quinta-feira, 28 de junho de 2018

Fotos da Missa do Papa em Genebra

No último dia 21 de junho, Memória de São Luís Gonzaga, o Papa Francisco celebrou a Santa Missa no Palexpo, centro de exposições em Genebra, por ocasião de sua Viagem Apostólica à cidade.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Ján Dubina. Para ler sua homilia, clique aqui.

Chegada do Santo Padre

Procissão de entrada

Incensação

Homilia do Papa: Missa em Genebra

Peregrinação Ecumênica do Papa Francisco a Genebra por ocasião do 70º Aniversário do Conselho Mundial das Igrejas
Santa Missa
Homilia do Santo Padre
Genebra - Palexpo
Quinta-feira, 21 de junho de 2018

Pai, pão, perdão: três palavras, que encontramos no Evangelho de hoje; três palavras, que nos levam ao coração da fé.
«Pai»: começa assim a oração. Pode-se continuar com palavras diferentes, mas não é possível esquecer a primeira, porque a palavra «Pai» é a chave de acesso ao coração de Deus; com efeito, só dizendo Pai é que rezamos em língua cristã, é que rezamos «cristão»: não um Deus genérico, mas Deus que é, antes de mais nada, Papá. De fato, Jesus pediu-nos para dizer «Pai nosso que estais nos céus»; não «Deus dos céus, que sois Pai». Antes de tudo, antes de ser infinito e eterno, Deus é Pai.
D’Ele provém toda a paternidade e maternidade (cf. Ef 3,15). N’Ele está a origem de todo o bem e da nossa própria vida. Então «Pai nosso» é a fórmula da vida, aquela que revela a nossa identidade: somos filhos amados. É a fórmula que resolve o teorema da solidão e o problema da orfandade. É a equação que indica o que se deve fazer: amar a Deus, nosso Pai, e aos outros, nossos irmãos. É a oração do nós, da Igreja; uma oração sem o eu nem o meu, mas toda voltada para o vós de Deus («o vosso nome», «o vosso reino», «a vossa vontade») e que se conjuga apenas na primeira pessoa do plural. «Pai nosso»: duas palavras que nos oferecem a sinalética da vida espiritual.
Desta forma, sempre que fazemos o sinal da cruz no princípio do dia e antes de cada atividade importante, sempre que dizemos «Pai nosso», reapropriamo-nos das raízes que nos servem de fundamento. Precisamos de o fazer nas nossas sociedades frequentemente desenraizadas. O «Pai nosso» revigora as nossas raízes. Quando está o Pai, ninguém fica excluído; o medo e a incerteza não levam a melhor. Prevalece a memória do bem, porque, no coração do Pai, não somos personagens virtuais, mas filhos amados. Ele não nos une em grupos de partilha, mas gera-nos juntos como família.
Não nos cansemos de dizer «Pai nosso»: lembrar-nos-á que não existe filho algum sem Pai e, por conseguinte, nenhum de nós está sozinho neste mundo; mas lembrar-nos-á também que não há Pai sem filhos: nenhum de nós é filho único, cada um deve cuidar dos irmãos na única família humana. Ao dizer «Pai nosso», afirmamos que cada ser humano é parte nossa e, face aos inúmeros malefícios que ofendem o rosto do Pai, nós, seus filhos, somos chamados a reagir como irmãos, como bons guardiões da nossa família e a trabalhar para que não haja indiferença perante o irmão, cada irmão: tanto do bebé que ainda não nasceu como do idoso que já não fala, tanto dum nosso conhecido a quem não conseguimos perdoar como do pobre descartado. Isto é o que o Pai nos pede, nos manda: amar-nos com coração de filhos, que são irmãos entre si.
Pão: Jesus diz para pedir cada dia, ao Pai, o pão. Não é preciso pedir mais: só o pão, isto é, o essencial para viver. O pão é, antes de mais nada, o alimento suficiente para hoje, para a saúde, para o trabalho de hoje; aquele alimento que, infelizmente, falta a muitos dos nossos irmãos e irmãs. Por isso digo: ai daqueles que especulam sobre o pão! O alimento básico para a vida quotidiana dos povos deve ser acessível a todos.
Pedir o pão de cada dia é dizer também: «Pai, ajuda-me a fazer uma vida mais simples». A vida tornou-se tão complicada; apetece-me dizer que hoje, para muitos, a vida de certo modo está «drogada»: corre-se de manhã à noite, por entre mil chamadas e mensagens, incapazes de parar fixando os rostos, mergulhados numa complexidade que fragiliza e numa velocidade que fomenta a ansiedade. Impõe-se uma opção de vida sóbria, livre de pesos supérfluos. Uma opção contracorrente, como outrora fez São Luís Gonzaga que hoje recordamos. A opção de renunciar a muitas coisas que enchem a vida, mas esvaziam o coração. Irmãos e irmãs, optemos pela simplicidade, a simplicidade do pão, para voltar a encontrar a coragem do silêncio e da oração, fermento duma vida verdadeiramente humana. Optemos pelas pessoas em vez das coisas, para que levedem relações, não virtuais, mas pessoais. Voltemos a amar a genuína fragrância daquilo que nos rodeia. Em casa, quando eu era criança, se o pão caísse da mesa, ensinavam-nos a apanhá-lo imediatamente e a beijá-lo. Apreciar o que temos de simples cada dia e guardá-lo: não usar e jogar fora, mas apreciar e guardar.
E não esqueçamos também que «o Pão de cada dia» é Jesus. Sem Ele, nada podemos fazer (cf. Jo 15,5). Ele é o alimento básico para viver bem. Às vezes, porém, reduzimos Jesus a um condimento; mas, se não for o nosso alimento vital, o centro dos nossos dias, o respiro da vida quotidiana, tudo é vão, temos condimento e nada mais. Ao suplicar o pão, pedimos ao Pai e dizemos para nós mesmos cada dia: simplicidade de vida, cuidado por aquilo que nos rodeia, Jesus em tudo e antes de tudo.
Perdão: é difícil perdoar, dentro trazemos sempre um pouco de queixume, de ressentimento e, quando somos provocados por quem já tínhamos perdoado, o rancor volta e… com juros. Mas, como dom, o Senhor pretende o nosso perdão. Impressiona o facto de o único comentário original ao Pai nosso, o de Jesus, se concentrar numa única frase: «Porque, se perdoardes aos outros as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas» (Mt 6,14-15). O único comentário que faz o Senhor! O perdão é a cláusula vinculante do Pai nosso. Deus liberta-nos o coração de todo o pecado, Deus perdoa tudo, tudo; mas pede uma coisa: que nós, por nossa vez, não nos cansemos de perdoar. De cada um de nós pretende uma amnistia geral das culpas alheias. Seria preciso fazer uma boa radiografia do coração, para ver se, dentro de nós, há bloqueios, obstáculos ao perdão, pedras a remover. E então dizer ao Pai: «Vede este penedo! Confio-o a Vós e peço-Vos por esta pessoa, por esta situação; embora sinta dificuldade em perdoar, peço-Vos a força de o fazer».
O perdão renova, o perdão faz milagres. Pedro experimentou o perdão de Jesus e tornou-se pastor do seu rebanho; Saulo tornou-se Paulo depois do perdão que recebeu de Estêvão; cada um de nós renasce como nova criatura quando, perdoado pelo Pai, ama os irmãos. Só então introduzimos uma novidade verdadeira no mundo, porque não há novidade maior do que o perdão, este perdão que muda o mal em bem. Vemo-lo na história cristã. Como nos fez e continua a fazer bem o fato de nos perdoarmos uns aos outros, de voltar a descobrir-nos irmãos depois de séculos de controvérsias e lacerações! O Pai é feliz, quando nos amamos e perdoamos verdadeiramente de coração (cf. Mt 18,35); e então dá-nos o seu Espírito. Peçamos esta graça: de não nos fecharmos com ânimo endurecido, sempre a reivindicar dos outros, mas de dar o primeiro passo, na oração, no encontro fraterno, na caridade concreta. Assim seremos mais parecidos com o Pai, que ama sem esperar reembolso. E Ele derramará sobre nós o Espírito de unidade.


