domingo, 30 de junho de 2019

A Trindade na Liturgia: Encontro de Pastoral Litúrgica 2008

Dando continuidade à sequência de postagens no final de cada mês sobre os Encontros Nacionais de Pastoral Litúrgica (ENPL), que acontecem  anualmente no Santuário de Fátima, em Portugal, recordamos hoje o 34º Encontro, que aconteceu em julho de 2008, com o tema: "A Santíssima Trindade na Liturgia da Igreja".

Seguem os áudios de quatro conferências, disponibilizados pelo Secretariado Nacional de Liturgia:

Pe. Dr. Fausto Sanches Martins

Pe. Dr. João da Silva Peixoto

D. António Augusto dos Santos Marto

Pe. Dr. Carlos Manuel Cabecinhas

Houve também uma celebração mistagógica que, através de textos bíblicos, textos patrísticos e cânticos, explanou o simbolismo de cada elemento do espaço litúrgico de uma igreja. Esta celebração, porém, merece uma postagem especial no futuro aqui em nosso blog.

Ainda sobre o tema da Trindade na Liturgia, confira também uma série de três textos publicados pelo Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice no ano de 2012, recordando as reflexões do Catecismo da Igreja Católica:

A Liturgia, obra da Trindade: Deus Pai
A Liturgia, obra da Trindade: Deus Filho
A Liturgia, obra da Trindade: Deus Espírito Santo


No próximo mês traremos não uma postagem retrospectiva, mas sim os conteúdos do 45º ENPL, que acontece neste mês de julho com o tema "Liturgia e missão".

sábado, 29 de junho de 2019

Catequese do Papa João Paulo II sobre São Pedro e São Paulo

João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 27 de junho 1979
Os Apóstolos Pedro e Paulo, testemunhas do amor de Cristo

1. «Pretiosa in conspectu Domini mors Sanctorum Eius». Preciosa aos olhos do Senhor é a morte dos Seus fiéis (Sl 116,15).
Permiti começar eu com estas palavras do Salmo 116 a meditação que hoje desejo dedicar à memória dos Santos Fundadores e Patronos da Igreja Romana. Aproxima-se, de fato, o dia solene de 29 de junho, em que toda a Igreja, mas sobretudo Roma, recordará os Santos Apóstolos Pedro e Paulo. Este dia fixou-se na memória da Igreja Romana como dia da morte d'Eles; o dia que os uniu com o Senhor, de Quem esperavam a Vinda, observavam a Lei e de Quem receberam «a coroa da vida» (Cf. 2Tm 4,7-8; Tg 1,12).
O dia da morte foi para eles o início da Nova Vida. O Senhor mesmo lhes revelou este início com a própria ressurreição, da qual eles se tornaram testemunhas mediante as palavras e as obras, e também mediante a morte. Tudo junto - as palavras, as obras e a morte de Simão de Betsaida, a quem o Senhor chamou Pedro, e de Saulo de Tarso, que depois da conversão se chamou Paulo - constitui, por assim dizer, o complemento do Evangelho de Cristo, a sua penetração na história da humanidade, na história do mundo, e também na história desta Cidade. Há verdadeiramente que meditar nestes dias, que o Senhor, mediante a morte dos seus Apóstolos, nos permite encher com uma memória especial da vida de ambos.
«Felix per omnes festum mundi cardines / apostolorum praepollet alacriter, / Petri beati, Pauli sacratissimi, / quos Christus almo consecravit sanguine, / ecclesiarum deputavit principes» (Hymnus ad officium lectionis, Hino do Ofício da leitura).
«Brilha por todos os lugares do mundo / a fausta solenidade dos Apóstolos, / do bem-aventurado Pedro e do augusto Paulo, / / que Cristo consagrou com fecundo sangue / e escolheu para chefes das Igrejas».
2. Quando Cristo depois da ressurreição teve com Ele aquela conversa singular, descrita pelo Evangelista João, certamente Pedro não sabia que precisamente aqui - na Roma de Nero - se realizariam as palavras ouvidas então e aquelas mesmas pronunciadas por ele. Cristo perguntou-lhe três vezes «Amas-me?» e Pedro três vezes deu resposta afirmativa. Ainda que à terceira vez Pedro se tenha entristecido (Jo 21,17), como nota o Evangelista. Alguns pensam na causa possível desta dor, e supõem que ela se encontra na tríplice negação, recordada a Pedro pela terceira pergunta de Cristo. Seja como for, depois da terceira resposta em que Pedro não só garantiu o seu amor mas apelou humildemente para o que o próprio Cristo sabia a este propósito Senhor, Tu sabes que Te amo (Jo 21,15), depois desta terceira resposta seguem as palavras que exatamente aqui, em Roma, se haveriam de realizar um dia. O Senhor diz: Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde tu não queres (Jo 21,18). Estas palavras misteriosas podem-se compreender de maneiras diversas. Todavia o Evangelista sugere o sentido exato, quando acrescenta que nelas indicou Cristo a Pedro o género de morte com que ele havia de glorificar a Deus (Jo 21,19). 
Por isso, o dia da morte do Apóstolo, que depois de amanhã comemoramos, recorda-nos também o cumprimento destas palavras. Tudo o que aconteceu anteriormente - todo o ensinamento apostólico e o serviço à Igreja na Palestina, depois em Antioquia, e por último em Roma - tudo isto constitui o cumprimento daquela tríplice resposta: Senhor, tu sabes que Te amo (Jo 21,15). Tudo isto dia após dia, ano após ano, juntamente com todas as alegrias e as exaltações da alma do Apóstolo, quando via o crescimento da causa do Evangelho nas almas, mas também todas as inquietações, as perseguições e as ameaças - começando já desde Jerusalém, quando Pedro foi encarcerado por ordem de Herodes, até à última em Roma, quando se repetiu a mesma coisa em seguida à ordem de Nero. Mas da primeira vez foi libertado pelo Senhor por meio do Seu Anjo, ao passo que desta já não. Provavelmente completou-se suficientemente, com a vida e o ministério de Pedro, a medida terrena do amor prometido ao Mestre. Podia-se cumprir também esta seguinte parte das palavras então pronunciadas: ... outro te cingirá e te levará para onde tu não queres (Jo 21,18).
Segundo a tradição, Pedro morreu na cruz como Cristo, mas tendo a consciência de não ser digno de morrer como o Mestre, pediu para ser crucificado com a cabeça para baixo.
3. Paulo veio a Roma como preso, depois de apelar para César contra a sentença de condenação dada na Palestina (Cf. At 25,11). Era cidadão romano e tinha direito a este recurso. Por isso, é possível que tenha passado os últimos dois anos de vida na Roma de Nero. Não parou de ensinar, por meio da palavra viva e escrita (as cartas), mas talvez não tenha podido nunca sair da cidade. As suas viagens missionárias, com que abraçara os principais centros do mundo mediterrâneo, estavam terminadas. Cumpriu-se deste modo o prenúncio acerca do instrumento escolhido para levar o Nome do Senhor diante dos povos (At 9,15).
Durante pouco mais de trinta anos a partir da morte de Cristo, da ressurreição e da ascensão ao Pai, a região do Mar Mediterrâneo e portanto a área do Império tinha-se ido povoando com os primeiros cristãos. Tudo isto foi, em parte considerável, fruto da atividade missionária do Apóstolo dos Gentios. E se, entre todas estas solicitudes, não o abandonava o desejo de ser liberto do corpo para estar com Cristo (Fl 1,23), foi exatamente aqui em Roma que tal desejo se cumpriu.
O Senhor dirigiu-o para Roma no fim da vida, para ser testemunha do ministério de Pedro não só entre os Hebreus, mas também entre os pagãos, e para levar para lá o testemunho vivo do desenvolvimento da Igreja «até aos confins da terra» (Cf. At 1,8), de maneira que desenhasse a primeira forma da sua universalidade. O Senhor dispôs que ele, Paulo, Apóstolo infatigável e servidor desta universalidade, passasse os últimos anos da vida aqui, para ser o apoio e o estável ponto de referência para esta mesma universalidade.
«O Roma felix, quae tantorum principum / es purpurata pretioso sanguine, non laude tua, sed ipsorum meritis / excellis mundi pulchritudinem» (Hymnus ad Vesperas, Hino de Vésperas). «O Roma feliz que de tantos príncipes / foste empurpurada com o precioso sangue, / não para tua fama, mas por seus méritos / tu vences toda a beleza do mundo».
4. Aproximando-se o dia 29 de junho, festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, muitos pensamentos se acumulam na mente e muitos sentimentos no coração. Sobretudo cresce a necessidade da oração, para que o ministério de Pedro encontre nova compreensão na Igreja dos nossos tempos, e para que se amplie cada vez mais a dimensão da universalidade missionária que São Paulo trouxe de modo tão relevante para a história da Igreja Romana, permanecendo aqui na qualidade de preso nos últimos anos da vida.
E o Senhor, que prometeu a Pedro construir a própria Igreja «sobre a Pedra», continue a ser benigno para com esta Pedra que se veio inserir no terreno da Cidade Eterna, tornada fértil com o sangue dos seus Fundadores.


