domingo, 31 de julho de 2022

Fotos das Vésperas com o Papa na Catedral de Québec

Na tarde do dia 28 de julho de 2022 o Papa Francisco presidiu a oração das Vésperas na Catedral de Notre-Dame de Québec (Basilique-Cathédrale Notre-Dame de Québec), no contexto da sua Viagem Apostólica ao Canadá.

Foram recitadas as Vésperas votivas em honra de São François de Laval (†1708), primeiro Bispo de Québec, cuja sepultura foi visitada pelo Papa Francisco no final da celebração.

O Santo Padre foi assistido pelo Monsenhor Diego Giovanni Ravelli. Para acessar o Missal para a Viagem Apostólica, clique aqui.

Entrada do Santo Padre
Acolhida de Dom Raymond Poisson, Presidente da Conferência Episcopal
Oração das Vésperas: Hino
Salmodia

Homilia do Papa: Vésperas na Catedral de Québec

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Canadá
Vésperas na Catedral de Québec
Homilia do Santo Padre
Catedral de Notre-Dame de Québec
Quinta-feira, 28 de julho de 2022

Amados irmãos Bispos, caros sacerdotes e diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes de pastoral, boa tarde!
Agradeço a Dom Raymond Poisson as palavras de boas-vindas que me dirigiu e saúdo a todos vós, especialmente quantos tiveram de percorrer um longo caminho para chegar: as distâncias no vosso país são verdadeiramente grandes! Por isso, obrigado! Estou feliz por vos encontrar.

É significativo o nosso encontro nesta Basílica de Notre-Dame de Québec, Catedral desta Igreja particular e sede primacial do Canadá, cujo primeiro Bispo, São Francisco de Laval, abriu o Seminário em 1633, tendo-se ocupado, durante todo o seu ministério, da formação dos presbíteros. E dos presbíteros, isto é, dos «anciãos» falou-nos a leitura breve que acabamos de ouvir. Assim nos exortou São Pedro: «Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, governando-o não à força, mas de boa vontade» (1Pd 5,2). Enquanto estamos aqui reunidos como Povo de Deus, recordemo-nos de que Jesus é o Pastor da nossa vida, que cuida de nós porque nos ama de verdade. A nós, pastores da Igreja, é pedida esta mesma generosidade no pastoreio do rebanho, para que se possa manifestar a solicitude de Jesus por todos e a sua compaixão pelas feridas de cada um.


E precisamente porque somos sinal de Cristo, o Apóstolo Pedro exorta-nos: Apascentai o rebanho, guiai-o, não deixeis que se extravie enquanto vos ocupais dos próprios afazeres. Cuidai dele com dedicação e ternura. E - acrescenta - fazei-o «de boa vontade», e não à força: não como um dever, não como assalariados religiosos ou funcionários do sagrado, mas com coração de pastores, com entusiasmo. Se olharmos mais para Ele, o Bom Pastor, do que para nós mesmos, descobrimos que somos guardados com ternura, sentimos a proximidade de Deus. Daqui nasce a alegria do ministério e, antes, a alegria da fé: não de ver aquilo que somos capazes de fazer, mas de saber que Deus está próximo, que nos amou primeiro e nos acompanha todos os dias.

sábado, 30 de julho de 2022

Fotos da Missa do Papa em Québec

No dia 28 de julho de 2022 o Papa Francisco presidiu sem celebrar a Santa Missa pela Reconciliação no Santuário Nacional de Santa Ana (Basilique Sainte-Anne-de-Beaupré), próximo a Québec, no contexto da sua Viagem Apostólica ao Canadá.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Diego Giovanni Ravelli e L'ubomir Welnitz. Para acessar o Missal para a Viagem Apostólica, clique aqui

Foi celebrada a Missa pela Reconciliação, embora com paramentos brancos.

Chegada do Papa Francisco ao Santuário
Entrada do Santo Padre

Ritos iniciais

Homilia do Papa: Missa em Québec

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Canadá
Santa Missa pela Reconciliação
Homilia do Santo Padre
Santuário Nacional de Sainte Anne de Beaupré
Quinta-feira, 28 de julho de 2022

[Leituras: Gn 3,8-15.20-21; Sl 129; Lc 24,13-35]

A viagem dos discípulos de Emaús, que encontramos na conclusão do Evangelho de São Lucas, é uma imagem do nosso caminho pessoal e da Igreja. Na estrada da vida, e vida de fé, ao levarmos por diante os sonhos, os projetos, os anseios e as esperanças que habitam no nosso coração, nos encontramos também com nossas fragilidades e fraquezas, experimentamos derrotas e decepções e, às vezes, nos tornamos prisioneiros de uma sensação de fracasso que nos paralisa. O Evangelho anuncia-nos que, mesmo em tais momentos, não estamos sozinhos: o Senhor vem ao nosso encontro, coloca-Se ao nosso lado, caminha pela nossa própria estrada com a discrição de um amável viandante que deseja reabrir os olhos e inflamar de novo o nosso coração. E quando o fracasso deixa espaço ao encontro com o Senhor, a vida reabre-se à esperança e podemos reconciliar-nos conosco, com os irmãos e com Deus.

Sigamos então o itinerário deste caminho que poderíamos intitular do fracasso à esperança.


Primeiro, há a sensação de fracasso, que habita o coração destes dois discípulos depois da morte de Jesus. Tinham abraçado um sonho com entusiasmo. Em Jesus, tinham depositado todas as suas esperanças e desejos. Agora, depois da escandalosa morte na cruz, viram costas a Jerusalém para voltar a casa, à vida anterior. A deles é uma viagem de regresso, como se quisessem esquecer aquela experiência que encheu de amargura os seus corações, aquele Messias condenado à morte na cruz como um malfeitor. Voltam a casa abatidos, «com o rosto triste» (Lc 24,17): as expectativas que cultivavam deram em nada, as esperanças em que acreditavam desfizeram-se em pedaços, os sonhos que teriam querido realizar cedem lugar à desilusão e à amargura.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Fotos da Celebração do Papa no Lago de Santa Ana

Na tarde do dia 26 de julho de 2022, Memória de São Joaquim e Santa Ana, o Papa Francisco presidiu a Celebração da Palavra no contexto da tradicional Peregrinação ao Lago de Santa Ana (Lac Ste. Anne Pilgrimage) no Canadá, no contexto da sua Viagem Apostólica ao país.

