sábado, 30 de novembro de 2019

Homilia: I Domingo do Advento - Ano A

Santo Hilário de Poitiers
Tratado sobre o Salmo 14
O fundamento do nosso edifício é Cristo

O primeiro e mais importante degrau que deve ascender aquele que tende às coisas celestiais é habitar nesta tenda e ali - afastado das preocupações mundanas e abandonando os negócios deste mundo -, passar toda a sua vida, noite e dia, à imitação de muitos santos que jamais se afastaram da tenda.
Sob o nome de “monte” - sobretudo quando se trata das coisas celestiais - temos de imaginar o mais alto e sublime. E existe algo mais sublime do que Cristo? Mais digno do que o nosso Deus? “Seu monte” é o corpo que assumiu a nossa natureza, e no qual agora habita, sublime e excelso acima de todo principado e potestade, e acima de todo nome. Sobre este monte está edificada a cidade que não pode permanecer oculta, pois como diz o Apóstolo: Ninguém pode pôr outro fundamento além do que já foi posto, que é Jesus Cristo. Portanto, como os que pertencem a Cristo foram eleitos no seu corpo antes da fundação do mundo, e a Igreja é o corpo de Cristo, e Cristo é o fundamento de nosso edifício - assim como a cidade edificada sobre o monte -, disto concluímos que Cristo é aquele monte em que se perguntam quem poderá habitar.
Em outro salmo lemos a respeito deste mesmo monte: Quem pode subir ao monte do Senhor? Quem pode habitar no recinto sagrado? E Isaías confirma a asserção dizendo: Ao final dos tempos estará firme o monte da casa do Senhor e dirão: Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó. E também Paulo afirma: Vós vos aproximastes do Monte Sião, a cidade do Deus vivo, a Jerusalém do céu. Ora, se toda nossa esperança de repouso se radica no corpo de Cristo, e se, por outro lado, temos de descansar no monte, não podemos entender por “monte” nada mais que o corpo que Cristo assumiu de nós, antes do qual era Deus, no qual era Deus, e mediante o qual transformou nosso humilde corpo, segundo o protótipo do seu corpo glorioso, contanto que cravemos em sua cruz os vícios de nosso corpo, para ressuscitar conforme o seu modelo.
Com efeito, a ele se ascende depois de haver pertencido à Igreja, nele se descansa a partir da sublimidade do Senhor, nele seremos associados aos coros angélicos, quando também formos cidade de Deus. Repousa-se, porque cessou a dor produzida pela enfermidade, cessou o medo procedente da necessidade, e gozando todos da plena harmonia, fruto da eternidade, descansarão nos bens fora dos quais nada mais se pode desejar.
Por isso a pergunta: Senhor, quem pode hospedar-se em tua tenda e habitar em teu monte santo? Responde o Espírito Santo pela boca do profeta: O que procede honestamente e pratica a justiça. Portanto, na resposta nos é dito que aquele que procede honestamente e vive afastado de qualquer mancha de pecado, é aquele que, depois do banho batismal, não voltou a se manchar com nenhuma espécie de imundície, mas permanece imaculado e resplandecente. Já é uma grande coisa abster-se do pecado; contudo, não é este o descanso que segue o itinerário estabelecido: na pureza de vida inicia-se o caminho, mas não é o seu ápice. De fato, o texto continua: E pratica a justiça. Não basta projetar o bem, é necessário colocá-lo em prática; e a boa vontade não é suficiente para iniciá-lo: é mister levá-lo à perfeição.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 24-25. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de Santo Efrém para este domingo clicando aqui.

40 anos do Vaticano II: Encontro de Pastoral Litúrgica 2004

Continuando nossa série de postagens retrospectivas dos Encontros Nacionais de Pastoral Litúrgica (ENPL), promovidos anualmente pelo Secretariado Nacional de Liturgia de Portugal, chegamos neste mês ao 30º ENPL, que aconteceu em julho de 2004, com o tema: "Liturgia para o Terceiro Milênio - 40 anos do Concílio Vaticano II".

O tema foi escolhido no contexto das comemorações dos 40 anos do Concílio Vaticano II (1962 a 1965). Os temas das palestras, como veremos abaixo, retomam algumas das contribuições fundamentais da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, promulgada em 04 de dezembro de 1963.

O encontro também é devedor da Carta Apostólica Spiritus et sponsa, promulgada pelo Papa João Paulo II em dezembro de 2003, avaliando a caminhada da Igreja no campo da Liturgia 40 após a Sacrosanctum Concilium.

Seguem os áudios de quatro conferências, disponibilizados pelo Secretariado Nacional de Liturgia:

Pe. Dr. António José da Rocha Couto

Esta primeira conferência reflete sobre as duas dimensões da Liturgia: memória do passado (dimensão anamnética) e profecia do futuro (dimensão escatológica), as quais se encontram no presente através do louvor e ação de graças (dimensão doxológica) e da súplica ou invocação (dimensão epiclética).

