Santo Agostinho
Sobre o consenso dos Evangelhos
Não
o proibais
Mestre, temos visto um homem que expulsava
demônios em teu nome, e não o permitimos, porque não é dos nossos. Este que
fazia milagres em nome de Cristo e não estava no grupo dos discípulos de Jesus,
na medida em que realizava milagres em seu nome, nessa mesma medida estava com
eles e não contra eles; porém, na medida em que não aderia ao seu grupo, nessa
mesma medida não estava com eles e sim contra eles. Mas como eles lhe proibiram
de fazer aquilo no qual estava com eles, disse-lhes o Senhor: Não o proibais.
O que lhe
deveriam proibir era o estar fora de sua companhia, para persuadir-lhe à
unidade da Igreja, não aquilo em que estava com eles, valorizando o nome de seu
Mestre e Senhor com a expulsão dos demônios. Assim atua a Igreja Católica ao
não reprovar nos hereges os sacramentos comuns; no que a estes diz respeito,
eles estão conosco e não contra nós. Porem, desaprova e proíbe a divisão e
separação ou alguma sentença contrária à paz e à verdade; pois nisto estão
contra nós e não recolhem conosco e, em consequência, dispersam...
Porque quem não está contra nós, está a
nosso favor. Quem vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois de
Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. Com isto mostrou que
tampouco aquele a quem João se referia, e de quem tomou origem este seu
discurso, separava-se tanto do grupo dos discípulos que o censuravam, como
fazem os hereges; o seu caso era frequente, de homens que não se atrevem ainda
a receber os sacramentos de Cristo e, contudo, favorecem o nome cristão, até
mesmo acolhem a cristãos simplesmente porque são cristãos.
Deles diz que não perderão a sua recompensa; não
porque já devam considerar-se seguros e protegidos pela benevolência que têm
para com os cristãos, mesmo que não estejam lavados pelo Batismo de Cristo nem
estejam incorporados à sua unidade, mas porque já estão dirigidos pela
misericórdia de Deus de tal maneira que chegam a essas obras e saem seguros
deste mundo.
Realmente, estes,
inclusive antes de unirem-se ao número dos cristãos, são mais úteis que aqueles
outros que, já se dizendo cristãos e imbuídos inclusive dos sacramentos
cristãos, induzem tais coisas que arrastam consigo ao castigo eterno àqueles a
quem desviam. A esses se dá o nome de “membros”; e, como se se tratasse de uma
mão ou de um olho que é ocasião de pecado, manda arrancá-los do corpo, ou seja,
da mesma sociedade da unidade, sendo melhor chegar à vida sem sua companhia que
ir para a Geena com eles.
Separar-se deles
consiste em não dar-lhes assentimento quando movem ao mal, isto é, quando são
ocasião de pecado. E quando os bons com quem se relacionam chegam também a
conhecer a dita perversidade, são afastados completamente da comum companhia e
até da participação nos sacramentos divinos. Se, pelo contrário, apenas alguns
a conhecem (a perversidade), enquanto que à maioria ainda é desconhecida esta
maldade, hão de ser tolerados como se tolera a palha na eira antes do ancinho,
de forma que nem se lhes dê assentimento, comungando assim em sua iniquidade,
nem se abandone a sociedade por causa deles. Isto o fazem aqueles que têm sal
em si mesmos e paz entre eles.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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