Após abençoar a água, o Papa rezou por alguns instantes junto ao lago e passou aspergindo os fiéis reunidos junto ao Santuário de Santa Ana. Seguiram-se as leituras (Ez 47,1-2.8-9.12; cântico de Is 12,2.4-6; Jo 7,37-39), a homilia, as preces, o Pai nosso e a bênção.

O Santo Padre foi assistido pelo Monsenhor Diego Giovanni Ravelli. Para acessar o Missal para a Viagem Apostólica, clique aqui.

Chegada do Santo Padre
Bênção da água
O Papa reza junto ao lago

Aspersão dos fiéis

Homilia do Papa: Celebração no Lago de Santa Ana

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Canadá
Lac Ste. Anne Pilgrimage - Liturgia da Palavra
Homilia do Santo Padre
Lac Ste. Anne, 26 de julho de 2022

Queridos irmãos e irmãs, âba-wash-did! Tansi! Oki! [Boa tarde].
Como é bom encontrar-me aqui, peregrino convosco e no meio de vós. Nestes dias, sobretudo hoje, fiquei impressionado com o som dos tambores que me acompanharam por onde tenho andado. Neste batimento dos tambores parecia ecoar o palpitar de muitos corações: os corações que, ao longo dos séculos, vibraram junto destas águas; os corações de tantos peregrinos que marcaram juntos o passo para chegar a este «lago de Deus»! Aqui se pode verdadeiramente captar a palpitação unânime de um povo peregrino, de gerações que se puseram em caminho rumo ao Senhor, para experimentar a sua obra de cura. Quantos corações chegaram aqui ansiosos e trepidantes, sobrecarregados pelo peso da vida, e junto destas águas encontraram a consolação e a força para continuar! Também aqui, imerso na criação, há outro batimento que podemos escutar: a palpitação materna da terra. E assim como o batimento dos bebês, ainda no seio materno, está em harmonia com o das mães, assim para crescer como seres humanos precisamos cadenciar os ritmos da existência com os da criação que nos dá vida. Portanto, voltemos hoje às nossas fontes de vida: a Deus, aos pais e, neste dia e na casa de Santa Ana, aos avós, que saúdo com grande afeto.

E aqui estamos, agora, transportados por estas palpitações vitais, em silêncio, contemplando as águas deste lago. Isto ajuda-nos a voltar também às fontes da fé. De fato, permite-nos peregrinar idealmente até aos Lugares Santos: imaginar Jesus, que realizou grande parte do seu ministério precisamente nas margens de um lago, o Lago da Galileia. Lá escolheu e chamou os Apóstolos, proclamou as Bem-Aventuranças, contou a maior parte das parábolas, realizou sinais e curas. Ora, aquele lago constituía o coração da «Galileia dos gentios» (Mt 4,15), uma zona periférica, de comércio, para onde confluíam as mais variadas populações, colorindo a região de tradições e cultos diversos. Tratava-se do lugar mais distante, geográfica e culturalmente, da pureza religiosa que se concentrava em Jerusalém, no templo. Por isso podemos imaginar aquele lago, chamado Mar da Galileia, como um condensado de diferenças: nas suas margens, encontravam-se pescadores e cobradores de impostos, centuriões e escravos, fariseus e pobres, homens e mulheres das mais variadas proveniências e estratos sociais. E foi lá, precisamente, que Jesus pregou o Reino de Deus: não a pessoas religiosas selecionadas, mas a populações diferenciadas que acorriam de várias partes, como hoje: pregou acolhendo a todos em um cenário natural como este. Deus escolheu aquele contexto poliédrico e heterogêneo para anunciar ao mundo algo revolucionário: por exemplo, «oferecei a outra face, amai os inimigos, vivei como irmãos para ser filhos do Pai do Céu que faz brilhar o sol sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os injustos» (cf. Mt 5,38-48). E assim, precisamente aquele lago, «mestiçado de diversidade», tornou-se a sede de um inaudito anúncio de fraternidade; de uma revolução sem mortos nem feridos, a revolução do amor. E aqui, nas margens deste lago, o som dos tambores que atravessa os séculos e une povos diferentes, remete-nos àquela época. Recorda-nos que a fraternidade é verdadeira se une os distantes, que a mensagem de unidade que o Céu envia à terra não teme as diferenças e convida-nos à comunhão, à comunhão das diferenças, para recomeçar juntos, porque todos - todos! - somos peregrinos a caminho.


Irmãos e irmãs peregrinos, que podemos receber destas águas? A Palavra de Deus ajuda-nos a descobri-lo. O profeta Ezequiel repetiu, por duas vezes, que as águas que jorram a partir do templo para o povo de Deus «dão vida» e «curam» (cf. Ez 47,8-9).

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Deus Pai 3

Com esta postagem damos início à seção sobre “Deus Pai todo-poderoso” dentro das Catequeses do Papa São João Paulo II sobre Deus Pai.

Para acessar o índice de todas as suas Catequeses sobre o Creio, clique aqui.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM DEUS PAI

II. Deus Pai todo-poderoso (nn. 4-12)

4. O Deus da nossa fé
João Paulo II - 24 de julho de 1985

1. Nas Catequeses do ciclo anterior busquei explicar o que significa a frase: “Eu creio”, o que quer dizer: “crer como cristão”. No ciclo que agora começamos, desejo concentrar as Catequeses sobre o primeiro artigo da fé: “Creio em Deus” ou, mais plenamente: “Creio em Deus, Pai todo-poderoso, criador...”. Assim soa esta primeira e fundamental verdade da fé no Símbolo Apostólico. E quase identicamente no Símbolo Niceno-Constantinopolitano: “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador...”. Assim, o tema das Catequeses deste ciclo será Deus: o Deus da nossa fé. E uma vez que a fé é a resposta à Revelação, o tema das Catequeses seguintes será esse Deus que se deu a conhecer ao homem, ao qual “aprouve, em sua bondade, revelar-se e dar a conhecer o mistério da sua vontade” (cf. Dei Verbum, n. 2).