Pe. Dr. Carlos A. de Pinho M. Azevedo

Partindo da história do n. 10 da Constituição Sacrosanctum Concilium, que apresenta a Liturgia como “cume e fonte da vida cristã”, o palestrante reflete sobre a Liturgia como “cume” (epifania do amor de Deus) e como “fonte” (perene iniciação ao mistério), e sobre sua relação com as diversas dimensões da vida cristã: evangelização, caridade, espiritualidade e piedade popular.

Pe. Dr. Francisco Hipólito S. Machado Couto

Aqui o palestrante conduz-nos a um “passeio” por diversos números da Sacrosanctum Concilium, pelos quais nos apresenta o fundamento teológico da participação litúrgica (o Batismo), as suas características (ativa, plena, consciente...) e suas dimensões interna e externa, concluindo com uma palavra em defesa da formação litúrgica dos fiéis.

4ª Conferência: A reforma da Sagrada Liturgia
Pe. Dr. Luís Ribeiro de Oliveira

Por fim, nesta palestra se traça a história da reforma litúrgica empreendida pelo Concílio Vaticano II, destacando os aspectos positivos dos diversos livros litúrgicos promulgados: o Missal Romano, os Rituais dos sacramentos e dos sacramentais, o Lecionário e a Liturgia das Horas, além da reforma do Ano Litúrgico.


sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Acolhida da relíquia da manjedoura em Jerusalém

No dia de hoje, 29 de novembro de 2019, foi acolhida na cidade de Jerusalém um fragmento de uma relíquia que, segundo a tradição, pertenceu à manjedoura de Jesus.

Esta relíquia foi doada por São Sofrônio, Patriarca de Jerusalém, ao Papa Teodoro I (642-649) e se conserva desde então logo abaixo do altar da Basílica de Santa Maria Maior em Roma, onde o Papa celebrava sempre a Missa da Noite de Natal.

Foi desejo do Papa Francisco doar um fragmento desta relíquia para a Custódia Franciscana da Terra Santa, a ser conservada na igreja de Santa Catarina, junto à Basílica da Natividade em Belém.

Neste dia 29 de novembro, pela manhã, o Núncio Apostólico na Terra Santa, Dom Leopoldo Ghirelli, celebrou a Missa na capela de Nossa Senhora da Paz no Instituto Notre-Dame em Jerusalém. À tarde houve na mesma capela a cerimônia de entrega da relíquia ao Custódio da Terra Santa, Padre Francesco Patton.

O Padre Patton conduziu então a relíquia até a igreja do Santíssimo Salvador, sede da Custódia, onde presidiu as Vésperas da Festa de todos os Santos Franciscanos,celebrada hoje em comemoração à aprovação definitiva da Regra em 29 de novembro de 1223.

Relicário da manjedoura (note-se o brasão do Papa Francisco na base)
Detalhe do fragmento 
Missa presidida pelo Núncio Apostólico
Cerimônia de entrega da relíquia à Custódia
Palavras do Padre Francesco Patton

Feliz Ano Novo (Litúrgico)!

“Através do ciclo anual, a Igreja comemora todo o mistério de Cristo, da Encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor”
 (Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, n. 17)

Ao pôr-do-sol deste sábado, 30 de novembro, com a oração das I Vésperas do I Domingo do Advento, a Igreja de Rito Romano inicia um novo Ano Litúrgico.

Prosseguindo no ciclo trienal de leituras para os domingos e festas, entramos no ano A, durante o qual meditaremos o Evangelho de Mateus.

Ao longo deste ano, como fizemos durante os anteriores, publicaremos a cada domingo e solenidade uma homilia dos Padres da Igreja, que nos ajudará a aprofundar a mensagem do Evangelho.

Também daremos continuidade à série de postagens sobre os ícones das principais festas litúrgicas, que iniciamos em setembro de 2019 e que se concluirá em novembro de 2020.

Por fim, conforme anunciamos no último domingo, solenidade de Cristo, Rei do Universo, durante o próximo ano faremos memória dos 20 anos do Grande Jubileu do ano 2000, publicando as homilias do Papa São João Paulo nas principais celebrações jubilares.

