Padres antigos entenderam esta passagem libertadora como uma imagem do Batismo. Os nossos pecados foram afogados por Deus nas águas vivas do Batismo. Muito mais que o Egito, o pecado ameaçava tornar-nos escravos para sempre, mas a força do amor divino aniquilou-o. Santo Agostinho (Sermão 223e) interpreta o Mar Vermelho, onde Israel viu a salvação de Deus, como sinal antecipador do sangue de Cristo crucificado, fonte de salvação. Todos nós, cristãos, passamos através das águas do Batismo, e a graça do Sacramento destruiu os nossos inimigos, o pecado e a morte. Saindo das águas, alcançamos a liberdade dos filhos; emergimos como povo, como comunidade de irmãos e irmãs salvos, como «concidadãos dos santos e membros da família de Deus» (Ef 2,19). Compartilhamos a experiência fundamental: a graça de Deus, a sua misericórdia poderosa quando nos salvou. E precisamente porque Deus alcançou esta vitória em nós, juntos podemos cantar os seus louvores.
Além disso, na vida experimentamos a ternura de Deus, que no nosso dia a dia nos salva amorosamente do pecado, do medo e da angústia. Estas experiências preciosas devem ser conservadas no coração e na memória. Mas, assim como aconteceu para Moisés, as experiências individuais ligam-se a uma história ainda maior, a da salvação do povo de Deus. Vemo-lo no cântico entoado pelos israelitas. Ele começa com uma narração individual: «O Senhor é a minha força e o meu cântico; Ele foi a minha salvação» (Ex 15,2). Mas em seguida torna-se narração de salvação de todo o povo: «Conduzistes com bondade esse povo, que resgatastes» (v. 13). Quem eleva este cântico dá-se conta de não estar sozinho nas margens do Mar Vermelho, mas circundado por irmãos e irmãs que receberam a mesma graça e proclamam o mesmo louvor.
Também São Paulo, cuja conversão celebramos hoje, fez a poderosa experiência da graça, que o chamou a tornar-se, de perseguidor, apóstolo de Cristo. A graça de Deus impeliu também ele a procurar a comunhão com outros cristãos, imediatamente, primeiro em Damasco e depois em Jerusalém (cf. At 9,19.26-27). Esta é a nossa experiência de crentes. Na medida em que crescemos na vida espiritual, compreendemos cada vez melhor que a graça nos alcança juntamente com os outros, e que ela deve ser partilhada com os demais. Assim, quando elevo a minha ação de graças a Deus por aquilo que Ele realizou em mim, descubro que não canto sozinho, porque outros irmãos e irmãs entoam o meu próprio cântico de louvor.
As várias Confissões cristãs viveram esta experiência. No último século finalmente entendemos que nos encontramos juntos nas margens do Mar Vermelho. No Batismo fomos salvos, e o cântico grato de louvor, que outros irmãos e irmãs entoam, pertence-nos, porque é também o nosso. Quando dizemos que reconhecemos o Batismo dos cristãos de outras tradições, confessamos que também eles receberam o perdão do Senhor e a sua graça que age neles. E aceitamos o seu culto como autêntica expressão de louvor por aquilo que Deus realiza. Então, desejamos rezar juntos, unindo ainda mais as nossas vozes. E até quando as divergências nos separam, reconhecemos que pertencemos ao povo dos crentes, à mesma família de irmãos e irmãs amados pelo único Pai.
Depois da libertação, o povo eleito empreendeu uma viagem longa e difícil através do deserto, vacilando muitas vezes, mas encontrando a força na recordação da obra salvífica de Deus e na sua presença sempre próxima. Inclusive os cristãos de hoje encontram muitas dificuldades no caminho, circundados por tantos desertos espirituais que tornam áridas a esperança e a alegria. Ao longo do caminho existem também riscos graves, que põem em perigo a vida: quantos irmãos, hoje, padecem perseguições por causa do nome de Jesus! Quando o seu sangue é derramado, não obstante pertençam a diferentes confissões, juntos tornam-se testemunhas da fé, mártires, unidos no vínculo da graça batismal. Juntamente com os amigos de outras tradições religiosas, ainda hoje os cristãos enfrentam desafios que deturpam a dignidade humana: fogem de situações de conflito e de miséria; são vítimas do tráfico de seres humanos e de outras escravidões modernas; sofrem por causa das dificuldades e da fome, num mundo cada vez mais rico de meios e pobre de amor, onde continuam a aumentar as desigualdades. Contudo, como os israelitas do Êxodo, os cristãos são chamados a conservar juntos a recordação daquilo que Deus realizou neles. Reavivando esta memória, podemos sustentar-nos uns aos outros e, armados unicamente de Jesus e da força dócil do seu Evangelho, enfrentar cada desafio com coragem e esperança.
Irmãos e irmãs, com o coração cheio de alegria por termos, hoje aqui, entoado juntos um hino de louvor ao Pai, por meio de Cristo nosso Salvador, e no Espírito que dá vida, desejo dirigir as minhas carinhosas saudações a vós, a todos vós: a Sua Eminência o Metropolita Gennadios, Representante do Patriarcado Ecumênico; a Sua Graça Bernard Ntahoturi, Representante pessoal em Roma do Arcebispo de Canterbury; e a todos os representantes e membros das várias Confissões cristãs aqui reunidos. É-me grato saudar a Delegação ecumênica da Finlândia, com a qual tive o prazer de me encontrar hoje de manhã. Saúdo também os estudantes do Ecumenical Institute of Bossey, em visita a Roma para aprofundar o conhecimento da Igreja católica, bem como os jovens ortodoxos e ortodoxos orientais que estudam aqui graças à generosidade do Comité de colaboração cultural com as Igrejas ortodoxas, que trabalha no Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Juntos demos graças a Deus por aquilo que levou a cabo nas nossas vidas e nas nossas comunidades. Apresentemos-lhe hoje as necessidades, nossas e do mundo, convictos de que, no seu amor fiel, Ele continuará a salvar e a acompanhar o seu povo a caminho.


