terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Catequese do Papa Bento XVI: A oração (9)

Como vimos em nossa postagem anterior, durante o mês de agosto de 2011, no contexto das férias de verão no hemisfério norte, o Papa Bento XVI proferiu algumas reflexões mais breves em suas Catequeses sobre a oração.

Para acessar a postagem que serve de índice, com os links para as Catequeses, clique aqui.

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 10 de agosto de 2011
A oração (9): Os “oásis” do espírito

Estimados irmãos e irmãs!
Em cada época, homens e mulheres que consagraram a sua vida a Deus na oração - como os monges e as monjas - estabeleceram as suas comunidades em lugares particularmente belos, nos campos, nas colinas, nos vales montanhosos, às margens dos lagos ou do mar, ou até mesmo em pequenas ilhas. Estes lugares unem dois elementos muito importantes para a vida contemplativa: a beleza da criação, que remete à beleza do Criador, e o silêncio, garantido pela distância em relação às cidades e às grandes vias de comunicação. O silêncio constitui a condição ambiental que melhor favorece o recolhimento, a escuta de Deus, a meditação. Já o próprio fato de nos deleitarmos com o silêncio, de nos deixarmos, por assim dizer, «preencher» pelo silêncio, predispõe-nos para a oração. O grande profeta Elias, no monte Horeb - ou seja, o Sinai - assistiu a um redemoinho, depois a um tremor de terra e finalmente a clarões de fogo, mas não reconheceu neles a voz de Deus; reconheceu-a, porém, em uma brisa ligeira (cf. 1Rs 19,11-13). Deus fala no silêncio, mas é preciso saber ouvi-lo. Por isso os mosteiros são um oásis em que Deus fala à humanidade; e neles encontra-se o claustro, lugar simbólico, porque é um espaço fechado, mas aberto para o céu.

O Papa em oração nos jardins de Castelgandolfo

Caros amigos, amanhã [11 de agosto] celebraremos a Memória de Santa Clara de Assis. Por isso, apraz-me recordar um destes «oásis» do espírito particularmente queridos à família franciscana e a todos os cristãos: o pequeno convento de São Damião, situado um pouco abaixo da cidade de Assis, no meio dos olivais que descem gradualmente rumo a Santa Maria dos Anjos. Ao pé daquela igrejinha, que Francisco restaurou depois da sua conversão, Clara e as primeiras companheiras estabeleceram a sua comunidade, vivendo de oração e de pequenos trabalhos. Chamavam-se «Pobres Irmãs» e a sua «forma de vida» era a mesma dos Frades Menores: «Observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo» (Regra de Santa Clara, I, 2), conservando a união da caridade recíproca (ibid., X, 7) e observando em particular a pobreza e a humildade vividas por Jesus e pela sua santíssima Mãe (ibid., XII, 13).

I Domingo da Quaresma em Milão (2023)

No dia 26 de fevereiro de 2023 o Arcebispo de Milão, Dom Mario Enrico Delpini, presidiu a Santa Missa do I Domingo da Quaresma (Domenica all’inizio della Quaresima) na Catedral de Santa Maria Nascente, o Duomo de Milão.

No Rito Ambrosiano, próprio dessa Arquidiocese, esse domingo, o sexto antes da Páscoa, marca o início do Tempo Quaresmal. Portanto, após a Missa, o Arcebispo presidiu o rito da bênção e imposição das cinzas:

Procissão de entrada
Incensação do altar
Procissão com o Livro dos Evangelhos
(No Rito Ambrosiano este é entronizado durante a aclamação)
Evangelho

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Ângelus: I Domingo da Quaresma - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 26 de fevereiro de 2023

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho deste I Domingo da Quaresma apresenta-nos Jesus no deserto tentado pelo diabo (Mt 4,1-11). Diabo significa “divisor”. O diabo quer sempre criar divisão, e é isto que procura fazer também tentando Jesus. Vejamos então de quem o quer dividir e de que modo o tenta.

De quem o diabo quer dividir Jesus? Depois de ter recebido o Batismo por João no Jordão, Jesus foi chamado pelo Pai «meu Filho muito amado» (Mt 3,17) e o Espírito Santo desceu sobre Ele sob forma de pomba (v. 16). Assim, o Evangelho apresenta-nos as três Pessoas divinas unidas no amor. Depois, o próprio Jesus dirá que veio ao mundo para nos tornar também participantes da unidade entre Ele e o Pai (Jo 17,11). Por outro lado, o diabo faz o contrário: entra em cena para dividir Jesus do Pai e desviar da sua missão de unidade para nós. Divide sempre.

Vejamos agora de que modo tenta fazê-lo. O diabo quer aproveitar da condição humana de Jesus, que é frágil porque jejuou durante quarenta dias e tem fome (Mt 4,2). Então, o maligno procura incutir-lhe três poderosos “venenos” para paralisar a sua missão de unidade. Estes venenos são o apego, a desconfiança e o poder. Antes de tudo, o veneno do apego às coisas, às necessidades; com raciocínio persuasivo, o diabo tenta persuadir Jesus: “Tens fome, por que deves jejuar? Ouve a tua necessidade, satisfá-la, tens o direito e o poder: transforma as pedras em pão”. Depois o segundo veneno, a desconfiança: “Tens a certeza - insinua o maligno - de que o Pai quer o teu bem? Põe-no à prova, chantageia-o! Atira-te do ponto mais alto do templo e obriga-o a fazer o que tu queres”. Enfim o poder: “Não tens necessidade do teu Pai! Por que esperar pelos seus dons? Segue os critérios do mundo, faz tudo sozinho e serás poderoso!”. As três tentações de Jesus. E também nós vivemos estas três tentações, sempre. É terrível, mas é assim, também para nós: apego às coisas, desconfiança e sede de poder são três tentações generalizadas e perigosas, que o diabo usa para nos dividir do Pai e já não nos faz sentir como irmãos e irmãs entre nós, para nos conduzir à solidão e ao desespero. Era o que queria fazer a Jesus e quer fazer a nós: levar-nos ao desespero.