Christus heri et hodie, finis et principium; Christus Alpha et Omega, ipsi gloria in sæcula!
Cristo, ontem e hoje, fim e princípio; Cristo Alfa e Ômega, a Ele a glória pelos séculos!


quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Catequese do Papa: A viagem à Tailândia e ao Japão

Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Ontem retornei da Viagem Apostólica à Tailândia e ao Japão, um dom do qual sou muito grato ao Senhor. Desejo renovar minha gratidão às autoridades e bispos desses dois países, que me convidaram e me acolheram com grande apreço e, acima de tudo, agradeço ao povo tailandês e ao povo japonês. Essa visita aumentou minha proximidade e carinho por esses povos: Deus os abençoe com abundância de prosperidade e paz
A Tailândia é um reino antigo que se modernizou bastante. Conhecendo o rei, o primeiro-ministro e as outras autoridades, prestei homenagem à rica tradição espiritual e cultural do povo tailandês, o povo do “belo sorriso”. As pessoas lá sorriem. Encorajei o compromisso com a harmonia entre os diferentes componentes da nação, bem como com o desenvolvimento econômico para beneficiar a todos e sanar os flagelos da exploração, especialmente de mulheres e menores. A religião budista é parte integrante da história e da vida desse povo, por isso visitei o Patriarca Supremo dos budistas, continuando o caminho de mútua estima iniciado por meus predecessores, para que a compaixão e a fraternidade cresçam no mundo. Nesse sentido, o encontro ecumênico e inter-religioso, realizado na maior universidade do país, foi muito significativo.
O testemunho da Igreja na Tailândia também passa por obras de serviço aos enfermos e aos últimos. Entre essas, destaca-se o Hospital Saint Louis, que visitei encorajando os profissionais da saúde e conhecendo alguns pacientes. Dediquei então momentos específicos aos sacerdotes e pessoas consagradas, aos bispos e também a confrades jesuítas. Em Bangkok, celebrei a Missa com todo o povo de Deus no Estádio Nacional e depois com os jovens na Catedral. Lá experimentamos que na nova família formada por Jesus Cristo também existem os rostos e as vozes do povo tailandês
Depois, me dirigi ao Japão. Ao chegar à Nunciatura de Tóquio, fui recebido pelos Bispos do país, e compartilhamos o desafio de sermos pastores de uma Igreja muito pequena, mas portadora da água viva, o Evangelho de Jesus.
“Proteger todas as vidas” foi o lema da minha visita ao Japão, um país que carrega as cicatrizes do bombardeio atômico e é o porta-voz do direito fundamental à vida e à paz em todo o mundo. Em Nagasaki e Hiroshima, permaneci em oração, conheci alguns sobreviventes e familiares das vítimas e reiterei a firme condenação de armas nucleares e a hipocrisia de falar sobre paz construindo e vendendo materiais bélicos. Após essa tragédia, o Japão demonstrou uma capacidade extraordinária de lutar pela vida; e o fez recentemente, após o triplo desastre de 2011: terremoto, tsunami e acidente na usina nuclear.
Para proteger a vida é preciso amá-la, e hoje a grave ameaça, nos países mais desenvolvidos, é a perda do sentido da vida.
As primeiras vítimas do vazio existencial são os jovens; portanto, um encontro em Tóquio foi dedicado a eles. Eu escutei suas perguntas e seus sonhos; Incentivei-os a se oporem a todas as formas de bullying e a superar o medo e o fechamento, abrindo-se ao amor de Deus, na oração e no serviço ao próximo. Eu conheci outros jovens na Universidade “Sophia”, junto com a comunidade acadêmica. Esta universidade, como todas as escolas católicas, é muito apreciada no Japão.
Em Tóquio, tive a oportunidade de visitar o imperador Naruhito, a quem renovo a expressão de minha gratidão; e conheci as autoridades do país com o Corpo Diplomático. Eu desejei uma cultura de encontro e diálogo, caracterizada pela sabedoria e amplitude do horizonte. Permanecendo fiel aos seus valores religiosos e morais e aberto à mensagem do Evangelho, o Japão poderá ser um país que conduz para um mundo mais justo e pacífico e para a harmonia entre o homem e o meio ambiente.
Queridos irmãos e irmãs, confiemos à bondade e providência de Deus os povos da Tailândia e do Japão. Obrigado.


Fonte: Canção Nova

50 anos de sacerdócio do Patriarca Kirill de Moscou

Há uma semana, no dia 20 de novembro, o Patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa completou 73 anos. Como neste ano de 2019 Sua Beatitude comemorou os 50 anos de sua profissão dos votos monásticos, ordenação diaconal e ordenação presbiteral, todas estas celebrações confluíram em seu aniversário natalício.

Assim, no dia 20 de novembro o Patriarca celebrou a Divina Liturgia em ação de graças pelo aniversário natalício na Catedral Patriarcal de Cristo Salvador em Moscou e, no dia seguinte, a Divina Liturgia pelos 50 anos de sacerdócio foi celebrada pelo Patriarca Theophilos III de Jerusalém, com a presença de representantes de outras Igrejas Ortodoxas.

Neste dia 21 de novembro as Igrejas que seguem o calendário juliano celebraram a Sinaxe dos Santos Arcanjos Miguel e Gabriel e todos os incorpóreos celestes, isto é, todos os santos anjos (que no calendário gregoriano é celebrada no dia 08 do mesmo mês).