Fonte: Santa Sé

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Carta Circular Paschalis Sollemnitatis

Neste mês de janeiro a Carta Circular Paschalis Sollemnitatis (A solenidade pascal) sobre a preparação e a celebração das festas pascais completou 30 anos, sendo publicada pela Congregação para o Culto Divino no dia 16 de janeiro de 1988.

Este documento é um material indispensável para os tempos da Quaresma, Semana Santa e Páscoa e surgiu justamente para coibir alguns abusos nestas celebrações.

As Edições CNBB publicaram uma nova edição deste importante documento, que pode ser adquirido aqui. Embora recomendemos vivamente aos nossos leitores a aquisição desta nova edição, publicamos aqui igualmente o texto completo do documento, como fora publicado no site Presbíteros em 2013:

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO
CARTA CIRCULAR PASCHALIS SOLLEMNITATIS:
A PREPARAÇÃO E CELEBRAÇÃO DAS FESTAS PASCAIS
16 de janeiro de 1988

PROÊMIO
1. O Ordo da solenidade pascal e de toda a Semana Santa, renovado pela primeira vez por Pio XII, em 1951 e 1955, em geral foi acolhido favoravelmente por todas as Igrejas de Rito Romano [1].
O Concílio Vaticano II, principalmente na Constituição sobre a Sagrada Liturgia, pôs em evidência muitas vezes, segundo a tradição, a centralidade do Mistério Pascal de Cristo, recordando como dele deriva a força de todos os sacramentos e dos sacramentais [2].
2. Assim como a semana tem o seu início e o seu ponto culminante na celebração do domingo, marcado pela característica pascal, assim também o ápice de todo o ano litúrgico resplandece na celebração do sagrado tríduo pascal da paixão e ressurreição do Senhor [3], preparada na Quaresma e estendida com júbilo por todo o ciclo dos cinquenta dias sucessivos.
3. Em muitas partes do mundo os fiéis, juntamente com os seus pastores, têm em grande consideração estes ritos, nos quais participam com verdadeiro fruto espiritual. Ao contrário, em algumas regiões, com o passar do tempo, começou a esmorecer aquele fervor de devoção, com que foi acolhida, no início, a renovada vigília pascal. Em alguns lugares foi ignorada a noção mesma da vigília, a ponto de ser considerada como uma simples missa vespertina, celebrada como as missas do domingo antecipadas para as vésperas do sábado.
Noutros lugares não são respeitados, de modo devido, os tempos do tríduo sagrado. Além disso, as devoções e os pios exercícios do povo cristão são colocados frequentemente em horários mais cômodos, tanto que os fiéis neles participam em maior número do que nas celebrações litúrgicas.
Sem dúvida, tais dificuldades provêm sobretudo de uma formação não ainda suficiente, do clero e dos fiéis, acerca do mistério pascal, como centro do ano litúrgico e da vida cristã [4].
4. Hoje, em várias regiões o tempo das férias coincide com o período da Semana Santa. Esta coincidência, unida às dificuldades próprias da sociedade contemporânea, constitui um obstáculo à participação dos fiéis nas celebrações pascais.
5. Tendo isto em consideração, pareceu oportuno a este Dicastério, levando em conta a experiência adquirida, recordar alguns pontos doutrinais e pastorais e também diversas normas estabelecidas a respeito da Semana Santa. Por outro lado, tudo o que nos livros se refere ao tempo da Quaresma, da Semana Santa, do tríduo pascal e do tempo da Páscoa, conserva o seu valor, a não ser que neste documento seja interpretado de maneira diversa. As normas mencionadas são agora aqui de novo propostas com vigor, com a finalidade de fazer celebrar do melhor modo os grandes mistérios da nossa salvação e para facilitar a frutuosa participação de todos os fiéis [5].

I. O TEMPO DA QUARESMA
6. “O anual caminho de penitência da Quaresma é o tempo de graça, durante o qual se sobe ao monte santo da Páscoa. Com efeito, a Quaresma, pela sua dúplice característica, reúne catecúmenos e fiéis na celebração do mistério pascal. Os catecúmenos, quer por meio da ‘eleição’ e dos ‘escrutínios’ quer mediante a catequese, são admitidos aos sacramentos da iniciação cristã; os fiéis, ao contrário, por meio da escuta mais freqüente da Palavra de Deus e de uma oração mais intensa são preparados, com a Penitência, para renovar as promessas do Batismo” [6].

a) Quaresma e Iniciação Cristã
7. Toda a iniciação cristã tem uma índole pascal, sendo a primeira participação sacramental na morte e ressurreição de Cristo. Por esta razão, a Quaresma deve alcançar o seu pleno vigor como tempo de purificação e de iluminação, especialmente mediante os “escrutínios” e as “entregas” (o símbolo da fé e a oração do Senhor); a própria vigília pascal deve ser considerada como o tempo mais adaptado para celebrar os sacramentos da iniciação [7].
8. Também as comunidades eclesiais, que não têm catecúmenos, não deixem de orar por aqueles que noutros lugares, na próxima vigília pascal, receberão os sacramentos da iniciação cristã. Os pastores, por sua vez, expliquem aos fiéis a importância da profissão de fé batismal, em ordem ao crescimento da sua vida espiritual. Estes serão convidados a renovar tal profissão de fé, “no final do caminho penitencial da Quaresma” [8].
9. Na Quaresma, cuide-se de ministrar a catequese aos adultos que, batizados quando crianças, não a receberam e, portanto, não foram admitidos aos sacramentos da Confirmação e da Eucaristia. Neste mesmo período sejam realizadas as celebrações penitenciais, a fim de os preparar para o sacramento da Reconciliação [9].
10. O tempo da Quaresma é, além disso, o tempo próprio para celebrar os ritos penitenciais correspondentes aos escrutínios para as crianças ainda não batizadas, que atingiram a idade adequada à instrução catequética, e para as crianças há tempo batizadas, antes de serem admitidas pela primeira vez ao sacramento da Penitência [10].
O bispo promova a formação dos catecúmenos tanto adultos como crianças e, segundo as circunstâncias, presida aos ritos prescritos, com a participação assídua por parte da comunidade local [11].

