quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Jubileu dos Militares no ano 2000

No dia 19 de novembro do ano 2000 o Papa João Paulo II celebrou a Santa Missa do XXXIII Domingo do Tempo Comum (ano B) na Praça de São Pedro por ocasião do Jubileu dos Militares e da Polícia no Ano Santo.

Jubileu dos Militares
Homilia do Papa João Paulo II
19 de novembro de 2000

1. “Então verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória” (Mc 13,26).
Neste penúltimo domingo do Tempo Comum, a Liturgia fala-nos da segunda vinda de Cristo. O Senhor aparecerá sobre as nuvens, revestido de glória e de poder. É precisamente o Filho do Homem, misericordioso e compassivo, que os discípulos conheceram no seu itinerário terrestre. Quando chegar o momento da sua manifestação gloriosa, Ele virá completar definitivamente a história humana.
Através do simbolismo de assolamentos cosmológicos, o evangelista Marcos recorda que Deus pronunciará no Filho o seu juízo acerca das vicissitudes dos homens, pondo fim a um universo corrompido pela mentira e dilacerado pela violência e a injustiça.


2. Caríssimos militares e membros das Forças de Polícia, rapazes e moças, quem melhor do que vós pode dar testemunho acerca da violência e das forças desagregadoras do mal, presentes no mundo? Vós lutais todos os dias contra elas: com efeito, sois chamados a defender os frágeis, a tutelar os honestos e a favorecer a convivência pacífica dos povos. A cada um de vós cabe o papel de sentinela, que observa ao longe para esconjurar o perigo e promover a justiça e a paz em toda a parte.

Saúdo todos vós com afeto, estimados irmãos e irmãs, vindos a Roma de inúmeras regiões da terra para celebrar o vosso Jubileu especial. Sois os representantes de exércitos que se confrontaram ao longo da história. Hoje vos encontrais junto do Túmulo do Apóstolo Pedro para celebrar Cristo, nossa paz. De dois povos, Ele fez um só. Na sua carne, derrubou o muro da separação: o ódio” (Ef 2,14). A Ele, misteriosa e realmente presente na Eucaristia, viestes oferecer os vossos propósitos e o vosso quotidiano compromisso de construtores da paz.
A cada um de vós exprimo o mais íntimo apreço pela abnegação e o empenhamento generoso. Dirijo o meu pensamento com fraterna estima em primeiro lugar a Dom José Manuel Estepa Llaurens, que se fez intérprete dos vossos comuns sentimentos. Depois, a minha saudação estende-se aos diletos Arcebispos e Bispos Ordinários Militares, que parabenizo pela dedicação com que se entregam ao vosso cuidado pastoral. Além deles, saúdo os Capelães Militares, que generosamente compartilham os ideais e os afãs da vossa árdua atividade diária. O meu pensamento respeitoso dirige-se, outrossim, aos oficiais das Forças Armadas, aos responsáveis das Forças da Polícia e dos vários organismos de segurança, assim como às autoridades civis, que quiseram compartilhar a alegria e a graça desta solene celebração jubilar.

3. A vossa experiência quotidiana leva-vos a enfrentar situações difíceis e às vezes dramáticas, que colocam em perigo a segurança humana. Porém, o Evangelho conforta-nos apresentando a figura vitoriosa de Cristo, juiz da história. Com a sua presença, Ele ilumina a escuridão e até mesmo o desespero do homem, oferecendo a quem n'Ele confia a consoladora certeza da Sua assistência constante.
No Evangelho há pouco proclamado, escutamos uma referência significativa à figueira, cujos ramos, com o brotar dos primeiros rebentos, anunciam o tempo primaveril já próximo. Com estas suas palavras, Jesus encoraja os Apóstolos a não se renderem perante as dificuldades e as incertezas do tempo presente. Exorta-os sobretudo a saber esperar e a preparar-se para O receber quando Ele vier. Hoje também vós, caríssimos irmãos e irmãs, sois convidados pela Liturgia a saber perscrutar os “sinais dos tempos”, em conformidade com uma expressão apreciada pelo meu venerado predecessor Papa João XXIII, recentemente proclamado Beato.
Por mais complexas e problemáticas que as situações sejam, não desanimeis. O germe da esperança jamais deve desfalecer no coração do homem. Pelo contrário, estai sempre atentos a captar e a encorajar qualquer sinal positivo de renovação pessoal e social. Estai prontos a favorecer com qualquer meio a impávida edificação da justiça e da paz.