Fonte: Santa Sé

Fotos da Celebração Ecumênica com o Papa em Genebra

No último dia 21 de junho o Papa Francisco participou de uma Celebração Ecumênica na sede do Conselho Mundial de Igrejas (World Council of Churches), durante sua Viagem Apostólica a Genebra.

Para ler a homilia do Papa, clique aqui.

Chegada do Santo Padre
Procissão de entrada

Canto inicial
Palavras dos representantes das igrejas

Homilia do Papa: Celebração Ecumênica em Genebra

Peregrinação Ecumênica do Papa Francisco a Genebra por ocasião do 70º Aniversário do Conselho Mundial das Igrejas
Oração Ecumênica
Discurso do Santo Padre
Genebra - Centro Ecumênico WCC
Quinta-feira, 21 de junho de 2018

Amados irmãos e irmãs!
Ouvimos as palavras do apóstolo Paulo aos Gálatas, a braços com transtornos e lutas internas. De facto, havia grupos que se contrapunham e acusavam mutuamente. É neste contexto que por duas vezes, em poucos versículos, o apóstolo convida a «caminhar segundo o Espírito» (cf. Gl 5,16.25).
Caminhar: o homem é um ser a caminho. Durante toda a vida, é chamado a pôr-se a caminho, saindo continuamente donde se encontra: desde quando sai do ventre da mãe e vai passando duma idade da vida a outra; desde que deixa a casa dos pais até quando sai desta existência terrena. O caminho é uma metáfora que revela o sentido da vida humana, duma vida que não se basta a si mesma, mas está sempre à procura de algo mais. O coração convida-nos a caminhar, a alcançar uma meta.
Mas caminhar requer disciplina, causa fadiga; é necessária paciência diária e treinamento constante. É preciso renunciar a tantas estradas, para se escolher a que conduz à meta e mantê-la viva na memória para não se extraviar dela. Meta e memória. Caminhar requer a humildade de rever os próprios passos, quando for necessário, e a solicitude pelos companheiros de viagem, porque só se caminha bem juntos. Em suma, caminhar exige uma conversão contínua de si mesmo. É por isso que muitos desistem, preferindo a tranquilidade doméstica, onde pode cuidar comodamente dos seus negócios sem se expor aos riscos da viagem. Mas, assim, prende-se a seguranças efêmeras, que não dão aquela paz e aquela alegria por que aspira o coração e que se encontram apenas saindo de si próprio.
A isto nos chama Deus, desde os primórdios. Já pedira a Abraão para deixar a sua terra, pondo-se a caminho armado apenas de confiança em Deus (cf. Gn 12,1). De igual modo Moisés, Pedro e Paulo, e todos os amigos do Senhor viveram caminhando. Mas foi sobretudo Jesus que nos deu o exemplo. Por nós, saiu da sua condição divina (cf. Fl 2,6-7) e desceu para caminhar entre nós, Ele que é o Caminho (cf. Jo 14,6). Senhor e Mestre, fez-Se peregrino e hóspede no meio de nós. Tendo regressado ao Pai, deu-nos o seu próprio Espírito, para que também nós tenhamos a força de caminhar na sua direção, de realizar o que Paulo pede: caminhar segundo o Espírito.
Segundo o Espírito: se todo o homem é um ser a caminho e, fechando-se em si mesmo, renega a sua vocação, muito mais o cristão. Porque a vida cristã – assinala Paulo – depara-se com uma alternativa inconciliável: caminhar no Espírito, atendo-se ao traçado inaugurado pelo Batismo, ou «realizar os apetites da carne» (cf. Gl 5,16). Que significa esta última expressão? Significa tentar realizar-se seguindo o caminho da acumulação de bens, a lógica do egoísmo, segundo a qual o homem procura, aqui e agora, agarrar tudo o que lhe apetece. Não se deixa levar docilmente para onde Deus indica, mas segue a própria rota. Temos diante dos olhos as consequências deste percurso trágico: na sua voracidade de coisas, o homem perde de vista os companheiros de viagem; em consequência, pelas estradas do mundo reina uma grande indiferença. Impelido pelos seus instintos, torna-se escravo dum consumismo desenfreado; em consequência, a voz de Deus é silenciada, os outros – sobretudo se incapazes de caminhar pelo próprio pé como bebés e idosos – são descartados porque importunos, a criação serve apenas para produzir à medida das necessidades.
Amados irmãos e irmãs, mais do que nunca interpelam-nos hoje estas palavras do apóstolo Paulo: caminhar segundo o Espírito é rejeitar o mundanismo. É escolher a lógica do serviço e avançar no perdão. É inserir-se na história com o passo de Deus: não com o passo ribombante da prevaricação, mas com o passo cadenciado por «uma única palavra: Ama o teu próximo como a ti mesmo» (Gl 5,14). De facto, o caminho do Espírito está assinalado pelos marcos miliários que Paulo enumera: «amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio» (Gl 5,22).