Dia 20: Divina Liturgia

O Patriarca abençoa os presentes
 

Conclusão do rito da Proskomêdia
Grande Entrada

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Papa recebe quatro casulas da Tailândia

No contexto de sua Viagem Apostólica à Tailândia, entre os dias 20 e 23 de novembro, o Papa Francisco recebeu do governo do país um conjunto de casulas e mitras nas quatro principais cores litúrgicas (branco, vermelho, roxo e verde).

Os paramentos possui um estilo que recorda a cultura tailandesa, além de trazer símbolos cristãos: a cruz, o trigo e a uva. As mitras possuem uma discreta cruz de três traves, antigo símbolo que recorda os três estágios da Igreja (peregrina sobre a terra, padecente no purgatório e gloriosa no céu) ou os três múnus de Cristo (sacerdote, profeta e rei).

As casulas e mitras são obra do designer tailandês Athiwat Chuenwut, o mesmo que desenhou os dois conjuntos de paramentos usados pelo Papa Francisco em sua viagem a Myanmar em 2017, um verde e um vermelho, além dos paramentos utilizados no Domingo de Ramos no Vaticano em 2018.

Confira algumas fotos dos paramentos:







Imagens: Athiwat Chuenwut - Facebook

Fotos da Missa do Papa em Tóquio

No último dia 25 de novembro o Papa Francisco celebrou a Missa votiva pelo dom da vida humana (própria da 3ª edição do Missal em inglês) no Tokyo Dome na capital japonesa, no contexto de sua Viagem Apostólica ao país.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O livreto da celebração pode ser visto aqui (pp. 109-141).

Fiéis aguardam o início da celebração
Chegada do Santo Padre ao estádio
Procissão de entrada

Incensação

Homilia do Papa: Missa em Tóquio

Viagem Apostólica do Papa Francisco à Tailândia e Japão
Santa Missa
Homilia do Santo Padre
Tóquio Dome
Segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O Evangelho que ouvimos (Mt 6,24-34) faz parte do primeiro grande discurso de Jesus; é conhecido como o «Sermão da Montanha» e descreve-nos a beleza do caminho que somos convidados a percorrer. Segundo a Bíblia, a montanha é o lugar onde Deus Se manifesta e dá a conhecer: «sobe ao encontro do Senhor» (Ex 24,1), disse Deus a Moisés. Uma montanha cujo cimo se alcança, não com a força de vontade nem com o carreirismo, mas apenas com a escuta atenta, paciente e delicada do Mestre no meio das encruzilhadas do caminho. O cimo transforma-se em planura para nos dar uma perspetiva sempre nova de tudo o que nos rodeia, centrada na compaixão do Pai. Em Jesus, encontramos o cimo do que significa ser humano e indica-nos o caminho que nos leva à plenitude capaz de ultrapassar todos os cálculos conhecidos; n’Ele encontramos uma vida nova, onde se experimenta a liberdade de nos sentirmos filhos amados.
Mas estamos cientes de que, ao longo do caminho, esta liberdade filial pode ver-se sufocada e enfraquecida, quando ficamos prisioneiros do círculo vicioso da ansiedade e da competição, ou quando concentramos toda a nossa atenção e as nossas melhores energias na busca obstinada e frenética de produtividade e consumismo como único critério para medir e avaliar as nossas opções ou definir quem somos e quanto valemos. Medida essa, que pouco a pouco nos torna impermeáveis ou insensíveis às coisas importantes, levando o coração a palpitar pelas coisas supérfluas ou efémeras. Como oprime e enreda a alma a ânsia gerada por pensar que tudo pode ser produzido, conquistado e controlado!
Os jovens fizeram-me notar esta manhã (no encontro que tive com eles) que, numa sociedade como o Japão com uma economia altamente desenvolvida, não são poucas as pessoas socialmente isoladas que permanecem à margem, incapazes de entender o significado da vida e da sua própria existência. A casa, a escola e a comunidade, destinadas a ser lugares onde cada um apoia e ajuda os outros, estão a deteriorar-se cada vez mais pela excessiva competição na busca do lucro e da eficiência. Muitas pessoas sentem-se confusas e inquietas, ficam sobrecarregadas pelas demasiadas exigências e preocupações que lhes tiram a paz e o equilíbrio.
