quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Quarta-feira de Cinzas em Frederico Westphalen

No último dia 18 de fevereiro Dom Antônio Carlos Rossi Keller, Bispo Diocesano de Frederico Westphalen, celebrou na Catedral Santo Antônio a Missa da Quarta-feira de Cinzas, com a bênção e imposição das cinzas.

Procissão de entrada
Ritos iniciais

Fieis durante a Liturgia da Palavra
Imposição das cinzas

Imagens: Diocese de Frederico Westphalen

São Gregório de Narek será proclamado Doutor da Igreja

São Gregório de Narek vai ser proximamente declarado Doutor da Igreja. A decisão da Congregação para a Causa dos Santos foi confirmada pelo Papa Francisco ao receber sábado em audiência o Cardeal Ângelo Amato, Prefeito dessa Congregação.


São Gregório de Narek, Monge, nasceu em Andzevatsik por volta do ano 950 e faleceu em Narek por volta de 1005. O seu túmulo foi durante muito tempo meta de peregrinações. Os lugares do seu nascimento e morte, hoje pertencentes à Turquia, faziam então parte da Armênia.

São Gregório de Narek foi um insigne teólogo e um dos mais importantes poetas da literatura armena. De entre as suas obras destacam-se um Comentário ao Cântico dos Cânticos, numerosos panegíricos e uma recolha de 95 orações em forma de poesia, chamadas “orações de Narek”, do nome do Mosteiro onde viveu em humildade e caridade, empenhado no trabalho e na oração.

Fiel à tradição da sua Igreja, Gregório foi um grande devoto de Nossa Senhora que, segundo a lenda, lhe teria aparecido. Fez muitos cânticos à Virgem, entre os quais o “Discurso Panegírico à Beata Virgem Maria” e a Oração 80, intitulada “Do fundo do coração, colóquio com a Mãe de Deus”. Nela, Gregório aprofundou a doutrina da Encarnação, exaltando a excepcional dignidade e a magnifica beleza de Nossa Senhora.

Ele é considerado Doutor pela Igreja Armena. Na Igreja latina é recordado no Martirológio a 27 de Fevereiro, como santo e considerado “insigne pela doutrina, pelos escritos e pela ciência mística”. 



Texto: News.va

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Fotos da Missa do Papa na Quarta-feira de Cinzas

No último dia 18 de fevereiro o Papa Francisco celebrou na Basílica de Santa Sabina a Santa Missa da Quarta-feira de Cinzas, com a bênção e imposição das cinzas.

A celebração seguiu a forma das estações quaresmais romanas: iniciou-se na Basílica de Santo Anselmo de onde todos seguiram em procissão, cantando a Ladainha de Todos os Santos, até a Basílica de Santa Sabina, onde foi celebrada a Missa.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Massimiliano Matteo Boiardi. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão




Homilia do Papa: Quarta-feira de Cinzas 2015

Santa Missa, Bênção e Imposição das Cinzas
Homilia do Papa Francisco
Basílica de Santa Sabina
Quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Como povo de Deus, começamos o caminho da Quaresma, tempo em que procuramos unir-nos mais intimamente ao Senhor, para compartilhar o mistério da sua Paixão e da sua Ressurreição.

A Liturgia de hoje propõe-nos antes de tudo o trecho do profeta Joel, enviado por Deus para chamar o povo à penitência e à conversão, por causa de uma calamidade (uma invasão de gafanhotos) que devasta a Judeia. Unicamente o Senhor pode salvar do flagelo e, por conseguinte, é necessário suplicá-lo com orações e jejuns, confessando o próprio pecado.

O profeta insiste sobre a conversão interior: «Voltai para mim com todo o vosso coração» (Jl 2,12).
Voltar para o Senhor «com todo o vosso coração» significa empreender o caminho de uma conversão não superficial nem transitória, mas sim um itinerário espiritual que diz respeito ao lugar mais íntimo da nossa pessoa. Com efeito, o coração é a sede dos nossos sentimentos, o centro no qual amadurecem as nossas escolhas e as nossas atitudes. Aquele «voltai para mim com todo o vosso coração» não se refere unicamente aos indivíduos, mas estende-se à comunidade inteira, é uma convocação dirigida a todos: «reuni o povo; santificai a assembleia, agrupai os anciãos, congregai as crianças e os lactentes; saia o recém-casado dos seus aposentos, e a esposa da sua câmara nupcial» (vv. 15-16).

