Santo Efrém
Sermão sobre nosso Senhor
Aquele que preenche a
deficiência das criaturas possui a maestria do Criador
O intangível
Poder desceu e se recobriu de membros que se podem tocar, para que os
necessitados pudessem aproximar-se d’Ele, e, ao tocar sua humanidade,
conseguissem perceber a sua divindade. Aquele surdo-mudo sentiu os dedos da
carne que se aproximaram de seus ouvidos e tocaram a sua língua; porém,
mediante os dedos que podem ser tocados, tocou a intangível divindade, quando
esta desatou a sua língua e abriu as portas dos ouvidos lacrados.
De fato, o
construtor do corpo, o artífice do organismo, veio a ele, e com sua suave voz,
sem dor fez uma abertura nos ouvidos obstruídos. E a boca fechada, que não
podia produzir a palavra, deu à luz o louvor d’Aquele que tinha tornado fecunda
sua esterilidade com o nascimento das palavras. Pois o mesmo que deu a Adão a
capacidade de falar em um instante, sem necessidade de instrução, concedeu aos
mudos que pudessem falar facilmente línguas que só se aprendem com dificuldade.
Vede, outra
questão vem à luz: perguntemo-nos com que línguas nosso Senhor deu o poder de
falar aos mudos, que recorriam a Ele de todas as línguas. Porém, se isto é
fácil de saber, voltemo-nos a algo maior que isto, isto é, a reconhecer que o
primeiro homem foi criado através do Filho. Realmente, no fato de que por meio
d’Ele foi dada a palavra aos mudos, filhos de Adão, conhecemos que por meio
d’Ele foi concedia a palavra a Adão, seu primeiro pai. Também aqui uma natureza
deficiente recebe sua plenitude de nosso Senhor. Na realidade é claro que quem
é capaz de levar à plenitude uma deficiência da natureza, tem em sua mão a
plenitude da natureza.
Entretanto, não
há deficiência maior que quando um homem nasce mudo. Pois se graças à palavra
estamos acima de todas as criaturas, o defeito da palavra é maior que todos os
defeitos, e, em consequência, Aquele por meio de quem se repara esta grande
deficiência, está claro que por Ele se sustenta toda plenitude. Porque por meio
d’Ele os membros recebem ocultamente toda plenitude no seio materno, pode um defeito
deles ser levado à plenitude à luz do dia, para que aprendamos que, no
princípio, se compôs por meio d’Ele todo o organismo.
Colocou saliva em seus dedos e a depositou
nos ouvidos do surdo, assim como
amassou barro com saliva e esfregou nos olhos do cego, para que aprendamos
que, assim como a deficiência que havia nas pupilas daquele cego tinha origem
no seio de sua mãe, assim também era a deficiência que havia nos ouvidos deste.
Com o fermento, pois, de seu corpo perfeito foi preenchida a deficiência de
nossa massa.
Não estava bem
que nosso Senhor dividisse algum membro de seu corpo para preencher a
deficiência de outros corpos, porém com algo que facilmente podia ser tomado de
seu corpo preencheu a deficiência dos defeituosos. Preencheu, portanto, a
deficiência, e deu a vida aos mortos, para que aprendêssemos que a deficiência
dos defeituosos se preenche do Corpo em que habitava a plenitude, e que a vida
se dava aos mortais daquele mesmo Corpo no qual habitava a vida.
Os profetas
haviam feito todo tipo de sinais, porém jamais preencheram uma deficiência dos
membros. A deficiência corporal estava reservada para que fosse preenchida por
nosso Senhor, e assim os homens pudessem compreender que todo defeito é
reparado por Ele. Os capazes de discernimento deviam perceber que Aquele que
preenche a deficiência das criaturas possui a maestria do Criador.
Enquanto nosso
Senhor estava na terra, concedeu aos surdos a graça de poderem ouvir e a
capacidade de falar algumas línguas que não aprenderam a falar, para que se
reconhecesse que é Ele quem, após sua exaltação, deu aos discípulos a
capacidade de falar em todas as línguas.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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