Somos chamados, juntos, a caminhar assim: a estrada passa por uma conversão contínua, pela renovação da nossa mentalidade para que se amolde ao Espírito Santo. Muitas vezes, no decurso da história, as divisões entre cristãos deram-se porque na raiz, na vida das comunidades, se infiltrou uma mentalidade mundana: primeiro cultivavam-se os próprios interesses e só depois os de Jesus Cristo. Nestas situações, o inimigo de Deus e do homem não teve dificuldade em separar-nos, porque a direção seguida era a da carne, não a do Espírito. Mais, algumas tentativas do passado para acabar com tais divisões falharam miseravelmente, porque inspiradas sobretudo por lógicas mundanas. Mas o movimento ecuménico, para o qual tanto contribuiu o Conselho Ecuménico das Igrejas, surgiu por graça do Espírito Santo (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Unitatis redintegratio, 1). O ecumenismo pôs-nos em movimento segundo a vontade de Jesus e poderá avançar se, caminhando sob a guia do Espírito, recusar toda a reclusão autorreferencial.
Mas – poder-se-ia objetar – caminhar assim é trabalhar com prejuízo, porque não se tutelam devidamente os interesses das próprias comunidades, muitas vezes solidamente ligados a origens étnicas ou a orientações consolidadas, sejam estas de tipo mais «conservador» ou mais «progressista». Sim, escolher ser de Jesus antes que de Apolo ou de Cefas (cf. 1Cor 1,12), antepor o ser de Cristo ao facto de ser «judeu ou grego» (cf. Gl 3,28), ser do Senhor antes que de direita ou de esquerda, escolher em nome do Evangelho o irmão antes que a si mesmo significa frequentemente, aos olhos do mundo, trabalhar com prejuízo. Não tenhamos medo de trabalhar com prejuízo! O ecumenismo é «um grande empreendimento com prejuízo». Mas trata-se de prejuízo evangélico, segundo o caminho traçado por Jesus: «Quem quiser salvar a sua vida, há de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa, há de salvá-la» (Lc 9,24). Salvaguardar-se a si próprio é caminhar segundo a carne; perder-se seguindo Jesus é caminhar segundo o Espírito. Só assim se produz fruto na vinha do Senhor. Como ensina o próprio Jesus, não quantos amealham produzem fruto na vinha do Senhor, mas os que, servindo, seguem a lógica de Deus, o Qual continua a dar e a dar-Se (cf. Mt 21,33-42). É a lógica da Páscoa, a única que dá fruto.
Contemplando o nosso caminho, podemos ver espelhadas nele algumas situações das comunidades da Galácia de então: como é difícil amortecer as animosidades e cultivar a comunhão, como é duro sair de contrastes e rejeições mútuas alimentadas durante séculos! E mais árduo ainda é resistir à tentação subtil de estar junto com os outros, caminhar junto, mas com a intenção de satisfazer algum interesse de parte. Esta não é a lógica do Apóstolo; é a de Judas, que caminhava junto com Jesus, mas para proveito dos seus negócios. A resposta aos nossos passos vacilantes é sempre a mesma: caminhar segundo o Espírito, purificando o coração do mal, escolhendo com santa obstinação o caminho do Evangelho e recusando os atalhos do mundo.
Depois de tantos anos de empenho ecuménico, neste septuagésimo aniversário do Conselho, peçamos ao Espírito que revigore o nosso passo. Este detém-se, com demasiada facilidade, à vista das divergências que persistem; muitas vezes bloqueia-se logo à partida, entorpecido pelo pessimismo. Que as distâncias não sejam desculpas! É possível, já agora, caminhar segundo o Espírito. Rezar, evangelizar, servir juntos: isto é possível e agradável a Deus. Caminhar juntos, rezar juntos, trabalhar juntos: eis a nossa estrada-mestra de hoje.
Esta estrada tem uma meta concreta: a unidade. A estrada oposta, a da divisão, leva a guerras e destruições. Basta ler a história. O Senhor pede-nos para embocar continuamente o caminho da comunhão, que leva à paz. De fato, a divisão «contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura» (Decr. Unitatis Redintegratio, 1). O Senhor pede-nos unidade; o mundo, dilacerado por demasiadas divisões que afetam sobretudo os mais fracos, invoca unidade.
Amados irmãos e irmãs, desejei vir aqui, peregrino em busca de unidade e de paz. Agradeço a Deus porque aqui vos encontrei a vós, irmãos e irmãs já a caminho. Caminhar juntos, para nós cristãos, não é uma estratégia para fazer valer mais o nosso peso, mas é um ato de obediência ao Senhor e de amor pelo mundo. Obediência a Deus e amor ao mundo, o verdadeiro amor que salva. Peçamos ao Pai para caminhar juntos, com mais vigor, nos caminhos do Espírito. Que a Cruz nos sirva de orientação no caminho, porque lá, em Jesus, foram abatidos os muros de separação e foi vencida toda a inimizade (cf. Ef 2,14): lá compreendemos que, apesar de todas as nossas fraquezas, nada poderá jamais separar-nos do seu amor (cf. Rm 8,35-39). Obrigado.


