No dia 06 de janeiro de
2001, no final da Missa de encerramento do Grande Jubileu do ano 2000, o Papa
João Paulo II assinou publicamente, na Praça de São Pedro, a Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, com a qual
apresenta algumas propostas pastorais para a Igreja no novo milênio que se
iniciava.
Após
analisarmos em 2020 as cinco Exortações Apostólicas dos Sínodos continentais em
preparação ao Grande Jubileu, cabe agora uma análise da Carta Apostólica sob a perspectiva
da Liturgia e dos sacramentos.
João Paulo II
Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte
No término do Grande Jubileu do ano
2000
No início da Carta, após propor o mote bíblico “Duc in altum!”, isto é, “Avancem para águas mais profundas!” (Lc 5,4),
o Papa oferece as reflexões do documento às Igrejas particulares, recordando
dentre os elementos que as mantêm unidas a “fração do pão”, isto é, a
Eucaristia:
“Agora é preciso guardar o tesouro da graça recebida, traduzindo-a em
ardentes propósitos e diretrizes concretas de ação. A esta tarefa, desejo
convidar todas as Igrejas locais. Em cada uma delas, reunida à volta do seu
Bispo na escuta da Palavra, na união fraterna e na «fração do pão» (cf. At 2,42),
«está e opera a Igreja de Cristo una, santa, católica e apostólica» (Vaticano II, Decreto Christus Dominus, 11)” (n.
03).
Ícone inspirado na exortação "Duc in altum" |
I. O encontro com Cristo, legado do Grande Jubileu
O primeiro capítulo, à luz do mote “Graças Te damos, Senhor, Deus
Todo-poderoso” (Ap 11,17), o Pontífice recorda as principais celebrações do
Jubileu, as quais registramos aqui em nosso blog durante o último ano.
Cabe recordar, primeiramente, o início do Jubileu, que o Papa não
menciona na Carta:
- Abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro, na Missa da Noite de
Natal (24 de dezembro de 1999);
- Abertura da Porta Santa da Basílica do Latrão, nas II Vésperas do Dia
do Natal (25 de dezembro de 1999);
- Abertura da Porta Santa da Basílica de Santa Maria Maior, na Missa da Solenidade da
Santa Mãe de Deus (01 de janeiro de 2000).
Sobre a Basílica de São
Paulo se falará adiante, no parágrafo sobre a dimensão ecumênica do Jubileu.
Purificação da memória
A primeira celebração
recordada na Carta (n. 06) é a Celebração do Perdão no I Domingo da Quaresma (12
de março), “durante a qual - recorda João Paulo II
-, com os olhos fixos no Crucifixo, fiz-me porta-voz da Igreja, pedindo perdão
pelo pecado de todos os seus filhos”.
As testemunhas da fé
Em seguida, no n. 07, o Papa recorda a Comemoração das Testemunhas da fé do século XX, celebrada em caráter ecumênico no Coliseu no III Domingo da
Páscoa (07 de maio).
Os jovens
Depois de recordar no n. 08 os incontáveis peregrinos que atravessaram
as Portas Santas durante o Jubileu, no n. 09 o Pontífice destaca o encontro com
os jovens. Seu Jubileu ocorreu no contexto da XV Jornada Mundial da Juventude,
cujos atos centrais foram realizados no campus da Universidade de Tor Vergata
em Roma: a Vigília no dia 19 de agosto e a Missa no dia 20 de agosto.
Peregrinos das várias categorias
Na sequência, são mencionados os vários Jubileus por grupos, dentre os
quais o Papa destaca os trabalhadores, as famílias (no contexto do III Encontro
Mundial das Famílias) e os prisioneiros, na Penitenciária Regina Coeli.
A seguir elencamos os Jubileus por grupos divididos por mês:
Fevereiro: Vida Consagrada (02), Doentes (11), Artistas (18), Diáconos (19) e Cúria Romana
(22);
Março: Artesãos
(19);
Maio: Trabalhadores
(01), Presbíteros (18), Cientistas (25) e Diocese de Roma (28);
Junho: Migrantes (02) e
Jornalistas (04);
Julho: Prisioneiros (09);
Setembro: Universidades
(10), Idosos (17) e Santuários (24);
Outubro: Bispos (08), Famílias (15), Missionários (22) e Mundo do Esporte (29);
Novembro: Governantes e Parlamentares
(05), Mundo Agrícola (12), Militares (19) e Leigos (26);
Dezembro: Pessoas com Deficiência
(03), Catequistas (10) e Mundo do Espetáculo (17).