Fonte: Santa Sé

Missa pela Beatificação de Michał Giedrojc: Vilnius

Depois da Missa em ação de graças pela Beatificação de Michał Giedrojc celebrada em Cracóvia no último dia 08 de junho, foi a vez da Lituânia, sua terra natal, festejar o novo Beato.

O Arcebispo de Vilnius, Dom Gintaras Grušas, celebrou a Santa Missa em ação de graças no último dia 22 de junho na igreja de São Lourenço na aldeia de Videniškiai, próxima a Vilnius.

Esteve presente também Dom Marek Jędraszewski, Arcebispo de Cracóvia, local onde o Beato desenvolveu seu apostolado. Dom Marek doou à igreja lituana uma relíquia do Beato.

Imagem do Beato Michał Giedrojc em um altar lateral da igreja
Procissão de entrada
 

Sacerdote porta a relíquia do Beato

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Ordenações Presbiterais em Veneza

O Patriarca de Veneza, Dom Francesco Moraglia, celebrou no último dia 22 de junho a Santa Missa para a Ordenação de quatro presbíteros na.Catedral de São Marcos:

Procissão de entrada
Ritos iniciais
Propósitos dos eleitos
Ladainha de Todos os Santos
Imposição das mãos

Fotos da Ordenação Episcopal no Vaticano

No último dia 22 de junho o Papa Francisco presidiu no Altar da Cátedra da Basílica Vaticana a Santa Missa para a Ordenação Episcopal de Dom Alberto Ricardo Lorenzelli Rossi, nomeado Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Santiago do Chile.

Os co-ordenantes foram o Cardeal Tarcísio Bertone, Secretário de Estado Emérito da Santa Sé, e Dom Celestino Aós Braco, Bispo Emérito de Copiapó (Chile).

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Marco Agostini. O livreto da celebração pode ser visto aqui.

O Papa saúda o eleito na sacristia
Incensação do altar
Apresentação do candidato
Homilia

Homilia do Papa: Ordenação Episcopal

Ordenação Episcopal de Dom Alberto Riccardo Lorenzelli
Homilia do Santo Padre Francisco
Basílica de São Pedro, Altar da Cátedra
Sábado, 22 de junho de 2019