Mas Jesus vence as tentações. E como as vence? Evitando discutir com o diabo e respondendo com a Palavra de Deus. Isto é importante: com o diabo não se discute, com o diabo não se dialoga! Jesus enfrenta-o com a Palavra de Deus. Ele cita três frases da Escritura que falam de liberdade das coisas (Dt 8,3), de confiança (Dt 6,16) e de serviço a Deus (Dt 6,13), três frases opostas às tentações. Nunca dialoga com o diabo, não negocia com ele, mas rejeita as suas insinuações com as palavras benéficas da Escritura. É um convite também para nós: com o diabo não se discute! Não se negocia, não se dialoga; não o derrotamos negociando com ele, é mais forte do que nós. Derrotamos o diabo opondo-lhe com fé a Palavra divina. Desta forma, Jesus ensina-nos a defender a unidade com Deus e entre nós dos ataques do divisor. A Palavra divina é a resposta de Jesus à tentação do diabo.

Perguntemo-nos: que lugar tem a Palavra de Deus na minha vida? Será que recorro a ela nas minhas lutas espirituais? Se tenho um vício ou uma tentação frequente, por que, ao procurar ajuda, não procuro um versículo da Palavra de Deus que responda a esse vício? Depois, quando tenho a tentação, recito-o, rezo-o, confiando na graça de Cristo. Experimentemos fazer isto, nos ajudará nas tentações, nos ajudará muito, pois, entre as vozes que se agitam dentro de nós, ressoará aquela benéfica da Palavra de Deus.

Maria, que aceitou a Palavra de Deus e pela sua humildade venceu a soberba do divisor, nos acompanhe na luta espiritual da Quaresma.

Tentações de Cristo (Basílica de São Marcos, Veneza)

Fonte: Santa Sé.

Catequese do Papa Bento XVI: A oração (8)

Durante o mês de agosto de 2011 o Papa Bento XVI deu continuidade às suas Catequeses sobre a oração. Porém, uma vez que esse mês coincide com as férias de verão no hemisfério norte, as Audiências tiveram lugar em Castel Gandolfo, e não em Roma. Assim, o Papa interrompeu a reflexão sobre os salmos para tratar outros quatro temas.

Para acessar a postagem com o índice das Catequeses sobre a oração, clique aqui.

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 03 de agosto de 2011
A oração (8):
A leitura da Bíblia, alimento para o espírito

Estimados irmãos e irmãs!
Estou muito feliz por encontrar-vos aqui em Castel Gandolfo e por retomar as Audiências interrompidas no mês de julho. Gostaria de continuar o tema ao qual tínhamos dado início, ou seja, uma «escola de oração», e também hoje, de uma maneira um pouco diversificada, sem me afastar desta temática, referir-me a alguns aspectos de índole espiritual e concreta, que parecem úteis não apenas para quem vive - em uma parte do mundo - a temporada das férias de verão, como nós, mas inclusive para todos aqueles que estão comprometidos no trabalho diário.

Quando temos um momento de pausa nas nossas atividades, de modo especial durante as férias, muitas vezes tomamos um livro que desejamos ler. É precisamente este o primeiro aspecto sobre o qual gostaria hoje de meditar. Cada um de nós tem necessidade de momentos e de espaços de recolhimento, de meditação e de calma... Graças a Deus é assim! Com efeito, esta exigência nos diz que não fomos feitos apenas para trabalhar, mas também para pensar, ponderar, ou simplesmente para acompanhar com a mente e o coração uma narração, uma história com a qual nos identificamos, em certo sentido «perder-nos» para depois nos encontrarmos enriquecidos.

O Papa abençoa com o Livro dos Evangelhos

Naturalmente muitos destes livros de leitura, que temos em mãos durante as férias são sobretudo de evasão, e isto é normal. Todavia, várias pessoas, especialmente se podem contar com espaços de pausa e de descanso mais prolongados, dedicam-se à leitura de algo mais comprometedor. Então, gostaria de lançar uma proposta: por que não descobrir alguns livros da Bíblia, que normalmente não são conhecidos? Ou dos quais, talvez, ouvimos alguns trechos durante a Liturgia, mas que nunca lemos na íntegra?

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Catequese do Papa Bento XVI: A oração (7)

Em sua série de Catequeses sobre a oração, não poderia faltar uma palavra do Papa Bento XVI sobre o Livro dos Salmos, o livro de oração por excelência: de louvor, ação de graças, súplica...

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Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 22 de junho de 2011
A oração (7):
O povo de Deus que reza: Os salmos

Queridos irmãos e irmãs,
Nas Catequeses anteriores refletimos sobre algumas figuras do Antigo Testamento particularmente significativas para a nossa meditação sobre a oração. Falei a respeito de Abraão, que intercede pelas cidades estrangeiras; de Jacó, que na luta noturna recebe a bênção; de Moisés, que invoca o perdão para o seu povo; e sobre Elias, que reza pela conversão de Israel. Com a Catequese de hoje, gostaria de começar um novo trecho do percurso: em vez de comentar episódios particulares de personagens em oração, entraremos no «livro de oração» por excelência, o Livro dos Salmos. Nas próximas Catequeses leremos e meditaremos sobre alguns dos salmos mais bonitos e mais queridos à tradição orante da Igreja. Hoje, gostaria de introduzi-los, falando sobre o Livro dos Salmos no seu conjunto.