Ressoam, como bálsamo reparador, as palavras do Senhor que convidam a não nos inquietarmos, mas a termos confiança. Insiste nisso três vezes: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o dia de amanhã (cfMt 6,25.31.34). Não se trata de nos desinteressarmos do que sucede ao nosso redor nem de nos desleixarmos relativamente às nossas ocupações e responsabilidades diárias; antes pelo contrário, é um desafio a abrirmos as nossas prioridades para um horizonte de sentido mais amplo e, assim, criar espaço para olhar na mesma direção: «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo» (Mt 6,33).
O Senhor não nos diz que as necessidades básicas, como alimento e roupa, não sejam importantes; mas convida-nos a repensar as nossas opções diárias para não acabarmos entalados ou fechados na busca do êxito a todo o custo, incluindo a custo da própria vida. As atitudes mundanas que buscam e perseguem apenas o próprio lucro ou benefício neste mundo, e o egoísmo que pretende a felicidade individual, subtil mas realmente conseguem apenas tornar-nos infelizes e escravos, para além de dificultar o desenvolvimento duma sociedade verdadeiramente harmoniosa e humana.
O oposto de um «eu» isolado, fechado e até sufocado só pode ser um «nós» partilhado, celebrado e comunicado (cf. Papa Francisco, Audiência Geral de 13/02/2019). Este convite do Senhor lembra-nos que «precisamos de reconhecer alegremente que a nossa realidade é fruto dum dom, e aceitar também a nossa liberdade como graça. Isto é difícil hoje, num mundo que julga possuir algo por si mesmo, fruto da sua própria originalidade e liberdade» (Gaudete et exsultate, 55). Por isso, na primeira Leitura, a Bíblia lembra-nos como o nosso mundo, cheio de vida e beleza, seja antes de tudo um dom maravilhoso do Criador que nos precede: «Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa» (Gn 1,31); beleza e bondade oferecidas para podermos também compartilhá-las e oferecê-las aos outros, não como senhores ou proprietários, mas como participantes dum mesmo sonho criador. «O cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros» (Laudato si’, 70).
Perante isto, como comunidade cristã somos convidados a proteger toda a vida e testemunhar, com sabedoria e coragem, um estilo marcado pela gratuidade e compaixão, pela generosidade e a escuta simples, um estilo capaz de abraçar e receber a vida como se apresenta «com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas contradições e insignificâncias» (XXXIV Jornada Mundial da Juventude, Panamá, Vigília, 26/01/2019). Somos convidados a ser comunidade que desenvolva uma pedagogia capaz de acolher «tudo o que não é perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas lá por isso não menos digno de amor. Por acaso uma pessoa portadora de deficiência, uma pessoa frágil não é digna de amor? (…) Uma pessoa, mesmo que seja estrangeira, tenha errado, se encontre doente ou numa prisão, não é digna de amor? Assim fez Jesus: abraçou o leproso, o cego e o paralítico, abraçou o fariseu e o pecador. Abraçou o ladrão na cruz, abraçou e perdoou até àqueles que O estavam a crucificar» (ibid.).
O anúncio do Evangelho da Vida impele-nos e exige de nós, como comunidade, que nos tornemos um hospital de campanha preparado para curar as feridas e sempre oferecer um caminho de reconciliação e perdão. Com efeito, para o cristão, a única medida possível com que julgar cada pessoa e situação é a da compaixão do Pai por todos os seus filhos.
Unidos ao Senhor, cooperando e dialogando sempre com todos os homens e mulheres de boa vontade, e também com as pessoas de convicções religiosas diferentes, podemos tornar-nos fermento profético duma sociedade que protege e cuida cada vez mais de toda a vida.


