Após refletir sobre o sacerdócio batismal dos fiéis nos últimos textos do ano de 2020, o site Vatican News dedicou os três primeiros textos do ano de 2021 à participação dos fiéis no tríplice múnus de Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei:
O múnus sacerdotal do
cristão
06 de janeiro de 2021
No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II”, vamos falar hoje sobre “o múnus sacerdotal do cristão”.
Neste ano de 2021 que se inicia, daremos continuidade a este
nosso espaço dedicado ao aprofundamento dos Documentos conciliares, sempre
contando com a preciosa contribuição do Padre Gerson Schmidt, que tem nos
acompanhando na exposição destes temas.
Neste primeiro programa do ano, o sacerdote incardinado na
Arquidiocese de Porto Alegre nos fala sobre o “múnus sacerdotal do cristão”,
dando assim continuidade ao programa precedente, quando falou da “Tríplice
missão do Povo de Deus”:
O Concílio Vaticano II deu destaque a tríplice missão do
leigo - o múnus sacerdotal, profético e real. Na Exortação Apostólica
pós-sinodal Cristhifideles Laici,
João Paulo II salienta a missão sacerdotal do cristão leigo, afirmada pela Lumen Gentium no número 34: “Os fiéis
leigos participam no múnus sacerdotal pelo qual Jesus se ofereceu a Si mesmo
sobre a Cruz e continuamente Se oferece na celebração da Eucaristia para glória
do Pai e pela salvação da humanidade. Incorporados em Cristo Jesus, os
batizados unem-se a Ele e ao Seu sacrifício, na oferta de si mesmos e de todas
as suas atividades (cf. Rm 12,1-2)”.
Ao falar dos fiéis leigos, o Concílio diz: “Todos os seus
trabalhos, orações e empreendimentos apostólicos, a vida conjugal e familiar, o
trabalho de cada dia, o descanso do espírito e do corpo, se forem feitos no
Espírito, e as próprias incomodidades da vida, suportadas com paciência, se
tornam em outros tantos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus
Cristo (cf. 1Pd 2,5); sacrifícios
estes que são piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com a oblação do Corpo
do Senhor, na celebração da Eucaristia. E deste modo, os leigos, agindo em toda
a parte santamente, como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo”.
A Constituição Dogmática Lumen
Gentium, falando da consagração do mundo pelo apostolado dos leigos, ainda
diz: “O supremo e eterno sacerdote Cristo Jesus, querendo também por meio dos
leigos continuar o Seu testemunho e serviço, vivifica-o pelo Seu Espírito e sem
cessar os incita a toda a obra boa e perfeita. E assim, àqueles que intimamente
associou à própria vida e missão, concedeu também participação no seu múnus
sacerdotal, a fim de que exerçam um culto espiritual, para glória de Deus e
salvação dos homens. Por esta razão, os leigos, enquanto consagrados a Cristo e
ungidos no Espírito Santo, têm uma vocação admirável e são instruídos para que
os frutos do Espírito se multipliquem neles cada vez mais abundantemente”.
Portanto, trabalhos, orações, empreendimentos, vida conjugal
e familiar, incomodidades da vida, sacrifícios outros, tudo oferecido ao Pai,
na Eucaristia... serão maneiras de exercer o múnus sacerdotal do leigo,
participando da missão sacerdotal de Cristo.
O Catecismo da Igreja
Católica também fala sobre a participação dos leigos na missão sacerdotal
de Cristo. No número 901 diz assim: “Os leigos, em virtude de sua consagração a
Cristo e da unção do Espírito Santo, recebem a vocação admirável e os meios que
permitem ao Espírito produzir neles frutos sempre mais abundantes. Assim, todas
as suas obras, preces e iniciativas apostólicas, vida conjugal e familiar,
trabalho cotidiano, descanso do corpo e da alma, se praticados no Espírito, e
mesmo as provações da vida, pacientemente suportadas, se tornam ‘hóstias
espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo’ (1Pd 2,5), hóstias que são piedosamente oferecidas ao Pai com a oblação
do Senhor na celebração da Eucaristia. É assim que os leigos consagram a Deus o
próprio mundo, prestando a Ele, em toda parte, na santidade de sua vida, um
culto de adoração”.
No número 784 do Catecismo
acentua-se essa vocação sacerdotal do Povo de Deus: “Ao entrar no Povo de Deus
pela fé e pelo Batismo, recebe-se participação na vocação única deste povo, em
sua vocação sacerdotal: ‘Cristo Senhor, Pontífice tomado dentre os homens, fez
do novo povo um reino e sacerdotes para Deus Pai'. Pois os batizados, pela
regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados para ser uma morada
espiritual e sacerdócio santo”.