Deus, Alfa e Ômega, princípio e fim de nossa fé
(Rafaellino del Colle)

2. Desse Deus trata o primeiro artigo do “Creio”; d’Ele falam indiretamente todos os artigos sucessivos dos Símbolos da fé. Eles, com efeito, estão todos unidos de modo orgânico à primeira e fundamental verdade sobre Deus, que é a fonte da qual derivam. Deus é “o Alfa e o Ômega” (Ap 1,8); Ele é também o início e o fim da nossa fé. Podemos dizer, pois, que todas as sucessivas verdades enunciadas no “Credo” nos permitem conhecer cada vez mais plenamente o Deus da nossa fé, do qual fala o primeiro artigo: fazem-nos conhecer melhor quem é Deus em Si mesmo e na sua vida íntima. Com efeito, conhecendo suas obras - a obra da criação e da redenção -, conhecendo todo o seu plano de salvação a respeito do homem, adentramos cada vez mais profundamente na verdade de Deus, tal como se revela na antiga e na nova aliança. Trata-se de uma revelação progressiva, cujo conteúdo foi formulado sinteticamente nos Símbolos da fé. No desenrolar-se dos artigos dos Símbolos adquire plenitude de significado a verdade expressa nas primeiras palavras: “Creio em Deus”. Naturalmente, dentro dos limites nos quais o mistério de Deus é acessível a nós mediante a Revelação.

Fotos da Missa do Papa em Edmonton

No dia 26 de julho de 2022 o Papa Francisco presidiu sem celebrar a Missa da Memória de São Joaquim e Santa Ana no Commonwealth Stadium em Edmonton, no contexto da sua Viagem Apostólica ao país.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Diego Giovanni Ravelli e Massimiliano Matteo Boiardi. Para acessar o Missal para a Viagem Apostólica, clique aqui

Os paramentos brancos com detalhes em vermelho remetem às cores da bandeira canadense.

Entrada do Santo Padre

Sinal da cruz
Ritos iniciais

Homilia do Papa: Missa em Edmonton

Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Canadá
Santa Missa
Homilia do Santo Padre
Commonwealth Stadium, Edmonton - 26 de julho de 2022

Hoje é a festa dos avós de Jesus; o Senhor quis que nos encontrássemos em tão grande número precisamente nesta ocasião muito querida tanto para vós como para mim. Na casa de Joaquim e Ana, o pequeno Jesus conheceu os idosos da sua família e experimentou a proximidade, a ternura e a sabedoria dos avós. Pensemos, também nós, nos nossos avós e reflitamos sobre dois aspectos importantes.

O primeiro: somos filhos de uma história que devemos guardar. Não somos indivíduos isolados, não somos ilhas; ninguém vem ao mundo desligado dos outros. As nossas raízes, o amor com que fomos aguardados e que recebemos ao vir ao mundo, os ambientes familiares onde crescemos, fazem parte de uma única história, que nos precedeu e gerou. Não a escolhemos nós, mas a recebemos de presente; é um presente que somos chamados a guardar. Pois, como lembrou-nos o Livro do Eclesiástico, somos «a posteridade» de quem nos precedeu, somos a sua «rica herança» (cf. Eclo 44,11). Uma herança cujo centro, mais do que nas proezas ou na autoridade de uns, na inteligência ou na criatividade do canto e da poesia de outros, está na justiça, na fidelidade a Deus e à sua vontade. E isto no-lo transmitiram. Para acolher verdadeiramente quem somos e quão preciosos somos, precisamos assumir em nós aqueles de quem descendemos, aqueles que não pensaram só em si mesmos, mas transmitiram-nos o tesouro da vida. Estamos aqui graças aos pais, mas também graças aos avós que nos fizeram experimentar ser bem-vindos no mundo. Muitas vezes foram eles a amar-nos sem reservas e sem nada esperar de nós: tomaram-nos pela mão quando tínhamos medo, tranquilizaram-nos na escuridão da noite, encorajaram-nos quando, à luz do sol, devíamos enfrentar as opções da vida. Graças aos nossos avós, recebemos uma carícia da parte da história que nos precedeu: aprendemos que o bem, a ternura e a sabedoria são raízes sólidas da humanidade. Na casa dos avós, muitos de nós respiramos o perfume do Evangelho, a força de uma fé que tem o sabor de casa. Graças a eles, descobrimos uma fé familiar, uma fé doméstica; sim, porque é deste modo que se comunica essencialmente a fé: comunica-se «em dialeto», comunica-se através do afeto e do encorajamento, da solicitude e da proximidade.


Esta é a nossa história, que deve ser guardada, a história da qual somos herdeiros: somos filhos, porque somos netos. Os avós imprimiram em nós o cunho original do seu modo de ser, dando-nos dignidade, confiança em nós e nos outros. Transmitiram-nos algo que não poderá jamais ser cancelado dentro de nós e, ao mesmo tempo, permitiram-nos ser pessoas únicas, originais e livres. Assim, foi precisamente dos avós que aprendemos que o amor nunca é constrição, nunca priva o outro da sua liberdade interior. Joaquim e Ana amaram Maria e Jesus assim; e Maria amou assim Jesus, com um amor que nunca O sufocou nem tolheu, mas O encaminhou, a fim de abraçar a missão para a qual veio ao mundo. Procuremos aprender isto seja como indivíduos, seja como Igreja: nunca oprimir a consciência do outro, nunca acorrentar a liberdade de quem está à nossa frente e, sobretudo, nunca faltar ao amor e ao respeito pelas pessoas que nos precederam e que nos foram confiadas, tesouros preciosos que guardam uma história maior do que eles.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Homilia: Festa de São Tiago, Apóstolo

São João Crisóstomo, Bispo
Das Homilias sobre Mateus
Participantes da Paixão de Cristo

Os filhos de Zebedeu pedem a Cristo: Deixa-nos sentar um à tua direita e outro, à tua esquerda (Mc 10,37). Que resposta lhes dá o Senhor? Para mostrar que no seu pedido nada havia de espiritual, e se soubessem o que pediam não teriam ousado fazê-lo, diz: Não sabeis o que estais pedindo (Mt 20,22), isto é, não sabeis como é grande, admirável e superior aos próprios poderes celestes aquilo que pedis. Depois acrescenta: Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? (Mt 20,22). É como se lhes dissesse: “Vós me falais de honras e de coroas; eu, porém, de combates e de suores. Não é este o tempo das recompensas, nem é agora que minha glória há de se manifestar. Mas a vida presente é de morte violenta, de guerra e de perigos”.