Fonte: Santa Sé

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Solenidade de Cristo Rei em Cracóvia

No último domingo, 24 de novembro, o Cardeal Dominique Mamberti, Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, celebrou a Santa Missa da Solenidade de Cristo Rei do Universo na Catedral dos Santos Venceslau e Estanislau (Catedral de Wawel) em Cracóvia, como parte das comemorações dos 100 anos de relações diplomáticas entre a Polônia e a Santa Sé.

É particularmente significativa a escolha desta data, uma vez que o primeiro Núncio Apostólico na Polônia reconstituída, nomeado em 1919, foi Dom Achille Ratti, que seria eleito Papa em 1922 e instituiu a Solenidade de Cristo em 1925.

Entrada do Cardeal Mamberti na Catedral

Procissão de entrada
Incensação do altar
Oração do dia

Fotos da Missa do Papa em Nagasaki

No último dia 24 de novembro o Papa Francisco celebrou a Santa Missa da Solenidade de Cristo Rei do universo no Estádio de Baseball em Nagasaki, no contexto de sua Viagem Apostólica ao Japão.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Massimiliano Matteo Boiardi. O livreto da celebração pode ser visto aqui (pp. 73-107).

Na ocasião foi colocado junto ao altar o busto de uma imagem de Nossa Senhora encontrada nos escombros da Catedral de Nagasaki após o ataque nuclear à cidade durante a Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Chegada do Santo Padre ao estádio
Procissão de entrada

Ósculo do altar
Incensação

Homilia do Papa: Missa em Nagasaki

Viagem Apostólica do Papa Francisco à Tailândia e Japão
Santa Missa
Homilia do Santo Padre
Estádio de Beisebol (Nagasaki)
Domingo, 24 de novembro de 2019

«Jesus, lembra-Te de mim, quando estiveres no teu Reino» (Lc 23,42). No último domingo do Ano Litúrgico, unimos as nossas vozes à do malfeitor que, crucificado com Jesus, O reconheceu e proclamou rei. Lá, no momento menos triunfal e glorioso, no meio dos gritos de zombaria e humilhação, aquele delinquente foi capaz de levantar a voz e fazer a sua profissão de fé. São as últimas palavras que Jesus escuta e, na sua resposta, temos as últimas palavras que Ele pronuncia antes de Se entregar ao Pai: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23,43). Por um instante, o passado tortuoso do ladrão parece ganhar um novo significado: acompanhar de perto o suplício do Senhor; e este instante limita-se a corroborar a vida do Senhor: oferecer sempre e por toda a parte a salvação. Calvário, lugar de desatino e injustiça, onde impotência e incompreensão aparecem acompanhadas pela murmuração bisbilhotada e cínica dos zombadores de turno perante a morte do inocente, transforma-se, graças à atitude do bom ladrão, numa palavra de esperança para toda a humanidade. As zombarias gritando «salva-te a ti mesmo», dirigidas ao inocente sofredor, não serão a última palavra; antes, suscitarão a voz daqueles que se deixam tocar o coração, optando pela compaixão como verdadeiro modo de construir a história.
Aqui, hoje, queremos renovar a nossa fé e o nosso compromisso. Como o bom ladrão, conhecemos bem a história dos nossos fracassos, pecados e limitações, mas não queremos que seja isso a determinar ou definir o nosso presente e futuro. Sabemos não serem poucas as vezes em que podemos cair no clima indolente que leva a proferir o grito fácil e cínico «salva-te a ti mesmo», e perder a memória do que significa carregar com o sofrimento de tantos inocentes. Estas terras experimentaram, como poucas, a capacidade destrutiva a que pode chegar o ser humano. Por isso, como o bom ladrão, queremos viver o instante em que se possa erguer as nossas vozes e professar a nossa fé em defesa e ao serviço do Senhor, o Inocente sofredor. Queremos acompanhar o seu suplício, sustentar a sua solidão e abandono, e ouvir mais uma vez que a salvação é a palavra que o Pai deseja oferecer a todos: «Hoje estarás comigo no Paraíso».
Salvação e certeza que testemunharam, corajosamente, com a própria vida São Paulo Miki e seus companheiros, bem como os milhares de mártires que constelam a vossa herança espiritual. Queremos caminhar pela sua senda, queremos seguir os seus passos professando, com coragem, que o amor entregue, sacrificado e celebrado por Cristo na cruz é capaz de vencer todo o tipo de ódio, egoísmo, ultraje ou maledicência; é capaz de vencer todo o pessimismo indolente ou bem-estar narcotizante, que acaba por paralisar qualquer ação e escolha boa. Assim no-lo recordava o Concílio: estão longe da verdade aqueles que, sabendo que não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura, pensam que podemos por isso descuidar os nossos deveres terrenos, sem advertirem que, pela própria fé professada, somos obrigados a realizá-los duma maneira tal que manifestem e façam transparecer a nobreza da vocação a que fomos chamados (cfGaudium et spes, 43).
A nossa é fé no Deus dos vivos. Cristo está vivo e atua no meio de nós, guiando-nos a todos para a plenitude da vida. Ele está vivo e quer-nos vivos. Cristo é a nossa esperança (cfChristus vivit, 1). Pedimo-lo todos os dias: venha a nós o vosso Reino, Senhor. E, ao fazê-lo, queremos também que a nossa vida e as nossas ações se tornem um louvor. Se a nossa missão como discípulos missionários é ser testemunhas e arautos do que virá, ela não nos permite resignar-nos perante o mal e com os males, mas impele-nos a ser fermento do seu Reino onde quer que estejamos: em família, no trabalho, na sociedade; impele-nos a ser uma pequena abertura pela qual o Espírito continua a soprar esperança entre os povos. O Reino dos Céus é a nossa meta comum; uma meta que não pode ser só para amanhã, mas imploramo-la e começamos a vivê-la hoje junto da indiferença que rodeia e silencia tantas vezes os nossos doentes e pessoas com deficiência, os idosos e abandonados, os refugiados e trabalhadores estrangeiros: todos eles são sacramento vivo de Cristo, nosso Rei (cfMt 25,31-46); porque, «se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar» (São João Paulo II, Novo millennio ineunte, 49).
Naquele dia, no Calvário, muitas vozes emudeciam, tantas outras zombavam; só a voz do ladrão soube erguer-se e defender o Inocente sofredor: uma corajosa profissão de fé. Cabe a cada um de nós a decisão de emudecer, zombar ou profetizar. Queridos irmãos, Nagasaki carrega na sua alma uma ferida difícil de curar, sinal do sofrimento inexplicável de tantos inocentes; vítimas atingidas pelas guerras de ontem, mas que sofrem ainda hoje com esta terceira guerra mundial aos pedaços. Levantemos, aqui, as nossas vozes numa oração comum por todos aqueles que hoje estão a sofrer na sua carne este pecado que brada ao céu e para que sejam cada vez mais aqueles que, como o bom ladrão, sejam capazes de não se calar nem zombar, mas de profetizar, com a sua voz, um reino de verdade e vida, de santidade e graça, de justiça, amor e paz (cf. Missal Romano, Prefácio da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo).