Irmãos e filhos caríssimos,
Reflitamos atentamente a qual alta responsabilidade eclesial é promovido este nosso irmão. O Senhor nosso Jesus Cristo, enviado pelo Pai para redimir os homens, mandou por sua vez ao mundo os doze Apóstolos para que, cheios do poder do Espírito Santo, anunciassem o Evangelho a todos os povos e, reunindo-os sob o único Pastor, os santificassem e guiassem para a salvação.
Com a finalidade de perpetuar de geração em geração este ministério apostólico, os Doze convocaram colaboradores, transmitindo-lhes com a imposição das mãos o dom do Espírito recebido de Cristo, que conferia a plenitude do sacramento da Ordem. Assim, através da ininterrupta sucessão dos bispos na tradição viva da Igreja, conservou-se este ministério primário e a obra do Salvador continua a desenvolver-se até aos nossos dias. No bispo circundado pelos seus presbíteros no meio de vós está presente nosso Senhor Jesus Cristo, Sumo Sacerdote para toda a eternidade.
É Cristo, com efeito, que no ministério do bispo continua a pregar o Evangelho de salvação; é Cristo que continua a santificar os fiéis mediante os sacramentos da fé. É Cristo que, na paternidade do bispo, acrescenta novos membros ao seu corpo, que é a Igreja. É Cristo que, na sabedoria e prudência do bispo, guia o povo de Deus na peregrinação terrena até à felicidade eterna.
Acolhei, portanto, com alegria e gratidão este nosso irmão, que nós bispos, com a imposição das mãos, hoje associamos ao colégio episcopal. Prestai-lhe a honra que se deve ao ministro de Cristo e ao dispensador dos mistérios de Deus, ao qual foram confiados o testemunho do Evangelho e o ministério do Espírito para a santificação. Recordai-vos das palavras de Jesus aos Apóstolos: «Quem vos ouve, ouve a mim; quem vos rejeita, rejeita a mim; e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou».
Quanto a ti, irmão caríssimo eleito pelo Senhor, reflete que foste escolhido entre os homens: não esqueças jamais das tuas raízes; a tua mãe, a tua família – as tuas raízes; e foste eleito para os homens, foste constituído nas realidades que dizem respeito a Deus. “Episcopado”, com efeito, é o nome de um serviço, não de uma honra, porque ao Bispo compete mais servir que dominar, segundo o mandamento do Mestre: «Aquele que entre vós é o maior, torne-se como o último; e o que governa seja como o servo». O bispo é servidor, pastor, pai, irmão, jamais um mercenário.
Anuncia a Palavra em cada ocasião: oportuna e inoportuna; admoesta. Admoesta, repreende, exorta com toda a magnanimidade e doutrina. E, mediante a oração... Não esqueças que a primeira missão do bispo é a oração: assim disse São Pedro o dia em que criou os diáconos: «A nós a oração e o anúncio da Palavra»; um bispo que não reza é um mercenário. E mediante a oração e a oferta do sacrifício pelo teu povo, haure da plenitude da santidade de Cristo a riqueza multiforme da graça divina.
Na Igreja a ti confiada sê fiel guardião e dispensador dos mistérios de Cristo. Posto pelo Pai à frente da sua família, segue sempre o exemplo do Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas, é por elas conhecido e, por elas, não hesitou oferecer a própria vida. Proximidade ao povo de Deus, conhecer o povo de Deus, o povo de Deus do qual tu foste escolhido.
Ama com amor de pai e de irmão todos aqueles que Deus te confia. Em primeiro lugar, os presbíteros e os diáconos, teus colaboradores. O próximo mais próximo do bispo são os sacerdotes e os diáconos. Sê próximo aos sacerdotes: muito próximo! Quando te buscam possam encontrá-lo logo, sem burocracia: diretamente. Mas também sê próximo dos pobres, dos indefesos e de quantos tiverem necessidade de acolhimento e de ajuda. Exorta os fiéis a cooperar no compromisso apostólico e escuta-os de bom grado.
Presta viva atenção a quantos não pertencem ao único redil de Cristo, porque também eles te foram confiados no Senhor. Recorda-te que na Igreja católica, congregada no vínculo da caridade, estás unido ao colégio dos bispos e deves ter em ti a solicitude por todas as Igrejas, socorrendo generosamente aquelas que são mais necessitadas de ajuda.
Vigia com amor sobre toda a grei, vigia este rebanho no qual o Espírito Santo te insere para reger a Igreja de Deus, e isto faças em nome do Pai, cuja imagem tu tornas presente; em nome de Jesus Cristo, seu Filho, pelo qual foste constituído mestre, sacerdote e pastor; e em nome do Espírito Santo, que dá vida à Igreja e, com o seu poder, sustenta a nossa debilidade.


(Como de costume o Papa proferiu a homilia da edição italiana do Pontifical Romano, com alguns pequenos acréscimos)

Homilia do Papa Bento XVI: Vésperas do Sagrado Coração 2009

Há dez anos, por ocasião da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus (naquele ano celebrada a 19 de junho), o Papa Bento XVI presidiu as II Vésperas da Solenidade na Basílica de São Pedro, durante as quais deu início ao Ano Sacerdotal.

Repropomos hoje a homilia do Papa na ocasião:

Celebração das Vésperas da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus
Abertura do Ano Sacerdotal no 150° Aniversário da morte de São João Maria Vianney
Homilia do Papa Bento XVI
Basílica Vaticana
Sexta-feira, 19 de junho de 2009