Fonte: Santa Sé

terça-feira, 26 de junho de 2018

Papa nomeia quatro Cardeais para a Ordem dos Bispos

No início da Igreja, a eleição do Papa era feita pelos diáconos e presbíteros da Diocese de Roma e pelos Bispos das Dioceses vizinhas. O Colégio dos Cardeais, herdeiro da responsabilidade de eleger o Papa, reflete ainda hoje estes três grupos: cada Cardeal integra uma das três ordens: Diaconal, Presbiteral e Episcopal.


Na prática, todos os Cardeais são Bispos. Mas as três ordens indicam diferentes responsabilidades na Igreja: os Cardeais Diáconos são os colaboradores do Papa na Cúria Romana, enquanto que os Cardeais Presbíteros são, geralmente, os que estão à frente das dioceses.

Quanto aos Cardeais Bispos, são um grupo mais restrito, até então formado por 6 Cardeais do rito romano, que recebem cada um o título de uma das antigas dioceses vizinhas de Roma (dioceses suburbicárias), e os Patriarcas Orientais criados Cardeais. Os Cardeais Bispos possuem a precedência sobre os demais Cardeais, cabendo a eles algumas funções específicas, como por exemplo a presidência do conclave.

Na manhã de hoje, 26 de junho, o Papa Francisco publicou um decreto elevando quatro Cardeais à Ordem dos Bispos. Estes não receberam o título de uma diocese suburbicária (uma vez que todos estão ocupados), mas mantêm seus atuais títulos. Provavelmente, a medida que os títulos das dioceses suburbicárias vagarem (com a morte dos atuais titulares), eles os receberão.

São estes os quatro novos Cardeais Bispos:

Cardeal Pietro Parolin
Secretário de Estado do Vaticano
Nascimento: 17/01/1955 - Itália
Cardeal Bispo do Título dos Santos Simão e Judas Tadeu “a Torre Angela


Cardeal Leonardo Sandri
Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais
Nascimento: 18/11/1943 - Argentina
Cardeal Bispo do Título de São Brás e São Carlos “ai Catinaripro hac vice


Cardeal Marc Ouellet
Prefeito da Congregação para os Bispos
Nascimento: 08/06/1944 - Canadá
Cardeal Presbítero do Título de Santa Maria “in Traspontina


Cardeal Fernando Filoni
Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos
Nascimento: 15/04/1946 - Itália
Cardeal Bispo da Diaconia de Nossa Senhora de Coromoto "in San Giovanni di Dio"


Como todos os até então seis Cardeais Bispos possuem mais de 80 anos, não podendo ingressar em um conclave, a presidência de um eventual conclave será dos novos Cardeais Bispos. No caso, do primeiro na ordem do decreto: Cardeal Pietro Parolin.

Informações: Santa Sé

sábado, 23 de junho de 2018

Homilia: Natividade de São João Batista

Santo Agostinho
Sermão 293
“Voz do que clama no deserto”

A Igreja celebra o nascimento de João como um acontecimento sagrado. Dentre os nossos antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente. Celebramos o de João, celebramos também o de Cristo: tal fato tem, sem dúvida, uma explicação. E se não a soubermos dar tão bem, como exige a importância desta solenidade, pelo menos meditemos nela mais frutuosa e profundamente. João nasce de uma anciã estéril; Cristo nasce de uma jovem virgem.
O pai de João não acredita que ele possa nascer e fica mudo; Maria acredita, e Cristo é concebido pela fé. Eis o assunto que quisemos meditar e prometemos tratar. E se não formos capazes de perscrutar toda a profundeza de tão grande mistério, por falta de aptidão ou de tempo, aquele que fala dentro de vós, mesmo em nossa ausência, vos ensinará melhor. Nele pensais com amor filial, a ele recebestes no coração, dele vos tornastes templos.
João apareceu, pois, como ponto de encontro entre os dois Testamentos, o Antigo e o Novo. O próprio Senhor o chama de limite quando diz: A lei e os profetas até João Batista (Lc 16,16). Ele representa o antigo e anuncia o novo. Porque representa o Antigo Testamento, nasce de pais idosos; porque anuncia o Novo Testamento, é declarado profeta ainda estando nas entranhas da mãe. Na verdade, antes mesmo de nascer, exultou de alegria no ventre materno, à chegada de Maria. Antes de nascer, já é designado; revela-se de quem seria o precursor, antes de ser visto por ele. Tudo isto são coisas divinas, que ultrapassam a limitação humana. Por fim, nasce. Recebe o nome e solta-se a língua do pai. Relacionemos o acontecido com o simbolismo de todos estes fatos.
Zacarias emudece e perde a voz até o nascimento de João, o precursor do Senhor; só então recupera a voz. Que significa o silêncio de Zacarias? Não seria o sentido da profecia que, antes da pregação de Cristo, estava, de certo modo, velado, oculto, fechado? Mas com a vinda daquele a quem elas se referiam, tudo se abre e torna-se claro. O fato de Zacarias recuperar a voz no nascimento de João tem o mesmo significado que o rasgar-se o véu do templo, quando Cristo morreu na cruz. Se João se anunciasse a si mesmo, Zacarias não abriria a boca. Solta-se a língua, porque nasce aquele que é a voz. Com efeito, quando João já anunciava o Senhor, perguntaram-lhe: Quem és tu? (Jo 1,19). E ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto (Jo 1,23). João é a voz; o Senhor, porém, no princípio era a Palavra (Jo 1,1). João é a voz no tempo; Cristo é, desde o princípio, a Palavra eterna.