4. A paz é um direito fundamental de cada homem e há de ser promovida perenemente, tendo em conta o fato de que “na medida em que os homens são pecadores, o perigo da guerra ameaça, e será assim até à vinda de Cristo” (Gaudium et spes, n. 78). Às vezes esta tarefa, como também a experiência recente demonstrou, comporta iniciativas concretas para desarmar o agressor. Aqui tenciono referir-me à chamada “ingerência humanitária” que, após o fracasso dos esforços da política e dos instrumentos de defesa não violentos, representa a extrema tentativa a que se deve recorrer para deter a mão do agressor injusto.
Caríssimos, obrigado pela vossa corajosa obra de pacificação em países devastados por guerras absurdas; obrigado pelo socorro que prestais, desprezando os perigos, em benefício de populações atingidas por calamidades naturais. Como são numerosas as missões humanitárias em que estais comprometidos nestes últimos anos! Desempenhando o vosso árduo dever, não raro estais expostos a perigos e a pesados sacrifícios. Fazei com que cada uma das vossas intervenções evidencie sempre a vossa autêntica vocação de “instrumentos da segurança e liberdade dos povos” que “contribuam... para estabelecer a paz”, segundo a feliz expressão do Concílio Vaticano II (ibid., n. 79).
Sede homens e mulheres de paz. E para o poder ser plenamente, acolhei no vosso coração Cristo, autor e garante da verdadeira paz. Ele vos tornará capazes da fortaleza evangélica que faz vencer as fascinantes tentações da violência. Ajudar-vos-á a colocar a força a serviço dos grandes valores da vida, da justiça, do perdão e da liberdade.

5. Aqui gostaria de prestar homenagem a muitos dos vossos amigos que pagaram com a vida a fidelidade à sua missão. Esquecendo-se de si mesmos, desprezando o perigo, prestaram à comunidade um serviço inestimável. E hoje, durante a Celebração Eucarística, confiamo-los ao Senhor com gratidão e admiração.
Mas onde foi que eles hauriram o vigor necessário para cumprir a sua tarefa até ao fim, se não na total adesão aos ideais professados? Muitos deles acreditaram em Cristo e a sua palavra iluminou a existência deles e deu um valor exemplar ao seu sacrifício. Eles fizeram do Evangelho o código dos seus comportamentos. Sirva-vos de encorajamento o modelo destes vossos colegas que, cumprindo fielmente o próprio dever, alcançaram os píncaros do heroísmo e por vezes da santidade.
Assim como eles, também vós olhais para Cristo que vos chama “à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade”. Chama-vos a ser santos. E para poder realizar esta vossa vocação, segundo a conhecida expressão do Apóstolo Paulo, “vesti a armadura de Deus... Ficai, portanto, bem firmes, superando todas as provas: cingidos com o cinturão da verdade, vestidos com a couraça da justiça, os pés calçados com o zelo para propagar o evangelho da paz; tende sempre na mão o escudo da fé... Ponde o capacete da salvação e empunhai a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Ef 6,13-17). Sobretudo, “rezai incessantemente” (v. 18).
Sustente-vos e assista-vos na vossa não fácil atividade Maria, a virgo fidelis. O vosso coração jamais se confunda; pelo contrário, fique pronto, vigilante e solidamente ancorado na promessa de Jesus, que no Evangelho de hoje nos garantiu a sua ajuda e tutela: “O céu e a terra desaparecerão, mas as minhas palavras não desaparecerão” (Mc 13,31).
Invocando Cristo, continuai a desempenhar o vosso dever com generosidade. Inúmeras pessoas olham para vós e em vós confiam, na esperança de poderem gozar de uma existência na serenidade, na ordem e na paz.


Fonte: Santa Sé.

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