quinta-feira, 31 de maio de 2012

A celebração de Corpus Christi

O que se deve preparar:
  • Todo o necessário para a celebração da Missa (Na patena, uma hóstia a ser consagrada para a procissão);
  • Turíbulo com naveta do incenso e colher. Para a procissão, dois turíbulos e duas navetas, se houver;
  • Cruz processional;
  • Dois a seis castiçais com velas;
  • Missal Romano;
  • Livro dos Evangelhos;
  • Sinetas;
  • Ostensório;
  • Capa pluvial e véu umeral (brancos/cor festiva);
  • Quatro ou seis tochas;
  • Pálio, se houver;
  • Texto da Bênção do Santíssimo Sacramento;
  • Teca (se necessário);
  • Quatro ou seis castiçais sobre o altar ou junto dele.
Celebração Eucarística
A celebração inicia-se com a procissão de entrada, na seguinte ordem:
  • Turiferário e naveteiro;
  • Cruciferário ladeado pelos acólitos com castiçais;
  • Acólitos e demais ministros;
  • Diácono (se houver) com o Livro dos Evangelhos;
  • Sacerdote.
Chegando ao altar, o sacerdote o venera e incensa, como de costume. Seguem-se os ritos iniciais, como de costume: sinal da cruz, saudação presidencial, Ato Penitencial, Glória e Oração do dia.


As leituras, o salmo e o Evangelho são proclamados como de costume, inclusive com a procissão de incenso e velas ao Evangelho. Acrescenta-se, se for oportuno, o canto ou recitação da Sequência após a segunda leitura. A Sequência é proferida por um leitor ou cantada por um cantor do ambão ou de outro lugar oportuno. Durante a Sequência todos permanecem sentados.

Após a homilia segue-se a Profissão de fé e a Oração Universal. Ao Ofertório, é conveniente organizar uma procissão dos fieis que trazem ao altar os dons do pão e do vinho (âmbulas e galhetas). A apresentação das oferendas faz-se como de costume, inclusive com o uso do incenso.


O Prefácio a ser utilizado é o da Santíssima Eucaristia I ou II. Toma-se a Oração Eucarística I ou III. Durante o Santo, faz-se a procissão com incenso e velas e tocam-se as sinetas após a Consagração. Nesta celebração, convém que todos possam receber a comunhão sob as duas espécies.


Procissão Eucarística
Após a comunhão dos fiéis, deixa-se sobre o altar um corporal estendido e o ostensório vazio. Em tempo oportuno o diácono ou o próprio sacerdote depõe a hóstia no ostensório, faz a devida genuflexão e dirige-se ao seu lugar. O sacerdote, ao chegar à sua sede, depõe a casula e reveste o pluvial ou, se preferir, veste o pluvial após a Oração depois da Comunhão.


Recitada a Oração depois da Comunhão, o sacerdote dirige-se para a frente do altar e os acólitos trazem um ou dois turíbulos. O sacerdote impõe o incenso no(s) turíbulo(s) e, ajoelhado no genuflexório preparado, toma um turíbulo e incensa o Santíssimo Sacramento.


Em seguida, recebe o véu umeral, genuflete e toma o ostensório nas mãos cobertas com o véu. Tem início então a Procissão Eucarística, na seguinte ordem:
  • Cruciferário ladeado pelos acólitos com velas acesas;
  • Acólitos e demais ministros, com velas acesas nas mãos;
  • Turiferário(s) e naveteiro(s);
  • Sacerdote com o Santíssimo Sacramento, ladeado por quatro ou seis acólitos com tochas e encimado pelo pálio, se houver;
  • Fieis, que podem levar velas acesas nas mãos.

É conveniente que a procissão dirija-se de uma igreja a outra. Se não for possível, que retorne à mesma igreja ou ainda que se encerre em outro lugar digno, como em uma praça. Se for este o caso, que se prepare uma mesa ornada de toalha branca, quatro ou seis castiçais com velas e flores.

Durante a procissão cantam-se cantos eucarísticos e proferem-se orações adequadas. Pode-se parar durante a procissão nas chamadas “estações” e inclusive dar a bênção eucarística. Conserve-se igualmente o costume de enfeitar as ruas do trajeto da procissão com tapetes, feitos dos mais diversos materiais.