Fonte: Liturgia das Horas, v. III, p. 1374-1375.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

II Catequese do Papa sobre os Mandamentos: As Dez Palavras

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 20 de junho de 2018
Os Mandamentos (2): As “Dez Palavras”

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Na quarta-feira passada demos início a um novo ciclo de catequeses sobre os mandamentos. Vimos que o Senhor Jesus não veio para abolir a Lei, mas para a cumprir. Contudo, devemos entender melhor esta perspectiva.
Na Bíblia, os mandamentos não vivem por si sós, mas fazem parte de um relacionamento, de uma relação. O Senhor Jesus não veio para abolir a Lei, mas para a cumprir. Existe esta relação da Aliança [1] entre Deus e o seu Povo. No início do capítulo 20 do livro do Êxodo lemos - e isto é importante - «Deus pronunciou todas estas palavras» (v. 1).
Parece uma abertura como outras, mas na Bíblia nada é banal. O texto não diz: “Deus pronunciou estes mandamentos”, mas «estas palavras». A tradição judaica chamará sempre ao Decálogo “as dez Palavras”. E o termo “decálogo” quer dizer exatamente isto [2]. Contudo, têm forma de leis, objetivamente são mandamentos. Portanto, por que o Autor sagrado usa, precisamente aqui, o termo “dez palavras”? Por que não diz “dez mandamentos”?
Que diferença existe entre um comando e uma palavra? O comando é uma comunicação que não requer o diálogo. A palavra, ao contrário, é o meio essencial do relacionamento como diálogo. Deus Pai cria por meio da sua palavra, e o seu Filho é a Palavra que se fez carne. O amor alimenta-se de palavras, como também a educação, ou a colaboração. Duas pessoas que não se amam, não conseguem comunicar-se. Quando alguém fala ao nosso coração, a nossa solidão acaba. Recebe uma palavra, verifica-se a comunicação, e os mandamentos são palavras de Deus: Deus comunica-se nestas dez Palavras e aguarda a nossa resposta.
Uma coisa é receber uma ordem, outra coisa é sentir que alguém procura falar conosco. Um diálogo é muito mais que a comunicação de uma verdade. Eu posso dizer-vos: “Hoje é o último dia de primavera, primavera quente, mas hoje é o último dia”. Esta é uma verdade, não um diálogo. Mas se eu vos disser: “Que pensais desta primavera?”, começo um diálogo. Os mandamentos são um diálogo. A comunicação realiza-se pelo prazer de falar e pelo bem concreto que se comunica entre aqueles que se amam por meio das palavras. É um bem que não consiste em coisas, mas nas próprias pessoas que doam reciprocamente no diálogo (cf. Exort. Apost. Evangelii gaudium, 142).
Mas esta diferença não é algo artificial. Vejamos o que aconteceu no início. O tentador, o diabo, quer enganar o homem e a mulher neste ponto: quer convencê-los de que Deus lhes proibiu comer o fruto da árvore do bem e do mal, para os manter submissos. O desafio consiste exatamente nisto: a primeira norma que Deus ofereceu ao homem foi a imposição de um déspota que proíbe e obriga, ou foi o esmero de um pai que cuida dos seus filhos e os protege contra a autodestruição? É uma palavra, ou um comando? A mais trágica das várias mentiras que a serpente diz a Eva é a sugestão de uma divindade invejosa - “Mas não, Deus é invejoso de vós” - de uma divindade possessiva - “Deus não quer que tenhais liberdade”. Os acontecimentos demonstram dramaticamente que a serpente mentiu (cf. Gn 2,16-17; 3,4-5), levando a crer que uma palavra de amor fosse uma ordem.
O homem está diante desta encruzilhada: Deus impõe-me as coisas, ou cuida de mim? Os seus mandamentos são apenas uma lei, ou contêm uma palavra, para cuidar de mim? Deus é patrão ou Pai? Deus é Pai: nunca vos esqueçais disto! Até nas situações mais negativas, pensai que temos um Pai que ama todos nós. Somos vassalos ou filhos? Este combate, dentro e fora de nós, apresenta-se continuamente: temos que escolher muitas vezes entre uma mentalidade de escravos e uma mentalidade de filhos. A ordem é do patrão, a palavra é do Pai.
O Espírito Santo é um Espírito de filhos, é o Espírito de Jesus. Um espírito de escravos não pode deixar de receber a Lei de modo opressivo, e pode produzir dois resultados opostos: ou uma vida feita de deveres e de obrigações, ou então uma reação violenta de rejeição. Todo o Cristianismo é a passagem da letra da Lei para o Espírito que vivifica (cf. 2Cor 3,6-17). Jesus é a Palavra do Pai, não a condenação do Pai. Jesus veio para salvar com a sua Palavra, não para nos condenar.
Vê-se quando um homem ou uma mulher viveram ou não esta passagem. As pessoas dão-se conta quando o cristão raciocina como filho ou como escravo. E nós mesmos recordamos que os nossos educadores cuidaram de nós como pais e mães, ou se somente nos impuseram regras. Os mandamentos são o caminho para a liberdade, porque constituem a palavra do pai que nos liberta neste caminho.
O mundo não tem necessidade de legalismo, mas de cuidado. Precisa de cristãos com coração de filhos [3]. Há necessidade de cristãos com coração de filhos: não vos esqueçais disto!