O profeta medita de maneira particular sobre a prece dos sacerdotes, observando que ela deve ser acompanhada de lágrimas. Far-nos-á bem a todos, mas especialmente a nós sacerdotes, no início desta Quaresma, pedir o dom das lágrimas, de modo a tornar a nossa oração e o nosso caminho de conversão cada vez mais autênticos e sem hipocrisia. Far-nos-á bem interrogar-nos: «Eu choro? O Papa chora? Os cardeais choram? Os bispos choram? Os consagrados choram? Os sacerdotes choram? Há pranto nas nossas orações?». É precisamente esta a mensagem do Evangelho deste dia. No trecho de Mateus, Jesus volta a ler as três obras de piedade previstas na lei moisaica: a esmola, a oração e o jejum. E distingue a situação exterior da interior, daquele chorar com o coração. Ao longo do tempo, estas prescrições foram corroídas pela ferrugem do formalismo exterior, ou até se transformaram num sinal de superioridade social. Jesus põe em evidência uma tentação comum nestas três obras, que se pode resumir precisamente na hipocrisia (que é mencionada três vezes): «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes admirados por eles... Quando, pois, deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas... Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé... para serem vistos pelos homens... E quando jejuardes, não tenhais um ar triste, como os hipócritas» (Mt 6, 1.2.5.16). Irmãos, estai conscientes de que os hipócritas não sabem chorar, já se esqueceram de como se chora, não pedem o dom das lágrimas.

Quando realizamos algo de bom, quase instintivamente nasce em nós o desejo de sermos estimados e até admirados por esta boa ação, para recebermos uma satisfação. Mas Jesus convida-nos a realizar as boas obras sem qualquer ostentação, confiando unicamente na recompensa do Pai, «que vê o segredo» (Mt 6,4.6.18).

Estimados irmãos e irmãs, o Senhor nunca se cansa de ter misericórdia de nós, e deseja oferecer-nos mais uma vez o seu perdão - todos nós temos necessidade disto - convidando-nos a voltar para Ele com um coração novo, livres do mal e purificados pelas lágrimas, para participar na sua alegria. Como responder a este convite? É São Paulo quem o sugere: «Rogamos-vos, em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus!» (2Cor 5,20). Este esforço de conversão não é apenas uma obra humana, mas significa deixar-se reconciliar. A reconciliação entre nós e Deus é possível graças à misericórdia do Pai que, por amor a nós, não hesitou em santificar o seu único Filho. Com efeito Cristo, que era justo e não conhecia o pecado, fez-se pecado por nós ( v. 21), quando na cruz assumiu os nossos pecados, e deste modo nos resgatou e justificou diante de Deus. «Nele» nós podemos tornar-nos justos, nele nós podemos mudar, se acolhermos a graça de Deus e não deixarmos passar em vão este «momento favorável» (2Cor 6,2). Por favor, paremos, detenhamo-nos um pouco, para nos deixarmos reconciliar com Deus!

Com esta consciência, encetemos confiantes e jubilosamente o itinerário quaresmal. Maria Mãe Imaculada, sem pecado, sustente o nosso combate espiritual contra o pecado, acompanhando-nos neste momento favorável, a fim de que possamos entoar juntos a exultação da vitória no dia da Páscoa. E como sinal da vontade de nos deixarmos reconciliar com Deus, além das lágrimas que estarão «no segredo», em público também realizaremos o gesto da imposição das Cinzas sobre a cabeça. O celebrante pronuncia as seguintes palavras: «Recorda-te que és pó, e pó te hás de tornar» (cf. Gn 3,19), ou então repete a exortação de Jesus: «Convertei-vos e crede no Evangelho» (cf. Mc 1,15). Ambas as fórmulas constituem uma evocação da verdade acerca da existência humana: somos criaturas limitadas, pecadores sempre necessitados de penitência e de conversão. Como é importante ouvir e aceitar tal exortação nesta nossa época! Por isso, o convite à conversão constitui um impulso a voltar, como fez o filho da parábola, aos braços de Deus, Pai terno e misericordioso, a chorar naquele abraço, a confiar nele e a entregar-se a Ele.



Fonte: Santa Sé.

VI Catequese do Papa sobre a Família

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2015
A Família (6): Os irmãos