 Ao chegar ao altar da bênção, seja ele na igreja ou em outro lugar digno, o sacerdote depõe o ostensório sobre o altar (ou sobre a mesa), depõe o véu umeral e ajoelha-se no genuflexório preparado. Tendo todos também ajoelhado (na medida do possível quando trata-se de lugar fora da igreja), o sacerdote incensa o Santíssimo Sacramento  enquanto entoa-se o hino “Tão sublime Sacramento” (Tantum ergo):

Tão sublime Sacramento
adoremos neste altar
Pois o Antigo Testamento
deu ao Novo o seu lugar.
Venha a fé por suplemento
os sentidos completar.
Ao eterno Pai cantemos
e a Jesus o Salvador.
Ao Espírito exaltemos
na Trindade eterno amor.
Ao Deus uno e trino demos
a alegria do louvor. Amém.


Tantum ergo Sacramentum
Veneremur, cernui:
Et antiquum documentum
Novo cedat ritui;
Praestet fides supplementum
Sensuum defectui.

Genitori, Genitoque
Laus et iubilatio,
Salus, honor, virtus quoque
Sit et benedictio:
Procedenti ab utroque
Compar sit laudatio. Amen
.


Em seguida, ainda de joelhos, o sacerdote profere a invocação: “Do céu lhes destes o Pão” e a assembleia responde “Que contém todo sabor. Em seguida levanta-se e profere a seguinte oração:

Senhor Jesus Cristo, neste admirável Sacramento nos deixastes o memorial de vossa paixão. Dai-nos venerar com tão grande amor o mistério do vosso Corpo e do vosso Sangue, que possamos colher continuamente os frutos da vossa Redenção. Vós que viveis e reinais para sempre. Amém.


O sacerdote celebrante recebe novamente o véu umeral e, dirigindo-se ao altar, toma o ostensório e faz com ele o sinal da cruz sobre o povo, em silêncio. Enquanto isso, o Santíssimo Sacramento é incensado e tocam-se as sinetas.


O sacerdote repõe o ostensório sobre o altar, ajoelha-se novamente no genuflexório e diz com o povo as seguintes orações:

Bendito seja Deus.
Bendito seja seu santo nome.
Bendito seja Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Bendito seja o nome de Jesus.
Bendito seja o seu sacratíssimo Coração.
Bendito seja seu preciosíssimo Sangue.
Bendito seja Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento do Altar.
Bendito seja o Espírito Santo Paráclito.
Bendita seja a grande Mãe de Deus, Maria Santíssima.
Bendita seja a sua santa e Imaculada Conceição.

Bendita seja a sua gloriosa Assunção. Bendito seja o nome de Maria, Virgem e Mãe.
Bendito seja São José, seu castíssimo esposo.
Bendito seja Deus nos seus anjos e nos seus santos.

Deus e Senhor nosso, protegei a vossa Igreja, dai-lhe santos pastores e dignos ministros. Derramai as vossas bênçãos sobre o nosso Santo Padre, o Papa, sobre o nosso (Arce)Bispo (e seu Bispo Auxiliar/seus Bispos Auxiliares), sobre o nosso pároco, sobre todo o clero, sobre o(a) chefe da nação e do Estado e sobre todas as pessoas constituídas em dignidade, para que governem com justiça. Dai ao povo brasileiro paz constante e prosperidade completa. Favorecei com os efeitos contínuos de vossa bondade o Brasil, este (arce)bispado, a paróquia em que habitamos, cada um de nós em particular e todas as pessoas por quem somos obrigados a orar, ou que se recomendaram às nossas orações. Tende misericórdia das almas dos fiéis que padecem no purgatório. Dai-lhes, Senhor, o descanso e a luz eterna. Amém.


Reza-se então um Pai Nosso, uma Ave Maria e uma pequena doxologia (Glória ao Pai...) nas intenções do Santo Padre, o Papa Bento XVI. Em seguida, o diácono ou o próprio sacerdote retira o Santíssimo Sacramento do ostensório e o repõe no sacrário. Se a celebração encerrou-se fora da igreja, o diácono ou o sacerdote põe a hóstia em uma teca e o diácono ou outro ministro leva o Santíssimo Sacramento respeitosamente de volta à igreja, enquanto os outros ministros levam as demais alfaias.

A celebração encerra-se com a procissão de saída, na mesma ordem da procissão de entrada, se a celebração encerrou-se em uma igreja. Se a celebração encerrou-se fora da igreja, os ministros podem retornar processionalmente à igreja.

REFERÊNCIAS:

SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Cerimonial dos Bispos, Cerimonial da Igreja: Tradução portuguesa da Edição Típica. São Paulo: Paulus, 2004 (3ª edição).

SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Missal Romano: Tradução portuguesa da 2ª Edição Típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 2006 (10ª edição).