Davi tocando harpa (Gerard van Honthorst):
O rei poeta é o “patrono” dos salmos

O Saltério apresenta-se como um «formulário» de orações, uma coletânea de 150 salmos, que a tradição bíblica oferece ao povo dos fiéis para que se tornem a sua, a nossa oração, o nosso modo de nos dirigirmos a Deus e de nos relacionarmos com Ele. Neste livro encontra expressão toda a experiência humana, com os seus múltiplos aspectos, bem como toda a gama de sentimentos que acompanham a existência do homem. Nos salmos entrelaçam-se e exprimem-se alegria e sofrimento, desejo de Deus e percepção da própria indignidade, felicidade e sentido de abandono, confiança em Deus e solidão dolorosa, plenitude de vida e medo de morrer. Toda a realidade do crente conflui nestas orações, que primeiro o povo de Israel e depois a Igreja assumiram como mediação privilegiada da relação com o único Deus e resposta adequada ao seu revelar-se na história. Enquanto orações, os salmos constituem manifestações da alma e da fé, em que todos podem reconhecer-se e nos quais se comunica aquela experiência de particular proximidade de Deus à qual cada homem é chamado. E é toda a complexidade do existir humano que se concentra na complexidade das diversas formas literárias dos vários salmos: hinos, lamentações, súplicas individuais e comunitárias, cânticos de ação de graças, salmos sapienciais e outros gêneros que podem ser encontrados nessas composições poéticas.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Meditações da Via Sacra no Coliseu 2013

Como já se tornou costume aqui em nosso blog, nesta primeira sexta-feira da Quaresma publicamos as meditações preparadas para a tradicional Via Sacra presidida pelo Papa no Coliseu.

Nesta postagem recordamos as meditações proferidas há dez anos, na Sexta-feira Santa de 2013:

O Papa Bento XVI (†2022) convidou os jovens libaneses a prepararem as meditações, sob a orientação do Cardeal Béchara Boutros Raï, Patriarca de Antioquia dos Maronitas, após sua Viagem Apostólica ao “país dos cedros” em setembro de 2012.

A Via Sacra, porém, foi presidida pelo Papa Francisco, após a renúncia do seu predecessor.

Mosaico da Crucificação realizado pelo Centro Aletti

No texto, encontramos citações dos Padres da Igreja, das Liturgias Orientais (Maronita, Caldeia, Copta, Bizantina...), e da Exortação Apostólica Ecclesia in Medio Oriente, promulgada pelo Papa Bento XVI como fruto do Sínodo Especial para o Oriente Médio (2010).

Ilustraremos nossa postagem com as estações da Via Sacra realizadas pelo Centro Aletti (Roma) em 2017 para o Santuário de Cristo Rei em Zouk Mosbeh (Líbano).

Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
Via Sacra no Coliseu presidida pelo Papa Francisco
Sexta-feira Santa, 29 de março de 2013

Meditações preparadas por jovens libaneses sob a orientação do Cardeal Béchara Boutros Raï, Patriarca de Antioquia dos Maronitas

Versículo introdutório
Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi, quia per tuam Sanctam Crucem redemisti mundum. Domine, miserere nobis.

Santo Padre: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Introdução

«Quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante d’Ele, e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”» (Mc 10,17).
A esta pergunta, que arde no mais fundo do nosso ser, Jesus deu resposta percorrendo o caminho da cruz.
Nós te contemplamos, Senhor, nesta estrada pela qual Tu, por primeiro, seguiste e no fim da qual «lançaste a tua cruz como uma ponte através da morte, a fim de que os homens pudessem passar da terra da morte para a da Vida» (Santo Efrém, o Sírio).
O chamado que fazeis a seguir-te é dirigido a todos, especialmente aos jovens e a quantos são provados por divisões, guerras ou injustiças e que lutam por ser, no meio de seus irmãos, sinais de esperança e construtores de paz.
Por isso, nos colocamos com amor diante de ti, te apresentamos os nossos sofrimentos, voltamos os nossos olhares e os nossos corações para a tua Santa Cruz e, encorajados pela tua promessa, rezamos: «Bendito seja o nosso Redentor, que nos deu a vida com a sua morte. Ó Redentor, realiza em nós o mistério da tua redenção, pela tua Paixão, a tua Morte e Ressurreição» (Liturgia Maronita).

I Estação: Jesus é condenado à morte

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos.
R. Porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Do Evangelho segundo Marcos (Mc 15,12-13.15)
Pilatos perguntou de novo: “Que quereis então que eu faça com o rei dos Judeus?”. Eles tornaram a gritar: “Crucifica-o!”. (...) Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus e o entregou para ser crucificado.

Quarta-feira de Cinzas 2023 em Manila

No dia 22 de fevereiro de 2023 o Arcebispo de Manila (Filipinas), Cardeal Jose Fuerte Advincula, presidiu a Santa Missa da Quarta-feira de Cinzas na Catedral da Imaculada Conceição em Manila:

Procissão de entrada
Ritos iniciais
Leituras
Evangelho
Homilia

Quarta-feira de Cinzas 2023 em Cracóvia

O Arcebispo de Cracóvia (Polônia), Dom Marek Jędraszewski, presidiu a Santa Missa da Quarta-feira de Cinzas no dia 22 de fevereiro de 2023 na Catedral dos Santos Venceslau e Estanislau, a Catedral de Wawel.

No mesmo dia o Arcebispo Emérito, Cardeal Stanisław Dziwisz, presidiu a Missa no Santuário de São João Paulo II.

22 de fevereiro: Quarta-feira de Cinzas na Catedral de Wawel

Procissão de entrada

Oração do dia
Evangelho

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Fotos da Quarta-feira de Cinzas em Roma (2023)

No dia 22 de fevereiro de 2023 o Papa Francisco presidiu sem celebrar a Santa Missa da Quarta-feira de Cinzas na Basílica de Santa Sabina em Roma.

Como de costume, a celebração foi precedida de uma procissão penitencial na forma das antigas estações quaresmais romanas, desde a igreja de Santo Anselmo no Aventino. A procissão foi presidida pelo Cardeal Mauro Piacenza, Penitenciário Mor da Santa Igreja, o qual também celebrou a Liturgia Eucarística, assistido pelo Monsenhor L'ubomir Welnitz.