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
No nosso caminho de catequeses sobre a família, depois de ter meditado sobre o papel da mãedo pai e dos filhos, agora é a vez dos irmãos. «Irmão» e «irmã» são palavras que o cristianismo aprecia muito. E, graças à experiência familiar, são palavras que todas as culturas e épocas compreendem.
O laço fraternal ocupa um lugar especial na história do povo de Deus, que recebe a sua revelação no vivo da experiência humana. O salmista canta a beleza do vínculo fraterno: «Como é bom, como é agradável os irmãos viverem em unidade!» (Sl 133/132,1). E é verdade, a irmandade é bonita! Jesus Cristo levou à sua plenitude também esta experiência humana do ser irmãos e irmãs, assumindo-a no amor trinitário e fortalecendo-a para que vá muito além dos vínculos de parentela e possa superar todos os muros de alienação.
Sabemos que quando a relação fraternal se corrompe, quando se desvirtua o relacionamento entre os irmãos, abre-se o caminho para dolorosas experiências de conflito, traição e ódio. A narração bíblica de Caim e Abel constitui o exemplo deste resultado negativo. Após o assassínio de Abel, Deus pergunta a Caim: «Onde está o teu irmão Abel?» (Gn 4,9a). É uma interrogação que o Senhor continua a repetir a cada geração. E infelizmente, em cada geração, não cessa de se repetir também a dramática resposta de Caim: «Não sei. Sou porventura eu o guarda do meu irmão?» (Gn 4,9b). A ruptura do vínculo entre irmãos é algo desagradável e negativo para a humanidade. Também em família, quantos irmãos discutem por causa de coisas insignificantes, ou de uma herança, e depois deixam de se comunicar, de se saudar uns aos outros. Isto é feio! A fraternidade é algo grandioso, quando se pensa que todos os irmãos habitaram no ventre da mesma mãe, durante nove meses, e vêm da carne da mesma mãe! E não se pode interromper a fraternidade. Pensemos um pouco: todos nós conhecemos famílias com irmãos divididos, que discutiram; peçamos ao Senhor por estas famílias - talvez na nossa família haja alguns casos - que as ajude a reunir os irmãos, a reconstruir a família. A fraternidade não se deve interromper, porque quando se interrompe, verifica-se o que aconteceu com Caim e Abel. Quando o Senhor pergunta a Caim onde estava o seu irmão, ele responde: «Não sei, não me interesso pelo meu irmão!». Isto é desagradável, é algo muito doloroso de ouvir. Nas nossas preces oremos sempre pelos irmãos que se dividiram.
O laço de fraternidade que se forma em família, entre os filhos, quando se verifica num clima de educação para a abertura ao próximo, é uma grande escola de liberdade e paz. Em família, entre irmãos, aprendemos a convivência humana, como devemos conviver na sociedade. Talvez nem sempre estejamos conscientes disto, mas é precisamente a família que introduz a fraternidade no mundo! A partir desta primeira experiência de fraternidade, alimentada pelos afectos e pela educação familiar, o estilo da fraternidade irradia-se como uma promessa sobre a sociedade inteira e sobre as relações entre os povos.
A bênção que Deus, em Jesus Cristo, derrama sobre este vínculo de fraternidade dilata-o de modo inimaginável, tornando-o capaz de ultrapassar todas as diferenças de nação, língua, cultura e até de religião.
Pensai no que se torna o vínculo entre os homens, mesmo que sejam muito diversos entre si, quando podem dizer uns aos outros: «Para mim, ele é como um irmão, ela é como uma irmã!». Isto é bonito! De resto, a história demonstrou suficientemente que, sem a fraternidade, até a liberdade e a igualdade podem encher-se de individualismo e conformismo, também de interesse pessoal.
A fraternidade em família resplandece de modo especial quando vemos o esmero, a paciência e o carinho com os quais são circundados o irmãozinho ou a irmãzinha mais frágeis, doentes ou deficientes. Os irmãos e as irmãs que agem assim são muitíssimos, no mundo inteiro, e talvez não apreciemos de modo suficiente a sua generosidade. E quando numa família os irmãos são numerosos - hoje saudei uma família com nove filhos: o mais velho ou a mais velha ajuda o pai, a mãe, a cuidar dos mais pequeninos. Como é bonito este trabalho de ajuda entre os irmãos!
Ter um irmão, uma irmã que nos ama é uma experiência forte, inestimável, insubstituível. Acontece o mesmo com a fraternidade cristã. Os mais pequeninos, frágeis e pobres devem enternecer-nos: eles têm o «direito» de arrebatar a nossa alma, o nosso coração. Sim, eles são nossos irmãos, e como tais devemos amá-los e tratá-los. Quando isto acontece, quando os pobres vivem como em casa, a nossa fraternidade cristã retoma vida. Com efeito, os cristãos vão ao encontro dos mais pobres e frágeis não para seguir um programa ideológico, mas porque a palavra e o exemplo do Senhor nos dizem que somos todos irmãos. Este é o princípio do amor de Deus e de toda a justiça entre os homens. Sugiro-vos algo: antes de concluir, só me faltam poucas linhas, cada um de nós pense nos próprios irmãos e irmãs e, no silêncio do coração, reze por eles. Um momento de silêncio!
Eis que com esta prece os trouxemos todos, irmãos e irmãs, com o pensamento, com o coração, aqui à praça para receber a bênção.
Hoje é mais necessário do que nunca repor a fraternidade no centro da nossa sociedade tecnocrática e burocrática: assim, também a liberdade e a igualdade tomarão a sua correcta modulação. Por isso, não privemos com leviandade as nossas famílias, por sujeição ou medo, da beleza de uma ampla experiência fraternal de filhos e filhas. E não percamos a nossa confiança na vastidão de horizonte que a fé é capaz de obter desta experiência, iluminada pela Bênção de Deus.

Ícone dos santos irmãos Pedro e André, Apóstolos

Fonte: Santa Sé

Cardeal De Magistris toma posse de sua Diaconia

No último dia 17 de fevereiro, o Cardeal Luigi de Magistris, Arcebispo Titular de Nova e Penitenciário-Mor Emérito, criado Cardeal no Consistório do último dia 14, tomou posse da Diaconia dos Santíssimos Nomes de Jesus e Maria “in Via Lata”.