O Congresso Eucarístico Internacional
“Se a Eucaristia é o sacrifício de Cristo que Se torna presente entre
nós, poderia a sua presença real não estar no centro deste Ano Santo dedicado à
Encarnação do Verbo?”, interroga o Papa no n. 11, recordando o XLVII Congresso
Eucarístico Internacional que aconteceu em Roma do dia 18 de junho, aberto com a celebração das Vésperas, até o dia 25 de junho, com o encerramento marcado pela celebração da Missa.
Cabe recordar aqui também as seis Catequeses sobre a Eucaristia
proferidas pelo Papa João Paulo II durante o Ano Santo:
I. A Eucaristia, suprema celebração terrena da “glória” (27 de setembro);
II. A Eucaristia, memorial das maravilhas de Deus (04 de outubro);
III. A Eucaristia é sacrifício de louvor (11
de outubro);
IV. A Eucaristia, banquete de comunhão com Deus (18 de outubro);
V. A Eucaristia abre ao futuro de Deus (25 de outubro);
VI. A Eucaristia, sacramento de unidade (08 de novembro).
A dimensão ecumênica
No n. 12, dedicado à dimensão ecumênica do Jubileu, como vimos acima, o
Papa recorda a Abertura da Porta Santa da Basílica de São Paulo fora dos muros,
no dia 18 de janeiro, início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos: “pela
primeira vez na história, uma Porta Santa foi aberta
conjuntamente pelo Sucessor de Pedro, o Primaz Anglicano e o
Metropolita do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, na presença de
representantes de Igrejas e Comunidades eclesiais de todo o mundo”.
A peregrinação à Terra Santa
O parágrafo n. 13 da Carta está dedicado à recordação da peregrinação
aos lugares da história da salvação, que foi precedida de uma Carta do Papa e
de dois estudos do Pontifício Conselho para os Migrantes e Itinerantes, um
sobre a peregrinação e outro sobre os santuários.
A peregrinação se deu em três etapas: a primeira, recordando “os passos
de Abraão, «nosso pai na fé» (cf. Rm 4,11-16)”, não pode ser
realizada. Portanto, foi preparada uma “peregrinação espiritual” através de uma
Celebração da Palavra em honra de Abraão no dia 23 de fevereiro.
No dia seguinte o Pontífice embarcou para o Egito, onde ocorreu a
segunda etapa da peregrinação: após a Missa na cidade do Cairo, em honra da Sagrada Família, o Papa presidiu uma Celebração da Palavra em honra de Moisés junto ao Monte Sinai.
Um mês depois ocorreu a terceira etapa da peregrinação, “aos lugares
habitados e santificados pelo Redentor”. João Paulo II presidiu seis Missas na
Terra Santa:
- Missa em Amman (Jordânia), no dia 21 de março;
- Missa na Praça da Manjedoura em Belém, no dia 22;
- Missa no Cenáculo de Jerusalém, no dia 23;
- Missa com os jovens no Monte das Bem-aventuranças, no dia 24;
- Missa na Basílica da Anunciação em Nazaré, no dia 25;
- Missa na Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém, no dia 26.
Cabe ressaltar ainda que em 2001 o Papa realizou
uma quarta etapa desta peregrinação, desta vez “seguindo os passos de Paulo”, sobre a qual falaremos futuramente aqui no blog.
Memorial da visita do Papa à Terra Santa |
II. Um rosto a contemplar
O capítulo II, a partir do pedido “Queremos ver
Jesus” (Jo 12,21), o Papa apresenta uma síntese da cristologia, tanto do
mistério da Encarnação quanto do Mistério Pascal. O capítulo foge ao nosso
escopo, uma vez que não trata da Liturgia, mas recomendamos vivamente a sua
leitura.
III. Partir de Cristo
A partir do capítulo III, inspirado pela promessa de Jesus - “Eu estarei
sempre convosco, até ao fim do mundo” (Mt 28,20) -, o Papa começa a
apresentar suas propostas para a Igreja do terceiro milênio. Encontramos aqui,
portanto, a maior parte das referências à Liturgia e aos sacramentos.