b) As celebrações do tempo quaresmal
11. Os domingos da Quaresma têm sempre a precedência também nas festas do Senhor e em todas as solenidades. As solenidades, que coincidem com estes domingos, são antecipadas para o sábado [12]. Por sua vez, os dias feriais da Quaresma têm a precedência nas memórias obrigatórias [13].
12. Sobretudo nas homilias do domingo seja ministrada a instrução catequética sobre o mistério pascal e sobre os sacramentos, com explicação mais cuidadosa dos textos do Lecionário, sobretudo as perícopes do Evangelho, que ilustram os vários aspectos do Batismo e dos outros sacramentos e também a misericórdia de Deus.
13. Os pastores expliquem a Palavra de Deus de modo mais freqüente e mais amplo nas homilias dos dias feriais, nas celebrações da Palavra, nas celebrações penitenciais[14], em particulares pregações, durante a visita às famílias ou a grupos de famílias para a bênção. Os fiéis participem com freqüência nas missas feriais e, quando não for possível, sejam convidados a ler pelo menos os textos das leituras correspondentes, em família ou em particular.
14. “O tempo da Quaresma conserva a sua índole penitencial” [15]. Na catequese aos fiéis seja inculcada, juntamente com as consequências sociais do pecado, a natureza genuína da penitência, com a qual se detesta o pecado enquanto ofensa a Deus [16].
A virtude e a prática da penitência permanecem partes necessárias da preparação pascal: da conversão do coração deve brotar a prática externa da penitência, quer para os cristãos individualmente quer para a comunidade inteira; prática penitencial que, embora adaptada às circunstâncias e condições próprias do nosso tempo, deve porém estar sempre impregnada do espírito evangélico de penitência e orientada para o bem dos irmãos.
Não se esqueça a parte da Igreja na ação penitencial e seja solicitada a oração pelos pecadores, inserindo-a com mais frequência na oração universal [17].
15. Recomende-se aos fiéis mais intensa e frutuosa participação na liturgia quaresmal e nas celebrações penitenciais. Seja-lhes recomendada sobretudo a frequência, neste tempo, ao sacramento da Penitência, segundo a lei e as tradições da Igreja, para poderem participar nos mistérios pascais com espírito purificado. É muito oportuno no tempo da Quaresma celebrar o sacramento da Penitência segundo o rito para a reconciliação de mais penitentes, com a confissão e absolvição individual, como vem descrito no Ritual Romano [18].
Por sua vez, os pastores estejam mais disponíveis para o ministério da Reconciliação e, ampliando os horários para a confissão individual, facilitem o acesso a este sacramento.
16. O caminho de penitência quaresmal em todos os seus aspectos seja orientado para pôr em mais evidência a vida da Igreja local, e para lhe favorecer o progresso. Por isto se recomenda muito conservar e favorecer a forma tradicional de assembleia da Igreja local, segundo o modelo das “estações” romanas. Estas assembleias de fiéis poderão reunir-se, especialmente sob a presidência do pastor da diocese, junto dos túmulos dos santos ou nas principais igrejas e santuários da cidade, ou nos lugares de peregrinação mais frequentados na diocese [19].
17. “Na Quaresma não se colocam flores no altar e o som dos instrumentos é permitido só para sustentar o canto” [20], no respeito da índole penitencial deste tempo.
18. De igual modo, omite-se o Aleluia em todas as celebrações, desde o início da Quaresma até a Vigília pascal, também nas solenidades e nas festas [21].
19. Sobretudo nas celebrações eucarísticas, mas também nos pios exercícios, sejam escolhidos cânticos adaptados a este tempo e correspondentes, o mais possível, aos textos litúrgicos.
20. Sejam favorecidos e impregnados de espírito litúrgico os pios exercícios de acordo com o tempo quaresmal, como a Via-sacra, para com mais facilidade conduzir os ânimos dos fiéis à celebração do mistério pascal de Cristo.

sábado, 27 de janeiro de 2018

Homilia: IV Domingo do Tempo Comum - Ano B

São João Crisóstomo
Sermão 25 sobre São Mateus
Ensinava como quem tem autoridade

Jesus chegou a Cafarnaum e no sábado seguinte foi à sinagoga para ensinar; e eles ficaram assombrados com o seu ensinamento. Era muito lógico que a multidão se sentisse oprimida pelo peso de suas palavras e desfalecesse frente a sublimidade de seus preceitos. Mas não. Era tal o poder de convicção do mestre, que não só convenceu a muitos de seus ouvintes, causando-lhes uma profunda admiração, mas só pelo prazer de escutar-lhe, muitos não queriam afastar-se dele, mesmo depois de terminado o discurso. De fato, quando desceu do monte, seus ouvintes não se dispersaram, mas toda a assembleia lhe seguiu: tanto amor a sua doutrina soube infundir-lhes! E o que mais admiravam era sua autoridade.

Porque Cristo não falava apoiando as suas afirmações na autoridade de outro, como faziam os profetas ou o próprio Moisés, mas deixando sempre claro que era nele que residia a autoridade. Na verdade, depois de ter apresentado testemunhos legais, costumava acrescentar: Porém, eu vos digo. E quando comparou o dia do juízo, apresentava-se a si mesmo como juiz que devia decretar o prêmio ou o castigo. Um motivo a mais para que os ouvintes se tivessem perturbado.

Pois se os letrados, que lhe tinham visto demonstrar com obras o seu poder, tentaram lhe apedrejar e o precipitaram fora da cidade, não era lógico que quando demonstrava somente palavras como prova de sua autoridade, os ouvintes se escandalizassem, ainda mais ocorrendo isto ao começo de sua pregação, antes de ter realizado uma demonstração de seu poder? Contudo, nada disso ocorreu. O fato é que, quando o homem é bom e honrado, facilmente se deixa persuadir pelos argumentos da verdade. Justamente por isso os letrados - apesar de que os milagres de Jesus apregoavam o seu poder - se escandalizariam, enquanto que o povo, que somente tinha escutado suas palavras, o obedecia e lhe seguia. É o que o evangelista dava a entender quando dizia: Muitas pessoas lhe seguiram. E não pessoas das fileiras dos príncipes ou dos letrados, mas gente sem malícia e de coração sincero.