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O apagar do círio pascal

Com a solenidade de Pentecostes o círio pascal é retirado do presbitério e conduzido ao batistério, onde permanece ao longo de todo o ano para ser aceso durante o Batismo. Como indica a Carta Circular Paschalis Solemnitatis, da Congregação para o Culto Divino (n. 99), ao referir-se ao Tempo Pascal:

“O círio pascal, colocado junto do ambão ou perto do altar, permaneça aceso ao menos em todas as celebrações litúrgicas mais solenes deste tempo, tanto na missa como nas laudes e vésperas, até ao domingo de Pentecostes, Depois, o círio é conservado com a devida honra no batistério, para acender nele os círios dos neo-batizados. Na celebração das exéquias o círio pascal seja colocado junto do féretro, para indicar que a morte é para o cristão a sua verdadeira Páscoa. Fora do tempo da Páscoa não se acenda o círio pascal nem seja conservado no presbitério


O gesto de apagar e retirar o círio pascal do presbitério na solenidade de Pentecostes costuma ser solenizado em alguns lugares. Contudo, tal gesto não deve ser acompanhado de orações, uma vez que não há nenhum formulário aprovado pela autoridade competente, isto é, a Santa Sé.

Portanto, tal rito deve ser feito em silêncio ou acompanhado de um canto de índole pascal ou pneumatológica (relativa ao Espírito Santo).

“Na verdade, o círio pascal é apagado, para simbolizar a conclusão da presença visível do Senhor e o início daquela visível por obra do Espírito. Esse gesto indica a diferença entre Páscoa e Pentecostes”

Dom Peter Elliot, em seu livro Ceremonies of the Liturgical Year According to the Modern Roman Rite dá a seguinte sugestão:

“Após a despedida, o incenso é preparado e abençoado. O diácono (ou, em sua falta, o celebrante) leva o Círio Pascal, e, precedido pelo turiferário, cruciferário e ceroferários (preferencialmente sem as velas), carrega-o até o batistério, onde é colocado em seu castiçal ou suporte. O celebrante pode incensá-lo com três ductos; então a procissão retorna à sacristia ou sala das vestimentas, como de costume. O Círio deverá ser apagado quando todo o povo tiver saído da igreja.”
(Trecho publicado no blog Salvem a Liturgia)

Foi a partir de tal sugestão que a cerimônia realizou-se no Seminário São José (Arquidiocese de Curitiba) no dia 31 de maio de 2009, Solenidade de Pentecostes. Presidiu as II Vésperas da Solenidade e a Bênção do  Santíssimo Sacramento o então reitor do Seminário:

Hino das Vésperas: Veni Creator
Bênção do Santíssimo Sacramento
Incensação do círio pascal
Procissão ao batistério
Deposição do círio no batistério e apagar da chama

sábado, 26 de maio de 2012

Os símbolos do Espírito Santo

O Catecismo da Igreja Católica, promulgado por São João Paulo II (†2005) em outubro de 1992, após um breve prólogo (nn. 1-25), está dividido em quatro partes: a profissão da fé (nn. 26-1065), a celebração do mistério cristão (nn. 1066-1690), a vida em Cristo (nn. 1691-2557) e a oração cristã (nn. 2558-2865).

Na primeira parte, a seção dedicada à profissão de fé propriamente dita, isto é, ao Creio, está estruturada em três capítulos, conforme as três Pessoas da Santíssima Trindade: o Pai (nn. 199-421), o Filho (nn. 422-682) e o Espírito Santo (nn. 683-1065).

No início desse terceiro capítulo há uma série de parágrafos (nn. 694-701) que apresentam oito símbolos do Espírito Santo, alguns dos quais, com efeito, estão diretamente ligados aos sinais sacramentais (como a água ou o óleo) e estão presentes nos textos litúrgicos (leituras, orações, hinos...) e na arte sacra:

Catecismo da Igreja Católica
Os símbolos do Espírito Santo

694. A água

O simbolismo da água é significativo da ação do Espírito Santo no Batismo, pois após a invocação do Espírito Santo ela se torna o sinal sacramental eficaz do novo nascimento: assim como a gestação de nosso primeiro nascimento se operou na água, da mesma forma também a água batismal significa realmente que nosso nascimento para a vida divina nos é dado no Espírito Santo. Mas, “batizados em um só Espírito”, também “bebemos de um só Espírito” (1Cor 12,13): o Espírito é, pois, também pessoalmente a água viva que jorra de Cristo Crucificado (cf. Jo 19,34; 1Jo 5,8) como de sua fonte e que em nós jorra em vida eterna (cf. Jo 4,10-14; 7,38: Ex 17,1-6; Is 55,1; Zc 14,8; 1Cor 10,4; Ap 21,6; 22,17).