[1] O cap. 20 do livro do Êxodo é precedido pela oferta da Aliança, no cap. 19, onde é central o pronunciamento: «Agora, pois, se obedecerdes à minha voz e guardardes a minha aliança, sereis o meu povo particular entre todos os povos. Toda a terra é minha, mas para mim vós sereis um reino de sacerdotes, uma nação consagrada» (Ex 19,5-6). Esta terminologia encontra uma síntese emblemática em Lv 26,12: «Caminharei no meio de vós: serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo» e chegará até ao nome prenunciado do Messias, em Isaías 7,14 ou seja, Emmanuel, que leva a Mateus: «Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que se chamará Emmanuel, que significa: “Deus conosco”» (Mt 1,23). Tudo isto indica a natureza essencialmente relacional da fé judaica e, ao máximo grau, da fé cristã.
[2] Cf. também Ex 34,28b: «E o Senhor escreveu nas tábuas o texto da aliança, as dez palavras».
[3] Cf. João Paulo II, Carta Enc. Veritatis splendor, 12: «O dom do Decálogo é promessa e sinal da Nova Aliança, quando a lei for nova e definitivamente escrita no coração do homem (cf. Jr 31,31-34), substituindo a lei do pecado, que aquele coração tinha deturpado (cf. Jr 17,1). Então será dado “um coração novo”, porque nele habitará “um espírito novo”, o Espírito de Deus (cf. Ez 36,24-28)».


Fonte: Santa Sé

Ângelus: XI Domingo do Tempo Comum - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 17 de junho de 2018

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Na hodierna página evangélica (Mc 4,26-34), Jesus fala às multidões sobre o Reino de Deus e os dinamismos do seu crescimento, e fá-lo narrando duas breves parábolas.

Na primeira (vv. 26-29), o Reino de Deus é comparado com o crescimento misterioso da semente, que é lançada à terra e depois germina, cresce e produz a espiga, independentemente do cuidado do agricultor, que quando ela estiver madura se ocupará da colheita. A mensagem que esta parábola nos ensina é a seguinte: mediante a pregação e a ação de Jesus, o Reino de Deus é anunciado, irrompe no campo do mundo e, como a semente, cresce e desenvolve-se por si mesmo, pela sua força e segundo critérios humanamente não decifráveis. No seu crescer e germinar dentro da história, ele não depende tanto da obra do homem, mas é sobretudo expressão do poder e da bondade de Deus, da força do Espírito Santo que leva por diante a vida cristã no Povo de Deus.

Por vezes a história, com as suas vicissitudes e os seus protagonistas, parece caminhar em sentido contrário ao desígnio do Pai celeste, que quer para todos os seus filhos a justiça, a fraternidade e a paz. Mas nós somos chamados a viver estes períodos como estações de provação, de esperança e de expetativa vigilante da colheita. Com efeito, tanto ontem como hoje, o Reino de Deus cresce no mundo de maneira misteriosa, surpreendente, revelando o poder escondido do pequeno grão, a sua vitalidade vitoriosa. Nos meandros de vicissitudes pessoais e sociais que por vezes parecem marcar o naufrágio da esperança, é preciso permanecer confiante no agir de Deus, delicado mas poderoso. Por isso, nos momentos de escuridão e de dificuldade não devemos desanimar, mas permanecer ancorados na fidelidade de Deus, na sua presença que salva sempre. Recordai-vos disto: Deus salva sempre. É o salvador.

Na segunda parábola (vv. 30-32), Jesus compara o Reino de Deus com um pequeno grão de mostarda. É uma semente muito pequenina, mas desenvolve-se tanto que se torna a maior de todas as plantas da horta: um crescimento imprevisível, surpreendente. Não é fácil para nós entrar nesta lógica da imprevisibilidade de Deus e aceitá-la na nossa vida. Mas hoje o Senhor exorta-nos a ter uma atitude de fé que supera os nossos projetos, os nossos cálculos, as nossas previsões. Deus é sempre o Deus das surpresas. O Senhor surpreende-nos sempre. É um convite a abrir-nos com mais generosidade aos planos de Deus, quer a nível pessoal quer comunitário. Nas nossas comunidades é preciso prestar atenção às pequenas e grandes ocasiões de bem que o Senhor nos oferece, deixando-nos envolver nas suas dinâmicas de amor, de acolhimento e de misericórdia para com todos.

A autenticidade da missão da Igreja não deriva do sucesso nem da gratificação dos resultados, mas do ir em frente com a coragem da confiança e a humildade do abandono em Deus. Ir em frente na confissão de Jesus e com a força do Espírito Santo. É a consciência de sermos pequenos e débeis instrumentos, que nas mãos de Deus e com a sua graça podemos realizar obras grandes, fazendo progredir o seu Reino que é «justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14,17). A Virgem Maria nos ajude a ser simples, a estar atentos, a fim de colaborarmos com a nossa fé e com o nosso trabalho no desenvolvimento do Reino de Deus nos corações e na história.


Fonte: Santa Sé.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

A viagem do Papa a Genebra


No dia 21 de junho de 2018 o Papa Francisco realiza uma viagem a Genebra (Suíça), para visitar a sede do Conselho Mundial de Igrejas (World Council of Churches) em seu 70º aniversário de fundação. Esta é sua vigésima terceira viagem fora da Itália e será uma “peregrinação ecumênica”, nos passos de sua visita à Suécia nos 500 anos da Reforma.

Símbolo do Conselho Mundial de Igrejas
Francisco é o terceiro Papa a visitar Genebra: Paulo VI esteve na cidade suíça em 10 de junho de 1969 e João Paulo II em duas ocasiões: 15 de junho de 1982 e 12 de junho de 1984. Ambos visitaram o Conselho Mundial de Igrejas, entidade que congrega cerca de 350 igrejas protestantes e ortodoxas.

(João Paulo esteve na Suíça também nos dias 5-6 de junho de 2004, visitando a cidade de Berna.)

Paulo VI em Genebra (1969)
Programa da viagem:

O Papa chega ao Aeroporto Internacional de Genebra, onde encontra-se privadamente com o Presidente da Suíça. Em seguida dirige-se à sede do Conselho Mundial de Igrejas, onde participa de uma Celebração Ecumênica.

Após o almoço com os líderes do Conselho, o Papa participa de uma reunião com os representantes das igrejas cristãs.