No percurso de todo o Evangelho verás que são estes os que aderem ao Senhor. Porque, quando falava, o escutavam em silêncio, sem interrompê-lo nem interpelar ao orador, sem tentá-lo nem espreitar a ocasião, como faziam os fariseus; são finalmente os que, uma vez terminado o discurso, o seguem cheios de admiração.

Mas considera, peço-te, a prudência do Senhor e como sabe variar segundo a utilidade dos ouvintes, passando dos milagres aos discursos e destes novamente aos milagres. Realmente, antes de subir ao monte curou a muitos, para aplainar o caminho ao que se dispunha a dizer. E após ter terminado este extenso discurso, novamente volta aos milagres, confirmando os ditos com os fatos. E uma vez que ensinava como quem tem autoridade, para que deste modo de ensinar não soasse arrogância ou ostentação, faz o mesmo com as obras e, como quem tem autoridade, cura as enfermidades. Desta forma, não lhes dá ocasião de perturbarem-se ao ouvir falar com autoridade, já que com autoridade também realiza os milagres.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 376-377. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São Jerônimo para este domingo, clique aqui.

Catequese do Papa: A viagem ao Chile e ao Peru

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Bom dia, queridos irmãos e irmãs!
Esta audiência realiza-se em dois lugares ligados entre si: vós, aqui na praça, e um grupo de crianças um pouco doentes, que estão na Sala. Elas ver-vos-ão e vós as vereis: e assim estamos unidos. Saudemos as crianças que estão na Sala: mas seria melhor que não apanhassem frio, e é por isso que estão lá.
Regressei há dois dias da Viagem Apostólica ao Chile e ao Peru. Um aplauso ao Chile e ao Peru! Dois povos bons, bons... Dou graças ao Senhor porque tudo correu bem: pude encontrar-me com o Povo de Deus a caminho naquelas terras - inclusive com aqueles que não estão a caminho, que estão um pouco parados... mas são boa gente - e encorajar o desenvolvimento social daqueles países. Renovo a minha gratidão às Autoridades civis e aos irmãos Bispos, que me acolheram com muita atenção e generosidade; assim como a todos os colaboradores e voluntários. Pensai que em ambos os países havia mais de vinte mil voluntários: mais de vinte mil no Chile e vinte mil no Peru. Boa gente: na maioria jovens.
A minha chegada ao Chile foi precedida por diversas manifestações de protesto, por vários motivos, como lestes nos jornais. E isto tornou ainda mais atual e vivo o lema da minha visita: «Mi paz os doy - Dou-vos a minha paz». São as palavras de Jesus, dirigidas aos discípulos, que repetimos em cada Missa: o dom da paz, que somente Jesus morto e ressuscitado pode oferecer a quantos confiam n’Ele. Não só cada um de nós tem necessidade da paz, mas também o mundo de hoje, nesta terceira guerra mundial aos pedaços... Por favor, oremos pela paz!
No encontro com as Autoridades políticas e civis do país encorajei o caminho da democracia chilena, como espaço de encontro solidário e capaz de incluir as diversidades; para esta finalidade indiquei como método o caminho da escuta: em particular, a escuta dos pobres, dos jovens e dos idosos, dos imigrantes e também a escuta da terra.
Na primeira Eucaristia, celebrada pela paz e a justiça, ressoaram as Bem-Aventuranças, especialmente: «Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5,9). Uma Bem-Aventurança que deve ser testemunhada com o estilo da proximidade, da vizinhança e da partilha, fortalecendo assim, com a graça de Cristo, o tecido da comunidade eclesial e da sociedade inteira.
Neste estilo de proximidade contam mais as ações que as palavras, e um gesto importante que pude realizar foi visitar a prisão feminina de Santiago: o rosto daquelas mulheres, muitas das quais jovens mães, com os seus filhinhos ao colo, apesar de tudo exprimiam muita esperança. Encorajei-as a exigir, de si mesmas e das instituições, um sério caminho de preparação para a reinserção, como horizonte que dá sentido à pena quotidiana. Não podemos pensar num cárcere, em qualquer prisão, sem esta dimensão da reinserção, porque se não houver esta esperança da reinserção social, o cárcere será uma tortura infinita. Ao contrário, quando nos esforçamos para reinserir - até os condenados à prisão perpétua podem voltar a inserir-se - mediante o trabalho da prisão a favor da sociedade, abre-se um diálogo. Mas um cárcere deve ter sempre esta dimensão da reinserção, sempre.
Com os sacerdotes e os consagrados, e com os Bispos do Chile, vivi dois encontros muito intensos, que se tornaram ainda mais fecundos pelo sofrimento partilhado por causa de algumas feridas que afligem a Igreja naquele país. Em particular, confirmei os meus irmãos na rejeição de qualquer cumplicidade com os abusos sexuais contra menores e, ao mesmo tempo, na confiança em Deus que, através desta dura prova, purifica e renova os seus ministros.
As outras duas Missas no Chile foram celebradas, uma no sul e a outra no norte. No sul, na Araucanía, terra onde vivem os índios Mapuches, transformou em alegria os dramas e as dificuldades deste povo, lançando um apelo a favor de uma paz que seja harmonia das diversidades e da rejeição de toda a violência. No norte, em Iquique, entre o oceano e o deserto, foi um hino ao encontro entre os povos, que se exprime de modo singular na religiosidade popular.
Os encontros com os jovens e com a Universidade Católica do Chile responderam ao desafio crucial de conferir um sentido relevante à vida das novas gerações. Aos jovens deixei a palavra programática de Santo Alberto Hurtado: “Que faria Cristo no meu lugar?”. E à Universidade propus um modelo de formação integral, que traduz a identidade católica em capacidade de participar na construção de sociedades unidas e plurais, onde os conflitos não são ocultados, mas geridos no diálogo. Há sempre conflitos: até em casa; existem sempre. Mas, tratar mal os conflitos é pior ainda. Não se devem esconder os conflitos debaixo da cama: os conflitos que vêm à tona devem ser enfrentados e resolvidos mediante o diálogo. Pensai nos pequenos conflitos que certamente tendes em casa: não deveis escondê-los, mas enfrentá-los. Procurai o momento e falai entre vós: o conflito resolve-se assim, com o diálogo.
No Peru, o lema da Visita foi: “Unidos por la esperanza - Unidos pela esperança”. Unidos não numa uniformidade estéril, todos iguais: isto não é união; mas em toda a riqueza das diferenças que herdamos da história e da cultura. Testemunhou-o emblematicamente o encontro com os povos da Amazônia peruana, que deu também início ao itinerário do Sínodo pan-amazônico, convocado para o mês de outubro de 2019, assim como o testemunharam os momentos vividos com a população de Puerto Maldonado e com as crianças da Casa de acolhimento “O Principezinho”. Juntos, dissemos “não” à colonização econômica e à colonização ideológica.
Falando às Autoridades políticas e civis do Peru, apreciei o patrimônio ambiental, cultural e espiritual daquele país, e pus em evidência as duas realidades que mais gravemente o ameaçam: a degradação ecológico-social e a corrupção. Não sei se aqui ouvistes falar de corrupção... não sei... Ela não existe só naqueles lados: também aqui, e é mais perigosa que a gripe! Mistura-se e arruína os corações. A corrupção arruína os corações. Por favor, não à corrupção! E salientei que ninguém está isento da responsabilidade diante destes dois flagelos, e que o compromisso para os contrastar diz respeito a todos.
A primeira Missa pública no Peru, celebrei-a à beira-mar, nos arredores da cidade de Trujillo, onde a tempestade chamada “Niño costeiro” no ano passado atingiu duramente a população. Por isso, encorajei-a a reagir a essa e também a outras tempestades, como a criminalidade, a falta de educação, de trabalho e de alojamento seguro. Em Trujillo encontrei-me também com os sacerdotes e os consagrados do norte do Peru, partilhando com eles a alegria da chamada e da missão, e a responsabilidade da comunhão na Igreja. Exortei-os a ser ricos de memória e fiéis às suas raízes. E entre estas raízes há a devoção popular à Virgem Maria. Ainda em Trujillo teve lugar a celebração mariana durante a qual coroei a Virgem da Porta, proclamando-a “Mãe da Misericórdia e da Esperança”.
O último dia da viagem, domingo passado, transcorri-o em Lima, com um forte significado espiritual e eclesial. No Santuário mais célebre do Peru, onde se venera a pintura da Crucificação, chamada “Señor de los Milagros”, encontrei-me com aproximadamente 500 religiosas de clausura, de vida contemplativaum verdadeiro “pulmão” de fé e de oração para a Igreja e para a sociedade inteira. Na Catedral realizei um especial ato de oração por intercessão dos Santos peruanos, seguindo-se o encontro com os Bispos do país, aos quais propus a figura exemplar de São Turíbio de Mongrovejo. Também aos jovens peruanos indiquei os Santos como homens e mulheres que não perderam tempo a “pintar” a própria imagem, mas seguiram Cristo, que os fitou com esperança. Como sempre, a palavra de Jesus dá sentido pleno a tudo, e assim também o Evangelho da última celebração eucarística resumiu a mensagem de Deus ao seu povo no Chile e no Peru: «Convertei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1,15). Assim - parecia dizer o Senhor - recebereis a paz que Eu vos concedo e estareis unidos na minha esperança. Eis, mais ou menos, o resumo desta minha viagem. Oremos por estas duas Nações irmãs, o Chile e o Peru, a fim de que o Senhor as abençoe.