O Espírito como "água viva"
(Batistério do Santuário Nacional de Aparecida)

695. A unção

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O sacerdote na celebração de Pentecostes

OFÍCIO DE CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SUMO PONTÍFICE

O sacerdote na celebração de Pentecostes

O Pentecostes faz da Igreja a antítese da Torre de Babel. Faz dela a cidade onde, como diz a oração da coleta na Missa da Vigília: “os povos dispersos se reúnem agora e as diversas línguas se unem a proclamar” com uma só fé a glória do Senhor. Este é possivelmente o início, porque todos escutavam os Apóstolos pregarem em sua própria língua. A pregação do Evangelho precede e acompanha a sua versão escrita: assim, no início da Igreja, é o Magistério apostólico que torna compreensíveis as Escrituras.

1. À luz disto, é necessário antes de tudo guardar-se de juízos sumários sobre a história da Igreja, como aqueles que afirmam que os católicos de séculos muito próximos a nós acreditavam que a leitura da Bíblia não era necessária à salvação e, portanto, era melhor transmitir aos fieis a mensagem bíblica através da “via indireta" da pregação e da catequese. Diante de semelhantes juízos, basta lembrar que o ministro da rainha Candace, que mesmo lendo Isaías em uma linguagem familiar, não entendia o sentido da Escritura: "Como posso compreender - observou ao diácono Filipe – se alguém não me ensina?" ( At 8,31).


Os Apóstolos haviam exercitado a "mediação" sacerdotal com a celebração do Sacrifício Eucarístico e, antes ainda, “partilhando” a palavra, o que ocorria com a pregação, a catequese, a homilética. Somente um preconceito teológico pode reter tal obra apostólica da "via indireta" de acesso às Escrituras. Assim é Pedro que, recebido o Espírito Santo, toma a palavra para explicar o que aconteceu no dia de Pentecostes: este fato marca o início do Magistério da Igreja, sem o qual a Palavra de Deus permanece escondida, portanto incompreensível, ou sujeita à interpretação subjetiva.

A "profecia", ou seja, a leitura da Vigília de Pentecostes na forma extraordinária do Rito Romano e da missa do sábado na forma ordinária, ilustram a 'iluminação' que o Espírito realiza nos corações; claro que tal iluminação pode ser lida, mas a Tradição ensina que deve-se privilegiar sua escuta. Os liturgistas modernos são tendencialmente concordes em confirmar que a atitude mais adequada por parte dos fieis durante a Liturgia da Palavra é aquela de escuta.



2. Outra tendência difundida em nossos dias consiste em comparar a vigília de Pentecostes à Vigília Pascal. Elas são, é claro, semelhantes, mas não vamos atenuar suas diferenças. As leituras da Solenidade reproduzem a dupla efusão do Espírito: no Evangelho de João, aquela procedente do Filho, Jesus, que apareceu no Cenáculo, para a remissão dos pecados; a outra, dos Atos, para a expansão missionária e a interiorização do mistério pascal. Todavia, a vigília da Ressurreição do Senhor é a origem da efusão do Espírito e, ao invés, o Domingo de Pentecostes dá cumprimento à Páscoa, a favor do Corpo de Cristo que é a Igreja. Na verdade, o círio pascal é apagado, para simbolizar a conclusão da presença visível do Senhor e o início daquela visível por obra do Espírito. Esse gesto indica a diferença entre Páscoa e Pentecostes. Ainda, após a despedida aleluiática dos fieis, o sacerdote celebrante pode apagar o círio - como previsto na forma extraordinária já na Ascensão - e retirar os grãos de incenso que ele antes havia cravado no círio na noite de Páscoa.


3. Outro ato presente na forma extraordinária é aquele da genuflexão dos ministros durante a Ladainha que precede o início da Missa da vigília e a Sequência na Missa do Dia: um paralelo entre o rito da gonuklisía - a genuflexão - na liturgia bizantina. Não se pode obter a "descida" do Espírito Santo sem haver dobrado os joelhos em adoração a Ele que, ressuscitado e ascendido ao Céu, envia da direita do Pai o Espírito à Igreja. A iconografia latina representa de preferência deste modo a disposição dos Apóstolos com Maria no Cenáculo.


Somente o não conhecimento do plano de fundo comum entre Roma e Bizâncio – cuja evidência ritual era maior antes da reforma litúrgica pós-conciliar - pode reter a pregação e a representação, como tem sido escrito recentemente: "uma piedade sentimental, dominada pela contemplação dos ‘mistérios’ da vida de Cristo”.