Fonte: Santa Sé

domingo, 24 de novembro de 2019

Recordando o Grande Jubileu do ano 2000

A história da salvação tem o seu ponto culminante e significado supremo em Jesus Cristo. N’Ele, todos nós recebemos «graça sobre graça» (Jo 1,16)

Há 20 anos, na Noite de Natal de 1999, o Papa São João Paulo II dava início ao Grande Jubileu do ano 2000. Este foi o primeiro Jubileu a marcar a passagem para um novo milênio, uma vez que os Anos Santos começaram a ser celebrados em 1300.

Logotipo do Grande Jubileu do ano 2000

1. Preparação

A preparação remota para o Jubileu teve início em 10 de novembro de 1994, quando o Papa promulgou a Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente (O terceiro milênio que se aproxima).

Depois de refletir sobre Jesus Cristo como senhor do tempo e da história e refazer alguns passos da caminhada da Igreja no século XX (com ênfase no Concílio Vaticano II), o Santo Padre delineia os passos em preparação ao Jubileu:

a) Etapa “ante-preparatória”: 1994-1996

Criação do Comitê Central do Grande Jubileu do ano 2000, presidido pelo Cardeal Roger Etchegaray, e início da série de Sínodos Especiais para os cinco continentes (África em 1994, América em 1997, Ásia e Oceania em 1998 e Europa em 1999).

b) Etapa preparatória: 1997-1999

Os três anos anteriores ao Jubileu foram dedicados a cada uma das Pessoas da Trindade:

1997: Ano de Jesus Cristo, com o convite a refletir sobre o Sacramento do Batismo e a virtude da fé

1998: Ano do Espírito Santo, com ênfase no Sacramento da Confirmação e na virtude da esperança

1999: Ano do Pai, recordando também o Sacramento da Reconciliação e a virtude da caridade

O próprio ano 2000, como coroamento, foi dedicado à contemplação da Santíssima Trindade e do mistério da Eucaristia, além de possuir um grande alcance ecumênico.

O Papa João Paulo II abriu cada um dos anos preparatórios com uma celebração no início do tempo do Advento, além de refletir sobre os temas propostos em suas catequeses durante a Audiência Geral nas quartas-feiras.

Monumento do Jubileu, destacando os três anos preparatórios
(Santuário de Nossa Senhora das Graças, Prudentópolis - PR)

2. Celebração

A convocação oficial do Jubileu deu-se no dia 29 de novembro de 1998, I Domingo do Advento, com a promulgação da Bula Incarnationis Mysterium (O mistério da Encarnação) e sua leitura diante da Porta Santa da Basílica de São Pedro.

Conforme a tradição para os Jubileus Ordinários (celebrados a cada 25 anos), este teve início na Missa da Noite de Natal (24 de dezembro de 1999) com a Abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro. Na sequência seriam abertas as Portas Santas das outras três Basílicas Papais: São João do Latrão (25 de dezembro), Santa Maria Maior (01 de janeiro) e São Paulo fora dos muros (18 de janeiro).

Nas dioceses o Jubileu teve início no Dia de Natal (25 de dezembro de 1999) com uma Missa na Catedral, porém sem a abertura da Porta Santa, algo reservado às quatro Basílicas Maiores de Roma (tal gesto seria permitido apenas no Jubileu Extraordinário da Misericórdia em 2015, pelo Papa Francisco).

Ao longo do ano ocorreram diversas celebrações em Roma, destacando os “Jubileus por grupos”: sacerdotes, religiosos, leigos, enfermos, trabalhadores, etc..., em sua maioria marcados por celebrações presididas pelo próprio Papa. Várias Conferências Episcopais, Igrejas Orientais e Dioceses organizaram igualmente suas peregrinações.

Além disso, ao longo do ano 2000 a cidade de Roma hospedou, por ocasião do Jubileu, três encontros internacionais que ocorrem com certa periodicidade em algum lugar do mundo: o Congresso Eucarístico Internacional (junho), a Jornada Mundial da Juventude (agosto) e o Encontro Mundial das Famílias (outubro).

Cruz alusiva ao Grande Jubileu do ano 2000:
De um lado o mistério da Trindade, do outro a peregrinação

Durante o Ano Santo o Papa João Paulo II realizou também duas importantes peregrinações a lugares relacionados à história da salvação: ao Monte Sinai, no Egito (24-26 de fevereiro), e à Terra Santa (20-26 de março). O Santo Padre desejava visitar ainda a cidade de Ur (no atual Iraque), de onde partiu Abraão, mas devido a conflitos locais não foi possível.