Fonte: Santa Sé

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Celebração Ecumênica em Cracóvia

No último dia 21 de janeiro o Arcebispo de Cracóvia, Dom Marek Jędraszewski, presidiu uma Celebração Ecumênica no Santuário de São João Paulo II, por ocasião da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18-25 de janeiro).


Procissão de entrada

 


Fotos da Missa do Papa em Lima

No último dia 21 de janeiro, concluindo sua Viagem Apostólica ao Peru, o Papa Francisco celebrou a Santa Missa do III Domingo do Tempo Comum na Base Aérea Las Palmas em Lima.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O livreto da celebração pode ser visto aqui (pp. 199-233).

Para ler a homilia do Papa, clique aqui.

Procissão de entrada

Ósculo do altar
Incensação

Homilia do Papa: Missa em Lima (Peru)

Viagem Apostólica ao Chile e Peru
Missa do III Domingo do Tempo Comum (Ano B)
Homilia do do Papa Francisco
Base Aérea Las Palmas, Lima (Peru)
Domingo, 21 de janeiro de 2018

«Levanta-te e vai a Nínive, à grande cidade, e apregoa nela o que Eu te ordenar» (Jn 3,2): com estas palavras, o Senhor dirige-se a Jonas encaminhando-o para aquela grande cidade, que estava prestes a ser destruída pelos seus muitos malefícios. No Evangelho, vemos também Jesus a caminho da Galileia para pregar a sua Boa Nova (cf. Mc 1,14). Ambas as leituras nos mostram Deus em movimento para as cidades de ontem e de hoje. O Senhor põe-Se a caminho: vai a Nínive, à Galileia, a Trujillo, a Puerto Maldonado, a Lima... O Senhor vem aqui. Põe-Se em movimento para entrar na nossa história pessoal e concreta. Como celebramos há pouco [no Natal], Ele é o Emanuel, o Deus que quer estar sempre conosco. Sim, aqui em Lima ou onde quer que estejas a viver, na vida quotidiana do trabalho rotineiro, na educação esperançosa dos filhos, no meio dos teus anelos e desvelos; na intimidade do lar e no ruído ensurdecedor das nossas estradas. É lá, no meio dos caminhos poeirentos da história, que o Senhor vem ao teu encontro.

