São Jerônimo
Comentário ao Evangelho de Marcos
Vinde
após mim e vos farei pescadores de homens
E margeando o mar da Galileia, Jesus viu
Simão e André, seu irmão, lançando as redes no mar, pois eram pescadores.
Simão, que ainda não era Pedro, porque ainda não tinha seguido a Pedra
(Cristo), para que pudesse chamar-se Pedro; Simão, pois, e seu irmão André
estavam à margem lançando as redes ao mar e apanharam peixes. Viu, diz, Simão e André, seu irmão, lançando as redes no mar, pois eram
pescadores. O Evangelho somente afirma que lançaram as redes, mas não que
apanharam algo. Portanto, antes da Paixão se afirma que lançaram as redes, mas
não há evidências de que capturaram alguma coisa.
Contudo, após a
Paixão, lançaram a rede e pescaram tanto que as redes se rompiam. Lançando as redes no mar, pois eram
pescadores. E Jesus lhes disse: Vinde
após mim e vos farei pescadores de homens. Feliz mudança de pesca! Jesus os
pesca, para que por sua vez eles pesquem a outros pescadores. Primeiro se fazem
peixes para serem pescados por Cristo; depois eles mesmos pescarão a outros. Jesus lhes disse: Vinde após mim e vos farei pescadores de homens.
E, no mesmo instante, deixando as suas redes,
o seguiram. A verdadeira fé não conhece hiato; assim que ouve, crê, segue,
e se converte em pescador. No mesmo
instante, deixando as redes. Eu penso que nas redes deixaram os pecados do
mundo. E o seguiram. De fato, não era
possível que, seguindo a Jesus, mantivessem as redes.
E caminhando um pouco mais adiante, viu
Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão, João; também estavam na barca consertando
as redes. Quando se disse “consertando”,
significa que se tinham rompido. Sendo que lançavam as redes ao mar, porém,
como estavam rompidas, não podiam capturar peixes. Consertavam as redes no mar,
ou seja, sentavam-se no mar, sentavam-se em uma pequena barca, com seu pai
Zebedeu, e consertavam as redes da Lei. Tenho dito isto, seguindo uma
interpretação espiritual. Os que consertavam as redes na barca eram justamente
os mesmos que nela estavam. Estavam na barca: não no litoral, não em terra
firme, mas na barca, golpeados pelos dois lados pelas ondas.
E no mesmo instante os chamou. E eles,
deixando seu pai Zebedeu na barca, com os empregados, o seguiram. Talvez
alguém diga: temerária é a fé. Por que, que sinais tinham visto, que esplendor
se lhes manifestara, para que, ao serem chamados, imediatamente lhe seguissem?
Realmente aqui nos é dado entender que os olhos e a face de Jesus irradiavam
algo de divino, e atraíam fortemente para si a atenção daqueles que o olhavam.
Do contrário, quando Jesus lhes dizia: Segui-me,
nunca o teriam seguido. Porque se o tivessem seguido sem um motivo, então a fé
teria sido temeridade.
É como se a mim,
que estou aqui sentado, qualquer um que passe me diz: “Vem, segue-me”, e eu o
seguisse, acaso teria fé nele? Por que digo tudo isto? Porque a palavra do
Senhor era eficaz e fazia o que dizia. Sim, porque falou e todas as coisas foram feitas, ordenou e foram criadas. Do
mesmo modo os chamou e, no mesmo instante, o seguiram.
E no mesmo instante os chamou. E eles
imediatamente o seguiram, deixando seu pai Zebedeu... Escuta, filha, observa e apura o ouvido, esquece ao teu povo e a casa
de teu pai, e o rei vai desejar a sua beleza. Escutai, monges, imitai os
Apóstolos: escutai a voz do Salvador e esquecei de vosso pai carnal. Contemplai
o verdadeiro pai da alma e do espírito, e deixai o pai corporal. Os Apóstolos
deixam o pai, deixam a barca, deixam todas as riquezas em um instante: deixam o
mundo e todas as suas infinitas riquezas. Pois tudo o que tinham abandonaram.
Deus não se atém na quantidade das riquezas, mas no espírito de quem as
abandona. Aqueles que deixaram pouco, igualmente teriam deixado tudo. Deixando seu pai Zebedeu na barca, com os
empregados, o seguiram. Pouco antes dissemos algo de modo enigmático sobre
os Apóstolos, que lançavam as redes da Lei. Rompidas como estavam, não podiam
capturar peixes; corroídas pela salubridade do mar, não podiam ser reparadas se
não tivesse vindo o sangue de Jesus e as tivesse renovado.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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