Cada Cardeal recebe de maneira simbólica o cuidado espiritual sobre uma das igrejas de Roma, de acordo com sua ordem. No caso, uma Diaconia refere-se a uma das igrejas ligadas às antigas regiões nas quais Roma estava dividida para o serviço da caridade.

Para atestar a posse e para acompanhá-lo em algumas cerimônias, para cada Cardeal é designado um dos cerimoniários pontifícios. No caso do Cardeal De Magistris, o cerimoniário é o Monsenhor Marco Agostini.

Devido à sua avançada idade e saúde debilitada, o Cardeal De Magistris não celebrou à Missa, mas a assistiu revestido de estola e pluvial, portando mitra  e báculo. A Missa foi celebrada por outro Bispo, na Forma Ordinária do Rito Romano e em "versus Deum".

Veneração da cruz
Aspersão dos presentes
Entrada na igreja
Oração diante do Santíssimo Sacramento
Apresentação da bula de Criação Cardinalícia

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Fotos das Exéquias do Cardeal Becker

No último dia 16 de fevereiro o Cardeal Angelo Sodano, Decano do Colégio Cardinalício, celebrou no altar da Cátedra da Basílica Vaticana a Missa Exequial do Cardeal Karl Joseph Becker, falecido no dia 10.

O Papa Francisco veio ao final da celebração para presidir aos ritos da Última Encomendação e Despedida. Foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Guillermo Javier Karcher.

Entrada do Santo Padre

Incensação do féretro

Procissão de saída

Mensagem do Papa para a Quaresma 2015

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2015
Fortalecei os vossos corações (Tg 5, 8)

Amados irmãos e irmãs,
Tempo de renovação para a Igreja, para as comunidades e para cada um dos fiéis, a Quaresma é sobretudo um «tempo favorável» de graça (cf. 2 Cor 6, 2). Deus nada nos pede, que antes não no-lo tenha dado: «Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro» (1 Jo 4, 19). Ele não nos olha com indiferença; pelo contrário, tem a peito cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de nós e vai à nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de nós; o seu amor impede-Lhe de ficar indiferente perante aquilo que nos acontece. Coisa diversa se passa connosco! Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem! Hoje, esta atitude egoísta de indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos obrigação, como cristãos, de enfrentar.
Quando o povo de Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as questões que a história continuamente nos coloca. E um dos desafios mais urgentes, sobre o qual me quero deter nesta Mensagem, é o da globalização da indiferença.
Dado que a indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real também para nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar.
A Deus não Lhe é indiferente o mundo, mas ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho pela salvação de todo o homem. Na encarnação, na vida terrena, na morte e ressurreição do Filho de Deus, abre-se definitivamente a porta entre Deus e o homem, entre o Céu e a terra. E a Igreja é como a mão que mantém aberta esta porta, por meio da proclamação da Palavra, da celebração dos Sacramentos, do testemunho da fé que se torna eficaz pelo amor (cf. Gl 5, 6). O mundo, porém, tende a fechar-se em si mesmo e a fechar a referida porta através da qual Deus entra no mundo e o mundo n'Ele. Sendo assim, a mão, que é a Igreja, não deve jamais surpreender-se, se se vir rejeitada, esmagada e ferida.
Por isso, o povo de Deus tem necessidade de renovação, para não cair na indiferença nem se fechar em si mesmo. Tendo em vista esta renovação, gostaria de vos propor três textos para a vossa meditação.

1. «Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros» (1 Cor 12, 26): A Igreja.
Com o seu ensinamento e sobretudo com o seu testemunho, a Igreja oferece-nos o amor de Deus, que rompe esta reclusão mortal em nós mesmos que é a indiferença. Mas, só se pode testemunhar algo que antes experimentámos. O cristão é aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia, revesti-lo de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens. Bem no-lo recorda a liturgia de Quinta-feira Santa com o rito do lava-pés. Pedro não queria que Jesus lhe lavasse os pés, mas depois compreendeu que Jesus não pretendia apenas exemplificar como devemos lavar os pés uns aos outros; este serviço, só o pode fazer quem, primeiro, se deixou lavar os pés por Cristo. Só essa pessoa «tem a haver com Ele» (cf. Jo 13, 8), podendo assim servir o homem.
A Quaresma é um tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo e, deste modo, tornarmo-nos como Ele. Verifica-se isto quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo. Neste corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações; porque, quem é de Cristo, pertence a um único corpo e, n'Ele, um não olha com indiferença o outro. «Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria» (1 Cor 12, 26).
A Igreja é communio sanctorum, não só porque, nela, tomam parte os Santos mas também porque é comunhão de coisas santas: o amor de Deus, que nos foi revelado em Cristo, e todos os seus dons; e, entre estes, há que incluir também a resposta de quantos se deixam alcançar por tal amor. Nesta comunhão dos Santos e nesta participação nas coisas santas, aquilo que cada um possui, não o reserva só para si, mas tudo é para todos. E, dado que estamos interligados em Deus, podemos fazer algo mesmo pelos que estão longe, por aqueles que não poderíamos jamais, com as nossas simples forças, alcançar: rezamos com eles e por eles a Deus, para que todos nos abramos à sua obra de salvação.

