Nos
últimos três meses do ano de 2020 apresentamos como nossa sugestão de leitura
mensal o Dicionário de Liturgia
editado por Domenico Sartore e Achille Maria Triacca, publicado no Brasil pela
Editora Paulus [1].
Nesta
primeira sugestão de leitura do ano de 2021 gostaríamos de propor outro dos
dicionários traduzidos pela Paulus que também possui relação com a Liturgia.
Trata-se do Dicionário dos Símbolos: Imagens e sinais da arte cristã, obra
de Gerd Heinz-Mohr, traduzida em
1994 a partir da 10ª edição da obra original (1988).
O
Lexikon der Symbole: Bilder und Zeichen
der christlichen Kunst, publicado pela primeira vez em 1971, é uma obra bem
mais modesta que o Dicionário de Liturgia.
Com 390 páginas, reúne cerca de 460 verbetes, os quais variam de algumas linhas
a algumas páginas, conforme a importância de cada símbolo para o Cristianismo.
Como
a arte cristã tem na Liturgia um lugar privilegiado da sua expressão, seja no
espaço sagrado, nas alfaias ou nos paramentos, o Dicionário dos Símbolos constitui uma excelente obra de consulta
para os estudiosos da Liturgia.
O autor inicia
sua obra com uma Introdução, na qual reflete sobre a importância dos símbolos.
Como teólogo protestante (ligado à Igreja Luterana), Gerd Edwin Heinz-Mohr
compreende bem o lugar dos símbolos no Cristianismo, citando o Papa São
Gregório Magno: “Uma coisa é adorar a imagem, outra é aprender, pela
representação da imagem, o que se deve adorar”.
Para cada
símbolo o autor recorda seu fundamento bíblico, seu lugar na teologia e alguns
exemplos de obras de arte que o utilizam. Contudo não há ilustrações, salvo
pequenas gravuras em preto e branco dos principais símbolos.
Embora a obra
não faça esta divisão, vamos apresentar a seguir os principais grupos de
símbolos abordados, com alguns exemplos. Esta classificação é meramente
didática, uma vez que no Dicionário
os símbolos estão listados todos em ordem alfabética.
1. Personagens bíblicos:
Começamos aqui
por Cristo, “imagem do Deus
invisível” (Cl 1,15). Neste verbete se apresentam as suas representações
enquanto Deus que se fez homem.
Depois de Jesus
encontramos Maria e outros
personagens do Novo Testamento, como João
Batista e os Apóstolos. Cabe
mencionar ainda o “tetramorfo”, isto
é, os “quatro seres viventes” (Ap 4,6-8), símbolos tanto de Cristo quanto dos
evangelistas.
Por fim, temos
também os personagens do Antigo Testamento: Adão
e Eva, Abraão, Moisés, Davi, Elias, os Profetas, entre outros.
Para conhecer o simbolismo dos Apóstolos e dos Profetas em sua relação com o Creio, clique aqui.
2. Partes do corpo humano:
Uma vez que
Cristo se encarnou, a humanidade recebeu uma incomparável dignidade. Assim, têm
um lugar de destaque na iconografia as partes do corpo humano: o coração, a mão, o dedo, a cabeça... Não obstante, retrata-se
também a fragilidade da condição humana: o crânio,
os ossos.
3. Ações humanas:
Além do corpo
humano, são retratadas também as ações do homem, como a refeição em comum ou ceia, o banho ou a dança. Podemos
elencar aqui também alguns “ofícios”, como o pastor, o pescador ou
mesmo o peregrino.
4. Animais:
A simbologia dos
animais está amplamente presente na Sagrada Escritura e na tradição da Igreja.
Um dos primeiros símbolos cristãos foi um animal, o peixe, cujas iniciais em grego (ΙΧΘΥΣ, ichthys) formam o acróstico: “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”
(Ἰησοῦς Χριστός, Θεοῦ ͑Υιός, Σωτήρ)
O Dicionário aborda cerca de 80 animais: da
abelha ao veado, passando pela águia,
o leão, o cordeiro, o pelicano, a serpente, entre outros.
5. Seres mitológicos:
Dos animais
deriva o grupo dos seres mitológicos, como o dragão ou a fênix. Alguns
são de fato a fusão de dois animais, como o grifo,
que une a águia ao leão, isto é, o céu à terra, sendo imagem da dupla natureza
de Cristo (divina e humana).