O Santo Padre, por sua vez, foi assistido pelos Monsenhores Diego Giovanni Ravelli e Cristiano Antonietti. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

Início da celebração na igreja de Santo Anselmo
Procissão penitencial


Incensação do altar

Homilia do Papa: Quarta-feira de Cinzas 2023

Santa Missa, Bênção e Imposição das Cinzas
Homilia do Papa Francisco
Basílica de Santa Sabina
Quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

«É este o tempo favorável, é este o dia da salvação» (2Cor 6,2). Com esta frase o Apóstolo Paulo ajuda-nos a entrar no espírito do tempo quaresmal. De fato, a Quaresma é o tempo favorável para regressar ao essencial, para despojarmo-nos daquilo que nos sobrecarrega, para nos reconciliarmos com Deus, para reacendermos o fogo do Espírito Santo que habita escondido por entre as cinzas da nossa frágil humanidade. Regressar ao essencial. É um tempo de graça para pôr em prática aquilo que o Senhor nos pediu no primeiro versículo da Palavra que ouvimos: «Convertei-vos a Mim de todo o coração» (Jl 2,12). Regressar ao essencial, que é o Senhor.

É precisamente o rito das cinzas que nos introduz neste caminho de regresso, fazendo-nos dois convites: regressar à verdade de nós mesmos e regressar a Deus e aos irmãos.

Antes de tudo, regressar à verdade de nós mesmos. As cinzas recordam-nos quem somos e de onde viemos, reconduzem-nos à verdade fundamental da vida: só o Senhor é Deus e nós somos obra das suas mãos. Esta é a verdade de nós mesmos. Temos a vida, enquanto Ele é a vida. Ele é o Criador, enquanto nós somos barro frágil que é plasmado pelas suas mãos. Viemos da terra e precisamos do Céu, d’Ele; com Deus, ressurgiremos das nossas cinzas, mas, sem Ele, somos pó. Enquanto humildemente inclinamos a cabeça para receber as cinzas, vamos trazer à memória do coração essa verdade: somos do Senhor, a Ele pertencemos. Com efeito, Ele «formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe nas narinas o sopro da vida» (Gn 2,7), isto é, existimos porque Ele insuflou em nós a respiração vital. E, como Pai terno e misericordioso que é, vive também Ele a Quaresma, porque sente desejo de nós, espera-nos, aguarda o nosso regresso. E não cessa de nos encorajar a que não desesperemos, mesmo quando caímos no pó da nossa fragilidade e do nosso pecado, porque «Ele sabe de que somos formados, não Se esquece de que somos pó da terra» (Sl 103,14). Ouçamos mais uma vez: Ele não Se esquece de que somos pó da terra. Deus o sabe, ao passo que nós muitas vezes nos esquecemos disso, pensando que somos autossuficientes, fortes, invencíveis sem Ele; recorremos a maquiagens para nos julgarmos melhores do que somos: somos pó.


Por isso a Quaresma é o tempo para nos lembrarmos quem é o Criador e quem é a criatura, para proclamar que só Deus é o Senhor, para nos despojarmos da pretensão de nos bastarmos a nós mesmos e da mania de nos colocarmos no centro, de “ser o primeiro da turma”, pensar que podemos, meramente com as nossas capacidades, ser protagonistas da vida e transformar o mundo que nos rodeia. Este é o tempo favorável para nos convertermos, começando por mudar a visão que temos de nós mesmos no nosso íntimo: quantas desatenções e superficialidades nos distraem daquilo que conta, quantas vezes nos concentramos nos nossos gostos ou naquilo de que carecemos, distanciando-nos do centro do coração, esquecendo-nos de abraçar o sentido da nossa presença no mundo. A Quaresma é um tempo de verdade, para fazer cair as máscaras que colocamos todos os dias a fim de aparecer perfeitos aos olhos do mundo; para lutar - como nos disse Jesus no Evangelho - contra as falsidades e a hipocrisia: não as dos outros, mas as nossas. Olhá-las de frente e lutar.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Deus Pai 31

Nas Catequeses nn. 53-54 do ciclo sobre Deus Pai, o Papa São João Paulo II continuou sua reflexão sobre as consequências do pecado original.

Para acessar a postagem introdutória com os links para as demais Catequeses, clique aqui.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM DEUS PAI

53. As consequências do pecado na humanidade
João Paulo II - 01 de outubro de 1986

1. O Concílio de Trento formulou em um texto solene a fé da Igreja sobre o pecado original. Na última Catequese consideramos o ensinamento conciliar sobre o pecado pessoal dos primeiros pais. Agora queremos refletir sobre o que o Concílio diz acerca das consequências daquele pecado para a humanidade.

2. O texto do Decreto tridentino sobre o pecado original faz uma primeira afirmação a respeito: o pecado de Adão foi transmitido a todos os seus descendentes, isto é, a todos os homens enquanto provenientes dos primeiros pais e seus herdeiros na natureza humana, agora privada da amizade com Deus.
O Decreto tridentino o afirma explicitamente: o pecado de Adão causou dano não só a ele, mas a toda a sua descendência (cf. Denzinger, n. 1512). A santidade e a justiça originais, fruto da graça santificante, não foram perdidas por Adão apenas para si, mas também “para nós” (“nobis etiam”). Portanto, ele transmitiu a todo o gênero humano não só a morte corporal e outras penas (consequências do pecado), mas também o próprio pecado como morte da alma (“peccatum, quod mors est animae”).