Reparai como o Senhor os atrai e exorta, pelo modo de interrogar. Não perguntou: “Podeis suportar os suplícios? podeis derramar vosso sangue? Mas indagou: Por acaso podeis beber o cálice? E para estimulá-los, ainda acrescentou: que eu vou beber? Assim falava para que, em união com ele, se tornassem mais decididos. Chama sua paixão de batismo, para dar a entender que os sofrimentos haviam de trazer uma grande purificação para o mundo inteiro. Então os dois discípulos lhe disseram: Podemos (Mt 20,22). Prometem imediatamente, cheios de fervor, sem perceber o alcance do que dizem, mas com a esperança de obter o que pediam.

Que afirma o Senhor? De fato, vós bebereis do meu cálice (Mt 20,23), e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado (Mc 10,39). Grandes são os bens que lhes anuncia, a saber: “Sereis dignos de receber o martírio e sofrereis comigo; terminareis a vida com morte violenta e assim participareis da minha paixão”. Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. Meu Pai é quem dará esses lugares àqueles para os quais ele os preparou (Mt 20,23). Somente depois de lhes ter levantado os ânimos e de tê-los tornado capazes de superar a tristeza é que corrigiu o pedido que fizeram.

Então os outros dez discípulos ficaram irritados contra os dois irmãos (Mt 20,24). Vedes como todos eles eram imperfeitos, tanto os que tentavam ficar acima dos outros, como os dez que tinham inveja dos dois? Mas, como já tive ocasião de dizer, observai-os mais tarde e vereis como estão livres de todos esses sentimentos. Prestai atenção como o mesmo apóstolo João, que se adianta agora por este motivo, cederá sempre o primeiro lugar a Pedro, quer para usar da palavra, quer para fazer milagres, conforme se lê nos Atos dos Apóstolos. Tiago, porém, não viveu muito mais tempo. Desde o princípio, pondo de parte toda aspiração humana, elevou-se a tão grande santidade que bem depressa recebeu a coroa do martírio.

São João Crisóstomo

Responsório (cf. Sl 18/19,5)

São estes que vivendo neste mundo, plantaram a Igreja com seu sangue.
R. Beberam o cálice de Cristo e se tornaram amigos de Deus.

Em toda a terra se espalha o seu anúncio e sua voz, pelos confins do universo.
R. Beberam o cálice de Cristo e se tornaram amigos de Deus.

Oração
Deus eterno e todo-poderoso, que pelo sangue de São Tiago consagrastes as primícias dos trabalhos dos Apóstolos, concedei que a vossa Igreja seja confirmada pelo seu testemunho e sustentada pela sua proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: Liturgia das Horas, vol. III, pp. 1444-1446.

domingo, 24 de julho de 2022

A viagem do Papa Francisco ao Canadá

De 24 a 30 de julho de 2022 o Papa Francisco realiza uma Viagem Apostólica ao Canadá, sendo esta sua 37ª Viagem fora da Itália e a 3ª com destino à América do Norte, após as viagens aos Estados Unidos (2015) e ao México (2016).

Esta será a 4ª vez que o Canadá recebe o Sucessor de Pedro, após as três visitas de São João Paulo II: 09 a 20 de setembro de 1984, 20 de setembro de 1987 (após uma viagem aos EUA) e 23 a 28 de julho de 2002 (para a Jornada Mundial da Juventude em Toronto).

São João Paulo II no Canadá (2002)

A visita do Papa Francisco ao Canadá se insere dentro de um processo de reconciliação com as populações indígenas.

No final do século XIX o governo canadense instituiu as “escolas residenciais”, algumas das quais administradas pelas Igrejas cristãs (incluindo a Igreja Católica). Nessas escolas, as crianças indígenas, separadas de suas famílias, eram forçadas a abandonar sua cultura e idioma . Além disso, muitas crianças que morriam nessas escolas (por exemplo, por doenças, dada sua estrutura precária), eram sepultadas em valas comuns, algumas só recentemente descobertas.

Entre março e abril deste ano, ex-alunos das “escolas residenciais” representando as três grandes populações indígenas canadenses (“primeiras nações”, métis e inuit) visitaram o Papa Francisco no Vaticano, partilhando suas histórias e dando início a um processo de reconciliação:

“Caros irmãos e irmãs do Canadá, como sabeis, irei até vós especialmente em nome de Jesus para me encontrar e abraçar os povos indígenas. Infelizmente, no Canadá, muitos cristãos, incluindo alguns membros de institutos religiosos, contribuíram para políticas de assimilação cultural que, no passado, prejudicaram gravemente as comunidades nativas de várias formas. Por esta razão, recebi recentemente alguns grupos, representantes dos povos indígenas, no Vaticano, aos quais manifestei o meu pesar e solidariedade pelos danos que sofreram. E agora preparo-me para empreender uma peregrinação penitencial, que espero, com a graça de Deus, contribua para o caminho de cura e reconciliação já empreendido” (Papa Francisco, Ângelus, 17 de julho de 2022).

Logotipo e lema da Viagem: "Caminhando juntos"

Programa da viagem

24 de julho (domingo)

No domingo, 24 de julho, o Papa Francisco chega ao Aeroporto Internacional de Edmonton, capital da província de Alberta, no sudoeste do país. Não são previstos compromissos nesse dia, para que o Papa possa descansar.

25 de julho (segunda-feira)

Na manhã da segunda-feira o Santo Padre dirige-se à localidade de Maskwacis, igualmente na província de Alberta, onde se encontra com as populações indígenas.

Carta Apostólica Desiderio desideravi - Terceira parte (nn. 48-65)

Com esta postagem concluímos a publicação na íntegra da Carta Apostólica Desiderio desideravi (Desejei ardentemente) sobre a formação litúrgica do povo de Deus, promulgada pelo Papa Francisco no dia 29 de junho de 2022.