Às vezes, pode suceder-nos como a Jonas. As nossas cidades, com as situações de sofrimento e injustiça que se repetem dia-a-dia, podem suscitar em nós a tentação de fugir, de nos escondermos, de desertar. E razões, não faltam nem a Jonas nem a nós. Contemplando a cidade, poderíamos começar a constatar que «há citadinos que conseguem os meios adequados para o desenvolvimento da vida pessoal e familiar, [e isso nos alegra; o problema é que] muitíssimos são também os “não-citadinos”, os “meio-citadinos” ou os “resíduos urbanos”» (Evangelii gaudium, n. 74) que se encontram na beira dos nossos caminhos, que vão viver à margem das nossas cidades sem condições necessárias para levar uma vida digna, e custa ver que muitas vezes, entre estes «resíduos» humanos, se encontram rostos de tantas crianças e adolescentes; se encontra o rosto do futuro.

E, ao ver estas coisas nas nossas cidades, nos nossos bairros - que poderiam ser lugares de encontro e solidariedade, de alegria -, gera-se em nós o que poderíamos chamar a síndrome de Jonas: um espaço infido, donde fugir (cf. Jn 1,3). Um espaço para a indiferença, que nos torna anónimos e surdos face aos demais, torna-nos seres impessoais de coração asséptico e, com esta atitude, amarfanhamos a alma do povo, deste nobre povo. Como nos fazia notar Bento XVI, «a grandeza da humanidade determina-se essencialmente na [sua] relação com o sofrimento e com quem sofre. (…) Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a com-paixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana»  (Spe salvi, n. 38.).

Quando prenderam João [Batista], Jesus foi para a Galileia proclamar o Evangelho de Deus. Ao contrário de Jonas, Jesus, perante um acontecimento doloroso e injusto como foi a prisão de João, entra na cidade, entra na Galileia e começa, partindo daquela insignificante população, a semear o que seria o início da maior esperança: o Reino de Deus está perto, Deus está no meio de nós. E o próprio Evangelho nos mostra a alegria e a reação em cadeia que isso produz: começou com Simão e André, depois Tiago e João (cf. Mc 1,14-20) e depois, passando por Santa Rosa de Lima, São Toríbio, São Martinho de Porres, São João Macías, São Francisco Solano, chegou até nós anunciado por esta nuvem de testemunhas que acreditaram n’Ele. Chegou até Lima, até nós, para se comprometer novamente, como um antídoto renovado, contra a globalização da indiferença. Com efeito, perante este Amor, não se pode ficar indiferente.

Jesus chamou os seus discípulos a viverem, no hoje da história, algo que tem sabor a eternidade: o amor a Deus e ao próximo. E fá-lo da única maneira que Lhe é possível: à maneira divina, suscitando a ternura e o amor misericordioso, suscitando a compaixão e abrindo os seus olhos para aprenderem a ver a realidade à maneira divina. Convida-os a gerar novos vínculos, novas alianças portadoras de eternidade.

Jesus atravessa a cidade; fá-lo com os seus discípulos e começa a ver, a escutar, a prestar atenção àqueles que sucumbiram sob o manto da indiferença, lapidados pelo grave pecado da corrupção. Começa a desvendar muitas situações que sufocavam a esperança do seu povo, suscitando uma nova esperança. Chama os seus discípulos e convida-os a ir com Ele, convida-os a atravessar a cidade, mas muda-lhes o ritmo, ensina-os a fixarem o que até agora passavam por alto, indica-lhes novas urgências. Convertei-vos: dizia-lhes Ele. O Reino dos Céus é encontrar, em Jesus, Deus que mistura a sua vida com a vida do seu povo, que Se envolve e envolve outros para que não tenham medo de fazer desta história uma história de salvação (cf. Mc 1,15.21ss).

Jesus continua a atravessar as nossas estradas, continua, hoje como ontem, a bater às portas, a bater aos corações para reacender a esperança e os anseios: que a degradação seja superada pela fraternidade, a injustiça vencida pela solidariedade e a violência apagada com as armas da paz. Jesus continua a chamar e quer ungir-nos com o seu Espírito para que também nós saiamos para ungir com esta unção capaz de curar a esperança ferida e renovar o nosso olhar.

Jesus continua a atravessar e desperta a esperança que nos liberta de relações vazias e análises impessoais e chama a envolver-nos como fermento onde quer que estejamos, onde nos toca viver, naquele cantinho de todos os dias. O Reino dos Céus está no meio de vós - diz-nos Ele -, está onde sabemos usar um pouco de ternura e compaixão, onde não temos medo de criar espaços para que os cegos vejam, os coxos andem, os leprosos fiquem limpos e os surdos ouçam (cf. Lc 7,22) e, deste modo, todos aqueles que dávamos por perdidos gozem da Ressurreição. Deus não Se cansa nem Se cansará de andar para chegar junto dos seus filhos; junto de cada um deles. Como acenderemos a esperança, se faltam profetas? Como enfrentaremos o futuro, se nos falta unidade? Como chegará Jesus a tantos lugares, se faltam ousadas e válidas testemunhas?

Hoje o Senhor chama-te a atravessar com Ele a cidade, convida-te a atravessar com Ele a tua cidade. Chama-te a ser seu discípulo missionário, tornando-te assim participante desse grande sussurro que quer continuar a ressoar nos mais variados ângulos da nossa vida: Alegra-te, o Senhor está contigo!


Fonte: Santa Sé.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Fotos da Oração do Papa diante das relíquias dos Santos Peruanos

Após a oração da Hora Média com as religiosas no último dia 21 de janeiro, o Papa Francisco, no contexto de sua Viagem Apostólica ao Peru, dirigiu-se à Catedral de Lima para um momento de oração diante das relíquias dos santos peruanos.

Para ler a oração recitada pelo Papa, clique aqui.