Expulsão de Adão e Eva do paraíso (Benjamin West)

3. Aqui o Concílio de Trento recorre a uma observação de São Paulo na Carta aos Romanos, à qual fazia referência já o Sínodo de Cartago (418), retomando assim um ensinamento já difundido na Igreja. Na tradução atual o texto paulino soa assim: “Como o pecado entrou no mundo por um só homem e, por meio do pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5,12). No original grego se lê: “eph’o pantes emarton” (ἐφ᾽ ᾧ πάντες ἥμαρτον), expressão que na antiga Vulgata latina era traduzida como: “in quo omnes peccaverunt”, “no qual (único homem) todos pecaram”. No entanto, os gregos já desde o princípio entendiam claramente o que a Vulgata traduz como “in quo” como um “porque” ou “enquanto”, sentido comumente aceito nas traduções modernas. Todavia, esta diversidade de interpretações da expressão não altera a verdade de fundo contida no texto de São Paulo, isto é, que o pecado de Adão (dos primeiros pais) teve consequências para todos os homens. Afinal, no mesmo capítulo da Carta aos Romanos o Apóstolo escreve: “Pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores” (Rm 5,19). E no versículo anterior: “Pela transgressão de um só, a condenação se estendeu a todos” (v. 18). São Paulo vincula assim a situação de pecado de toda a humanidade com a culpa de Adão.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Catequese do Papa Bento XVI: A oração (6)

Abraão, Jacó, Moisés... O Papa Bento XVI deu continuidade às Catequeses sobre a oração meditando sobre o confronto de Elias com os profetas de Baal.

Para acessar a postagem com o índice das Catequeses desse ciclo, clique aqui.

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 15 de junho de 2011
A oração (6):
Profetas e orações em confronto (1Rs 18,20-40)

Prezados irmãos e irmãs,
Na história religiosa do antigo Israel, tiveram grande relevância os profetas com o seu ensinamento e a sua pregação. Entre eles, sobressai a figura de Elias, suscitado por Deus para levar o povo à conversão. O seu nome significa «o Senhor é o meu Deus» e é em sintonia com este nome que se desenvolve a sua vida, inteiramente consagrada a provocar no povo o reconhecimento do Senhor como único Deus. De Elias, o Livro do Eclesiástico [Sirácida] diz: «Levantou-se depois o profeta Elias, ardoroso como o fogo; as suas palavras ardiam como uma tocha» (Eclo 48,1). Com esta chama, Israel volta a encontrar o seu caminho para Deus. No seu ministério, Elias reza: invoca o Senhor para que restitua a vida ao filho de uma viúva que o tinha hospedado (cf. 1Rs 17,17-24); clama a Deus em seu cansaço e sua angústia, enquanto foge para o deserto procurado pela rainha Jezabel, que queria matá-lo (1Rs 19,1-4); mas é sobretudo no monte Carmelo que se mostra em todo o seu poder de intercessor quando, diante de todo Israel, reza ao Senhor para que se manifeste e converta o coração do povo. É o episódio narrado no capítulo 18 do Primeiro Livro dos Reis, sobre o qual hoje meditamos.

Profeta Elias (Juan de Valdés Leal)

Encontramo-nos no Reino do Norte, no século IX a. C., na época do rei Acab, em um momento em que em Israel se tinha criado uma situação de sincretismo aberto. Além do Senhor, o povo adorava Baal, o ídolo tranquilizador do qual se acreditava que derivava o dom da chuva e ao qual, por isso, se atribuía o poder de dar fertilidade aos campos e vida aos homens e ao gado. Embora pretendesse seguir o Senhor, Deus invisível e misterioso, o povo procurava a segurança também em um deus compreensível e previsível, do qual julgava que podia obter a fecundidade e a prosperidade, em troca de sacrifícios. Israel cedia à sedução da idolatria, a tentação contínua do crente, iludindo-se que pode «servir a dois senhores» (Mt 6,24; Lc 16,13) e facilitar os caminhos inacessíveis da fé do Todo-Poderoso, depositando de novo a sua confiança também em um deus impotente, feito pelos homens.

Ordenação Episcopal em Kiev

No último domingo, 19 de fevereiro de 2023, o Arcebispo-Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Dom Sviatoslav Shevchuk (Святосла́в Шевчу́к), celebrou a Divina Liturgia na Catedral da Ressurreição em Kiev, durante a qual conferiu a Ordenação Episcopal a Dom Andriy Khimyak (Андрій Хім'як), nomeado Bispo Auxiliar de Kiev.

Os co-ordenantes foram Dom Bohdan Dzyurakh (Богда́н Дзюра́х), Exarca Apostólico para os católicos ucranianos na Alemanha e Escandinávia, e Dom Stepan Sus (Степан Сус), Bispo Curial da Igreja Ucraniana.

Profissão de fé do Bispo eleito

O Arcebispo Maior abençoa os fiéis
Incensação
Rito da ordenação episcopal

Homilia: Quarta-feira de Cinzas

São Clemente I, Papa
Carta aos Coríntios
Fazei penitência

Fixemos atentamente o olhar no Sangue de Cristo e compreendamos quanto é precioso aos olhos de Deus, seu Pai, esse Sangue que, derramado para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência.

Percorramos todas as épocas do mundo e verificaremos que em cada geração o Senhor concedeu o tempo favorável da penitência a todos os que a Ele quiseram converter-se. Noé proclamou a penitência, e todos que o escutaram foram salvos. Jonas anunciou a ruína aos ninivitas, mas eles, fazendo penitência de seus pecados, reconciliaram-se com Deus por suas súplicas e alcançaram a salvação, apesar de não pertencerem ao povo de Deus.

Inspirados pelo Espírito Santo, os ministros da graça de Deus pregaram a penitência. O próprio Senhor de todas as coisas também falou da penitência, com juramento: Pela minha vida, diz o Senhor, não quero a morte do pecador, mas que mude de conduta (cf. Ez 33,11); e acrescentou esta sentença cheia de bondade: Deixa de praticar o mal, ó casa de Israel! Dize aos filhos do meu povo: “Ainda que vossos pecados subam da terra até o céu, ainda que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais negros que o cilício, se voltardes para mim de todo o coração e disserdes: ‘Pai’, eu vos tratarei como um povo santo e ouvirei as vossas súplicas” (cf. Is 1,18; 63,16; 64,7; Jr 3,4; 31,9).