Dividimos nossa tradução do texto completo da Carta em três postagens. Assim, após os parágrafos nn. 01-26 (Primeira parte) e nn. 27-47 (Segunda parte), confira nesta Terceira e última parte os nn. 48-65:

Papa Francisco
Carta Apostólica Desiderio desideravi
Aos Bispos, aos presbíteros e aos diáconos, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos
Sobre a formação litúrgica do povo de Deus

Ars celebrandi

48. Um modo para conservar e para crescer na compreensão vital dos símbolos da Liturgia é certamente cuidar da arte de celebrar (ars celebrandi). Também essa expressão é objeto de diversas interpretações. Essa se esclarece se é compreendida tendo como referência o significado teológico da Liturgia descrito no n. 7 da Sacrosanctum Concilium, ao qual nos referimos várias vezes. A ars celebrandi não pode ser reduzida apenas à observância de um aparato de rubricas, nem tampouco pode ser pensada como uma fantasiosa - e às vezes selvagem - criatividade sem regras. O rito é por si mesmo norma, e a norma nunca é um fim em si mesma, mas sempre está a serviço da realidade mais elevada que quer conservar.


49. Como toda arte, requer distintos conhecimentos.
Antes de tudo, a compreensão do dinamismo que descreve a Liturgia. O momento da ação celebrativa é o lugar no qual, através do memorial, o Mistério Pascal se faz presente, para que os batizados, em virtude da sua participação, possam experimentá-lo em sua vida. Sem essa compreensão se cai facilmente no “exteriorismo” (mais ou menos refinado) e no “rubricismo” (mais ou menos rígido).
Também é preciso conhecer como o Espírito Santo age em cada celebração: a arte de celebrar deve estar em sintonia com a ação do Espírito. Só assim estará livre dos subjetivismos, que são o fruto da prevalência das sensibilidades individuais e dos culturalismos, que são aquisições acríticas de elementos culturais que nada têm a ver com um correto processo de inculturação.
É necessário, por fim, conhecer a dinâmica da linguagem simbólica, a sua peculiaridade, a sua eficácia.

sábado, 23 de julho de 2022

Carta Apostólica Desiderio desideravi - Segunda parte (nn. 27-47)

Na postagem anterior aqui em nosso blog começamos a publicar a Carta Apostólica Desiderio desideravi (Desejei ardentemente) sobre a formação litúrgica do povo de Deus, promulgada pelo Papa Francisco no dia 29 de junho de 2022.

Nossa tradução da Carta na íntegra está dividida em três partes. Assim, após os parágrafos nn. 01-26, confira a seguir os nn. 27-47:

Papa Francisco
Carta Apostólica Desiderio desideravi
Aos Bispos, aos presbíteros e aos diáconos, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos
Sobre a formação litúrgica do povo de Deus

A necessidade de uma séria e vital formação litúrgica

27. A questão fundamental é, portanto, esta: como recuperar a capacidade de viver em plenitude a ação litúrgica? Esse foi o objetivo da reforma do Concílio. O desafio é muito exigente porque o homem moderno - não do mesmo modo em todas as culturas - perdeu a capacidade de confrontar-se com a ação simbólica, que é uma característica essencial do ato litúrgico.

"A única grande reflexão do Concílio começou pela Liturgia"

28. A pós-modernidade - na qual o homem se sente ainda mais perdido, sem referências de qualquer tipo, desprovido de valores, porque se tornou indiferente, órfão de tudo, em uma fragmentação na qual parece impossível um horizonte de sentido - continua sobrecarregada pela pesada herança que a época precedente nos deixou, feita de individualismo e subjetivismo (que mais uma vez recordam o pelagianismo e o gnosticismo), bem como de um espiritualismo abstrato que contradiz a própria natureza do homem, espírito encarnado e, portanto, em si mesmo capaz de ação e de compreensão simbólicas.

29. É com a realidade da modernidade que a Igreja reunida no Concílio quis confrontar-se, reafirmando a consciência de ser sacramento de Cristo, luz dos povos (Lumen gentium), colocando-se em religiosa escuta da Palavra de Deus (Dei Verbum) e reconhecendo como próprias as alegrias e as esperanças (Gaudium et spes) dos homens de hoje. As grandes Constituições conciliares não são separáveis ​​e não é por acaso que esta única grande reflexão do Concílio Ecumênico - máxima expressão da sinodalidade da Igreja, de cuja riqueza sou chamado a ser, com todos vós, o guardião - começou pela Liturgia (Sacrosanctum Concilium).

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Carta Apostólica Desiderio desideravi - Primeira parte (nn. 01-26)

No dia 29 de junho de 2022 o Papa Francisco promulgou a Carta Apostólica Desiderio desideravi (Desejei ardentemente) sobre a formação litúrgica do povo de Deus.

Esta Carta é fruto da Assembleia Plenária do Dicastério para o Culto Divino (2019) e de uma reflexão feita pelo então Cardeal Jorge Mario Bergoglio em 2005 sobre a ars celebrandi, a “arte de celebrar”. Para acessar esse texto na íntegra, clique aqui.

Propomos aqui uma tradução nossa da Carta completa, a partir do seu texto italiano. Dividiremos os 65 parágrafos que a compõem em três postagens. Confira a seguir, pois, os nn. 01-26:

Papa Francisco
Carta Apostólica Desiderio desideravi
Aos Bispos, aos presbíteros e aos diáconos, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos
Sobre a formação litúrgica do povo de Deus

Desiderio desideravi hoc Pascha manducare vobiscum, antequam patiar” (Lc 22,15).

Caríssimos irmãos e irmãs,
1. Com esta Carta desejo chegar a todos - depois de ter escrito aos Bispos após a publicação do Motu Proprio Traditionis custodes - para compartilhar convosco algumas reflexões sobre a Liturgia, dimensão fundamental para a vida da Igreja. O tema é muito vasto e merece uma atenta consideração sobre todos os aspectos: todavia, com este escrito não pretendo tratar a questão de modo exaustivo. Desejo simplesmente oferecer alguns pontos de reflexão para contemplar a beleza e a verdade da celebração cristã.

"Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco" (Lc 22,15)

A Liturgia, “hoje” da história da salvação

2. “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco, antes de sofrer” (Lc 22,15). As palavras de Jesus, com as quais se abre o relato da última Ceia, são a “fresta” pela qual nos é dada a surpreendente possibilidade de intuir a profundidade do amor das Pessoas da Santíssima Trindade para conosco.