O Ano Santo encerrou-se na Solenidade da Epifania do ano seguinte (06 de janeiro de 2001). Tal data reforçou o alcance universal do Jubileu, uma vez que na Epifania se celebra a manifestação de Jesus Cristo a todos os povos.

Na ocasião, João Paulo II promulgou a Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte (No início do novo milênio). Neste documento, após fazer uma avaliação do Jubileu, o Papa traça os caminhos da Igreja no novo milênio que se iniciava, com uma grande ênfase na pessoa de Jesus Cristo.

3. Memória

Ao longo dos próximos meses, de 24 de dezembro de 2019 a 06 de janeiro de 2021, para celebrar os 20 anos deste acontecimento histórico, vamos repropor aqui em nosso blog as homilias do Papa São João Paulo II nas principais celebrações do Grande Jubileu.

Tais reflexões nos ajudarão também a preparar o próximo Jubileu Ordinário, a ser celebrado dentro de cinco anos, em 2025.

Christus heri et hodie, finis et principium; Christus Alpha et Omega, ipsi gloria in sæcula!
Cristo, ontem e hoje, fim e princípio; Cristo Alfa e Ômega, a Ele a glória pelos séculos!


sábado, 23 de novembro de 2019

Homilia: Solenidade de Cristo Rei - Ano C

São Cesário de Arles
Sermões
Os benefícios de Deus, motivo de juízo

Se pensamos nos bens que Deus derramou sobre nós chegando até a morte, não haveríamos de temer aquele juízo; mas por desgraça muitos o convertem em motivo de sentença contra eles. Não paguemos o bem com o mal pois, do contrário, o que faremos naquele dia temível quando o Senhor se sentar em seu trono cercado da milícia celestial no meio da luz, enquanto os anjos ressoam suas trombetas e o mundo estremece?
Então, além da própria consciência, aquele Juiz, já mais justo que misericordioso, começará a acusar os réus como severidade por terem desprezado a sua misericórdia: “Eu plasmei a ti, ó homem! Com minhas mãos eu te infundi o espírito e tu, desprezando os meus preceitos de vida perfeita, segues ao mentiroso antes que a Deus... Entrei em um seio virginal para nascer dele sem diminuição de sua pureza; reclinei-me em um presépio envolto em panos, com as dores e sofrimentos da infância; sofri as bofetadas e cusparadas daqueles que zombavam de mim, bebi vinagre com fel, fui ferido pelos açoites, coroado de espinhos, cravado na cruz, atravessado pela lança, e para que tu te libertasses da morte entreguei a minha vida em meio a tormentos. Aqui tens os sinais dos cravos dos quais fui suspenso. Olhai aqui para meu lado ferido. Aceitei as dores para dar a ti a glória, sofri a morte para que vivesses por toda a eternidade. Jazi escondido em um sepulcro para que tu reinasses no céu. Por que perdeste o que te dei? Por que, ingrato, rejeitastes os dons de tua redenção? Não reclamo de minha morte, mas dai-me a tua vida, já que por ela entreguei a minha... Por que maculaste a habitação que consagrei para mim com as imundícies da luxúria? Por que me carregaste com a cruz dos teus crimes, mais pesada que aquela na qual estive suspenso? Mais pesada, de fato, é a cruz de teus pecados, da qual pendo à força, do que aquela que, compadecido de ti, subi satisfeito. Sendo impassível me dignei padecer por ti, e tu desprezaste a Deus no homem, a saúde no enfermo, a chegada no caminho, o pai no juiz, a vida na cruz e o remédio na agonia”.
Examinai a embarcação de vossa vida, e se observais as cavernas (*) desfeitas pela soberba, a avareza e a luxúria, apressai-vos em repará-las com as boas obras e a esmola. Assim como ao bom sua virtude não lhe beneficia de nada se morre em pecado, assim ao pecador os vícios não lhe prejudicam se morre arrependido.
Vivei bem, não me digais que sois jovens e casados, porque não é o traje do monge que dá a virtude. Em qualquer estado de vossas vidas podeis vestir o hábito da religião e da caridade.

(*) Cavernas: chapas verticais no fundo da embarcação para aumentar sua resistência.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 761-762. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São João Crisóstomo para esta solenidade clicando aqui.

Fotos da Missa do Papa com os jovens da Tailândia

No último dia 22 de novembro o Papa Francisco celebrou a Santa Missa da Memória de Santa Cecília, Virgem e Mártir com os jovens da Tailândia na Catedral da Assunção em Bangkok, no contexto de sua Viagem Apostólica ao país.

O Santo Padre foi assistido pelos Monsenhores Guido Marini e Vincenzo Peroni. O livreto da celebração pode ser visto aqui (pp. 39-69).

Incensação


Ritos iniciais
Liturgia da Palavra