6. Plantas:
Do reino animal
passamos ao reino vegetal, também muito presente na Escritura e na tradição.
Pensemos na figueira, na palmeira, na oliveira, no trigo, na uva, sem contar as flores, como a rosa ou o lírio.
7. Alimentos:
O pequeno grupo
dos alimentos faz a síntese entre a natureza e o homem, uma vez que são os
“frutos da terra e do trabalho do homem”: o azeite,
o pão e o vinho, além dos dons dos animais: o leite e o ovo.
8. Elementos da natureza:
Ainda no tema da
natureza, há muitos outros elementos simbólicos recorrentes inclusive nas
celebrações litúrgicas: a água, a cinza, o fogo, sem contar o sol, a
lua, as estrelas, o arco-íris, o céu.
9. Formas geométricas:
Nesta categoria
elencamos tanto as formas geométricas propriamente ditas, como o círculo ou o triângulo, quanto os elementos arquitetônicos: a coluna, a porta.
10. Objetos:
Maior grupo de
símbolos do Dicionário, com mais de
120 verbetes, encontramos aqui os mais diversos objetos, desde as armas - como
a espada, a lança, o arco, o escudo -, até o vestuário com seus
adereços - o anel, a coroa, chapéu, o manto -, passando
pelos instrumentos de trabalho - o arado,
a foice, o machado, a pena de escrever,
a rede -, os objetos do dia-a-dia - a
chave, a lamparina, a faca, a moeda - e mesmo os instrumentos musicais
- a harpa, o sino, a trombeta - e
objetos sagrados - o altar, o cálice, o turíbulo.
11. Escatologia:
Um tema
recorrente na arte cristã é a escatologia, isto é, a doutrina sobre as coisas
últimas: os anjos, os demônios, o inferno, o paraíso, o juízo final.
12. Simbologia:
Por fim, merece
uma menção especial um grupo de verbetes que reflete sobre a simbologia de
determinados temas:
a) Simbologia das cores (branco, vermelho,
azul, verde...) e dos números (um,
dois, três, sete, doze...);
b) Símbolos de Cristo: Se o verbete Cristo apresentou as representações do
Filho de Deus feito homem, aqui se elencam seus outros símbolos, remetendo a
vários outros verbetes (o cordeiro, o
pastor, a cruz, o alfa e ômega...).
O mesmo vale para os símbolos de Maria, da Trindade e dos evangelistas;
c) Simbologia da Paixão e da Ressurreição: dois verbetes muito
interessantes, que apresentam os paralelos do Antigo Testamento para cada momento
dos mistérios da Paixão e da Ressurreição do Senhor.
d) Simbologia do Batismo, símbolos eucarísticos, simbologia do casamento: Também para
estes três sacramentos o autor remete para outros verbetes a eles relacionados;
e) Símbolos das virtudes e dos vícios: Dois verbetes
complementares. De um lado apresentam-se os símbolos das sete virtudes
fundamentais (as três teologais - fé, esperança e caridade - e as quatro
cardeais - prudência, justiça, fortaleza e temperança) e do outro os símbolos
dos sete pecados capitais (gula, luxúria, preguiça, avareza, ira, inveja e
soberba).
f) Simbologia da morte, símbolos da eternidade, símbolos do diabo: Por fim, estes três
verbetes retomam a temática escatológica, sobre a qual já nos referimos acima.
Capa original da obra em alemão |
Sobre o autor:
Gerd Heinz-Mohr
(28 de dezembro de 1913 - 05 de julho de 1989) foi um teólogo e historiador da
arte alemão. Proferiu conferências sobre espiritualidade em diversas igrejas
luteranas da Alemanha, o que despertou seu interesse pela arte sacra e levou-o
à compilação do Dicionário dos Símbolos.
Infelizmente, no momento da publicação deste
artigo o livro não se encontra disponível para ser adquirido no site da
editora. Nossos leitores podem procurá-lo em bibliotecas ou livrarias
especializadas em livros usados.
[1] Como
cada um dos 110 verbetes da obra é bastante completo, dividimos nossa
apresentação em três partes: verbetes 1 a 40 (A-E), 41 a 76 (F-O) e 77 a 110(P-V).
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