Entrada do Santo Padre

Oração silenciosa diante das relíquias



Oração do Papa diante das relíquias dos Santos Peruanos

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Chile e Peru
Oração diante das Relíquias dos Santos Peruanos
Oração do Santo Padre
Lima - Catedral S. João Apóstolo
Domingo, 21 de janeiro de 2018

Deus e Pai nosso, que, por meio de Jesus Cristo, instituístes a Igreja sobre o fundamento dos Apóstolos, para, guiada pelo Espírito Santo, ser no mundo sinal e instrumento do vosso amor misericordioso, nós Vos damos graças pelos dons que concedestes à nossa Igreja em Lima.
Agradecemo-Vos, de forma especial, a santidade florescida na nossa terra.
A nossa Igreja arquidiocesana, fecundada pelo trabalho apostólico de São Toríbio de Mogrovejo;
engrandecida pela oração, pela penitência e pela caridade de Santa Rosa de Lima e São Martinho de Porres;
enriquecida pelo zelo missionário de São Francisco Solano e pelo serviço humilde de São João Macías;
abençoada pelo testemunho de vida cristã de outros irmãos fiéis ao Evangelho, agradece a vossa ação na nossa história e suplica-Vos a graça de ser fiel à herança recebida.
Ajudai-nos a ser Igreja em saída, aproximando-nos de todos, especialmente dos menos favorecidos; ensinai-nos a ser discípulos missionários de Jesus Cristo, o Senhor dos Milagres, vivendo o amor, procurando a unidade e praticando a misericórdia, para que, protegidos pela intercessão de Nossa Senhora da Evangelização, vivamos e anunciemos ao mundo a alegria do Evangelho.


Fonte: Santa Sé

Fotos da Hora Média do Papa com as religiosas

No último dia 21 de janeiro, último dia de sua Viagem Apostólica ao Peru, o Papa Francisco presidiu a oração da Hora Média com as religiosas de vida contemplativa no Santuário do Senhor dos Milagres em Lima.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O livreto da celebração pode ser visto aqui (pp. 175-185).

Para ler a homilia do Papa, clique aqui.

Veneração da cruz
Entrada do Santo Padre


Acolhida da Superiora das Carmelitas

Homilia do Papa: Hora Média com religiosas

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Chile e Peru
Hora Média com as Religiosas Contemplativas
Homilia do Santo Padre
Lima - Santuário do Senhor dos Milagres
Domingo, 21 de janeiro de 2018