2. «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9): As paróquias e as comunidades
Tudo o que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na vida das paróquias e comunidades. Nestas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cf. Lc 16, 19-31)?
Para receber e fazer frutificar plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direcções.
Em primeiro lugar, unindo-nos à Igreja do Céu na oração. Quando a Igreja terrena reza, instaura-se reciprocamente uma comunhão de serviços e bens que chega até à presença de Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua plenitude em Deus, fazemos parte daquela comunhão onde a indiferença é vencida pelo amor. A Igreja do Céu não é triunfante, porque deixou para trás as tribulações do mundo e usufrui sozinha do gozo eterno; antes pelo contrário, pois aos Santos é concedido já contemplar e rejubilar com o facto de terem vencido definitivamente a indiferença, a dureza de coração e o ódio, graças à morte e ressurreição de Jesus. E, enquanto esta vitória do amor não impregnar todo o mundo, os Santos caminham connosco, que ainda somos peregrinos. Convicta de que a alegria no Céu pela vitória do amor crucificado não é plena enquanto houver, na terra, um só homem que sofra e gema, escrevia Santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja: «Muito espero não ficar inactiva no Céu; o meu desejo é continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas» (Carta 254, de 14 de Julho de 1897).
Também nós participamos dos méritos e da alegria dos Santos e eles tomam parte na nossa luta e no nosso desejo de paz e reconciliação. Para nós, a sua alegria pela vitória de Cristo ressuscitado é origem de força para superar tantas formas de indiferença e dureza de coração.
Em segundo lugar, cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens.
Esta missão é o paciente testemunho d'Aquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem. A missão é aquilo que o amor não pode calar. A Igreja segue Jesus Cristo pela estrada que a conduz a cada homem, até aos confins da terra (cf. Act 1, 8). Assim podemos ver, no nosso próximo, o irmão e a irmã pelos quais Cristo morreu e ressuscitou. Tudo aquilo que recebemos, recebemo-lo também para eles. E, vice-versa, tudo o que estes irmãos possuem é um dom para a Igreja e para a humanidade inteira.
Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!

3. «Fortalecei os vossos corações» (Tg 5, 8): Cada um dos fiéis
Também como indivíduos temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência?
Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13 e 14 de Março, pretende dar expressão a esta necessidade da oração.
Em segundo lugar, podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive próximo de nós como a quem está longe, graças aos inúmeros organismos caritativos da Igreja. A Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal – mesmo pequeno, mas concreto – da nossa participação na humanidade que temos em comum.
E, em terceiro lugar, o sofrimento do próximo constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos. Se humildemente pedirmos a graça de Deus e aceitarmos os limites das nossas possibilidades, então confiaremos nas possibilidades infinitas que tem de reserva o amor de Deus. E poderemos resistir à tentação diabólica que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar o mundo sozinhos.
Para superar a indiferença e as nossas pretensões de omnipotência, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como um percurso de formação do coração, a que nos convidava Bento XVI (Carta enc. Deus caritas est, 31). Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro.
Por isso, amados irmãos e irmãs, nesta Quaresma desejo rezar convosco a Cristo: «Fac cor nostrum secundum cor tuum – Fazei o nosso coração semelhante ao vosso» (Súplica das Ladainhas ao Sagrado Coração de Jesus). Teremos assim um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da indiferença.
Com estes votos, asseguro a minha oração por cada crente e cada comunidade eclesial para que percorram, frutuosamente, o itinerário quaresmal, enquanto, por minha vez, vos peço que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

Vaticano, Festa de São Francisco de Assis, 4 de Outubro de 2014.

Francisco



Fonte: Santa Sé

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Ângelus: VI Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 15 de fevereiro de 2015

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Nos últimos domingos o evangelista Marcos tem-nos contado a ação de Jesus contra qualquer espécie de mal, em benefício dos sofredores no corpo e no espírito: endemoniados, doentes, pecadores... Ele apresenta-se como aquele que combate e vence o mal onde quer que o encontre. No Evangelho de hoje (Mc 1,40-45) esta sua luta enfrenta um caso emblemático, porque o doente é um leproso. A lepra é uma doença contagiosa e impetuosa, que desfigura a pessoa e que era símbolo de impureza: o leproso tinha que estar fora dos centros habitados e assinalar a sua presença aos transeuntes. Era marginalizado pela comunidade civil e religiosa. Era como um morto ambulante.

