Na quarta-feira, 16 de junho de 2021, o Papa Francisco proferiu
sua última Catequese sobre a oração à luz do Catecismo da Igreja Católica. O
Pontífice concluiu o ciclo de Catequeses refletindo sobre “a oração da Hora de
Jesus” (nn. 2746-2751):
Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 16 de junho de 2021
A oração (38): A oração pascal de Jesus por nós
Estimados irmãos e
irmãs, bom dia!
Recordamos várias
vezes nesta série de catequeses que a oração é uma das características mais
marcantes da vida de Jesus: Jesus rezava, e rezava muito. No decurso da sua
missão, Jesus imergiu-se na oração, pois o diálogo com o Pai era o núcleo
incandescente de toda a sua existência.
Os Evangelhos
testemunham que a oração de Jesus se tornou ainda mais intensa e densa na hora
da sua Paixão e Morte. Estes acontecimentos culminantes da sua vida constituem
o âmago da pregação cristã: as últimas horas vividas por Jesus em Jerusalém são
o coração do Evangelho não só porque os Evangelistas dedicam um espaço
proporcionalmente maior para esta narração, mas também porque o acontecimento
da sua Morte e Ressurreição - como um relâmpago - ilumina a inteira vicissitude
de Jesus. Não era um filantropo que cuidava do sofrimento e das doenças
humanas: era e é muito mais. Nele não há apenas bondade: há algo mais, há
salvação, e não uma salvação episódica - a que me salva de uma doença ou de um
momento de desânimo - mas uma salvação total, messiânica, que dá esperança na
vitória definitiva da vida sobre a morte.
Portanto, nos dias
da sua última Páscoa encontramos Jesus totalmente imerso na oração.
Ele reza de forma
dramática no Jardim do Getsêmani - como ouvimos (Mc 14, 32-36) - assaltado por uma angústia mortal. No entanto,
naquele exato momento Jesus dirige-se a Deus, chamando-lhe “Abbá”, Pai (v. 36). Esta palavra
aramaica - que era a língua de Jesus - exprime intimidade, exprime confiança.
Precisamente quando sente as trevas que se adensam à sua volta, Jesus
atravessa-as com aquela pequena palavra: Abbá, Pai.
Jesus reza também
na cruz, envolto no silêncio obscuro de Deus. Contudo, nos seus lábios, mais
uma vez, aflora a palavra “Pai”. É a oração mais audaz, pois na cruz Jesus é o
intercessor absoluto: reza pelos outros, reza por todos, até por aqueles que o
condenam, sem que ninguém, exceto um pobre malfeitor, se declare a seu favor.
Todos estavam contra Ele ou eram indiferentes, apenas aquele malfeitor
reconhece o poder. «Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem» (Lc 23,34). No meio do drama, na dor
atroz da alma e do corpo, Jesus reza com as palavras dos salmos; com os pobres
do mundo, especialmente os esquecidos por todos, ele pronuncia as trágicas
palavras do Salmo 22: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?» (v. 2): Ele
sentia o abandono e rezava. Na cruz realiza-se o dom do Pai, que oferece o
amor, isto é, cumpre-se a nossa salvação. E também, mais uma vez, o chama “Meu
Deus”, “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”: ou seja, tudo, tudo é
oração, nas três horas da Cruz.
Por conseguinte,
Jesus reza nas horas decisivas da Paixão e Morte. E com a Ressurreição, o Pai
responderá à oração. A oração de Jesus é intensa, a oração de Jesus é única e
torna-se inclusive o modelo da nossa prece. Jesus rezou por todos, rezou também
por mim, por cada um de vós. Cada um de nós pode dizer: “Jesus, na cruz, rezou
por mim”. Orou. Jesus pode dizer a cada um de nós: “Rezei por ti na Última Ceia
e no madeiro da Cruz”. Até no mais doloroso dos nossos sofrimentos, nunca
estamos sós. A oração de Jesus está conosco. “E agora, Padre, aqui, nós que
estamos a ouvir isto, Jesus reza por nós?”. Sim, continua a orar para que a sua
palavra nos ajude a ir em frente. Devemos orar e recordar que Ele reza por nós.
Isto me parece o
aspecto mais bonito a recordar. Esta é a última catequese deste ciclo sobre a
oração: recordar a graça que não só imploramos, mas que, por assim dizer, fomos
“implorados”, já somos acolhidos no diálogo de Jesus com o Pai, na comunhão do Espírito
Santo. Jesus reza por mim: cada um de nós pode conservar isto no coração: não o
podemos esquecer. Até nos momentos mais difíceis. Já fomos acolhidos no diálogo
de Jesus com o Pai na comunhão do Espírito Santo. Fomos queridos em
Cristo Jesus, e também na hora da Paixão, Morte e Ressurreição tudo nos foi
oferecido. E então, com a oração e com a vida, mais não resta do que ter
coragem, esperança e com esta coragem e esperança sentir forte a oração de
Jesus e ir em frente: que a nossa vida seja um dar glória a Deus na consciência
de que Ele ora por mim ao Pai, que Jesus reza por mim.
Fonte: Santa Sé
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