À tarde o Santo Padre celebra a Santa Missa no Palexpo, centro de exposições de Genebra. Após um breve encontro com os Bispos e colaboradores da Nunciatura, o Papa retorna a Roma.

João Paulo II em Genebra (1984)
Alguns dados da Igreja Católica na Suíça:

Número de católicos: 3.398.000 (40,8% da população)
Dioceses e outras circunscrições eclesiásticas: 8
Paróquias: 1.632
Outros centros de pastoral: 141

Bispos: 22
Sacerdotes diocesanos: 1.451
Sacerdotes religiosos: 796
Diáconos permanentes: 265
Religiosos (as): 4.660
Seminaristas: 135

Escolas católicas:  36 (6.515 estudantes)
Universidades católicas: 4 (1.319 estudantes)
Hospitais: 2
Asilos: 11
Orfanatos: 10
Outras instituições sociais: 16



Informações: Santa Sé

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Festa de Santo Antônio em Jerusalém

No último dia 13 de junho o Custódio da Terra Santa, Padre Francesco Patton, celebrou na igreja do Santíssimo Salvador em Jerusalém, por ocasião da Solenidade de Santo Antônio, Padroeiro da Custódia Franciscana na Terra Santa.

No dia anterior, Padre Patton celebrou as I Vésperas da Solenidade com a tradicional bênção dos pães de Santo Antônio.

Dia 12 de junho: I Vésperas


Procissão de entrada
Versículo introdutório
Homilia
Incensação do altar durante o Magnificat

I Catequese do Papa sobre os Mandamentos: Introdução

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 13 de junho de 2018
Os Mandamentos (1): Introdução

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje começamos um novo itinerário de catequeses sobre o tema dos mandamentos. Os mandamentos da lei de Deus. Para o introduzir, inspiramo-nos no trecho que acabamos de ouvir: o encontro entre Jesus e um homem - é um jovem - que, de joelhos, lhe pergunta como pode herdar a vida eterna (cf. Mc 10,17-21). E naquela pergunta há o desafio de cada existência, também da nossa: o desejo de uma vida plena, infinita. Mas como fazer para a alcançar? Que caminho percorrer? Viver verdadeiramente, viver uma existência nobre... Quantos jovens procuram “viver” e depois destroem-se, indo atrás de coisas efémeras.
Alguns pensam que é melhor suprimir este impulso - o impulso de viver - porque é perigoso. Gostaria de dizer, especialmente aos jovens: o nosso pior inimigo não são os problemas concretos, por mais sérios e dramáticos que sejam: o maior perigo da vida é um mau espírito de adaptação, que não é mansidão nem humildade, mas mediocridade, pusilanimidade [1]. Um jovem medíocre tem futuro ou não? Não! Permanece ali, não cresce, não terá sucesso. A mediocridade ou a pusilanimidade. Aqueles jovens que têm medo de tudo: “Não, eu sou assim...”. Estes jovens não irão em frente. Mansidão, fortaleza e nenhuma pusilanimidade, nenhuma mediocridade. O Beato Pier Giorgio Frassati - que era um jovem - dizia que é preciso viver, não ir vivendo [2]. Os medíocres vão vivendo. Viver com a força da vida. É necessário pedir ao Pai celeste para os jovens de hoje o dom da saudável inquietação. Mas em casa, nos vossos lares, em cada família, quando se vê um jovem sentado o dia inteiro, às vezes a mãe e o pai pensam: “Mas ele está doente, tem algo”, e levam-no ao médico. A vida do jovem é ir em frente, ser desassossegado, a saudável inquietação, a capacidade de não se contentar com uma vida sem beleza, sem cor. Se os jovens não forem famintos de vida autêntica, pergunto-me, que fim terá a humanidade? Onde vai parar a humanidade com jovens quietos, e não inquietos?
A pergunta daquele homem do Evangelho que ouvimos ressoa dentro de cada um de nós: como se encontra a vida, a vida em abundância, a felicidade? Jesus responde: «Tu conheces os mandamentos» (v. 19), e cita uma parte do Decálogo. É um processo pedagógico, com o qual Jesus quer orientar para um lugar específico; com efeito, da sua pergunta já é claro que aquele homem não tem a vida plena, procura mais, está inquieto. Portanto, o que deve entender? Diz: «Mestre, «tenho observado tudo isto desde a minha mocidade!» (v. 20).
Como se passa da mocidade para a maturidade? Quando se começa a aceitar os próprios limites. Tornamo-nos adultos quando nos relativizamos e adquirimos a consciência daquilo «que falta» (cf. v. 21). Este homem é obrigado a reconhecer que tudo o que pode “fazer” não supera um “teto”, não vai além de uma margem.
Como é bom ser homens e mulheres! Como é preciosa a nossa existência! E no entanto, existe uma verdade que na história dos últimos séculos o homem rejeitou frequentemente, com consequências trágicas: a verdade dos seus limites.
No Evangelho, Jesus diz algo que nos pode ajudar: «Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim para os abolir, mas sim para os levar a cumprimento» (Mt 5,17). O Senhor Jesus concede o cumprimento, Ele veio para isto. Aquele homem devia chegar ao limiar de um salto, onde se abre a possibilidade de deixar de viver de si mesmo, das próprias obras, dos próprios bens e - precisamente porque falta a vida plena - deixar tudo para seguir o Senhor [3]. Analisando bem, no convite final de Jesus - imenso, maravilhoso - não há a proposta da pobreza, mas da verdadeira riqueza: «Só te falta uma coisa; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!» (v. 21).
Quem, podendo escolher entre um original e uma cópia, escolheria a cópia? Eis o desafio: encontrar o original da vida, não a cópia. Jesus não oferece sucedâneos, mas vida verdadeira, amor verdadeiro, riqueza verdadeira! Como poderão os jovens seguir-nos na fé, se não nos virem escolher o original, se nos virem habituados às meias-medidas? É desagradável encontrar cristãos medianos, cristãos - permiti-me a palavra - “anões”; crescem até a uma certa estatura e depois não; cristãos com o coração reduzido, fechado. É desagradável encontrar isto. É necessário o exemplo de alguém que me convida a um “além”, a um “acréscimo”, a crescer um pouco. Santo Inácio denominava-o “magis”, «o fogo, o fervor da ação, que desperta os sonolentos» [4].
O caminho do que falta passa por aquilo que existe. Jesus não veio para abolir a Lei ou os Profetas, mas para levar a cumprimento. Devemos partir da realidade para dar o salto naquilo “que falta”. Temos que sondar o ordinário para nos abrirmos ao extraordinário.
Nestas catequeses pegaremos nas duas tábuas de Moisés como cristãos, de mãos dadas com Jesus, a fim de passar das ilusões da juventude para o tesouro que está no céu, caminhando atrás dele. Em cada uma daquelas leis, antigas e sábias, descobriremos a porta aberta pelo Pai que está nos céus para que o Senhor Jesus, que a cruzou, nos conduza à vida verdadeira. A sua vida. A vida dos filhos de Deus!