No número 902 do Catecismo
diz-se ainda: “De maneira especial, os pais participam do múnus de santificação
quando levam uma vida conjugal com espírito cristão e velando pela educação
cristã dos filhos”.
O múnus profético do
cristão
13 de janeiro de 2021
No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II”, vamos falar hoje sobre “o múnus profético do cristão”.
Pelo Batismo, os fiéis participam do sacerdócio de Cristo,
de sua missão profética e régia. Jesus quis “um povo santo e sacerdotal, uma
raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus para
anunciar os seus louvores” (1Pd 2,4-10).
Essa tríplice missão do povo de Deus foi de modo particular
destacada no Concílio Vaticano II, motivo pelo qual o Padre Gerson Schmidt -
que tem nos acompanhado na exposição dos Documentos conciliares - a ela tem
dedicado alguns programas. Naquele da última semana, por exemplo, nos falou
sobre “o múnus sacerdotal do cristão”. E hoje, nos fala sobre “o múnus
profético do cristão”:
O Concílio Vaticano II deu destaque a tríplice missão do
leigo - o múnus sacerdotal, profético e real. No encontro anterior falamos da
missão sacerdotal do Povo de Deus.
Hoje falamos da missão profética laical. A Constituição Dogmática
Lumen Gentium, no número 35, aponta
essa missão evangelizadora e profética do leigo: “Do mesmo modo que os
sacramentos da nova lei, que alimentam a vida e o apostolado dos fiéis,
prefiguram um novo céu e uma nova terra (cf.
Ap 21,1), assim os leigos tornam-se valorosos arautos da fé naquelas realidades
que esperamos (cf. Hb 11,1), se
juntarem sem hesitação, a uma vida de fé, a profissão da mesma fé. Este modo de
evangelizar, proclamando a mensagem de Cristo com o testemunho da vida e com a
palavra, adquire um certo caráter específico e uma particular eficácia por se
realizar nas condições ordinárias da vida no mundo”.
Na Exortação Apostólica pós-sinodal Cristhifideles Laici, João Paulo II salientando também a missão
profética do cristão leigo, afirmava assim: “A participação no múnus profético
de Cristo, que, pelo testemunho da vida e pela força da palavra, proclamou o
Reino do Pai, habilita e empenha os fiéis leigos a aceitar, na fé, o Evangelho
e a anunciá-lo com a palavra e com as obras, sem medo de denunciar corajosamente
o mal. Unidos a Cristo, o ‘grande profeta’ (Lc
7,16), e constituídos no Espírito ‘testemunhas’ de Cristo Ressuscitado, os
fiéis leigos tornam-se participantes quer do sentido de fé sobrenatural da
Igreja que não pode errar no crer, quer da graça da palavra (At 2,17-18; Ap 19,10); eles são igualmente chamados a fazer brilhar a novidade
e a força do Evangelho na sua vida quotidiana, familiar e social, e a
manifestar, com paciência e coragem, nas contradições da época presente, a sua
esperança na glória também por meio das estruturas da vida secular”.
O Catecismo da Igreja
Católica também fala sobre a participação dos leigos na missão profética de
Cristo. Diz assim no número 905: “Os leigos exercem sua missão profética também
pela evangelização, isto é, o anúncio de Cristo feito pelo testemunho da vida e
pela palavra”. Nos leigos, “esta evangelização... adquire características
específicas e eficácia peculiar pelo fato de se realizar nas condições comuns
do século”.
Também exercem um anúncio profético pelo testemunho,
conforme o número 2044 do Catecismo,
que afirma: “A fidelidade dos batizados é condição primordial para o anúncio do
Evangelho e para a missão da Igreja no mundo. Para manifestar diante dos homens
sua força de verdade e de irradiação, a mensagem da salvação deve ser
autenticada pelo testemunho de vida dos cristãos: O próprio testemunho da vida
cristã e as boas obras feitas em espírito sobrenatural possuem a força de
atrair os homens para a fé e para Deus. Este apostolado não consiste apenas no
testemunho da vida: o verdadeiro Apóstolo procura as ocasiões para anunciar
Cristo pela palavra, seja aos descrentes... seja aos fiéis”. No número 906, o Catecismo ainda afirma: “Os leigos que
forem capazes e que se formarem para isto podem também dar sua colaboração na
formação catequética, no ensino das ciências sagradas e atuar nos meios de
comunicação social”.
O múnus real dos
fiéis leigos
20 de janeiro de 2021
No nosso espaço “Memória Histórica - 50 anos do Concílio
Vaticano II”, vamos falar hoje sobre “o múnus real dos fiéis leigos”.