Estimados irmãos e irmãs
Na antífona ao Magnificat, daqui a pouco entoaremos: “O Senhor recebeu-nos no seu coração - Suscepit nos Dominus in sinum et cor suum”. No Antigo Testamento fala-se 26 vezes do coração de Deus, considerado como o órgão da sua vontade: o homem é julgado em relação ao coração de Deus. Por causa da dor que o seu coração sente pelos pecados do mundo, Deus decide o dilúvio, mas depois comove-se diante da debilidade humana e perdoa. Além disso, há um trecho veterotestamentário em que o tema do coração de Deus se encontra expresso de modo absolutamente claro: é no capítulo 11 do livro do profeta Oseias, onde os primeiros versículos descrevem a dimensão do amor com que o Senhor se dirigiu a Israel, na aurora da sua história: “Quando Israel ainda era menino, Eu o amei, e do Egito chamei o meu filho” (v. 1). Na verdade, à incansável predileção divina, Israel responde com indiferença e até com ingratidão. “Quanto mais os chamava  o Senhor é obrigado a constatar  mais eles se afastavam de mim” (v. 2). Todavia, Ele nunca abandona Israel nas mãos dos inimigos, pois “o meu coração  observa o Criador – do universo comove-se dentro de mim, comove-se a minha compaixão” (v. 8).
O coração de Deus comove-se! Na hodierna solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a Igreja oferece à nossa contemplação este mistério, o mistério do coração de um Deus que se comove e derrama todo o seu amor sobre a humanidade. Um amor misterioso, que nos textos do Novo Testamento nos é revelado como paixão incomensurável pelo homem. Ele não se rende perante a ingratidão, e nem sequer diante da rejeição do povo que Ele escolheu para si; pelo contrário, com misericórdia infinita, envia ao mundo o seu Filho, o Unigénito, para que assuma sobre si o destino do amor aniquilado a fim de que, derrotando o poder do mal e da morte, possa restituir dignidade de filhos aos seres humanos, que o pecado tornou escravos. Tudo isto a caro preço: o Filho Unigênito do Pai imola-se na cruz: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (cf. Jo 13,1). Símbolo de tal amor, que vai além da morte é o seu lado traspassado por uma lança. A este propósito, a testemunha ocular, o Apóstolo João, afirma: “Um dos soldados perfurou-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água” (cf. Jo 19,34).
Amados irmãos e irmãs, obrigado porque, respondendo ao meu convite, viestes numerosos a esta celebração com que entramos no Ano Sacerdotal. Saúdo os Senhores Cardeais e os Bispos, de modo particular o Cardeal Prefeito e o Secretário da Congregação para o Clero, juntamente com os seus colaboradores, e o Bispo de Ars. Saúdo os sacerdotes e os seminaristas dos vários seminários e colégios de Roma; os religiosos, as religiosas e todos os fiéis. Dirijo uma saudação especial a Sua Beatitude Ignace Youssef Younan, Patriarca de Antioquia dos Sírios, vindo a Roma para se encontrar comigo e significar publicamente a "ecclesiastica communio", que lhe concedi.
Diletos irmãos e irmãs, detenhamo-nos em conjunto para contemplar o Coração traspassado do Crucificado. Há pouco ouvimos mais uma vez, na breve leitura tirada da Carta de São Paulo aos Efésios que “Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, estando nós mortos pelas nossas culpas, deu-nos a vida juntamente com Cristo... Com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar lá nos Céus, em Cristo Jesus” (Ef 2,4-6). No Coração de Jesus está expresso o núcleo essencial do cristianismo, em Cristo foi-nos revelada e comunicada toda a novidade revolucionária do Evangelho: o Amor que nos salva e nos faz viver já na eternidade de Deus. O evangelista João escreve: “Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3,6). Então, o seu Coração divino chama o nosso coração; convida-nos a sair de nós mesmos, a abandonar as nossas seguranças humanas para confiar nele e, seguindo o seu exemplo, a fazer de nós mesmos um dom de amor sem reservas.
Se é verdade que o convite de Jesus, a “permanecer no seu amor” (cf. Jo 15,9) é para cada batizado, na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, dia de santificação sacerdotal, tal convite ressoa com maior vigor para nós, sacerdotes, de modo particular nesta tarde, solene início do Ano sacerdotal, por mim desejado por ocasião do sesquicentenário da morte do Santo Cura d'Ars. Vem-me imediatamente ao pensamento uma sua bonita e comovedora afirmação, citada no Catecismo da Igreja Católica: “O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus” (n. 1589). Como não recordar com emoção que diretamente deste Coração brotou o dom do nosso ministério sacerdotal? Como esquecer que nós, presbíteros, fomos consagrados para servir, humilde e respeitavelmente, o sacerdócio comum dos fiéis? A nossa missão é indispensável para a Igreja e para o mundo, que requer plena fidelidade a Cristo e união incessante com Ele; ou seja, exige que tendamos constantemente para a santidade, como fez São João Maria Vianney.
Queridos irmãos sacerdotes, na Carta que vos dirigi para este Ano jubilar especial, desejei salientar alguns aspectos que qualificam o nosso ministério, fazendo referência ao exemplo e ao ensinamento do Santo Cura d'Ars, modelo e protetor de todos os presbíteros, e em particular dos párocos. Que este meu escrito vos sirva de ajuda e de encorajamento para fazer deste Ano uma ocasião propícia para crescer na intimidade com Jesus, que conta conosco, seus ministros, para difundir e consolidar o seu Reino. E, por conseguinte, “a exemplo do Santo Cura d'Ars  assim concluí a minha Carta  deixai-vos conquistar por Ele e também vós sereis, no mundo de hoje, mensageiros de esperança, de reconciliação e de paz”.
Deixar-se conquistar plenamente por Cristo! Esta foi a finalidade de toda a vida de São Paulo, a quem dirigimos a nossa atenção durante o Ano paulino que já está próximo do seu encerramento; esta foi a meta de todo o ministério do Santo Cura d'Ars, que invocaremos durante o Ano sacerdotal; este seja também o objetivo principal de cada um de nós. Para ser ministros ao serviço do Evangelho, é certamente útil o estudo com uma formação pastoral atenta e permanente, mas é ainda mais necessária a “ciência do amor”, que só se aprende de “coração a coração” com Cristo. Com efeito, é Ele que nos chama a partir o pão do seu amor, para perdoar os pecados e para guiar o rebanho em seu nome. Precisamente por isso nunca devemos afastar-nos da nascente do Amor que é o seu Coração trespassado na cruz.
Só assim seremos capazes de cooperar eficazmente para o misterioso “desígnio do Pai”, que consiste em “fazer de Cristo o coração do mundo”! Desígnio que se realiza na história, na medida em que Cristo se torna o Coração dos corações humanos, começando a partir daqueles que são chamados a estar mais próximos dele, precisamente os sacerdotes. Chamam-nos a este compromisso constante as “promessas sacerdotais”, que pronunciamos no dia da nossa Ordenação e que renovamos todos os anos na Quinta-Feira Santa, na Missa Crismal. Até as nossas carências, os nossos limites e debilidades devem reconduzir-nos ao Coração de Jesus. Com efeito, é verdade que os pecadores, contemplando-O, devem aprender dele a necessária “dor dos pecados” que os reconduza ao Pai, isto vale ainda mais para os ministros sagrados. Como esquecer, a este propósito, que nada faz sofrer tanto a Igreja, Corpo de Cristo, como os pecados dos seus pastores, sobretudo daqueles que se transformam em “ladrões de ovelhas” (Jo 10,1ss.), porque as desviam com as suas doutrinas particulares, ou porque as prendem com laços de pecado e de morte? Estimados sacerdotes, também para nós é válido o apelo à conversão e ao recurso à Misericórdia Divina, e devemos igualmente dirigir com humildade uma súplica urgente e incessante ao Coração de Jesus, para que nos preserve do terrível risco de prejudicar aqueles que somos chamados a salvar.
Há pouco pude venerar, na Capela do Coro, a relíquia do Santo Cura d'Ars: o seu coração. Um coração inflamado de amor divino, que se comovia ao pensamento da dignidade do sacerdote e falava aos fiéis com expressões sensibilizadoras e sublimes, afirmando que “depois de Deus, o sacerdote é tudo! (...) Ele mesmo não se compreenderá bem a si mesmo, a não ser no céu” (cf. Carta para o Ano Sacerdotal, p. 2). Amados irmãos, cultivemos esta mesma comoção, quer para cumprir o nosso ministério com generosidade e dedicação, quer para conservar na alma um verdadeiro "temor de Deus": o temor de poder privar de tanto bem, por nossa negligência ou culpa, as almas que nos são confiadas, ou de poder  Deus não queira!  prejudicá-las. A Igreja tem necessidade de sacerdotes santos; de ministros que ajudem os fiéis a experimentar o amor misericordioso do Senhor e sejam suas testemunhas convictas. Na adoração eucarística, que se seguirá à celebração das Vésperas, pediremos ao Senhor que inflame o coração de cada presbítero com a “caridade pastoral” capaz de assimilar o seu pessoal “eu” ao de Jesus Sacerdote, de maneira a poder imitá-lo na mais completa autodoação. Que nos obtenha esta graça a Virgem Maria, cujo Coração Imaculado contemplaremos amanhã com fé viva. Para Ela, o Santo Cura d'Ars nutria uma devoção filial, a tal ponto que em 1836, antecipando a proclamação do Dogma da Imaculada Conceição, já tinha consagrado a sua paróquia a Maria, “concebida sem pecado”. E conservou o hábito de renovar com frequência esta oferta da paróquia à Virgem Santa, ensinando aos fiéis que “era suficiente dirigir-se a Ela para ser atendidos”, pelo simples motivo que Ela “deseja sobretudo ver-nos felizes”. Que nos acompanhe a Virgem Santa, nossa Mãe, no Ano Sacerdotal que hoje inauguramos, a fim de que possamos ser guias sólidos e iluminados para os fiéis que o Senhor confia aos nossos cuidados pastorais. Amém!