O Espírito não quer ser adorado, dizia paradoxalmente von Balthasar, mas quer adorar em nós o Filho Senhor e, por Ele, o Pai: Ele é "voltado" para o Senhor, Ele mesmo é  Senhor. Tal adoração aparece como a conclusão lógica do Mistério Pascal: Spiritus Domini replevit orbem terrarum, como canta a antífona de entrada do dia de Pentecostes.

4. Como se faz ao imaginar a descontinuidade na Tradição da Igreja, contrapondo o alimento à edificação da fé, considerando que a pregação de um tempo deveria voltar-se apenas a esta última? O ambões, os pergaminhos e os púlpitos das nossas igrejas e catedrais mostram que a palavra de Deus esteve sempre no centro da vida eclesial, mesmo que nós, clérigos e leigos, nem sempre saibamos obter todo o proveito possível. Antes, o fato de que tais estruturas litúrgicas foram colocadas no meio da assembleia recorda a preocupação de instruir os catecúmenos e os fiéis a fim de receberem os sacramentos. Embora o Vaticano II tenha certamente promovido posteriormente uma maior utilização da Sagrada Escritura na liturgia, constatamos que até agora o desejo do Concílio continua por resolver; basta tomar nota das "lamentações" dos catequistas e liturgistas sobre a realidade atual da homilética e da catequese, apesar da reforma pós-conciliar. Portanto, é necessário ter fé no Espírito que em todos os tempos renova a face da terra! Nem mesmo nós do terceiro milênio estamos imunes a retrocessos espirituais.

5. O sacerdote em Pentecostes deve proclamar que "hoje" - como canta o Prefácio - se completou o mistério pascal em Jerusalém com o nascimento da Igreja universal, como lembrou o Santo Padre em sua homilia no Pentecostes de 2008, retomando o ensinamento da Carta Communionis notio, enviada por ele - na época prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé - aos bispos da Igreja Católica. A Igreja nasceu universal, não particular ou local, mas uma e católica, santa e apostólica. É a tal pertença que os sacerdotes devem se educar; antes ainda da "diocesaneidade", a qual certamente tem valor, primariamente se empenhem na "catolicidade". É um sinal instintivo e imediato a referência que os fieis católicos sentem para com o Papa, como princípio de unidade interna da Igreja. A autoridade do Papa não é mediada por outra instância, mas é a autoridade dos bispos que é exercido só em comunhão com aquela do Bispo de Roma.


6. É um sinal, na liturgia, o uso da língua latina, a qual, propriamente porque superior a idiomas locais, recorda visivelmente o mistério da única língua de Pentecostes, contraposta à confusão de Babel. Diz o Prefácio: "Derramou o Espírito Santo [...] que reuniu as línguas da família humana na profissão de uma única fé". Se reflita sobre o fato de que o culto postula antes a linguagem sacra, que com seu vocabulário constitui uma via específica para organizar a experiência religiosa. Embora o racionalismo tenda a rejeitá-la, a fé no sobrenatural conduz, necessariamente, a adotar uma linguagem sacra no culto. Ela ajuda a preservar Tradição e a ortodoxia da fé - como atestam a presença imutável do Kyrie, do Amém, do Aleluia, do Hosana – ainda que de boa vontade traduzamos em língua corrente as leituras, onde é prevalente a exigência da comunicação. Porém, defender que a leitura das Escrituras em latim dificulta a eficácia da Palavra de Deus no coração do fiel significa negar toda a história de fé e de santidade de dois mil anos.  

A língua latina serve para exprimir melhor a unidade e a universalidade da Igreja (cf. Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, n. 62). Podemos pensar que a chamada "Missa Internacional", celebrada em várias línguas, onde apenas uma parte dos fiéis a compreender o que é dito em cada momento (e outros, por consequência, não compreendem), exprima melhor a universalidade da Igreja do que a Missa em latim? Por outro lado, a linguagem é parte de um amplo esforço por evangelizar a cultura, que propriamente Pentecostes a iniciado. A língua latina é um fator de unidade: ela lançou as bases da civilização cristã, chegou até nós e continuará a desenvolver-se.

7. Acreditamos que na celebração de Pentecostes, o sacerdote tenha a possibilidade de instruir os fiéis sobre estes pontos que pudemos sumariamente expor: deles depende a compreensão da catolicidade da Igreja. Propriamente a Jerusalém o Bispo Cirilo recordava: "Não pergunte onde está a Igreja, mas especifica bem e pergunta onde está a Igreja Católica" (PG 33,1048).