“Vós, porém, sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação
santa, o povo que Deus adquiriu para anunciar as maravilhas d'Aquele que vos
chamou das trevas à Sua luz admirável. (1Pd
2,9). Dando sequência à série de programas sobre a “tríplice missão dos
leigos”, Padre Gerson Schmidt - depois de nos ter falado sobre o “múnus
sacerdotal” e o “múnus profético” do cristão - nos propõe hoje uma reflexão
sobre “o múnus real dos fiéis leigos”. De fato, ao pertencerem a Cristo Senhor
e Rei do universo, os fiéis leigos “participam no Seu múnus real e por Ele são
chamados para o serviço do Reino de Deus e para a sua difusão na história.
Vivem a realeza cristã, sobretudo no combate espiritual para vencerem dentro de
si o reino do pecado” (Christifideles
Laici):
O Concílio Vaticano II nos deu uma importante visão da
tríplice missão do leigo na Igreja e no mundo - o múnus sacerdotal, profético e
real. Já aprofundamos a missão sacerdotal e profética do leigo. Hoje falaremos
da missão régia do Povo de Deus. A Constituição dogmática Lumen Gentium aponta, no número 36: “Por consequência, devem os
fiéis conhecer a natureza íntima e o valor de todas as criaturas, e a sua
ordenação para a glória de Deus, ajudando-se uns aos outros, mesmo através das
atividades propriamente temporais, a levar uma vida mais santa, para que assim
o mundo seja penetrado do espírito de Cristo e, na justiça, na caridade e na
paz, atinja mais eficazmente o seu fim. Na realização plena deste dever, os
leigos ocupam o lugar mais importante. Por conseguinte, com a sua competência
nas matérias profanas, e a sua atuação interiormente elevada pela graça de
Cristo, contribuam eficazmente para que os bens criados sejam valorizados pelo
trabalho humano, pela técnica e pela cultura para utilidade de todos os homens,
sejam melhor distribuídos entre eles e contribuam a seu modo para o progresso
de todos na liberdade humana e cristã, em harmonia com o destino que lhes deu o
Criador e segundo a iluminação do Verbo. Deste modo, por meio dos membros da
Igreja, Cristo iluminará cada vez mais a humanidade inteira com a Sua luz
salvadora”.
A Exortação Apostólica pós-sinodal Christifideles Laici de São João Paulo II, que fala sobre a vocação
e missão dos fiéis leigos na Igreja e no mundo, aponta para a participação dos
fiéis leigos na missão real de Cristo: “Ao pertencerem a Cristo Senhor e Rei do
universo, os fiéis leigos participam no Seu múnus real e por Ele são chamados
para o serviço do Reino de Deus e para a sua difusão na história. Vivem a
realeza cristã, sobretudo no combate espiritual para vencerem dentro de si o
reino do pecado (cf. Rm 6,12), e
depois, mediante o dom de si, para servirem, na caridade e na justiça, o
próprio Jesus presente em todos os seus irmãos, sobretudo nos mais pequeninos (Mt 25,40). Mas os fiéis leigos são
chamados de forma particular a restituir à criação todo o seu valor originário.
Ao ordenar as coisas criadas para o verdadeiro bem do homem, com uma ação
animada pela vida da graça, os fiéis leigos participam no exercício do poder
com que Jesus Ressuscitado atrai a Si todas as coisas e as submete, com Ele
mesmo, ao Pai, por forma a que Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28; Jo 12,32)”.
O Catecismo da Igreja
Católica também fala sobre a participação dos leigos na missão real de Cristo.
Diz assim no número 912: Os fiéis devem “distinguir acuradamente entre os
direitos e os deveres que lhes incumbem enquanto membros da Igreja e os que
lhes competem enquanto membros da sociedade humana. Procurarão conciliar ambos
harmonicamente entre si, lembrados de que em qualquer situação temporal devem
conduzir-se pela consciência cristã, uma vez que nenhuma atividade humana, nem
mesmo nas coisas temporais, pode ser subtraída ao domínio de Deus”.
Esse tríplice múnus de Cristo Sacerdote, Profeta e Rei que encontra
a sua raiz primeira na unção do Batismo, o seu desenvolvimento na Confirmação e
a sua perfeição e sustento dinâmico na Eucaristia, é uma participação que se
oferece a cada um dos fiéis leigos, enquanto formam o único corpo do Senhor.
Com efeito, é a Igreja que Jesus enriquece com os Seus dons, qual Seu Corpo e
Sua Esposa. Assim, os indivíduos participam no tríplice múnus de Cristo
enquanto membros da Igreja e da sociedade.
Cristo Rei entre o Profeta Elias e o Sacerdote Melquisedec (Vitral da Pró-Catedral de São Patrício em Dundalk, Irlanda) |
Fonte: Vatican News
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