Fonte: Santa Sé

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Homilia: Sagrado Coração de Jesus - Ano C

São Clemente Romano
Carta aos Coríntios
Quem pode descrever o vínculo do amor de Deus

Portanto, desapeguemo-nos disto rapidamente (das divisões), e prostremo-nos diante do Senhor e lhe roguemos com lágrimas que se mostre propício e se reconcilie conosco, e que possa nos restaurar de volta à conduta pura e digna que corresponde ao nosso amor de irmãos. Porque esta é uma porta à justiça aberta para a vida, como está escrito: Abri-me as portas da justiça, para que eu possa entrar por elas e louvar o Senhor. Esta é a porta do Senhor; por ela entrarão os justos.
Sendo assim que se abrem muitas portas, esta é a porta que é da justiça, a saber, aquela que é em Cristo, e são bem-aventurados todos os que tenham entrado por ela, e dirigido seu caminho em santidade e justiça, executando todas as coisas sem agitação. Que um homem seja fiel, que possa demonstrar conhecimento profundo, que seja sábio no discernimento das palavras, que se esforce em seus atos, que seja puro; e naquilo em que parece ser maior, tanto mais deve demonstrar ser humilde; e deve procurar o benefício comum a todos, e não o seu próprio.
Que aquele que ama a Cristo cumpra os mandamentos de Cristo. Quem pode descrever o vínculo do amor de Deus? Quem é capaz de narrar a majestade de seu encanto? A altura à qual o amor exalta é indescritível. O amor nos une a Deus; o amor cobre uma multidão de pecados; o amor suporta todas as coisas, é paciente em todas elas. Não há nada grosseiro, nada de arrogante no amor. O amor não tem divisões, o amor não é rebelde, o amor faz todas as coisas de comum acordo. No amor foram feitos perfeitos todos os escolhidos de Deus; sem amor nada é agradável a Deus; no amor o Senhor nos assumiu para si; pelo amor que sentiu por nós, Jesus Cristo nosso Senhor deu seu sangue por nós segundo a vontade de Deus, e sua carne por nossa carne, e sua vida por nossas vidas.
Percebeis, pois, amados, que maravilhoso e grande é o amor, e que não há palavras para declarar sua perfeição. Quem pode ser achado nele, exceto aqueles a quem Deus o concedeu? Portanto, supliquemos e peçamos de sua misericórdia que possamos ser achados irrepreensíveis no amor, mantendo-nos afastados dos partidos dos homens.
Todas as gerações desde Adão até este dia passaram para a outra vida; mas os que pela graça de Deus foram aperfeiçoados no amor residem na mansão dos piedosos; e serão manifestados na visitação do Reino de Deus. Porque está escrito: Entra em teus aposentos durante um pouco de tempo, até que tenha passado a tua indignação, e eu recordarei (de vós) no dia propício, e vou erguer-vos de vossos sepulcros. Bem-aventurados somos, amados, se cumprimos os mandamentos de Deus em conformidade com o amor, a fim de que os nossos pecados sejam perdoados pelo amor. Porque está escrito: Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará o pecado, nem há engano em sua boca. Esta declaração de bem-aventurança foi pronunciada sobre os que foram eleitos por Deus mediante Jesus Cristo nosso Senhor, a quem seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 771-773. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Ambrósio para esta Solenidade clicando aqui.