Queridas irmãs dos vários mosteiros de vida contemplativa!
Que bom é encontrarmo-nos aqui, neste Santuário do Senhor dos Milagres, muito visitado pelos peruanos para Lhe pedir a sua graça e mostrar-nos a sua proximidade e a sua misericórdia! Ele é «farol que guia, que nos ilumina com o seu amor divino». Ao ver-vos aqui, assaltou-me um mau pensamento: que tenhais aproveitado para sair um pouco do convento e dar um pequeno passeio! Obrigado à Madre Soledad pelas suas palavras de boas-vindas, e a todas vós que, «no silêncio do claustro, caminhais sempre ao meu lado». E, porque mo pede o coração, deixai-me enviar daqui uma saudação aos meus quatro Carmelos de Buenos Aires. Quero colocá-los também a eles diante do Senhor dos Milagres, porque me acompanharam no meu ministério naquela diocese, e desejo que estejam aqui para que o Senhor as abençoe. Não sentis ciúmes, pois não? [respondem: Não!]
Ouvimos as palavras de São Paulo, lembrando-nos que recebemos o espírito filial, que nos torna filhos de Deus (cf. Rm 8,15-16). Nestas poucas palavras, se condensa a riqueza de cada vocação cristã: a alegria de nos sabermos filhos. Esta é a experiência que sustenta a nossa vida; esta quer ser sempre uma resposta agradecida a tão grande amor divino. Como é importante renovar, dia a dia, esta alegria! Sobretudo nos momentos em que a alegria parece ter desaparecido, a alma está enevoada ou há coisas que não se compreendem, peçamo-la novamente repetindo: «Sou filha, sou filha de Deus».
Um caminho privilegiado que tendes para renovar esta certeza é a vida de oração, oração comunitária e pessoal. A oração é o núcleo da vossa vida consagrada, da vossa vida contemplativa e é o modo de cultivar a experiência de amor que sustenta a nossa fé. E, como justamente dizia a Madre Soledad, é uma oração sempre missionária. Não é uma oração que embate no muro do convento e volta para trás, não! É uma oração que sai e parte…
A oração missionária é uma oração que consegue unir-se aos irmãos nas mais variadas circunstâncias em que se encontrem, pedindo que não lhes falte o amor e a esperança. Assim o dizia Santa Teresinha do Menino Jesus: «Compreendi que só o amor fazia atuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir-se, nem os apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno (…): no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor» [1]. Que cada uma de vós possa dizer isto! Se alguma se sente um pouco «fraca» e se apagou nela o fogo do amor, peça-o, peça-o! Poder amar é um presente de Deus.
Ser o amor! É saber assistir o sofrimento de tantos irmãos, dizendo com o Salmista: «Na minha angústia, clamei ao Senhor. O Senhor escutou-me e pôs-me a salvo» (Sl 118/117,5). Assim, a vossa vida na clausura consegue ter um alcance missionário e universal e «um papel fundamental na vida da Igreja. Rezai e intercedei por tantos irmãos e irmãs presos, migrantes, refugiados e perseguidos, por tantas famílias feridas, pelas pessoas sem trabalho, pelos pobres, os doentes, as vítimas das várias dependências… limitando-me a citar algumas situações que se tornam, de dia para dia, mais urgentes. Sois como aqueles amigos que trouxeram o paralítico à presença do Senhor, para que o curasse (cf. Mc 2,1-12). [Não tinham vergonha; eram “desavergonhados”, mas no bom sentido. Não tiveram vergonha de abrir um buraco no teto e fazer descer o paralítico. Sede “desavergonhadas”, não vos envergonheis de fazer, através da oração, com que a miséria dos homens se aproxime do poder de Deus. Esta é a vossa oração]. Através da oração, dia e noite, aproximais do Senhor a vida de tantos irmãos e irmãs que, por variadas situações, não O podem alcançar para experimentar a sua misericórdia sanadora, enquanto Ele os espera para lhes conceder a graça. Com a vossa oração, podeis curar as chagas de tantos irmãos» [2].
Por isso mesmo podemos afirmar que a vida de clausura não algema nem restringe o coração; antes, alarga-o. Ai da religiosa que tem o coração restringido! Por favor, procurai um remédio. Não se pode ser uma religiosa contemplativa com o coração restringido. Que volte a respirar, que volte a ser um coração grande! Além disso, as religiosas com este coração restringido são religiosas que perderam a fecundidade e não são mães; lamentam-se de tudo, vivem amarguradas, sempre à procura de qualquer bagatela para se lamentar. A Santa Madre [Teresa de Jesus] dizia: «Ai da monja que diz: “Fizeram-me uma injustiça sem motivo!”». No convento, não há lugar para as «colecionadoras de injustiças»; mas apenas para aquelas que abrem o coração e sabem carregar a cruz, a cruz fecunda, a cruz do amor, a cruz que dá vida.
O amor alarga o coração e, por isso, com a ajuda do Senhor, vamos para diante, porque Ele nos torna capazes de sentir, de forma nova, a dor, o sofrimento, a frustração, o infortúnio de tantos irmãos que são vítimas desta «cultura do descarte» do nosso tempo. Que a intercessão pelos necessitados seja a caraterística da vossa oração. Com os braços levantados para o Alto como Moisés, com o coração assim inclinado, suplicando… E, quando for possível, ajudai-os não só com a oração mas também com o serviço concreto. Quantos dos vossos conventos, sem faltar à clausura, respeitando o silêncio, podem fazer um bem imenso nalguns momentos de parlatório!
A oração de súplica que se faz nos vossos mosteiros, sintoniza-vos com o Coração de Jesus que pede ao Pai que todos sejamos um só; assim o mundo acreditará (cf. Jo 17,21). Quanto precisamos da unidade na Igreja! Que todos sejamos um só. Precisamos tanto que os batizados sejam um só, que os consagrados sejam um só, que os sacerdotes sejam um só, que os bispos sejam um só! Hoje e sempre. Unidos na fé. Unidos pela esperança. Unidos pela caridade. Nesta unidade que deriva da comunhão com Cristo, que nos une ao Pai no Espírito e, na Eucaristia, nos une uns com os outros neste grande mistério que é a Igreja. Peço-vos, por favor, que rezeis muito pela unidade desta amada Igreja peruana, que é tentada de desunião. A vós confio a unidade, a unidade da Igreja, a unidade dos agentes pastorais, dos consagrados, do clero e dos bispos. O diabo é mentiroso, e também bisbilhoteiro: gosta de levar e trazer, procura dividir, deseja que, nas comunidades, falem mal umas das outras. Já disse isto muitas vezes, repetindo-me: Sabeis o que é uma religiosa bisbilhoteira? É uma «terrorista». Pior que aqueles terroristas de Ayacucho, alguns anos atrás. Pior, porque o mexerico é como uma bomba: ela vai e «bss... bss... bss...», como o diabo, atira a bomba, destrói e parte tranquila. Nada de irmãs «terroristas», sem bisbilhotices. Já sabeis que o melhor remédio para não bisbilhotar é morder-se a língua. A enfermeira terá um pouco que fazer, porque a vossa língua se inflamará, mas pelo menos não atirastes a bomba. Por conseguinte, que não haja bisbilhotices no convento, porque isto é inspirado pelo diabo. Ele, por natureza, é bisbilhoteiro e mentiroso. E recordai-vos dos terroristas de Ayacucho, quando vos vier vontade de bisbilhotar.
Empenhai-vos na vida fraterna, tornando cada mosteiro um farol que possa iluminar no meio da desunião e da divisão. Ajudai a profetizar que isto é possível. Que todas as pessoas, ao aproximar-se de vós, possam pregustar a bem-aventurança da caridade fraterna, tão caraterística da vida consagrada e tão necessária no mundo de hoje e nas nossas comunidades.
Quando a vocação é vivida na fidelidade, a vida torna-se anúncio do amor de Deus. Peço-vos que não cesseis de dar este testemunho. Nesta igreja das Nazarenas Carmelitas Descalças, deixai-me recordar as palavras da Mestra de vida espiritual, Santa Teresa de Jesus: «Se perdeis o guia, que é o bom Jesus, não acertareis com o caminho. (…) Porque o próprio Senhor diz que é caminho; também diz o Senhor que é luz e que ninguém pode ir ao Pai senão por Ele» [3]. Permanecei sempre atrás d’Ele. «Sim, padre, mas às vezes Jesus acaba no Calvário». E então? Vai tu também, porque, também lá, Ele te espera, porque te ama.
Queridas irmãs, sabei uma coisa: Não é que vos tolera a Igreja, ela precisa de vós! A Igreja precisa de vós. Com a vossa vida fiel, sede faróis e mostrai Aquele que é caminho, verdade e vida, o único Senhor que oferece plenitude à nossa existência e dá a vida em abundância [4].
Rezai pela Igreja, rezai pelos pastores, pelos consagrados, pelas famílias, pelos que sofrem, pelos que praticam o mal e destroem tantas vidas, pelos que exploram seus irmãos. E por favor, continuando com a lista dos pecadores, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!

[1] «Carta à Irmã Maria do Sagrado Coração» (8/IX/1896): Manuscritos autobiográficosMs. B, [3v.].
[2] Francisco, Const. Ap. Vultum Dei quaerere, sobre a vida contemplativa feminina (29/VI/2016), 16.
[3] Livro das Moradas, VI, cap. 7, n. 6.
[4] Cf. Francisco, Const. Ap. Vultum Dei quaerere, sobre a vida contemplativa feminina (29/VI/2016), 6.


Fonte: Santa Sé