Texto traduzido livremente pelo autor deste blog, Sem. André Florcovski, do original italiano publicado no site da Santa Sé.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O hino Veni Creator Spiritus

Durante a semana que antecede a Solenidade de Pentecostes, aqueles que rezam a Liturgia das Horas têm a oportunidade de entoar como hino das Vésperas (oração da tarde) uma das mais belas composições poéticas da Igreja: o Veni Creator Spiritus (Ó, vinde, Espírito Criador).

Vitral do Espírito Santo da Basílica de São Pedro

Além de hino das Vésperas entre a Ascensão e o Pentecostes, o Veni Creator é entoado:
- nas ordenações episcopais (cf. Cerimonial dos Bispos, n. 575);
- no início do conclave para a eleição do Bispo de Roma (cf. Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, n. 50);
- nas canonizações dos novos santos;
- no primeiro dia do ano civil (cf. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 116);
- no início dos Concílios e Sínodos;
- e em outras celebrações importantes para a vida da Igreja nas quais se deseja invocar a presença do Espírito Santo.

O Veni Creator Spíritus foi composto no século IX, sendo tradicionalmente atribuído a São Rabano Mauro (†856). Grande erudito, Rabanus Maurus foi o Abade do mosteiro beneditino de Fulda e posteriormente Arcebispo de Mogúncia (Mainz), na Alemanha.

A popularização do hino deu-se a partir de 1049, quando foi entoado no Sínodo de Reims (França), presidido pelo Papa Leão IX (†1054).

Rabano Mauro, considerado o autor do Veni Creator

Confira a seguir o texto do hino em latim e sua tradução oficial para o português do Brasil, conforme constam no livro da Liturgia das Horas:

Hymnus: Veni, Creátor Spíritus

Veni, Creátor Spíritus,
mentes tuórum vísita,
imple supérna grátia,
quae tu creásti, péctora.

Qui díceris Paráclitus,
donum Dei altíssimi,
fons vivus, ignis, cáritas,
et spiritális únctio.

Tu septifórmis múnere,
dextrae Dei tu dígitus
tu rite promíssum Patris
sermóne ditans gúttura.

sábado, 19 de maio de 2012

Mensagem do Papa: Dia das Comunicações 2012

Publicamos aqui a Mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações 2012. Embora não trate explicitamente do tema da Liturgia, apresenta uma valiosa reflexão sobre o silêncio, realidade fundamental em toda ação litúrgica:

Papa Bento XVI
Mensagem para o 46º Dia Mundial das Comunicações Sociais
Domingo, 20 de Maio de 2012
«Silêncio e palavra: caminho de evangelização»