Catequese do Papa João Paulo II sobre o Coração de Jesus

João Paulo II
Audiência Geral
Quarta-feira, 20 de junho de 1979
Aprendamos a ler o mistério do Coração de Cristo

1. Depois de amanhã, na próxima sexta-feira, a Liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor particulares, à volta do mistério do Coração de Cristo. Desejo portanto já hoje, antecipando esse dia e essa festa, dirigir juntamente convosco o olhar dos nossos corações para o mistério daquele Coração. Ele falou-me desde a idade juvenil. Todos os anos volto a este mistério no ritmo litúrgico do tempo da Igreja.
É sabido que o mês de Junho é particularmente dedicado ao Coração Divino, ao Sagrado Coração de Jesus. A Ele exprimimos o nosso amor e a nossa adoração, por meio da ladainha que fala com particular profundidade dos seus conteúdos teológicos em cada uma das invocações.
Desejo por isso, ao menos brevemente, deter-me em vossa companhia diante deste Coração, ao qual se dirige a Igreja como comunidade de corações humanos. Desejo, pelo menos brevemente, falar deste mistério tão humano, no qual com tanta simplicidade e igual profundidade e força se revelou Deus.
2. Deixemos hoje que falem os textos da Liturgia da sexta-feira próxima, começando pela leitura do Evangelho segundo João. O Evangelista refere um fato com a precisão de testemunha ocular.
Então os judeus, visto ser o dia da Preparação, para os corpos não ficarem na cruz ao sábado - pois era grande dia aquele sábado -, pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Vieram então os soldados e quebraram as pernas ao primeiro, depois ao segundo dos que tinham sido crucificados com Ele. Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados perfurou-lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água (Jo 19,31-34).
Nem sequer uma palavra sobre o coração.
O Evangelista fala só da lançada do costado, de que saiu sangue e água. A linguagem da descrição é quase médica, anatômica. A lança do soldado feriu sem dúvida o coração, para verificar se o condenado já estava morto. Este coração - este coração humano - parou de trabalhar. Jesus cessou de viver. Ao mesmo tempo, contudo, esta anatômica abertura do coração de Cristo depois da morte - não obstante toda a «aspereza» histórica do texto - leva-nos a pensar também a nível de metáfora. O coração não é só órgão que condiciona a vitalidade biológica do homem. O coração é símbolo. Fala de todo o homem interior. Fala do interior espiritual do homem. E a tradição logo descobriu este sentido da descrição joanina. Aliás, em certo sentido, o próprio Evangelista levou a isso, quando, referindo-se à atestação da testemunha ocular que era ele mesmo, se referiu ao mesmo tempo a esta frase da Sagrada Escritura:
Hão de olhar para Aquele que trespassaram (Jo 19,37; Zc 12,10).
Assim, na realidade, olha a Igreja; assim olha a humanidade. E eis que, no trespassar da lança do soldado todas as gerações dos cristãos aprenderam e aprendem a ler o mistério do Coração do Homem Crucificado, que era e é Filho de Deus.
3. Diversa é a medida do conhecimento que deste mistério, no decurso dos séculos, adquiriram muitos discípulos e discípulas do Coração de Cristo. Um dos protagonistas neste campo foi certamente Paulo de Tarso, convertido de perseguidor em Apóstolo. Também ele nos fala na liturgia de sexta-feira próxima com as palavras da Carta aos Efésios. Fala como homem que recebeu grande graça, porque lhe foi concedido anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo e elucidar a todos qual a economia do Mistério escondido desde tempos antigos em Deus, que tudo criou (Ef 3,8-9).
Aquela «riqueza de Cristo» e ao mesmo tempo aquele «eterno desígnio de salvação» de Deus é dirigido pelo Espírito Santo ao «homem interior», para que assim Cristo habite pela fé nos vossos corações (Ef 3,16-17). E quando Cristo, com a força do Espírito Santo, habitar pela fé nos nossos corações humanos, então seremos capazes de compreender com o nosso espírito humano (quer dizer, exatamente com este «coração») qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo, e conhecer a sua caridade que excede toda a ciência ... (Ef 3,18-19).
Para tal conhecimento conseguido com o coração, com cada coração humano, foi aberto, no fim da vida terrestre, o Coração Divino do Condenado e Crucificado no Calvário.
Diversa é a medida deste conhecimento por parte dos corações humanos. Diante da força das palavras de Paulo, interrogue-se a si mesmo cada um de nós sobre a medida do próprio coração. ...Tranquilizaremos os nossos corações diante d'Ele, sabendo que, se o nosso coração nos condena, Deus é maior que os nossos corações e conhece todas as coisas... (1Jo 3,19-20). O Coração do Homem-Deus não julga os corações humanos. O Coração chama. O Coração «convida». Com este fim foi aberto com a lança do soldado.
4. O mistério do coração abre-se através das feridas do corpo; abre-se o grande mistério da piedade, abem-se as entranhas de misericórdia do nosso Deus (São Bernardo, Sermo LXI, 4; PL 183, 1072).
Cristo diz na Liturgia de sexta-feira: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração (Mt 11,29).
Talvez uma só vez, com palavras suas, tenha o Senhor Jesus apelado para o seu coração. E salientou este único traço: «mansidão e humildade». Como se dissesse que só por este caminho quer conquistar o homem; que mediante «a mansidão e a humildade» quer ser o Rei dos corações. Todo o mistério do Seu reinar se exprimiu nestas palavras. A mansidão e a humildade cobrem, em certo sentido, toda a «riqueza» do Coração do Redentor, da qual escreveu São Paulo aos Efésios. Mas também aquela «mansidão e humildade» o desvelam plenamente; e melhor nos permitem conhecê-lo e aceitá-lo; tornam-no objeto de admiração suprema.
A bela ladainha ao Sagrado Coração de Jesus é composta de muitas palavras semelhantes - além disso, das exclamações de admiração pela riqueza do Coração de Cristo. Meditemo-las com atenção nesse dia.
5. Assim, no fim deste fundamental ciclo litúrgico da Igreja - que se iniciou com o primeiro domingo do Advento, e passou pelo tempo do Natal, depois pelos da Quaresma e da Ressurreição, até ao Pentecostes, ao Domingo da Santíssima Trindade e ao Corpo de Deus - apresenta-se discretamente a festa do Coração de Jesus. Todo este ciclo se fecha definitivamente n'Ele; no Coração do Deus-Homem. D'Ele irradia cada ano toda a vida da Igreja.
Este Coração é «fonte de vida e de santidade».


