sábado, 30 de janeiro de 2021

Homilia: IV Domingo do Tempo Comum - Ano B

São Jerônimo
Comentário sobre o Evangelho de São Marcos
Não digas o Santo de Deus, mas o Deus Santo

Entram em Cafarnaum e, num dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e lhes ensinava: que abandonassem o ócio do sábado e assumissem as obras do Evangelho. Ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. Pois não dizia: “isto diz o Senhor”, ou “aquele que me enviou diz o seguinte”, mas falava na primeira pessoa, o mesmo que outrora falara pelos profetas. Uma coisa é dizer “está escrito”, outra “isto diz o Senhor” e, outra ainda, “em verdade vos digo”.

Observai outra passagem: Diz: está escrito na Lei: não matarás, não repudiarás a tua mulher. Está escrito. Por quem está escrito? Por Moisés, mas Deus o ordenando. Se está escrito pelo dedo de Deus, como te atreves a dizer: em verdade vos digo, se não és tu mesmo o que antes deste a Lei? Ninguém se atreve a mudar a lei, se não é o rei. A Lei foi dada pelo Pai ou pelo Filho? Responde, herege! Aceito de bom grado o que digas: para mim foram os dois. Se a deu o Pai, também é o Pai quem a muda, portanto o Filho é igual ao Pai, porque muda a Lei juntamente com quem a deu. Seja que Ele a deu, seja que Ele a muda, demonstra a mesma autoridade ao tê-la dado ou ao tê-la mudado, coisa que ninguém pode fazer além do rei.

Admiravam-se dos seus ensinamentos. Eu me pergunto: O que tinha ensinado de novo? O que de novo tinha pregado? Dizia por si mesmo as mesmas coisas que tinham dito os profetas. Mas admiravam-se por isto, porque ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. Não ensinava como um mestre, mas como o Senhor; não falava apoiando-se em outra autoridade superior, mas falava Ele mesmo com a autoridade que lhe era própria. Falava, assim, em definitivo, porque com sua própria essência estava dizendo o que tinha dito mediante os profetas. Sou quem falava, eis que estou presente.

O espírito impuro que tinha estado na sinagoga e que os tinha levado à idolatria, do qual está escrito: Fostes seduzidos pelo espírito da fornicação, era o espírito que tinha saído de um homem, e percorria o deserto, o que buscou repouso e não encontrou e que, tomando consigo a outros sete demônios, regressou à sua antiga morada. Naquele tempo, esses espíritos estavam na sinagoga e não podiam suportar a presença do Salvador. Que têm em comum Cristo e Belial? Impossível que os dois habitem na mesma comunidade. Encontrava-se na sinagoga um homem possuído por um espírito impuro, que começou a gritar, dizendo: O que há entre ti e nós? É somente um, mas fala em nome de muitos. Por ele ser vencido, compreendeu que tinham sido vencidos também os seus companheiros, e começou a gritar. Começou a gritar como quem está imerso na dor, como quem não pode suportar a flagelação.

E começou a gritar, dizendo: Que há entre ti e nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Sei quem és, o Santo de Deus. Imerso nos tormentos e manifestando com seus gritos o tamanho dos mesmos, contudo, não põe fim às suas mentiras. Vê-se obrigado à dizer a verdade, obrigam-lhe os tormentos, mas a malícia o impede. Que há entre ti e nós, Jesus Nazareno? Por que não confessa que é o Filho de Deus? Atormenta-te o Nazareno e não o Filho de Deus? Sentes seus castigos e não confessas seu nome? Isto com respeito a Jesus Nazareno.

Vieste para nos destruir? É certo isto que dizes: Vieste para nos destruir. Sei quem és. Vejamos o que ele acrescenta: o Santo de Deus. Não foi Moisés o santo de Deus? Não foi Isaías? Não foi Jeremias? Disse o Senhor: Antes que nascesses, te santifiquei no seio materno. Isto foi dito a Jeremias, e não foi o santo de Deus? Mas por que não dizes a cada um deles: Sei quem és, o Santo de Deus? Ó, que mente tão perversa! Imerso na tortura e nos tormentos, apesar de conhecer a verdade, não quer confessá-la! Sei quem és, o Santo de Deus. Não digas o Santo de Deus, mas o Deus Santo. Finge saber quem é, mas não o sabes. Porque uma das duas: ou o sabes e hipocritamente te calas, ou simplesmente não o sabes. Pois Ele não é o Santo de Deus, mas o Deus Santo.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 377-379. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Para ler uma homilia de São João Crisóstomo para este domingo, clique aqui.

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