Antes de tudo, é preciso salientar a observação que João Paulo II faz no
n. 29 da Carta Apostólica: “não se trata de inventar um «programa novo». O
programa já existe: é o mesmo de sempre, expresso no Evangelho e na Tradição
viva. Concentra-se, em última análise, no próprio Cristo, que temos de
conhecer, amar, imitar, para n’Ele viver a vida trinitária e com Ele transformar
a história até à sua plenitude na Jerusalém celeste”.
No mesmo parágrafo recordam-se os cinco Sínodos continentais realizados
em preparação ao Ano Santo: “Este rico patrimônio de reflexão não deve ser
esquecido, mas levado à ação concreta”. Em nosso blog já analisamos sob a
perspectiva da Liturgia suas cinco Exortações Apostólicas:
A santidade
“Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para que deve
tender todo o caminho pastoral é a santidade”, afirmação
fundamental do Papa no n. 30 do Documento, que deve nortear a Igreja do
terceiro milênio.
No parágrafo seguinte se fundamenta a busca da santidade na vocação
recebida pelo sacramento do Batismo:
“(...) se o Batismo é um
verdadeiro ingresso na santidade de Deus através da inserção em Cristo e da
habitação do seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida
medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial.
Perguntar a um catecúmeno: «Queres receber o Batismo?» significa ao mesmo tempo
perguntar-lhe: «Queres fazer-te santo?»” (n. 31).
A oração
A busca da santidade passa necessariamente pelo cultivo de uma vida de
oração. A Carta Apostólica exorta a “um cristianismo que se destaque
principalmente pela arte da oração” (n. 32). Na sequência se
destaca a lógica trinitária da oração, expressa sobretudo na Liturgia:
“Obra do Espírito Santo em nós, a oração abre-nos, por Cristo e em
Cristo, à contemplação do rosto do Pai. Aprender esta lógica trinitária da
oração cristã, vivendo-a plenamente
sobretudo na Liturgia, meta e fonte da vida eclesial (cf. Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 10), mas também na experiência
pessoal, é o segredo dum cristianismo verdadeiramente vital, sem motivos para
temer o futuro porque volta continuamente às fontes e aí se regenera” (n. 32).
No parágrafo seguinte pede-se que “o encontro com Cristo não se exprima
apenas em pedidos de ajuda, mas também em ação de graças, louvor, adoração,
contemplação, escuta, afetos de alma, até se chegar a um coração
verdadeiramente «apaixonado»” (n. 33). Além disso, também se adverte que o
primado da oração não pode nos afastar do compromisso da história: a oração
autêntica, “ao abrir o coração ao amor de Deus, o abre também ao amor dos
irmãos”.
Por fim, no que concerne o tema da oração, no n. 34 o Papa anuncia sua
intenção de dedicar as Catequeses próximas das quartas-feiras aos salmos e
cânticos da Liturgia das Horas, “a oração pública com que a Igreja nos convida
a consagrar e dar sentido aos nossos dias” (n. 34), primeiramente das Laudes e
depois das Vésperas, sobre as quais falaremos a partir da próxima semana.
O Pontífice justifica a escolha do tema como uma motivação às
comunidades que, sem desmerecer as práticas de oração ligadas à piedade popular
(como o rosário, por exemplo), aos poucos descubram a riqueza da oração
litúrgica:
“Seria de grande proveito que se diligenciasse com maior empenho nas
comunidades não só religiosas mas também paroquiais para que o clima fosse
permeado de oração, valorizando com o devido discernimento as formas populares,
e sobretudo educando para as formas
litúrgicas. A ideia de uma comunidade cristã em que se conjuguem os
múltiplos compromissos pastorais e de testemunho no mundo com a Celebração Eucarística
e mesmo com a oração de Laudes e Vésperas é talvez mais
«pensável» do que se crê” (n. 34).