Fonte: Santa Sé

O sacerdote na Liturgia da Palavra da Missa

Publicamos hoje o terceiro dos textos sobre a relação entre o sacerdote e a Celebração Eucarística, divulgados pelo Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice no contexto do Ano Sacerdotal (2009-2010):

Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice
O sacerdote na Liturgia da Palavra da Missa

Objeto deste artigo não é a Liturgia da Palavra considerada em si mesma, sobre a qual se deveria portanto oferecer uma panorâmica histórica, teológica e disciplinar. Em continuidade com a série de precedentes artigos desta seção, nos interessa, ao invés, o papel do sacerdote na Liturgia da Palavra da Missa, tendo presente tanto a forma ordinária (ou de Paulo VI) quanto aquela extraordinária (ou de São Pio V) do Rito Romano [1].

A forma extraordinária

Na «Missa baixa» (celebração simples, de uso quotidiano) da forma extraordinária, o sacerdote lê todas as leituras, ou seja, a Epístola [2], o Gradual e o Evangelho. Em geral, ele faz isto assumindo a mesma posição com a qual oferecerá em seguida o santo Sacrifício. Com uma expressão inadequada mas muito difundida, podemos dizer que o sacerdote proclama a Liturgia da Palavra «de costas para o povo». A língua da proclamação é a mesma de todo o rito, portanto o latim, mas também a língua nacional, como recorda o artigo 6 do Motu Proprio Summorum Pontificum. Ao final da Epístola, quem assiste diz: Deo gratias. À Epístola segue o Gradual, assim chamado pelos degraus que o diácono subia para ler o Evangelho do ambão na Missa solene. Depois do Gradual se lê o Aleluia com o seu versículo, ou o Trato [3]. Em algumas ocasiões, antes do Evangelho, o sacerdote proclama ainda uma Sequentia [4]. Feito isto, enquanto o acólito transposta o Missal (no qual se encontram também os textos das leituras bíblicas) do lado direito do altar (dito cornu epistulae) ao lado esquerdo (cornu evangelii), o sacerdote, ao centro do altar, pede ao Senhor a bênção antes de passar ao lado esquerdo (ou setentrional), em cuja extremidade proclama o Evangelho depois de ter dito Dominus vobiscum, ter recebido a respectiva resposta, ter anunciado o título do livro evangélico do qual é tirada a perícope que se está para ler, ter traçado com o polegar da mão direita um sinal da cruz sobre o livro e três sobre si (na fronte, na boca e no peito). Quando lê a Epístola, o Gradual e o Aleluia, o sacerdote tem as mãos apoiadas sobre o Missal ou sobre o altar, mas sempre de modo que as mãos toquem o livro. Ao contrário, ao proclamar o Evangelho, tem as mãos juntas na altura do peito. Terminada a leitura do Evangelho, levanta com as mãos o livro do suporte e o beija, dizendo em segredo a fórmula Per evangelica dicta, deleantur nostra delicta. Durante a proclamação das diversas leituras, o sacerdote faz uma inclinação de cabeça cada vez que pronuncia o nome de Jesus. Em casos particulares é prevista a genuflexão durante a leitura. Ao final da leitura do Evangelho se aclama Laus tibi, Christe. Depois do Evangelho, sobretudo nos domingos e nos dias de preceito, pode haver, segundo a oportunidade, uma breve homilia [5]. Enfim, depois da eventual homilia, quando é previsto, se recita o Símbolo da fé: o sacerdote retorna ao centro do altar e entoa o Credo estendendo e recolhendo as mãos diante do peito e fazendo uma inclinação de cabeça. Quando se recita o Et incarnatus est genuflete e permanece assim até o et homo factus est. Faz ainda uma inclinação de cabeça quando diz simul adoratur. Por fim, concluindo o Símbolo, faz sobre si o sinal da cruz. Todas as partes da Liturgia da Palavra, exceto as orações que o sacerdote recita antes e depois da proclamação do Evangelho, são ditas com tom de voz inteligível. Não podemos acrescentar aqui outros detalhes sobre o modo de proclamar as leituras bíblicas na Missa solene.


A forma ordinária

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Corpus Christi em Milão

Na Arquidiocese de Milão, que possui um rito próprio (o Rito Ambrosiano), a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) foi celebrada na quinta-feira, 20 de junho, com a Santa Missa, presidida pelo Arcebispo, Dom Mario Enrico Delpini, na igreja de Santa Maria del Carmine, seguida de Procissão Eucarística até a Arena Cívica de Milão.

O Rito Ambrosiano possui duas diferenças mais notáveis em relação ao Rito Romano para esta solenidade: se usa a cor vermelha, e não a branca; e na procissão fora da igreja o Bispo vai com mitra (sendo que no Rito Romano com o Santíssimo Sacramento exposto se vai com a cabeça descoberta).

Procissão de entrada

Ritos iniciais
Procissão Eucarística

Fotos do Corpus Christi em Lisboa

No Patriarcado de Lisboa (Portugal), a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) foi celebrada no último dia 20 de junho, presidida pelo Patriarca, Cardeal Manuel José Macário do Nascimento Clemente.

Como de costume em Lisboa, pela manhã foi celebrada a Santa Missa na Catedral Patriarcal de Santa Maria Maior. Os fiéis permaneceram em adoração durante o dia e no fim da tarde foi realizada a Procissão Eucarística pelos arredores da Catedral.