3. Pedro e João haviam sido enviados para preparar a Páscoa, mas, na verdade, toda a criação, toda a história - que finalmente estava prestes a revelar- se como a história de salvação - foi uma grande preparação para aquela Ceia. Pedro e os outros estão naquela mesa, inconscientes mas necessários: todo dom para ser tal deve ter alguém disposto a recebê-lo. Nesse caso, a desproporção entre a imensidão do dom e a pequenez de quem o recebe é infinita e não pode deixar de nos surpreender. No entanto - pela misericórdia do Senhor - o dom é confiado aos Apóstolos para que seja levado a cada ser humano.

Homilia: Festa de Santa Maria Madalena

São Gregório Magno, Papa
Homilia XXV sobre os Evangelhos 
Sentia o desejo ardente de encontrar a Cristo, que julgava ter sido roubado

Maria Madalena, tendo ido ao sepulcro, não encontrou o corpo do Senhor. Julgando que fora roubado, foi avisar aos discípulos. Estes vieram também ao sepulcro, viram e acreditaram no que a mulher lhes dissera. Sobre eles está escrito logo em seguida: Os discípulos voltaram então para casa (Jo 20,10). E depois acrescenta-se: Entretanto, Maria estava do lado de fora do túmulo, chorando (Jo 20,11).

Este fato leva-nos a considerar quão forte era o amor que inflamava o espírito dessa mulher, que não se afastava do túmulo do Senhor, mesmo depois de os discípulos terem ido embora. Procurava a quem não encontrara, chorava enquanto buscava e, abrasada no fogo do seu amor, sentia a ardente saudade daquele que julgava ter sido roubado. Por isso, só ela o viu então, porque só ela o ficou procurando. Na verdade, a eficácia das boas obras está na perseverança, como afirma também a voz da Verdade: Quem perseverar até o fim, esse será salvo (Mt 10,22).

Ela começou a procurar e não encontrou nada; continuou a procurar, e conseguiu encontrar. Os desejos foram aumentando com a espera, e fizeram com que chegasse a encontrar. Pois os desejos santos crescem com a demora; mas se diminuem com o adiamento, não são desejos autênticos. Quem experimentou este amor ardente, pôde alcançar a verdade. Por isso afirmou Davi: Minha alma tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver a face de Deus? (Sl 41,3). Também a Igreja diz no Cântico dos CânticosEstou ferida de amor (Ct 5,8). E ainda: Minha alma desfalece (cf. Ct 5,6).

Mulher, por que choras? A quem procuras? (Jo 20,15). É interrogada sobre o motivo de sua dor, para que aumente o seu desejo e, mencionando o nome de quem procurava, se inflame ainda mais o seu amor por Ele.

Então Jesus disse: Maria (Jo 20,16). Depois de tê-la tratado pelo nome comum de mulher sem que ela o tenha reconhecido, chama-a pelo próprio nome. Foi como se lhe dissesse abertamente: Reconhece Aquele por quem és reconhecida. Não é entre outros, de maneira geral, que te conheço, mas especialmente a ti. Maria, chamada pelo próprio nome, reconhece quem lhe falou; e imediatamente exclama: “Rabuni”, que quer dizer “Mestre” (Jo 20,16). Era Ele a quem Maria Madalena procurava exteriormente; entretanto, era Ele que a impelia interiormente a procurá-lo.

São Gregório Magno, Papa

Responsório

Voltando do túmulo, onde estava Jesus, Maria Madalena anunciou aos discípulos: Eu vi o Senhor.
R. Bem feliz é aquela que foi digna de ser a primeira a dar a notícia da vida do Ressuscitado.

Há muito chorando, ela viu quem buscava, anunciou a quem viu.
R. Bem feliz é aquela que foi digna de ser a primeira a dar a notícia da vida do Ressuscitado.

Oração

Ó Deus, o vosso Filho confiou a Maria Madalena o primeiro anúncio da alegria pascal; dai-nos, por suas preces e a seu exemplo, anunciar também que o Cristo vive e contemplá-lo na glória de seu Reino. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
 
Fonte: Liturgia das Horas, vol. III, pp. 1435-1437.

Confira também:

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio: Deus Pai 2

A breve seção introdutória das Catequeses do Papa São João Paulo II sobre Deus Pai - “A existência de Deus” - conclui-se com as reflexões nn. 2-3, que reproduzimos a seguir.

Para acessar a postagem que serve de introdução geral às Catequeses sobre o Creio, clique aqui.

Catequeses do Papa João Paulo II sobre o Creio
CREIO EM DEUS PAI

2. As provas da existência de Deus
João Paulo II - 10 de julho de 1985

1. Quando nos perguntamos: “Por que cremos em Deus?”, a primeira resposta é aquela da nossa fé: Deus se revelou à humanidade, entrou em contato com os homens. A suprema revelação de Deus veio a nós em Jesus Cristo, Deus encarnado. Nós cremos em Deus porque Ele se fez descobrir por nós como o ser supremo, o grande “Existente”.
No entanto, esta fé em um Deus que se revela também encontra apoio nos raciocínios da nossa inteligência. Quando refletimos, constatamos que não faltam provas da existência de Deus. Estas foram elaboradas por pensadores sob a forma de demonstrações filosóficas, segundo a concatenação de uma lógica rigorosa. Mas essas provas podem também revestir-se de uma forma mais simples e, como tais, são acessíveis a todo homem que busca compreender o que significa o mundo que o rodeia.

Nebulosa Carina (Telescópio Webb, Nasa)
"Ó galáxias dos céus imensos, louvai o Senhor!"