A Eucaristia dominical
Os nn. 35-36 conjugam dois temas muito caros ao Papa polonês: a
Eucaristia e o domingo. Dada a importância destes temas ao nosso estudo, os
reproduziremos na íntegra:
“35. Há de se pôr o máximo
empenho na Liturgia, «a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a
fonte donde promana toda a sua força» (Sacrosanctum Concilium, n. 10). No século XX, sobretudo
depois do Concílio, a comunidade cristã cresceu muito no modo de celebrar os
Sacramentos, sobretudo a Eucaristia. É preciso prosseguir nesta direção, dando
particular relevo à Eucaristia
dominical e ao próprio domingo, considerado um dia especial de festa, dia do Senhor
ressuscitado e do dom do Espírito, verdadeira Páscoa da semana (cf. João Paulo
II, Carta Ap. Dies Domini, n. 19). Há dois mil anos que o
tempo cristão é marcado pela recordação daquele «primeiro dia depois do sábado»
(Mc 16,2.9; Lc 24,1; Jo 20,1),
quando Cristo ressuscitado trouxe aos Apóstolos o dom da paz e do Espírito
(cf. Jo 20,19-23). A verdade da Ressurreição de Cristo é o
dado primordial, sobre o qual se apoia a fé cristã (cf. 1Cor 15,14),
um fato que está situado no centro do mistério do tempo, e
prefigura o último dia em que Jesus voltará glorioso. Não sabemos os
acontecimentos que nos reserva o milênio que está a começar, mas temos a
certeza de que este permanecerá firmemente nas mãos de Cristo, o «Rei dos reis
e Senhor dos senhores» (Ap 19,16); e, celebrando precisamente a sua
Páscoa não só uma vez por ano mas todos os domingos, a Igreja continuará a
indicar a cada geração «o eixo fundamental da história, ao qual fazem
referência o mistério das origens e o do destino final do mundo» (ibid., n. 02)”.
“36. Por isso, desejo insistir, na linha do que disse na Carta Apostólica Dies
Domini, em que a participação
na Eucaristia seja verdadeiramente, para cada batizado, o coração do domingo: um
compromisso irrenunciável, abraçado não só para obedecer a um preceito mas como
necessidade para uma vida cristã verdadeiramente consciente e coerente. Estamos
a entrar num milênio que se anuncia caracterizado por uma profunda amálgama de
culturas e religiões mesmo nos países de antiga cristianização. Em muitas
regiões, os cristãos são - ou vão-se tornando - um «pequenino rebanho» (Lc 12,32).
Isto os coloca perante o desafio de testemunharem com mais força, muitas vezes
em condições de solidão e hostilidade, os aspectos específicos que os
identificam. Um deles é a obrigação de participar todos os domingos na Celebração
Eucarística. Ao congregar semanalmente os cristãos como família de Deus à volta
da mesa da Palavra e do Pão de vida, a Eucaristia dominical é também o antídoto
mais natural contra o isolamento; é o lugar privilegiado, onde a comunhão é
constantemente anunciada e fomentada. Precisamente através da participação
eucarística, o dia do Senhor torna-se também o dia da
Igreja (cf. ibid.,
n. 35), a qual poderá assim desempenhar de modo eficaz a sua missão de
sacramento de unidade”.
O sacramento da Reconciliação
Na sequência, o n. 37 é dedicado ao sacramento da Reconciliação. Sendo
também este um parágrafo fundamental para o estudo da Liturgia na Carta Novo Millennio Ineunte,
também o reproduzimos integralmente:
“37. Solicito ainda uma renovada coragem pastoral para, na pedagogia
quotidiana das comunidades cristãs, se propor de forma persuasiva e eficaz a
prática do sacramento da
Reconciliação. Em 1984, como recordareis, intervi sobre este tema através
da Exortação pós-sinodal Reconciliatio et paenitentia, na qual
foram recolhidos os frutos da reflexão duma Assembleia do Sínodo dos Bispos
dedicada a esta problemática. Lá, convidava a que se fizesse todo o esforço
para superar a crise do «sentido do pecado», que se verifica na cultura
contemporânea (cf.
n. 18), e, mais ainda, que se voltasse a descobrir Cristo como mysterium
pietatis, no qual Deus nos mostra o seu coração compassivo e nos reconcilia
plenamente Consigo. Tal é o rosto de Cristo que importa fazer redescobrir
também através do sacramento da Penitência, que constitui, para um cristão, «a via
ordinária para obter o perdão e a remissão dos seus pecados graves
cometidos depois do Batismo» (ibid., n. 31). Quando
o referido Sínodo se debruçou sobre o tema, estava à vista de todos a crise
deste sacramento, sobretudo nalgumas regiões do mundo. E os motivos que a
originaram, não desapareceram neste breve espaço de tempo. Mas o Ano Jubilar,
que foi caracterizado particularmente pelo recurso à Penitência sacramental, ofereceu-nos uma estimulante mensagem que
não deve ser perdida: se tantos fiéis - jovens muitos deles - se aproximaram
frutuosamente deste sacramento, provavelmente é necessário que os Pastores se
armem de maior confiança, criatividade e perseverança para o apresentarem e
fazerem-no valorizar. Não devemos render-nos, queridos irmãos no sacerdócio,
diante de crises temporâneas! Os dons do Senhor - e os sacramentos contam-se
entre os mais preciosos deles - vêm d'Aquele que bem conhece o coração do homem
e é o Senhor da história”.