O episódio da cura do leproso desenvolve-se em três fases: a invocação do doente, a resposta de Jesus, as consequências da cura prodigiosa. O leproso suplica Jesus «de joelhos» e diz-lhe: «Se queres, podes purificar-me» (v. 40). A este pedido humilde e confiante, Jesus reage com uma atitude profunda do seu ânimo: a compaixão. E «compaixão» é uma palavra muito profunda: compaixão significa «padecer com o outro». O coração de Cristo manifesta a compaixão paterna de Deus pelo homem, aproximando-se dele e tocando-o. E este pormenor é muito importante. Jesus «estendeu a mão, tocou-o... e imediatamente a lepra desapareceu e ele ficou purificado» (v. 41). A misericórdia de Deus supera qualquer barreira e a mão de Jesus toca o leproso. Ele não para à distância de segurança e não age por delegação, mas expõe-se diretamente ao contágio do nosso mal; e assim precisamente o nosso mal torna-se o lugar do contato: Ele, Jesus, assume de nós a nossa humanidade doente e nós assumimos d’Ele a sua humanidade que é sadia e cura. Isto acontece todas as vezes que recebemos com fé um sacramento: o Senhor Jesus «toca-nos» e concede-nos a sua graça. Neste caso pensamos sobretudo no Sacramento da Reconciliação, que nos cura da lepra do pecado.

Mais uma vez o Evangelho nos mostra o que faz Deus perante o nosso mal: Deus não vem para «dar uma lição» sobre o sofrimento; também não vem para eliminar do mundo o sofrimento e a morte; ao contrário, Ele vem para carregar sobre si o peso da nossa condição humana, para assumi-lo completamente, para nos libertar de modo radical e definitivo. Assim Cristo combate os males e os sofrimentos do mundo: assumindo-os sobre si e vencendo-os com a força da misericórdia de Deus.

A nós, hoje, o Evangelho da cura do leproso diz que, se quisermos ser verdadeiros discípulos de Jesus, somos chamados a tornar-nos, unidos a Ele, instrumentos do seu amor misericordioso, superando qualquer tipo de marginalização. Para ser «imitadores de Cristo» (cf. 1Cor 11,1) diante de um pobre ou de um doente, não devemos ter medo de olhar diretamente para ele e de nos aproximarmos com ternura e compaixão, e de tocá-lo e abraçá-lo. Eu peço com frequência às pessoas que ajudam os outros que o façam olhando diretamente para elas, que não tenham medo de tocá-las; que o gesto de ajuda seja também um gesto de comunicação: também nós precisamos ser acolhidos por eles. Um gesto de ternura, um gesto de compaixão... Mas eu vos pergunto: vós, quando ajudais os outros, olhais diretamente para eles? Acolhei-os sem receio de tocar-lhes? Acolhei-os com ternura? Pensai nisto: como ajudais? À distância ou com ternura, com proximidade? Se o mal é contagioso, o bem também é. Por conseguinte, é preciso que em nós abunde, cada vez mais, o bem. Deixemo-nos contagiar pelo bem e contagiemos o bem!

Jesus cura o leproso
(Catedral de Monreale, Itália)

Fonte: Santa Sé.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Títulos e Diaconias dos novos Cardeais

Para cada Cardeal é entregue o cuidado espiritual de uma das igrejas de Roma, seja um título (no caso dos Cardeais Presbíteros) ou uma diaconia (para os Cardeais Diáconos). Neste Consistório o Papa Francisco criou muitos títulos cardinalícios novos, como pode ver-se abaixo.

Eis os títulos e diaconias dos novos Cardeais:

Cardeal Dominique Mamberti
Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica
Diaconia do Santo Espírito “in Sassia
(Esta diaconia pertencia ao Cardeal Angelini, falecido em 22/11/2014)

Cardeal Manuel José Macário do Nascimento Clemente:
Patriarca de Lisboa (Portugal)
Título de Santo Antônio “in Campo Marzio
(Este título pertencia ao Cardeal Policarpo, falecido em 12/03/2014)
 

Cardeal Berhaneyesus Demerew Souraphiel:
Arcebispo de Addis Abeba dos Etíopes
Título de São Romano Mártir
(Título cardinalício novo)

Cardeal John Atcherley Dew:
Arcebispo de Wellington (Nova Zelândia)
Título de Santo Hipólito
(Título cardinalício novo)
 

Cardeal Edoardo Menichelli:
Arcebispo de Ancona-Osimo (Itália)
Título dos Sagrados Corações de Jesus e Maria “a Tor Fiorenza
(Título cardinalício novo)
 

Fotos da Missa do Papa com os novos Cardeais

No último dia 15 de fevereiro o Papa Francisco celebrou na Basílica Vaticana a Santa Missa do VI Domingo do Tempo Comum com os novos Cardeais, criados no Consistório de sábado.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Jean-Pierre Kwambamba Masi. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Procissão de entrada
Incensação


Ritos iniciais

Homilia do Papa: Missa com os novos Cardeais

Santa Missa com os novos Cardeais
Homilia do Papa Francisco
Basílica Vaticana
VI Domingo do Tempo Comum (Ano B), 15 de fevereiro de 2015