Notas:
[1] Os Padres falam de pusilanimidade (oligopsychía). São João Damasceno define-a como «o receio de realizar uma ação» (Exposição exata da fé ortodoxa, II, 15), e São João Clímaco acrescenta que «a pusilanimidade é uma disposição pueril, numa alma que já não é jovem» (A Escada, XX, 1, 2).
[2] cf. Carta a Isidoro Bonini, 27 de fevereiro de 1925.
[3] «O olho foi criado para a luz, o ouvido para os sons, cada coisa para a sua finalidade, e o desejo da alma para se lançar rumo a Cristo» (Nicolau Cabasilas, A vida em Cristo, II, 90).
[4] Discurso à XXXVI Congregação Geral da Companhia de Jesus, 24 de outubro de 2016: «Trata-se do “magis”, do plus que leva Inácio a inaugurar processos, a acompanhá-los e a avaliar a sua real incidência na vida das pessoas, em matéria de fé, ou de justiça, ou a misericórdia e caridade».

Fonte: Santa Sé.

Para acessar as próximas Catequeses do Papa Francisco sobre os Mandamentos, clique nos links abaixo:
2 - As Dez Palavras (20 de junho)
3 - O amor de Deus precede a lei (27 de junho)
4 - Não terás outros deuses (01 de agosto)
5 - A idolatria (08 de agosto)
6 - Respeitar o nome do Senhor (22 de agosto)
7 - O dia do repouso (05 de setembro)
9 - Honra teu pai e tua mãe (19 de setembro)
10 - Não matarás I (10 de outubro)
11 - Não matarás II (17 de outubro)
12 - Não cometer adultério I (24 de outubro)
13 - Não cometer adultério II (31 de outubro)
14 - Não roubar (07 de novembro)
15 - Não levantar falso testemunho (14 de novembro)
16 - Não cobiçarás (21 de novembro)
17 - A nova lei de Cristo (28 de novembro)

sábado, 16 de junho de 2018

Homilia: XI Domingo do Tempo Comum - Ano B

Orígenes
Do Comentário sobre o Cântico dos Cânticos
Pelas coisas que vemos na terra podemos perceber e compreender as que existem no céu

O Apóstolo Paulo nos ensina a compreender as coisas invisíveis de Deus através das visíveis, e a contemplar, sobre a base da razão e da semelhança, as coisas que não se veem, partindo das que se percebem. Com isso Paulo nos demonstra que este mundo visível nos instrui sobre o invisível, e que esta situação terrenal contém certas reproduções das realidades celestes, de modo que a partir das coisas de baixo podemos subir às do alto, e pelas que vemos na terra podemos perceber e compreender as que existem no céu.

A semelhança destas realidades celestes, para que se pudessem perceber e deduzir mais facilmente as diferenças, o Criador conferiu a forma às criaturas terrenais. E, como fez ao homem à sua imagem e semelhança, possivelmente também criou as demais criaturas à imagem de certas realidades celestes por razão de semelhança.

E possivelmente também cada uma das realidades terrenas tem imagem e semelhança nas celestes, a tal ponto de que o próprio grão de mostarda, que é a menor de todas as sementes, tem sua parcela de imagem e semelhança nos céus; e o fato de que tenha um desenvolvimento natural tão complexo que, mesmo sendo a menor entre as sementes, se torna o maior dos arbustos, tanto que as aves do céu podem vir e habitar em seus ramos, faz com que tenha semelhança, não só de qualquer realidade celeste, mas do próprio Reino dos Céus. Por isso é possível que também as outras sementes que existem na terra tenham nos céus alguma semelhança e razão. E se isto têm as sementes, também o terão as plantas; e se as plantas, também e sem dúvida os animais: alados, répteis ou quadrúpedes.

Mas ainda pode-se entender outra coisa: como o grão de mostarda não oferece apenas uma semelhança, ou seja, a do Reino dos Céus e morada dos pássaros em seus ramos, mas tem também outra semelhança, a saber: é imagem da perfeição da fé, tanto que, se alguém tem fé assim como um grão de mostarda, pode dizer ao monte que se translade e ele se transladará, da mesma forma é possível que também as demais coisas terrenas sejam portadoras de imagem e semelhança das realidades celestes, não mais sob um só aspecto, mas em vários.

E como, por exemplo, no grão de mostarda são muitas as propriedades que representam imagens das realidades celestes, e a última de todas é o uso que dele fazem os homens no serviço do corpo, assim também nos outros: sementes, plantas, raízes de ervas, e inclusive animais, podemos entender que certamente prestam aos homens um uso e um serviço corporal, mas que ainda têm formas e imagens de realidades incorpóreas  com as quais a alma pode aprender e instruir-se para contemplar também as realidades invisíveis e celestes.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 408-409. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia anônima do século IV para este domingo, clique aqui.