Amados irmãos e irmãs,
Ao aproximar-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, desejo partilhar convosco algumas reflexões sobre um aspecto do processo humano da comunicação que, apesar de ser muito importante, às vezes fica esquecido, sendo hoje particularmente necessário lembrá-lo. Trata-se da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas. Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado.
O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório. Uma reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens; e isto faz com que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons.
Grande parte da dinâmica atual da comunicação é feita por perguntas à procura de respostas. Os motores de pesquisa e as redes sociais são o ponto de partida da comunicação para muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões, informações, respostas. Nos nossos dias, a Rede vai-se tornando cada vez mais o lugar das perguntas e das respostas; mais, o homem de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas a questões que nunca se pôs e a necessidades que não sente. O silêncio é precioso para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes. Entretanto, neste mundo complexo e diversificado da comunicação, aflora a preocupação de muitos pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu? Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? É importante acolher as pessoas que se põem estas questões, criando a possibilidade de um diálogo profundo, feito não só de palavra e confrontação, mas também de convite à reflexão e ao silêncio, que às vezes pode ser mais eloquente do que uma resposta apressada, permitindo a quem se interroga descer até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta que Deus inscreveu no coração do homem.
No fundo, este fluxo incessante de perguntas manifesta a inquietação do ser humano, sempre à procura de verdades, pequenas ou grandes, que deem sentido e esperança à existência. O homem não se pode contentar com uma simples e tolerante troca de cépticas opiniões e experiências de vida: todos somos perscrutadores da verdade e compartilhamos este profundo anseio, sobretudo neste nosso tempo em que, «quando as pessoas trocam informações, estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os seus ideais» (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011).
Devemos olhar com interesse para as várias formas de sites, aplicativos e redes sociais que possam ajudar o homem atual não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Na sua essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas a um só versículo bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar o cultivo da sua própria interioridade. Não há que surpreender-se se, nas diversas tradições religiosas, a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas. O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: «Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra Encarnada. (...) O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio» (Exort. Ap. pós-sinodal Verbum Domini, 30 de Setembro de 2010, n. 21). No silêncio da Cruz, fala a eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo. Depois da morte de Cristo, a terra permanece em silêncio e, no Sábado Santo – quando «o Rei dorme (…), e Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos» (cf. Ofício de Leitura, de Sábado Santo) –, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade.
Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus. «Temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora» (Homilia durante a Concelebração Eucarística com os Membros da Comissão Teológica Internacional, 6 de Outubro de 2006). Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da contemplação silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda a sua força interior, a urgência da missão, a necessidade imperiosa de «anunciar o que vimos e ouvimos», a fim de que todos estejam em comunhão com Deus (cf. 1Jo 1,3). A contemplação silenciosa faz-nos mergulhar na fonte do Amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para sentirmos o seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de vida, o seu dom de amor total que salva.
Depois, na contemplação silenciosa, surge ainda mais forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-se aquele desígnio de salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em toda a história da humanidade. Como recorda o Concílio Vaticano II, a Revelação divina realiza-se por meio de «ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal modo que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido» (Const. Dogm. Dei Verbum, 2). E tal desígnio de salvação culmina na pessoa de Jesus de Nazaré, mediador e plenitude da toda a Revelação. Foi Ele que nos deu a conhecer o verdadeiro Rosto de Deus Pai e, com a sua Cruz e Ressurreição, nos fez passar da escravidão do pecado e da morte para a liberdade dos filhos de Deus. A questão fundamental sobre o sentido do homem encontra a resposta capaz de pacificar a inquietação do coração humano no Mistério de Cristo. É deste Mistério que nasce a missão da Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a tornarem-se anunciadores de esperança e salvação, testemunhas daquele amor que promove a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz.
Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio «escuta e faz florescer a Palavra» (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de Setembro de 2007), confio toda a obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação social.
Vaticano, 24 de Janeiro - dia de São Francisco de Sales - de 2012.


BENTO XVI


Fonte: Santa Sé

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O "Regina caeli"

Durante o Tempo Pascal, substituindo o tradicional “Angelus Domini” (Anjo do Senhor), os fieis são convidados a recitar o “Regina caeli” (Rainha do céu). Esta breve oração nos convida a, imitando a Virgem Maria, alegrar-nos com o grande mistério da Ressurreição do Senhor.

Esta antífona muito provavelmente foi composta nos séculos X ou XI, sendo introduzida na Liturgia pelo Papa Bento XIV em 20 de abril de 1742. No início, assim como o Angelus, era uma oração própria dos mosteiros, mas que aos poucos foi sendo difundida a todas as classes de fieis.

Esta oração pode ser recitada de manhã, ao meio-dia e à noite, como forma de santificar todo o nosso dia. Aqueles que recitam a Liturgia das Horas sempre encerram o Ofício das Completas, a última oração do dia, com esta antífona. Se for oportuno, ela pode ser cantada (em português ou em latim) e mesmo acompanhada da proclamação de um Evangelho da Ressurreição.

Segue o texto da antífona em português e em latim, para que possamos nos associar ao Santo Padre, que a recita publicamente todos os domingos, e aos fieis do mundo inteiro que a rezam sem cessar ao longo destes 50 dias do Tempo Pascal.


V: Rainha do céu alegrai-vos, aleluia.
R: Porque quem merecestes trazer em vosso seio, aleluia.
V: Ressuscitou como disse, aleluia.
R: Rogai a Deus por nós, aleluia.
V: Exultai e alegrai-vos, ó Virgem Maria, aleluia.
R: Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia.
Oremos: Ó Deus, que vos dignastes alegrar o mundo com a Ressurreição do vosso Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso, concedei-nos, vos pedimos, que por sua Mãe, a Virgem Maria, alcancemos as alegrias da vida eterna. Pelo mesmo Jesus Cristo, Senhor nosso. R: Amém.

V: Regina caeli laetare, alleluia.
R: Quia quem meruisti portáre, alleluia.
V: Resurrexit sicut dixit, alleluia.
R: Ora pro nobis Deum, alleluia.
V: Gaude et laetare, Virgo Maria, alleluia.
R: Quia surrexit Dominus vere, allelua.
Oremus: Deus, qui per resurrectionem Filii tui, Domini nostri Iesu Christi, mundum laetificare dignatus es: praesta quaesumus, ut per eius Genitricem Virginem Mariam, perpetuae capiamus gaudia vitae. Per eundem Christum Dominum nostrum. R: Amem.