2. Quando se fala de provas da existência de Deus, devemos sublinhar que não se tratam de provas de ordem científico-experimental. As provas científicas, no sentido moderno da palavra, valem apenas para as coisas perceptíveis pelos sentidos, uma vez que apenas sobre estas podem ser exercidos os instrumentos de investigação e de verificação dos quais se serve a ciência. Querer uma prova científica de Deus significaria rebaixá-lo ao nível dos seres do nosso mundo, e assim equivocar-se já metodologicamente sobre aquilo que Deus é. A ciência deve reconhecer seus limites e a sua impotência em alcançar a existência de Deus: ela não pode nem afirmar nem negar esta existência.
No entanto, não se deve concluir disso que os cientistas são incapazes de encontrar, em seus estudos científicos, razões válidas para admitir a existência de Deus. Se a ciência como tal, não pode alcançar a Deus, o cientista, que possui uma inteligência cujo objeto não está limitado às coisas sensíveis, pode descobrir no mundo as razões para afirmar a existência de um Ser que o supera. Muitos cientistas fizeram e fazem esta descoberta.
Aquele que, com um espírito aberto, reflete sobre aquilo que está implicado na existência do universo não pode deixar de colocar-se o problema da origem. Instintivamente, quando somos testemunhas de certos acontecimentos, nos perguntamos sobre quais são as suas causas. Como não fazer a mesma pregunta para o conjunto dos seres e dos fenômenos que descobrimos no mundo?

Hinos de Santa Maria Madalena: Vésperas

“O amor é mais forte do que a morte” (Ct 8,6).

Já foram duas as postagens publicadas aqui em nosso blog nos últimos dias sobre Santa Maria Madalena, cuja celebração no dia 22 de julho possui desde 2016 o grau de Festa.

Na primeira postagem traçamos um breve histórico do culto a Santa Maria Madalena, desde seus fundamentos bíblicos até os nossos dias. Na segunda postagem, por sua vez, apresentamos o primeiro dos dois hinos próprios da Festa para a Liturgia das Horas:
Vésperas (e Ofício): Mágdalae sidus, múlier beáta (Ó estrela feliz de Magdala).

Os dois hinos são de nova composição, isto é, elaborados no contexto da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II pelo grupo coordenado pelo Padre Anselmo Lentini (†1989) [1], uma vez que os hinos anteriores identificavam Maria Madalena com outras mulheres do Evangelho, interpretação que foi abandonada pela Igreja.

Santa Maria Madalena (El Greco)

Assim, como fizemos com o hino das Laudes (oração da manhã), publicamos a seguir o hino das Vésperas (oração da tarde), em seu texto original em latim e em sua tradução oficial para o português do Brasil, além de breves comentários sobre a sua teologia.

Segue, pois, o hino das Vésperas de Santa Maria Madalena, retomado no Ofício das Leituras da Festa: Mágdalae sidus, múlier beáta (Ó estrela feliz de Magdala).

Vésperas: Mágdalae sidus, múlier beáta

1. Mágdalae sidus, múlier beáta,
te pio cultu venerámur omnes,
quam sibi Christus sociávit arcti
foedere amóris.

2. Cum tibi illíus pátefit potéstas
daemonum vires ábigens treménda,
tu fide gaudes potióre necti
grata medénti.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Hinos de Santa Maria Madalena: Laudes

“Encontrei o amor de minha vida, e não o deixarei mais” (cf. Ct 3,4).

Recentemente realizamos aqui em nosso blog um breve percurso pela história do culto a Santa Maria Madalena, cuja Memória no dia 22 de julho foi elevada pelo Papa Francisco em 2016 ao grau de Festa.

Como vimos, a Festa possui dois hinos próprios para a Liturgia das Horas:
Laudes: Auróra surgit lúcida (Luminosa, a aurora desperta);
Vésperas (e Ofício): Mágdalae sidus, múlier beáta (Ó estrela feliz de Magdala).

Ambos são de nova composição, isto é, foram elaborados no contexto da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II pelo grupo coordenado pelo Padre Anselmo Lentini (†1989) [1], uma vez que os hinos anteriores identificavam Madalena com a mulher pecadora de Lc 7 e com Maria de Betânia, a irmã de Marta e Lázaro, associações que foram abandonadas pela Igreja.

Santa Maria Madalena (Quentin Matsys)
Note-se o frasco com perfume para ungir o Corpo do Senhor

Como já fizemos aqui no blog com outros textos da Liturgia das Horas, nesta postagem e na próxima apresentaremos os dois hinos entoados em honra de Santa Maria Madalena em seu texto original em latim e em sua tradução oficial para o português do Brasil, seguidos de alguns breves comentários sobre a sua teologia.

Começamos, naturalmente, pelo hino das Laudes, a oração da manhã da Liturgia das Horas: Auróra surgit lúcida (Luminosa, a aurora desperta).

Laudes: Auróra surgit lúcida

1. Auróra surgit lúcida
Christi triúmphos áfferens,
cum corpus eius vísere,
María, vis et úngere.

2. Anhéla curris; ángelus
at ecce laetus praedocet
mortis refráctis póstibus
redísse quem desíderas.

terça-feira, 19 de julho de 2022

História do culto a Santa Maria Madalena

“Vou levantar-me e percorrer a cidade, procurando o Amor de minha vida” (Ct 3,2).

No dia 22 de julho as Igrejas do Oriente e do Ocidente celebram Santa Maria Madalena, testemunha privilegiada do Mistério Pascal da Morte-Ressurreição de Cristo. Nesta postagem gostaríamos de percorrer brevemente a história do seu culto.

1. “Quem é essa mulher?”: As muitas faces de Madalena

Ao longo da história, sobretudo no Ocidente, Maria Madalena foi identificada com ao menos outras duas mulheres do Evangelho: Maria, irmã de Marta e Lázaro, e a pecadora anônima que lava os pés de Jesus com suas lágrimas. As três, como veremos, são discípulas que se colocaram aos pés do Senhor e estão relacionadas ao simbolismo do perfume e da unção.

Ícone bizantino de Santa Maria Madalena
A cruz e o frasco de perfume aludem à Morte-Ressurreição do Senhor

a) na Sagrada Escritura:

“Maria”, versão grega do hebraico Miriam, era o nome feminino mais comum na época do Novo Testamento. Por isso, nossa santa aparece sempre acompanhada de um gentilício ou adjetivo pátrio, isto é, acompanhada da referência a um lugar. Maria “Madalena” (Μαρία ἡ Μαγδαληνή), portanto, significa Maria de Magdala”.

Magdala (do hebraico Migdal, “torre”) era uma aldeia na margem ocidental do mar da Galileia, destruída pelos romanos no final do século I, durante as guerras judaicas, cujos restos arqueológicos foram encontrados apenas no início do século XXI. Para saber mais, confira nossa postagem sobre Magdala clicando aqui.