«Senhor, se queres, podes purificar-me». Compadecido, Jesus, estendeu a mão, tocou-o e disse: «Eu quero, fica purificado» (Mc 1,40-41). A compaixão de Jesus! Aquele «padecer com» levava-O a aproximar-Se de cada pessoa atribulada! Jesus não Se retrai, antes, pelo contrário, deixa-Se comover pelo sofrimento e as necessidades do povo, simplesmente porque Ele sabe e quer «padecer com», porque possui um coração que não se envergonha de ter «compaixão».
Ele «já não podia entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados» (Mc 1,45). Isto significa que, além de curar o leproso, Jesus tomou sobre Si também a marginalização que impunha a Lei de Moisés (cf. Lv 13,1-2.45-46). Não teme o risco de assumir o sofrimento alheio, mas paga por inteiro o seu preço (cf. Is 53,4).
compaixão leva Jesus a agir de forma concreta: a reintegrar o marginalizado. E estes são os três conceitos-chave que a Igreja nos propõe na liturgia da palavra hodierna: a compaixão de Jesus perante a marginalização e a sua vontade de integração.
Marginalização: Moisés, ao tratar juridicamente a questão dos leprosos, reclama que sejam afastados e marginalizados da comunidade, enquanto persistir o mal, e declara-os «impuros» (cf. Lv 13,1-2.45-46).
Imaginai quanto sofrimento e quanta vergonha devia sentir, física, social, psicológica e espiritualmente, um leproso! Não é apenas vítima da doença, mas sente que é também o culpado, punido pelos seus pecados. É um morto-vivo, como «se o pai lhe tivesse cuspido na cara» (cf. Nm 12,14).
Além disso, o leproso suscita medo, desprezo, nojo e, por isso, é abandonado pelos seus familiares, evitado pelas outras pessoas, marginalizado pela sociedade; mais, a própria sociedade o expulsa e constringe a viver em lugares afastados dos sãos, exclui-o. E o modo como o faz é tal que, se um indivíduo são se aproximasse de um leproso seria severamente punido e com frequência tratado, por sua vez, como leproso.
É verdade, a finalidade desta legislação era «salvar os sãos», «proteger os justos» e, para os defender de qualquer risco, marginalizava «o perigo» tratando sem piedade o contagiado. De facto, assim exclamou o sumo sacerdote Caifás: «Convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira» (Jo 11,50).
Integração: Jesus revoluciona e sacode intensamente aquela mentalidade fechada no medo e autolimitada pelos preconceitos. Contudo Ele não abole a Lei de Moisés, mas leva-a à perfeição (cf. Mt 5,17), declarando, por exemplo, a ineficácia contraproducente da lei de talião; declarando que Deus não gosta da observância do sábado que despreza o homem e o condena; ou, quando perante a mulher pecadora, não a condena, pelo contrário salva-a do zelo cego de quantos já estavam prontos para a lapidar sem dó nem piedade, convictos de aplicar a Lei de Moisés. Jesus revoluciona também as consciências no Sermão da Montanha (cf. Mt 5), abrindo novos horizontes para a humanidade e revelando plenamente a lógica de Deus: a lógica do amor, que não se baseia no medo mas na liberdade, na caridade, no zelo salutar e no desígnio salvífico de Deus: «Deus, nosso Salvador, quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (1Tm 2,3-4). «Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (Mt 12,7; cf. Os 6,6).
Jesus, novo Moisés, quis curar o leproso, quis tocá-lo, quis reintegrá-lo na comunidade, sem Se «autolimitar» nos preconceitos; sem Se adequar à mentalidade dominante do povo; sem Se preocupar de modo algum com o contágio. Jesus responde à súplica do leproso sem demora e sem os habituais adiamentos para estudar a situação e todas as eventuais consequências. Para Jesus, o que importa acima de tudo é alcançar e salvar os afastados, curar as feridas dos doentes, reintegrar a todos na família de Deus. E isto deixou alguém escandalizado!
E Jesus não teme este tipo de escândalo. Não olha às mentes fechadas que se escandalizam até por uma cura, que se escandalizam diante de qualquer abertura, qualquer passo que não entre nos seus esquemas mentais e espirituais, qualquer carícia ou ternura que não corresponda aos seus hábitos de pensar e à sua pureza ritualista. Ele quis integrar os marginalizados, salvar aqueles que estão fora do acampamento (cf. Jo 10).
Trata-se de duas lógicas de pensamento e de fé: o medo de perder os salvos e o desejo de salvar os perdidos. Hoje, às vezes, também acontece encontrarmo-nos na encruzilhada destas duas lógicas: a dos doutores da lei, ou seja marginalizar o perigo afastando a pessoa contagiada, e a lógica de Deus que, com a sua misericórdia, abraça e acolhe reintegrando e transformando o mal em bem, a condenação em salvação e a exclusão em anúncio.
Estas duas lógicas percorrem toda a história da Igreja: marginalizar e reintegrar. São Paulo, ao pôr em prática o mandamento do Senhor de levar o anúncio do Evangelho até aos últimos confins da terra (cf. Mt 28,19), escandalizou e encontrou forte resistência e grande hostilidade sobretudo da parte daqueles que exigiam, inclusive aos pagãos convertidos, uma observância incondicional da Lei mosaica. O próprio São Pedro foi duramente criticado pela comunidade, quando entrou na casa de Cornélio, um centurião pagão (cf. At 10) .