Procissão de entrada


Liturgia da Palavra
 

Homilia do Patriarca de Lisboa: Corpus Christi 2019

Corpo de Deus, do sacramento para a vida

Celebramos o Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo – o “Corpo de Deus”, como dizemos entre nós. E muito bem o dizemos, porque em Cristo o próprio Deus tomou o nosso corpo e lhe deu o significado total do que o corpo é e há de ser.
Neste modo de falar há teologia cristã inteira, como o Espírito esclarece. Importa recolhê-la e detalhá-la um pouco, precisamente neste dia.No Evangelho escutamos que «naquele tempo estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam». Não é fortuita a sequência, muito pelo contrário, porque anunciar o Reino é cuidar dos outros. E nisto mesmo o Verbo se faz carne e a Palavra divina humanamente se corporiza.
“Corpo” é palavra tão habitual como gasta, desgastada mesmo. Fala-se muito dele como objeto e não como sujeito, mais como figura moldável a gosto do que substância a respeitar só por si. Ouve-se dizer: “Gostava de ter um corpo assim ou doutra forma”, “faço o que quiser do meu corpo” e expressões congêneres.   
Isto de modo corrente. Mas também não faltam referências eruditas, restos de antigas gnoses que depreciavam o corpo como cativeiro da alma, coisa de humilhar ou de fruir sem cuidado de maior.
Disto tudo estamos rodeados, devendo estar prevenidos. A solenidade de hoje fala-nos, isso sim, da unidade espiritual e somática de cada um de nós. E do corpo como expressão e exercício do que somos, essencialmente somos e relacionalmente acontecemos. O corpo é a pessoa em relação, substancial e concreta. Como o próprio Deus se quis relacionar conosco em cada palavra e gesto de Jesus Cristo.

Palavras e gestos que, como ouvimos, são de cuidado e partilha. Cuidado de todos e partilha de si mesmo. Tudo é corporal no Cristo de há pouco: Falava à multidão, curava quem sofria, escutava os discípulos. Boca para falar, mão para curar, ouvido para ouvir. E depois, olhos erguidos ao céu, palavras de bênção e mais gestos de repartir.
E assim no Evangelho todo. Desde que, ainda no ventre materno, já fazia João Batista saltar de júbilo no ventre de Isabel. Desde que no templo, aos doze anos, já se dizia e mantinha em casa de Deus seu Pai. Desde que a seguir, em Nazaré, crescia em sabedoria, estatura e graça (cf. Lc 2,52), da carpintaria de José à sinagoga onde não faltava ao sábado. Desde que aí mesmo se apresentou como Messias, para depois inaugurar o Reino, em tantos gestos e palavras, com quem o procurava ou procurava ele mesmo. Até Jerusalém, até aqui e agora, quando, ressuscitado, nos continua a falar e a tocar, no realismo sacramental de todos os dias. Tudo sonoro e concreto, tudo sensível e corpóreo. Como Corpo de Deus no mundo.
A corporeidade de Cristo revela-nos o que a nossa própria há de ser. Significa relação, traduz e opera tudo quanto somos. Quanto somos a partir de quem nos faz viver e de nós espera o mesmo. Responsáveis pela vida e subsistência dos outros, com gestos realmente pessoais, de convivência, doação e partilha. Gestos concretos e urgentes, como foram os de Cristo, Bom Samaritano de todos quantos estavam na berma da vida, olhando com olhos de ver, cuidando com gestos precisos e interessando-se realmente pelo seu bem total.   
Ouvimos São Paulo, a contar aos coríntios como Jesus tomara o pão e o repartira, assim mesmo se entregando a si próprio, por nós e para nós: «Isto é o meu Corpo, entregue por vós». Como, tomando o cálice, no seu sangue firmara uma nova aliança, de todos com Deus e de Deus com todos, definitiva porque pessoal e inteira.
Só assim podia ser, porque a Deus só chegamos com Deus. Mas como em Cristo, através da humanidade realmente assumida e oferecida. Como lembra o prefácio desta Missa: «O seu Corpo, por nós imolado, é o alimento que nos fortalece; e o seu Sangue, por nós derramado, é bebida que nos purifica». Tudo quanto de nós fez seu é tudo o que de nós e por nós oferece ao Pai, assim mesmo recuperando, garantindo e salvando. 

É este o Corpo de Cristo, nas três acepções que tem. Significa o corpo humano que cresceu no ventre de Maria e por nós se entregou na cruz; significa também o corpo eucarístico em que sacramentalmente o comungamos e adoramos; significa ainda o corpo eclesial que se alarga em quem o comunga, para lhe ecoar as palavras e prolongar os gestos.
Em Cristo estamos para Cristo sermos, de algum modo “corpo de Deus” também, se pudermos dizer como São Paulo; «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2,20). Se confirmarmos em nós o que Cristo disse aos primeiros discípulos: «Quem vos ouve, é a mim que ouve» (Lc 10,16).              
Isto mesmo que em Cristo acontece como revelação total do corpo, corresponde afinal ao que a humanidade inteira pressente no impulso em que se oferece. Como aquele Melquisedec foi ao encontro de Abraão para lhe oferecer pão e vinho. Não era daquele povo, mas já ia ao encontro da promessa. Saía e oferecia, manifestava-se realmente como corpo.
Esta tarde sairemos nós e a oferta continuará. Numa cidade onde não faltam “Melquisedeques”, mesmo em quem só ofereça a curiosidade. É um começo. Outros oferecerão mais do que isso, na permuta dos corações. Tudo será “corpo” no olhar, na oração, no canto, no movimento. E “Corpo de Deus”, do sacramento para a vida.

Sé de Lisboa, 20 de junho de 2019

+ Manuel, Cardeal-Patriarca


segunda-feira, 24 de junho de 2019

Corpus Christi em Cracóvia

Dom Marek Jędraszewski, Arcebispo de Cracóvia, celebrou no último dia 20 de junho a Santa Missa  da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) junto à Catedral dos Santos Venceslau e Estanislau, a Catedral de Wawel, seguida de Procissão Eucarística pelas ruas da cidade:

Incensação do altar
Ritos iniciais
Liturgia da Palavra
Evangelho
Homilia: Dom Jan Szkodoń, Bispo Auxiliar

Corpus Christi em Jerusalém

No último dia 20 de junho o Administrador Apostólico do Patriarcado de Jerusalém, Dom Pierbattista Pizzaballa, celebrou a oração das Laudes e a Santa Missa da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) na Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém.

Na tarde do dia anterior, Dom Pizzaballa celebrou as I Vésperas da solenidade na mesma Basílica.

Dia 19: I Vésperas

Hino
Leitura breve
Incensação durante o Magnificat
Bênção
Dia 20: Laudes e Santa Missa

Altar preparado diante da Edícula do Santo Sepulcro