sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Sugestão de leitura: Dicionário dos Símbolos

Nos últimos três meses do ano de 2020 apresentamos como nossa sugestão de leitura mensal o Dicionário de Liturgia editado por Domenico Sartore e Achille Maria Triacca, publicado no Brasil pela Editora Paulus [1].

Nesta primeira sugestão de leitura do ano de 2021 gostaríamos de propor outro dos dicionários traduzidos pela Paulus que também possui relação com a Liturgia. Trata-se do Dicionário dos Símbolos: Imagens e sinais da arte cristã, obra de Gerd Heinz-Mohr, traduzida em 1994 a partir da 10ª edição da obra original (1988).

O Lexikon der Symbole: Bilder und Zeichen der christlichen Kunst, publicado pela primeira vez em 1971, é uma obra bem mais modesta que o Dicionário de Liturgia. Com 390 páginas, reúne cerca de 460 verbetes, os quais variam de algumas linhas a algumas páginas, conforme a importância de cada símbolo para o Cristianismo.

Como a arte cristã tem na Liturgia um lugar privilegiado da sua expressão, seja no espaço sagrado, nas alfaias ou nos paramentos, o Dicionário dos Símbolos constitui uma excelente obra de consulta para os estudiosos da Liturgia.

O autor inicia sua obra com uma Introdução, na qual reflete sobre a importância dos símbolos. Como teólogo protestante (ligado à Igreja Luterana), Gerd Edwin Heinz-Mohr compreende bem o lugar dos símbolos no Cristianismo, citando o Papa São Gregório Magno: “Uma coisa é adorar a imagem, outra é aprender, pela representação da imagem, o que se deve adorar”.

Para cada símbolo o autor recorda seu fundamento bíblico, seu lugar na teologia e alguns exemplos de obras de arte que o utilizam. Contudo não há ilustrações, salvo pequenas gravuras em preto e branco dos principais símbolos.


Embora a obra não faça esta divisão, vamos apresentar a seguir os principais grupos de símbolos abordados, com alguns exemplos. Esta classificação é meramente didática, uma vez que no Dicionário os símbolos estão listados todos em ordem alfabética.

1. Personagens bíblicos:

Começamos aqui por Cristo, “imagem do Deus invisível” (Cl 1,15). Neste verbete se apresentam as suas representações enquanto Deus que se fez homem.

Depois de Jesus encontramos Maria e outros personagens do Novo Testamento, como João Batista e os Apóstolos. Cabe mencionar ainda o “tetramorfo”, isto é, os “quatro seres viventes” (Ap 4,6-8), símbolos tanto de Cristo quanto dos evangelistas.

Por fim, temos também os personagens do Antigo Testamento: Adão e Eva, Abraão, Moisés, Davi, Elias, os Profetas, entre outros.

Para conhecer o simbolismo dos Apóstolos e dos Profetas em sua relação com o Creio, clique aqui.

2. Partes do corpo humano:

Uma vez que Cristo se encarnou, a humanidade recebeu uma incomparável dignidade. Assim, têm um lugar de destaque na iconografia as partes do corpo humano: o coração, a mão, o dedo, a cabeça... Não obstante, retrata-se também a fragilidade da condição humana: o crânio, os ossos.

3. Ações humanas:

Além do corpo humano, são retratadas também as ações do homem, como a refeição em comum ou ceia, o banho ou a dança. Podemos elencar aqui também alguns “ofícios”, como o pastor, o pescador ou mesmo o peregrino.

4. Animais:

A simbologia dos animais está amplamente presente na Sagrada Escritura e na tradição da Igreja. Um dos primeiros símbolos cristãos foi um animal, o peixe, cujas iniciais em grego (ΙΧΘΥΣ, ichthys) formam o acróstico: “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador” (Ἰησοῦς Χριστός, Θεοῦ ͑Υιός, Σωτήρ)

O Dicionário aborda cerca de 80 animais: da abelha ao veado, passando pela águia, o leão, o cordeiro, o pelicano, a serpente, entre outros.

5. Seres mitológicos:

Dos animais deriva o grupo dos seres mitológicos, como o dragão ou a fênix. Alguns são de fato a fusão de dois animais, como o grifo, que une a águia ao leão, isto é, o céu à terra, sendo imagem da dupla natureza de Cristo (divina e humana).