O caminho da Igreja, desde o Concílio de Jerusalém em diante, é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração. Isto não significa subestimar os perigos nem fazer entrar os lobos no rebanho, mas acolher o filho pródigo arrependido; curar com determinação e coragem as feridas do pecado; arregaçar as mangas em vez de ficar a olhar passivamente o sofrimento do mundo. O caminho da Igreja é não condenar eternamente ninguém; derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com coração sincero; o caminho da Igreja é precisamente sair do próprio recinto para ir à procura dos afastados nas «periferias» essenciais da existência; adoptar integralmente a lógica de Deus; seguir o Mestre, que disse: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores» (Lc 5,31-32).
Curando o leproso, Jesus não provoca qualquer dano a quem é são, antes livra-o do medo; não lhe cria um perigo, mas dá-lhe um irmão; não despreza a Lei, mas preza o homem, para o qual Deus inspirou a Lei. De facto, Jesus liberta os sãos da tentação do «irmão mais velho» (cf. Lc 15,11-32) e do peso da inveja e da murmuração dos «trabalhadores que suportaram o cansaço do dia e o seu calor» (cf. Mt 20,1-16).
Consequentemente, a caridade não pode ser neutra, asséptica, indiferente, morna ou equidistante. A caridade contagia, apaixona, arrisca e envolve. Porque a caridade verdadeira é sempre imerecida, incondicional e gratuita (cf. 1Cor 13). A caridade é criativa, encontrando a linguagem certa para comunicar com todos aqueles que são considerados incuráveis e, portanto, intocáveis. Encontrando a linguagem certa… O contato é a verdadeira linguagem comunicativa, a mesma linguagem afectiva que comunicou a cura ao leproso. Quantas curas podemos realizar e comunicar, aprendendo esta linguagem do contato! Era um leproso e tornou-se arauto do amor de Deus. Diz o Evangelho: «Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido» (cf. Mc 1,45).
Amados novos Cardeais, esta é a lógica de Jesus, este é o caminho da Igreja: não só acolher e integrar, com coragem evangélica, aqueles que batem à nossa porta, mas sair, ir à procura, sem preconceitos nem medo, dos afastados revelando-lhes gratuitamente aquilo que gratuitamente recebemos. «Quem diz que permanece em [Cristo], deve caminhar como Ele caminhou» (1Jo 2,6). A disponibilidade total para servir os outros é o nosso sinal distintivo, é o nosso único título de honra!
E um bom pensamento, nestes dias em que recebestes o título cardinalício, será o de invocar a intercessão de Maria, Mãe da Igreja, que sofreu pessoalmente a marginalização por causa das calúnias (cf. Jo 8,41) e do exílio (cf. Mt 2,13-23), para que nos alcance a graça de sermos servos fiéis a Deus. Ensine-nos ela - que é a Mãe - a não termos medo de acolher com ternura os marginalizados; a não temermos a ternura. Quantas vezes temos medo da ternura! Que ela nos ensine a não temer a ternura e a compaixão; que ela nos revista de paciência acompanhando-os no seu caminho, sem buscar os triunfos dum sucesso mundano; que ela nos mostre Jesus e faça caminhar como Ele.
Amados irmãos novos Cardeais, com os olhos fixos em Jesus e na nossa Mãe, exorto-vos a servir a Igreja de tal maneira que os cristãos - edificados pelo nosso testemunho - não se sintam tentados a estar com Jesus, sem quererem estar com os marginalizados, isolando-se numa casta que nada tem de autenticamente eclesial. Exorto-vos a servir Jesus crucificado em toda a pessoa marginalizada, seja pelo motivo que for; a ver o Senhor em cada pessoa excluída que tem fome, que tem sede, que não tem com que se cobrir; a ver o Senhor que está presente também naqueles que perderam a fé, que se afastaram da prática da sua fé ou que se declaram ateus; o Senhor, que está na cadeia, que está doente, que não tem trabalho, que é perseguido; o Senhor que está no leproso, no corpo ou na alma, que é discriminado. Não descobrimos o Senhor, se não acolhemos de maneira autêntica o marginalizado. Recordemos sempre a imagem de São Francisco, que não teve medo de abraçar o leproso e acolher aqueles que sofrem qualquer género de marginalização. Verdadeiramente, amados irmãos, é no evangelho dos marginalizados que se joga, descobre e revela a nossa credibilidade!


Fonte: Santa Sé.

Fotos do Consistório para a Criação de Cardeais

No último dia 14 de fevereiro, Sua Santidade o Papa Francisco presidiu na Basílica Vaticana um Consistório para a Criação de novos Cardeais e para algumas Causas de Canonização.

A convite de Francisco, também esteve presente Sua Santidade o Papa Emérito Bento XVI.

O Papa Francisco foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Diego Giovanni Ravelli. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Barretes dos novos Cardeais
Bulas de criação dos novos Cardeais
Francisco saúda Bento XVI
Oração diante do túmulo de São Pedro
Cardeal Mamberti agradece o Santo Padre em nome dos Cardeais