Escuta da Palavra
Após refletir sobre o primado da graça no n. 38, o Santo Padre reforça a
importância da Palavra de Deus, recordando a contribuição do Concílio Vaticano
II:
“Desde o Concílio Vaticano II, que assinalou o papel proeminente da Palavra
divina na vida da Igreja, muito se avançou certamente na escuta assídua e na
leitura atenta da Sagrada Escritura. Foi-lhe garantido o lugar de honra que merece na oração
pública da Igreja”, isto é, na Liturgia (n. 39). “É preciso, amados irmãos
e irmãs, consolidar e aprofundar esta linha”, pede o Pontífice.
Anúncio da Palavra
Por fim, concluem o capítulo III os nn. 40-41, dedicados ao tema da
evangelização. No n. 41 o Papa apresenta como “estímulo e orientação” para a ação
evangelizadora o testemunho dos mártires, particularmente dos novos tempos.
Como os mártires são celebrados também na Liturgia, vale aqui sua menção.
Cabe ressaltar a Basílica de São Bartolomeu all’Isola, que se tornou o santuário dos mártires dos novos tempos,
na qual tanto o Papa Bento XVI (07 de abril de 2008) quanto o Papa Francisco
(22 de abril de 2017) presidiram celebrações em honra dos mártires. “A nós,
resta-nos apenas seguir, com a graça de Deus, as suas pegadas”, conclui João
Paulo II.
Ícone dos mártires do século XX |
IV. Testemunhas do amor
O capítulo IV tem como mote a afirmação de Jesus na Última Ceia: “É por
isto que todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”
(Jo 13,35). À luz deste texto bíblico, o Papa reflete sobre o
exercício da caridade, destacando a “espiritualidade de comunhão”, a
importância do diálogo ecumênico e inter-religioso, entre outros temas.
No n. 46, que prolonga o tema da comunhão na exortação a promover na
Igreja a variedade das vocações, recordam-se os ministérios laicais,
fundamentados na graça recebida pelos sacramentos do Batismo e da Confirmação e
exercidos também em contexto litúrgico:
“(...) é necessário que a Igreja do terceiro milênio estimule todos os batizados e crismados a tomarem consciência da sua própria e ativa
responsabilidade na vida eclesial. Ao lado do ministério ordenado, podem
florescer outros ministérios -
instituídos ou simplesmente reconhecidos - em proveito de toda a comunidade
ajudando-a nas suas diversas necessidades: desde a catequese à animação litúrgica, desde a educação
dos jovens às várias expressões da caridade” (n. 46).
Conclusão: Duc in altum!
Por fim, na conclusão o Papa retoma o mote do início da Carta: “Duc in altum!”, isto é, “Avancem para
águas mais profundas!” (Lc 5,4). Nos dois parágrafos que a compõem
o Papa retoma o tema da comunhão que se fortalece na Palavra e na Eucaristia,
que havia recordado no início do Documento, citando At 2,42:
“(...) não há distância entre aqueles que estão intimamente ligados pela
única comunhão, a comunhão que cada dia é alimentada à mesa do Pão eucarístico e da Palavra de vida. Cada domingo, Cristo ressuscitado marca encontro
conosco no Cenáculo, onde, na tarde do «primeiro dia depois do sábado» (Jo 20,19),
apareceu aos seus «soprando» sobre eles o dom vivificante do Espírito e
iniciando-os na grande aventura da evangelização” (n. 58).
“Possa Jesus Ressuscitado, que Se põe a caminho conosco pelas nossas
estradas deixando-Se reconhecer, como sucedeu aos discípulos de Emaús, «ao partir do pão» (Lc 24,35),
encontrar-nos vigilantes e prontos para reconhecer o seu rosto e correr a levar
aos nossos irmãos o grande anúncio: «Vimos o Senhor!» (Jo 20,25)”
(n. 59).
Nenhum comentário:
Postar um comentário