Querendo levar à penitência todos aqueles que amava, o Senhor confirmou esta sentença com sua vontade todo-poderosa.

Obedeçamos, portanto, à sua excelsa e gloriosa vontade. Imploremos humildemente sua misericórdia e benignidade. Convertamo-nos sinceramente ao seu amor. Abandonemos as obras más, a discórdia e a inveja que conduzem à morte.

Sejamos humildes de coração, irmãos, evitando toda espécie de vaidade, soberba, insensatez e cólera, para cumprirmos o que está escrito. Pois diz o Espírito Santo: Não se orgulhe o sábio em sua sabedoria, nem o forte com sua força, nem o rico em sua riqueza; mas quem se gloria, glorie-se no Senhor, procurando-o e praticando o direito e justiça (cf. Jr 9,22-23; 1Cor 1,31).

Antes de tudo, lembremo-nos das palavras do Senhor Jesus, quando exortava à benevolência e à longanimidade: Sede misericordiosos, e alcançareis misericórdia; perdoai, e sereis perdoados; como tratardes o próximo, do mesmo modo sereis tratados; dai, e vos será dado; não julgueis, e não sereis julgados; fazei o bem, e ele também vos será feito; com a medida com que medirdes, vos será medido (cf. Mt 5,7; 6,14; 7,1.2).

Observemos fielmente este preceito e estes mandamen­tos, a fim de nos conduzirmos sempre, com toda humildade, na obediência às suas santas palavras. Pois eis o que diz o texto sagrado: Para quem hei de olhar, senão para o manso e humilde, que treme ao ouvir minhas palavras? (cf. Is 66,2).

Tendo assim participado de muitas, grandes e gloriosas ações, corramos novamente para a meta que nos foi proposta desde o início: a paz. Fixemos atentamente nosso olhar no Pai e Criador do universo e desejemos com todo ardor seus dons de paz e seus magníficos e incomparáveis benefícios.

São Clemente I, Papa

Responsório (Is 55,7; Jl 2,13; cf. Ez 33,11)

Que o ímpio abandone o seu caminho e desista de seus planos o malvado; que ele volte, e o Senhor terá piedade.
R. Pois o Senhor, o nosso Deus, é compassivo, é clemente, é bondoso, é indulgente; Ele se apressa em desistir de seu castigo.

O Senhor não quer a morte do pecador, mas que ele volte, se converta e tenha a vida.
R. Pois o Senhor, o nosso Deus, é compassivo, é clemente, é bondoso, é indulgente; Ele se apressa em desistir de seu castigo.

Oração
Concedei-nos, ó Deus todo-poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo da Quaresma, para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. II, pp. 42-44.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2023

Papa Francisco
Mensagem para a Quaresma de 2023
Ascese quaresmal, itinerário sinodal

Queridos irmãos e irmãs!
Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas coincidem em narrar o episódio da Transfiguração de Jesus (Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc 9,28-36). Neste acontecimento, vemos a resposta do Senhor a uma falta de compreensão manifestada pelos seus discípulos. De fato, pouco antes registrara-se uma verdadeira divergência entre o Mestre e Simão Pedro; este começara professando a sua fé em Jesus como Cristo, o Filho de Deus (Mt 16,15-19), mas em seguida rejeitara o seu anúncio da Paixão e da Cruz (vv. 21-23). E Jesus censurara-o asperamente: «Afasta-te, Satanás! Tu és para Mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens» (v. 23). Por isso, «seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, e levou-os, só a eles, a um alto monte» (Mt 17,1).


O Evangelho da Transfiguração é proclamado, cada ano, no II Domingo da Quaresma. Realmente, neste tempo litúrgico o Senhor toma-nos consigo e conduz-nos à parte. Embora os nossos compromissos ordinários nos peçam para permanecer nos lugares habituais, transcorrendo uma vida quotidiana frequentemente repetitiva e por vezes enfadonha, na Quaresma somos convidados a subir «a um alto monte» juntamente com Jesus, para viver com o Povo santo de Deus uma particular experiência de ascese.

A ascese quaresmal é um empenho, sempre animado pela graça, no sentido de superar as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz. Aquilo precisamente de que Pedro e os outros discípulos tinham necessidade. Para aprofundar o nosso conhecimento do Mestre, para compreender e acolher profundamente o mistério da salvação divina, realizada no dom total de si mesmo por amor, é preciso deixar-se conduzir por Ele à parte e ao alto, rompendo com a mediocridade e as vaidades. É preciso pôr-se a caminho, um caminho em subida, que requer esforço, sacrifício e concentração, como uma excursão na montanha. Estes requisitos são importantes também para o caminho sinodal que nos comprometemos, como Igreja, a realizar. Fará bem a nós refletir sobre esta relação que existe entre a ascese quaresmal e a experiência sinodal.

Catequese do Papa Bento XVI: Quaresma (2011)

Dando início ao Tempo da Quaresma, meditemos a Catequese proferida pelo Papa Bento XVI (†2022) na Quarta-feira de Cinzas de 2011, na qual este destaca o itinerário batismal celebrado nos domingos desse tempo no Ano A:

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 09 de março de 2011
Quaresma

Queridos irmãos e irmãs,
Hoje, marcados pelo austero símbolo das cinzas, entramos no Tempo da Quaresma, iniciando um itinerário espiritual que nos prepara para celebrar dignamente os Mistérios Pascais. As cinzas abençoadas, impostas sobre a nossa cabeça, são um sinal que nos recorda a nossa condição de criaturas, que nos convida à penitência e a intensificar o compromisso de conversão para seguir cada vez mais o Senhor.