6. Plantas:

Do reino animal passamos ao reino vegetal, também muito presente na Escritura e na tradição. Pensemos na figueira, na palmeira, na oliveira, no trigo, na uva, sem contar as flores, como a rosa ou o lírio.

7. Alimentos:

O pequeno grupo dos alimentos faz a síntese entre a natureza e o homem, uma vez que são os “frutos da terra e do trabalho do homem”: o azeite, o pão e o vinho, além dos dons dos animais: o leite e o ovo.

8. Elementos da natureza:

Ainda no tema da natureza, há muitos outros elementos simbólicos recorrentes inclusive nas celebrações litúrgicas: a água, a cinza, o fogo, sem contar o sol, a lua, as estrelas, o arco-íris, o céu.

9. Formas geométricas:

Nesta categoria elencamos tanto as formas geométricas propriamente ditas, como o círculo ou o triângulo, quanto os elementos arquitetônicos: a coluna, a porta.

10. Objetos:

Maior grupo de símbolos do Dicionário, com mais de 120 verbetes, encontramos aqui os mais diversos objetos, desde as armas - como a espada, a lança, o arco, o escudo -, até o vestuário com seus adereços - o anel, a coroa, chapéu, o manto -, passando pelos instrumentos de trabalho - o arado, a foice, o machado, a pena de escrever, a rede -, os objetos do dia-a-dia - a chave, a lamparina, a faca, a moeda - e mesmo os instrumentos musicais - a harpa, o sino, a trombeta - e objetos sagrados - o altar, o cálice, o turíbulo.

11. Escatologia:

Um tema recorrente na arte cristã é a escatologia, isto é, a doutrina sobre as coisas últimas: os anjos, os demônios, o inferno, o paraíso, o juízo final.

12. Simbologia:

Por fim, merece uma menção especial um grupo de verbetes que reflete sobre a simbologia de determinados temas:

a) Simbologia das cores (branco, vermelho, azul, verde...) e dos números (um, dois, três, sete, doze...);

b) Símbolos de Cristo: Se o verbete Cristo apresentou as representações do Filho de Deus feito homem, aqui se elencam seus outros símbolos, remetendo a vários outros verbetes (o cordeiro, o pastor, a cruz, o alfa e ômega...). O mesmo vale para os símbolos de Maria, da Trindade e dos evangelistas;

c) Simbologia da Paixão e da Ressurreição: dois verbetes muito interessantes, que apresentam os paralelos do Antigo Testamento para cada momento dos mistérios da Paixão e da Ressurreição do Senhor.

d) Simbologia do Batismo, símbolos eucarísticos, simbologia do casamento: Também para estes três sacramentos o autor remete para outros verbetes a eles relacionados;

e) Símbolos das virtudes e dos vícios: Dois verbetes complementares. De um lado apresentam-se os símbolos das sete virtudes fundamentais (as três teologais - fé, esperança e caridade - e as quatro cardeais - prudência, justiça, fortaleza e temperança) e do outro os símbolos dos sete pecados capitais (gula, luxúria, preguiça, avareza, ira, inveja e soberba).

f) Simbologia da morte, símbolos da eternidade, símbolos do diabo: Por fim, estes três verbetes retomam a temática escatológica, sobre a qual já nos referimos acima.

Capa original da obra em alemão

Sobre o autor:

Gerd Heinz-Mohr (28 de dezembro de 1913 - 05 de julho de 1989) foi um teólogo e historiador da arte alemão. Proferiu conferências sobre espiritualidade em diversas igrejas luteranas da Alemanha, o que despertou seu interesse pela arte sacra e levou-o à compilação do Dicionário dos Símbolos.

Infelizmente, no momento da publicação deste artigo o livro não se encontra disponível para ser adquirido no site da editora. Nossos leitores podem procurá-lo em bibliotecas ou livrarias especializadas em livros usados.

[1] Como cada um dos 110 verbetes da obra é bastante completo, dividimos nossa apresentação em três partes: verbetes 1 a 40 (A-E), 41 a 76 (F-O) e 77 a 110(P-V).

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