Segue igualmente o vídeo do primeiro "Regina caeli" deste ano recitado pelo Papa Bento, na segunda-feira da Oitava Pascal:


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Maio, mês de Maria

O mês de Maio, para a tradição católica ocidental, é dedicado à Virgem Maria. Durante este período, os fieis espontaneamente voltam-se para a Mãe do Senhor e intensificam sua piedade mariana. Tais práticas de piedade são muito incentivadas pela Igreja, mas desde que sejam imbuídas de adequada base teológica e espírito litúrgico.


Primeiramente é necessário considerar que a criação de um “mês mariano” se deu em um período histórico de desvinculação entre Liturgia e piedade popular. Assim, muitas práticas de piedade, se não forem bem orientadas, podem conduzir aos fieis à confusão acerca dos mistérios celebrados pela Igreja ao longo de cada tempo litúrgico.

Segundo o Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia (n. 191):
“a solução mais adequada é harmonizar os conteúdos do ‘mês mariano’ com o concomitante do Ano litúrgico. Assim, por exemplo, durante o mês de maio, que em grande parte coincide com os cinqüenta dias da Páscoa, as práticas de piedade devem salientar a participação da Virgem no mistério pascal (cf. Jo 19,25-27) e em Pentecostes (cf. At 1,14)”.


Vemos nesta orientação da Igreja a preocupação em ordenar o culto da Virgem Maria com o espírito do ano litúrgico, que tem sempre como centro os mistérios de nossa salvação, isto é, os mistérios da vida de Jesus Cristo. O culto litúrgico à Virgem Maria se dá na medida em que ela participa de tais mistérios.

A fim de esclarecer melhor esta relação entre culto mariano e ano litúrgico, afirma o Concílio Vaticano II através da Constituição Sacrosanctum Concilium (n. 103):
“Na celebração anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com especial amor a Bem-aventurada Mãe de Deus, Maria, que por um vínculo indissolúvel está unida à obra salvífica do seu Filho; nela admira e exalta o mais excelso fruto da Redenção e a contempla com alegria como uma puríssima imagem daquilo que ela mesma anseia e espera ser”.


Segundo Augusto Bergamini, a presença de um “ciclo mariano” no ano litúrgico seria teologicamente insustentável, pois “a Igreja, cultuando Maria, nunca a separa de Cristo, seu Filho”. Assim, durante o Tempo Pascal, a Virgem Maria não quer atrair ninguém a si, mas quer conduzir-nos a um verdadeiro encontro com o Cristo Ressuscitado. Maria, neste tempo pascal, é a Senhora da Alegria, que alegra-se com o anúncio da Ressurreição e quer que nos alegremos igualmente com tão grande boa-nova.

Mesmo que as Sagradas Escrituras não falem claramente da Virgem Maria nos relatos da Ressurreição, cremos que também ela foi testemunha da Ressurreição de seu Filho, a Quem dera a vida e que agora manifesta-se como o Senhor da Vida. Em Pentecostes, sua presença é atestada pelo testemunho dos Atos dos Apóstolos.

Em suma, a Igreja reconhece e valoriza a piedade mariana dos fieis, mas esta deve ser sempre orientada para a celebração dos mistérios de Cristo. Que nossas celebrações do “mês mariano” jamais sobreponham-se à celebração do Mistério Pascal, que é a razão de nossa fé e a fonte de nossa salvação.


Para aprofundamento no estudo da teologia do culto mariano e sua relação com a liturgia, recomendamos a leitura da Exortação Apostólica Marialis Cultus, do Papa Paulo VI, disponível no site da Santa Sé.


REFERÊNCIAS:

BERGAMINI, Augusto. Cristo, Festa da Igreja: O Ano Litúrgico. 3ª edição. São Paulo: Paulinas, 2004.

CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium. In: Compêndio do Vaticano II. 3ª edição. Petrópolis: Vozes, 1968.

SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2003.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Fotos da Confirmação no Butiatuvinha

No último dia 06 de Maio, às 15h, a Comunidade Paroquial de Nossa Senhora da Conceição em Butiatuvinha celebrou o Sacramento da Confirmação de 84 jovens.

Presidiu a Celebração Eucarística Dom Rafael Biernaski, Bispo Auxiliar de Curitiba, e concelebrou o pároco, Pe. Elmo Heck.

Procissão de entrada
Incensação do círio pascal
Incensação da imagem da padroeira
Durante os ritos iniciais
Oração do dia