A Quaresma é um caminho, é acompanhar Jesus que sobe a Jerusalém, lugar do cumprimento do seu mistério de Paixão, Morte e Ressurreição; recorda-nos que a vida cristã é um «caminho» a percorrer, e que consiste não tanto em uma lei a observar, mas na própria pessoa de Cristo a encontrar, receber e seguir. Com efeito, Jesus diz-nos: «Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me» (Lc 9,23). Ou seja, diz-nos que para chegar com Ele à luz e à alegria da Ressurreição, à vitória da vida, do amor e do bem, também nós temos que tomar a cruz todos os dias, como nos exorta uma bonita página da Imitação de Cristo:

«Portanto, toma a tua cruz e segue Jesus; assim entrarás na vida eterna. Foste precedido por Ele mesmo, que carregou a tua cruz (cf. Jo 19,17) e nela morreu por ti, a fim de que também tu carregues a tua cruz e desejes nela ser crucificado. Com efeito, “se morreres com Ele, viverás com Ele” (cf. Rm 6,8); se fores seu companheiro no sofrimento, o serás também na glória» (Imitação de Cristo, Livro 2, cap. 12, n. 2).

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Catequese do Papa Bento XVI: A oração (5)

Após os Patriarcas Abraão e Jacó, em sua 5ª Catequese sobre a oração o Papa Bento XVI refletiu sobre a intercessão de Moisés pelo povo no contexto da aliança do Sinai.

Confira os links para as demais Catequeses clicando aqui.

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 01 de junho de 2011
A oração (5):
A intercessão de Moisés pelo povo (Ex 32,7-14)

Queridos irmãos e irmãs,
Lendo o Antigo Testamento, uma figura ressalta no meio das outras: a de Moisés, precisamente como homem de oração. Moisés, o grande profeta e guia do tempo do êxodo, desempenhou a sua função de mediador entre Deus e Israel fazendo-se portador, junto do povo, das palavras e dos mandamentos divinos, conduzindo-o rumo à liberdade da Terra Prometida, ensinando os israelitas a viverem na obediência e na confiança em Deus, durante a sua longa permanência no deserto, mas também, e diria principalmente, rezando. Ele reza pelo Faraó quando Deus, com as pragas, procurava converter o coração dos egípcios (cf. Ex 8–10); pede ao Senhor a cura da irmã, Míriam, atingida pela lepra (Nm 12,9-13); intercede pelo povo que tinha se revoltado, amedrontado pela descrição dos exploradores (Nm 14,1-19); reza quando o fogo estava prestes a devorar o acampamento (Nm 11,1-2) e quando serpentes venenosas faziam matanças (Nm 21,4-9); dirige-se ao Senhor e reage, protestando quando o fardo da sua missão tinha se tornado demasiado pesado (Nm 11,10-15); vê Deus e fala com Ele «face a face, como alguém que fala com o próprio amigo» (cf. Ex 24,9-17; 33,7-23; 34,1-10.28-35).

Moisés desce do monte com as tábuas da Lei (Rembrandt)

Mesmo quando o povo, no Sinai, pede a Aarão que construa o bezerro de ouro, Moisés reza, explicando de maneira emblemática a própria função de intercessão. Este episódio é narrado no Livro do Êxodo (Ex 32) e contém uma narração paralela no Deuteronômio (Dt 9). É sobre este episódio que gostaria de meditar na catequese de hoje, de modo particular sobre a oração de Moisés, que encontramos na narração do Êxodo.

Ângelus: VII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 19 de fevereiro de 2023

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
As palavras que Jesus nos dirige no Evangelho deste domingo são exigentes e parecem paradoxais: Ele convida-nos a dar a outra face e a amar até os inimigos (Mt 5,38-48). É normal para nós amarmos aqueles que nos amam e sermos amigos daqueles que são nossos amigos; no entanto, Jesus provoca-nos dizendo: se agirdes desta forma, «o que fazeis de extraordinário?» (v. 47). O que fazeis de extraordinário? Eis o ponto para o qual gostaria de chamar a vossa atenção hoje, para este o que fazeis de extraordinário.

“Extraordinário” é aquilo que ultrapassa os limites do habitual, que excede as práticas habituais e os cálculos normais ditados pela prudência. Geralmente, procuramos ter tudo em ordem e sob controlo, para que corresponda às nossas expectativas, à nossa medida: temendo não termos reciprocidade ou de nos expormos demasiado e depois ficar decepcionados, preferimos amar apenas aqueles que nos amam para evitar desilusões, fazer bem apenas àqueles que são bons para conosco, ser generosos apenas com aqueles que podem retribuir o favor; e àqueles que nos tratam mal respondemos com a mesma moeda, para estarmos em equilíbrio. Mas o Senhor admoesta-nos: isto não é suficiente! Diríamos: isto não é cristão! Se permanecermos no normal, no equilíbrio entre dar e receber, as coisas não mudam. Se Deus seguisse esta lógica, não teríamos esperança alguma de salvação! Mas, felizmente para nós, o amor de Deus é sempre “extraordinário”, ou seja, vai além, vai além dos critérios habituais com os quais nós, humanos, vivemos as nossas relações.

Por conseguinte, as palavras de Jesus desafiam-nos. Enquanto procuramos permanecer no ordinário do raciocínio utilitarista, Ele pede-nos que nos abramos ao extraordinário, ao extraordinário de um amor gratuito; enquanto nós tentamos acertar as contas, Cristo encoraja-nos a viver o desequilíbrio do amor. Jesus não é um bom contabilista: não! Ele conduz sempre ao desequilíbrio do amor. Não nos surpreendamos com isto. Se Deus não se tivesse desequilibrado, nunca teríamos sido salvos: foi o desequilíbrio da cruz que nos salvou! Jesus não teria vindo à nossa procura quando estávamos perdidos e distantes, não nos teria amado até ao fim, não teria abraçado a cruz por nós, que não merecíamos tudo isto e nada lhe podíamos dar em troca. Como escreve o Apóstolo Paulo, «dificilmente alguém morrerá por um justo: por um homem bom, talvez alguém resolva morrer. Deus, porém, demonstra o seu amor para conosco, pelo fato de Cristo haver morrido por nós, quando ainda éramos pecadores» (Rm 5,7-8). Então, Deus ama-nos enquanto somos pecadores, não porque somos bons ou capazes de lhe dar algo em troca. Irmãos e irmãs, o amor de Deus é um amor sempre em excesso, sempre para além do cálculo, sempre desproporcionado. E hoje Ele pede também a nós que vivamos desta forma, porque só desta maneira o testemunharemos verdadeiramente.

