sexta-feira, 18 de junho de 2021

Ladainha do Sagrado Coração de Jesus meditada por João Paulo II (15)

Das invocações da Ladainha do Sagrado Coração ligadas à Paixão, passamos às invocações ligadas ao mistério da Ressurreição (28ª e 29ª):
Cor Iesu, vita et resurrectio nostra, miserere nobis.
Cor Iesu, pax et reconciliatio nostra, miserere nobis.

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29. Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição
Ângelus do dia 27 de agosto de 1989

Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição, tende piedade de nós.
1. Esta invocação da Ladainha do Sagrado Coração, forte e convicta como um ato de fé, encerra em uma frase lapidar todo o mistério de Cristo Redentor. Recorda-nos as palavras dirigidas por Jesus a Marta, afligida pela morte do seu irmão Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11,25).
Jesus é a vida, que brota eternamente da divina fonte do Pai: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus... Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,1.4).
Jesus é vida em si mesmo: “Assim como o Pai possui a vida em si mesmo, do mesmo modo concedeu ao Filho possuir a vida em si mesmo” (Jo 5,26). No íntimo ser de Cristo, em seu Coração, a vida divina e a vida humana se unem harmonicamente, em plena e inseparável unidade.
Mas Jesus é também vida para nós. “Dar a vida” é o objetivo da missão que Ele, Bom Pastor, recebeu do Pai: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

2. Jesus é também a ressurreição. Nada é tão radicalmente contrário à santidade de Cristo - o Santo do Senhor (cf. Lc 1,35; Mc 1,24) - do que o pecado; nada é tão oposto a Ele, fonte de vida, do que a morte.
Um vínculo misterioso une pecado e morte (cf. Sb 2,24; Rm 5,12; 6,23; etc.): ambas são realidades essencialmente contrárias ao projeto de Deus para o homem, que não foi feito para a morte, mas para a vida. Diante de toda expressão de morte, o Coração de Cristo se comoveu profundamente e, por amor ao Pai e aos homens, seus irmãos, fez da sua vida um “admirável combate” contra a morte (Domingo de Páscoa, Sequência Victimae paschali laudes, 3ª estrofe): com uma palavra restituiu a vida física a Lázaro, ao filho da viúva de Naim, à filha de Jairo; com a força do seu amor misericordioso devolveu a vida espiritual a Zaqueu, a Maria Madalena, à adúltera e a quantos souberam reconhecer sua presença salvadora.

3. Irmãos e irmãs: ninguém experimentou tanto como Maria que o Coração de Jesus é vida e ressurreição:
- d’Ele, vida, Maria recebeu a vida da graça original e, na escuta de sua palavra e na observação atenta dos seus gestos salvíficos, pode guardá-la e nutri-la;
- por Ele, ressurreição, ela foi associada de modo singular à vitória sobre a morte: o mistério de sua Assunção em corpo e alma ao céu é consolador testemunho de que a vitória de Cristo sobre o pecado e sobre a morte se prolonga nos membros do seu Corpo Místico, e, como primeiro entre todos, em Maria, “membro excelentíssimo” da Igreja (Constituição Lumen gentium, n. 53).
Glorificada no céu, a Virgem está, com seu Coração de Mãe, a serviço da redenção realizada por Cristo. “Mãe da vida”, está junto de toda mulher que dá à luz um filho; está ao lado de toda fonte batismal onde, pela água e pelo Espírito (cf. Jo 3,5), nascem os membros de Cristo; “Saúde dos enfermos”, está onde a vida é golpeada pela dor e pela enfermidade; “Mãe de misericórdia”, ela chama quem caiu sob o peso da culpa para que volte às fontes da vida; “Refúgio dos pecadores”, aponta a quem se afastou dele o caminho que conduz a Cristo; “Virgem dolorosa” junto ao Filho que morre (cf. Jo 19, 25), ela está onde a vida se apaga.
Nós a invocamos com a Igreja: “Santa Maria, Mãe de Deus, roga por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte” Amém.

30. Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação
Ângelus do dia 03 de setembro de 1989

Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação, tende piedade de nós.
1. Queridos irmãos e irmãs:
Recitando com fé esta bela invocação da Ladainha do Sagrado Coração, um sentimento de confiança e de segurança se difunde em nosso espírito: Jesus é verdadeiramente nossa paz, nossa suprema reconciliação.
Jesus é nossa paz. É bem conhecido o significado bíblico do termo “paz”: indica, em síntese, a soma dos bens que Jesus, o Messias, trouxe aos homens. Por isto, o dom da paz marca o início de sua missão sobre a terra, acompanha seu desenvolvimento e constitui sua coroação. “Paz” cantam os anjos junto ao presépio do recém-nascido “Príncipe da Paz” (cf. Lc 2,14; Is 9,5). “Paz” é o desejo que brota do Coração de Cristo, comovido diante da miséria do homem enfermo no corpo (cf. Lc 8,48) ou no espírito (cf. Lc 7,50). “Paz” é a saudação luminosa do Ressuscitado a seus discípulos (cf. Lc 24,36; Jo 20,19.26), os quais, no momento de deixar esta terra, Ele confia à ação do Espírito, manancial de “amor, alegria, paz” (Gl 5,22).

2. Jesus é, ao mesmo tempo, nossa reconciliação. Como consequência do pecado, se produziu uma profunda e misteriosa fratura entre Deus, o Criador, e o homem, sua criatura. Toda a história da salvação não é mais do que a narração admirável das intervenções de Deus em favor do homem, a fim de que este, na liberdade e no amor, volte a Ele; a fim de que à situação de fratura suceda uma situação de reconciliação e de amizade, de comunhão e de paz.
No Coração de Cristo, cheio de amor pelo Pai e pelos homens, seus irmãos, teve lugar a perfeita reconciliação entre o céu e a terra: “Fomos reconciliados com Deus - diz o Apóstolo - pela morte do seu Filho” (Rm 5,10).
Quem deseja fazer a experiência da reconciliação e da paz, deve acolher o convite do Senhor e ir ao seu encontro (cf. Mt 11,28). Em seu Coração encontrará paz e descanso; ali, sua dúvida se transformará em certeza; a ansiedade, em repouso; a tristeza, em alegria; a perturbação, em serenidade. Ali encontrará alívio para a dor, coragem para superar o medo, generosidade para não render-se à degradação e para retomar o caminho da esperança.

3. Em tudo semelhante ao Coração do Filho é o Coração da Mãe. Também a Bem-aventurada Virgem é para a Igreja uma presença de paz e de reconciliação: não foi ela quem, por meio do anjo Gabriel, recebeu a maior mensagem de reconciliação e de paz que Deus já enviou ao gênero humano? (cf. Lc 1,26-38).
Maria deu à luz Aquele que é nossa reconciliação; ela estava ao pé da cruz quando, no sangue do Filho, Deus reconciliou “com Ele todas as cosas” (Cl 1,20); agora, glorificada no céu, tem - como recorda uma oração litúrgica - “um coração misericordioso para com os pecadores. Eles, confiando em seu amor materno, nela se refugiam, implorando o perdão” de Deus (cf. Missas de Nossa Senhora: Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Reconciliação, Prefácio).
Que Maria, Rainha da Paz, nos obtenha de Cristo o dom messiânico da paz e a graça da reconciliação, plena e perene, com Deus e com os irmãos.

Sagrado Coração de Jesus
(Vitral da igreja de São Vicente - Huttendorf, França)

Fonte: Santa Sé - 27 de agosto e 03 de setembro de 1989 (italiano; tradução nossa).

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