Maria Madalena é mencionada 12 vezes nos Evangelhos, sempre ocupando uma posição de destaque entre as discípulas de Jesus:
Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus. Os Doze iam com Ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios (...) e várias outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam” (Lc 8,1-3).

Além do seu nome, Lucas oferece aqui duas informações importantes: ela havia sido curada por Jesus de alguma enfermidade (interpretada como a ação de “demônios”) e, junto com outras mulheres, ajudava materialmente o grupo dos Apóstolos.

Maria é curada por Jesus (notem-se os “sete demônios” que saem dela)
(Mosaico da igreja de Magdala)

Nos Evangelhos Sinóticos, Madalena permanece junto com outras mulheres contemplando à distância a Crucificação e o Sepultamento do Senhor (Mt 27,55-56; Mc 15,40-41; Lc 23,55-56). O Evangelho de João, por sua vez, a situa aos pés da cruz, junto com a Mãe de Jesus e o “discípulo amado” (Jo 19,25).

Nos diferentes relatos da Ressurreição, ela está entre as mulheres que levaram perfumes ao túmulo na manhã do domingo:

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Divina Liturgia no Santuário de Zarvanytsya

De 07 a 15 de julho de 2022 os Bispos da Igreja Greco-Católica Ucraniana realizaram o seu Sínodo em Przemyśl (Polônia). Para ver as imagens da Divina Liturgia de abertura, clique aqui.

No domingo, 17 de julho de 2022, dois dias após a conclusão da assembleia, o Arcebispo-Maior, Dom Sviatoslav Shevchuk (Святосла́в Шевчу́к), acompanhado de vários Bispos, celebrou a Divina Liturgia no Santuário da Mãe de Deus de Zarvanytsya (Собор Зарваницької Матері Божої), no oeste do país, rezando particularmente pela paz na Ucrânia.

Procissão de entrada com o ícone da Mãe de Deus


Início da Divina Liturgia: Litania da paz

Ângelus do Papa: XVI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 17 de julho de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
O Evangelho da Liturgia deste domingo apresenta-nos um vivaz quadro doméstico com Marta e Maria, duas irmãs que oferecem hospitalidade a Jesus na sua casa (Lc 10,38-42). Marta começa imediatamente a receber os convidados, enquanto Maria se senta aos pés de Jesus para ouvi-lo. Então Marta dirige-se ao Mestre e pede-lhe que diga a Maria para ajudá-la. A queixa de Marta não parece fora de lugar; aliás, sentimos que ela tem razão. Mas Jesus responde-lhe: «Marta, Marta, andas muito inquieta e preocupas-te com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a parte melhor, que não lhe será tirada» (vv. 41-42). É uma resposta que surpreende. Mas Jesus muitas vezes inverte a nossa maneira de pensar. Perguntemo-nos por que o Senhor, embora apreciando a generosa preocupação de Marta, afirma que devemos preferir a atitude de Maria.
A “filosofia” de Marta parece ser esta: primeiro o dever, depois o prazer. Com efeito, a hospitalidade não é feita de belas palavras, mas exige que se ponham as mãos no fogão, que se faça o que for preciso para que o convidado se sinta bem-vindo. Jesus sabe isto muito bem. E de fato reconhece a dedicação de Marta. Contudo, quer que ela compreenda que existe uma nova ordem de prioridades, diferente daquela que ela tinha seguido até então. Maria intuiu que existe uma “parte melhor” à qual se deve dar o primeiro lugar. O resto vem a seguir, como um riacho que corre da nascente. E assim nos perguntamos: o que é esta “parte melhor”? É a escuta das palavras de Jesus. O Evangelho diz: «Maria, que se sentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar» (v. 39). Notemos: não ouviu de pé, fazendo outra coisa, mas sentou-se aos pés de Jesus. Compreendeu que Ele não é um convidado como os outros. À primeira vista parece que Ele veio para receber, porque precisava de comida e abrigo, mas na realidade, o Mestre veio para se doar a nós através da sua palavra.
A palavra de Jesus não é abstrata, é um ensinamento que toca e molda a vida, muda-a, liberta-a da opacidade do mal, satisfaz e infunde uma alegria que não passa: a palavra de Jesus é a melhor parte, aquela que Maria escolheu. Por isso deu-lhe o primeiro lugar: para e escuta. O resto virá depois. Isto nada tira ao valor do compromisso prático, não deve preceder, mas fluir da escuta da palavra de Jesus, deve ser animado pelo seu Espírito. Caso contrário, reduz-se a uma azáfama e agitação por muitas coisas, reduz-se a um ativismo estéril.
Irmãos e irmãs, aproveitemos este tempo de férias para parar e ouvir Jesus. Hoje é cada vez mais difícil encontrar momentos livres para meditar. Para muitas pessoas, os ritmos de trabalho são frenéticos, desgastantes. O período de verão [no hemisfério norte] também pode ser precioso para abrir o Evangelho e lê-lo lentamente, sem pressa, um trecho por dia, um pequeno excerto do Evangelho. E isto faz-nos entrar nesta dinâmica de Jesus. Deixemo-nos interrogar por aquelas páginas, perguntando-nos como está a nossa vida, a minha vida, se está ou não de acordo com o que Jesus diz ou não tanto. Em particular, perguntemo-nos: quando começo o meu dia, atiro-me de cabeça nas coisas a fazer, ou procuro primeiro a inspiração na Palavra de Deus? Por vezes começamos os nossos dias automaticamente, fazendo coisas... como as galinhas. Não. Devemos começar os nossos dias primeiro olhando para o Senhor, tomando a sua Palavra, brevemente, para que esta seja a inspiração para o dia. Se sairmos de casa pela manhã mantendo uma palavra de Jesus na nossa mente, certamente o dia adquirirá um tom marcado por aquela palavra, que tem o poder de dirigir as nossas ações de acordo com o que o Senhor quer.
Que a Virgem Maria nos ensine a escolher a parte melhor, que nunca nos será tirada.

Jesus na casa de Marta e Maria (Giovanni da San Giovanni)

Fonte: Santa Sé.