Irmãos e irmãs, o Senhor propõe-nos sair da lógica do interesse próprio e não medir o amor nas escalas dos cálculos e da conveniência. Ele convida-nos a não responder ao mal com o mal, a ousar no bem, a arriscar na doação, mesmo que recebamos pouco ou nada em troca. Pois é este amor que lentamente transforma conflitos, encurta distâncias, supera inimizades e cura as feridas do ódio. Então podemos perguntar-nos, cada um de nós: será que eu, na minha vida, sigo a lógica do retorno ou a da gratuidade, como Deus? O amor extraordinário de Cristo não é fácil, mas é possível; é possível porque Ele mesmo nos ajuda, dando-nos o seu Espírito, o seu amor sem medida.

Oremos a Nossa Senhora que, respondendo a Deus o seu “sim” sem cálculos, permitiu que fizesse dela a obra-prima da sua Graça.


Fonte: Santa Sé.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Catequese do Papa Bento XVI: A oração (4)

Dando continuidade ao percurso bíblico sobre a oração no Antigo Testamento, em sua 4ª Catequese o Papa Bento XVI reflete sobre a luta de Jacó. Para acessar o índice com os links para as demais Catequeses, clique aqui.

Papa Bento XVI
Audiência Geral
Quarta-feira, 25 de maio de 2011
A oração (4):
Luta noturna e encontro com Deus (Gn 32,23-33)

Queridos irmãos e irmãs,
Hoje gostaria de meditar convosco sobre um texto do Livro do Gênesis que narra um episódio bastante particular da história do Patriarca Jacó. É um trecho de não fácil interpretação, mas importante para a nossa vida de fé e de oração; trata-se da narração da luta com Deus no vau do Jaboc, da qual ouvimos um trecho.

Como recordareis, Jacó tinha subtraído a primogenitura ao seu irmão gêmeo, Esaú, em troca de um prato de lentilhas, e depois obtivera com o engano a bênção do pai Isaac, já muito idoso, aproveitando-se da sua cegueira. Tendo fugido à ira de Esaú, refugiou-se na casa de um parente, Labão; casou, enriqueceu e agora voltava para a sua terra natal, pronto a enfrentar o irmão, depois de ter tomado algumas prudentes precauções. Mas quando tudo está pronto para este encontro, após levar aqueles que estavam com ele a atravessar o vau da torrente que delimitava o território de Esaú, Jacó, permanecendo só, é agredido repentinamente por um desconhecido, com o qual luta durante uma noite inteira. É precisamente este combate corpo a corpo - que encontramos no capítulo 32 do Livro do Gênesis - que se torna para ele uma experiência singular de Deus.

A luta de Jacó com o Anjo do Senhor (Rembrandt)

A noite é o tempo favorável para agir no escondimento, portanto, o melhor tempo para Jacó, para entrar no território do irmão sem ser visto e talvez com a ilusão de surpreender Esaú. Porém, é ele que é surpreendido por um ataque imprevisto, para o qual não estava preparado. Tinha usado a sua astúcia para procurar subtrair-se a uma situação perigosa e pensava que conseguiria ter tudo sob controle, e, no entanto, agora encontra-se a enfrentar uma luta misteriosa, que o surpreende na solidão e sem lhe dar a possibilidade de organizar uma defesa adequada. Inerme, no meio da noite, o Patriarca Jacó combate com alguém. O texto não especifica a identidade do agressor; utiliza um termo hebraico que indica «um homem» de modo genérico: «um, alguém»; portanto, trata-se de uma definição incerta, indeterminada, que mantém o assaltante voluntariamente no mistério. Está escuro e Jacó não consegue ver de modo distinto o seu adversário, e também para o leitor, para nós, ele permanece desconhecido; alguém se opõe ao Patriarca: este é o único dado certo oferecido pelo narrador. Só no final, quando a luta tiver terminado e aquele «alguém» tiver desaparecido, só então Jacó o mencionará e poderá dizer que lutou com Deus.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Ordenação Episcopal em Ivano-Frankivsk

No dia 15 de fevereiro de 2023 o Arcebispo-Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Dom Sviatoslav Shevchuk (Святосла́в Шевчу́к), celebrou a Divina Liturgia da Festa da Apresentação do Senhor (segundo o calendário juliano) na Catedral da Ressurreição em Ivano-Frankivsk (Івано-Франківськ).

Durante a celebração o Arcebispo-Maior conferiu a Ordenação Episcopal a Dom Mykola Semenyshyn (Микола Семенишин), nomeado Bispo Auxiliar da Arquieparquia de Ivano-Frankivsk.

Os co-ordenantes foram Dom Volodymyr Viytyshyn (Володимир Війтишин), Metropolita de Ivano-Frankivsk, e Dom Bohdan Dzyurakh (Богда́н Дзюра́х), Exarca Apostólico para os católicos ucranianos na Alemanha e Escandinávia.

No dia 14 de fevereiro o Bispo eleito fez seu juramento de fidelidade durante a oração das Vésperas na mesma Catedral.

14 de fevereiro: Vésperas


Leitura do decreto de nomeação do novo Bispo
Juramento de fidelidade

O Bispo eleito incensa o altar