Continuamos, nas
meditações do Papa sobre a Ladainha do Sagrado Coração, com as invocações
diretamente ligadas ao mistério da Paixão (24ª e 25ª):
Cor Iesu, attritum
propter scelera nostra, miserere nobis.
Cor Iesu, usque ad
mortem oboediens factum, miserere nobis.
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25. Coração de Jesus,
esmagado por nossos pecados
Ângelus do dia 31 de
agosto de 1986
1. Coração de Jesus,
esmagado por nossos pecados, tende piedade de nós.
Jesus de Nazaré, que durante a Última Ceia disse: “Este é o
meu Corpo, que será entregue por vós... Este é o cálice do meu Sangue,
derramado por vós...”.
Jesus: sacerdote fiel, que mediante o próprio sangue entra
no tabernáculo eterno.
Jesus: sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, que nos deixou
o seu sacrifício: “Fazei isto em memória de mim”.
Jesus - Coração de Jesus!
2. Coração de Jesus no Getsêmani, que “se entristece até a
morte”, que sente o “peso” terrível. Quando diz: “Ó Pai! Tudo é possível para
ti; afasta de mim este cálice” (Mc
14,36), Ele sabe, ao mesmo tempo, qual é a vontade do Pai, e não deseja outra
cosa que cumpri-la: beber o cálice até o fim.
Coração de Jesus, despedaçado com a eterna sentença: de
fato, Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho Unigênito...
3. Tantos séculos antes havia dito Isaías: “A verdade é que Ele
tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, Ele mesmo, nossas dores; e nós
pensávamos fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado” (Is 53,4).
Ele foi imolado por nossos delitos; e, todavia, não diziam
no Gólgota: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27,40)?
4. Assim diziam: o Profeta sabia. E Isaías dizia, tantos séculos
antes: “Ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de
nossos crimes... Todos nós vagávamos como ovelhas desgarradas, cada qual
seguindo seu caminho; e o Senhor fez recair sobre ele o pecado de todos nós... Ele
foi eliminado do mundo dos vivos; e por causa do pecado do meu povo foi
golpeado até morrer” (Is 53,5-8).
5. Esmagado por nossos crimes!
Coração de Jesus, esmagado por nossos pecados...
Os sofrimentos da agonia abraçam gradualmente todo o corpo
do Crucificado. Lentamente a morte chega ao coração.
Jesus disse: “Tudo está consumado” (Jo 19,30); “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).
Como iriam cumprir-se diversamente as Escrituras?
Como iriam cumprir-se diversamente as palavras do Profeta,
que disse: “Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens... e fará cumprir
com êxito a vontade do Senhor” (Is
53,11.10).
A vontade do Pai! Não a minha, mas a tua vontade!
5. Estamos unidos na oração contigo, Mãe de Cristo: contigo,
que participaste em seus sofrimentos (“condoluit”)...
Tu nos conduzes ao Coração do teu Filho agonizante na cruz,
quando em seu despojamento se revela até o fim como Amor.
Ó tu que participaste em seus sofrimentos, permite-nos
perseverar sempre, abraçando este mistério.
Mãe do Redentor! Aproxima-nos ao Coração do teu Filho!
26. Coração de Jesus,
feito obediente até a morte
Ângelus do dia 23 de
julho de 1989
Coração de Jesus,
feito obediente até a morte, tende piedade de nós.
1. Queridos irmãos e irmãs, esta invocação da Ladainha do
Sagrado Coração nos convida hoje a contemplar o Coração de Cristo obediente.
Toda a vida de Jesus está sob o sinal de uma perfeita obediência à vontade do
Pai, suprema e coeterna fonte do seu ser (cf.
Jo 1,1-2): um só é seu poder e
glória, uma só sua sabedoria; é recíproco seu infinito amor. Por esta comunhão
de vida e de amor o Filho adere plenamente ao projeto do Pai, que deseja a
salvação do homem mediante o homem: na “plenitude dos tempos” nasce da Virgem
Mãe (cf. Gl 4,4) com um coração obediente, para reparar o dano causado ao
gênero humano pelo coração desobediente dos primeiros pais.
Por isto, ao entrar no mundo Cristo diz: “Eis que venho... ó
Deus, para fazer a tua vontade” (Hb
10,7). ”Obediência” é o novo nome do “amor”!
2. Os Evangelhos nos mostram Jesus, ao longo de sua vida,
sempre dedicado a fazer a vontade do Pai. A Maria e José, que durante três dias,
aflitos, o haviam buscado, Jesus, que tinha doze anos, lhes responde: “Por que
me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?” (Lc 2,49). Toda a sua existência está
dominada por este “eu devo”, que
determina suas opções e guia sua atividade. Aos discípulos dirá um dia: “O meu
alimento é fazer a vontade d’Aquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4,34); e lhes ensinará a rezar assim:
“Pai nosso... seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus” (Mt 6,9-10).
3. Jesus obedece até a morte (cf. Fl 2,8), ainda que
nada lhe seja tão radicalmente oposto do que a morte, já que Ele é a própria
fonte da vida (cf. Jo 11,25-26).
Naquelas horas trágicas lhe sobrevêm, inquietantes, a desolação
e a angústia (cf. Mt 26,37), o medo e a perturbação (cf. Mc
14,33), o suor de sangre e as lágrimas (cf.
Lc 22,44). Logo, na cruz, a dor “rasga”
seu corpo transpassado. A amargura - da rejeição, da traição, da ingratidão -,
enche seu Coração. Mas sobre tudo domina a paz da obediência. “Não se faça a minha
vontade, mas a tua” (Lc 22,42). Jesus
recolhe as forças extremas e, quase sintetizando a sua vida, pronuncia a última
palavra: “Tudo está consumado” (Jo
19,30).
4. Ao amanhecer, ao meio-dia e ao entardecer da vida de Jesus,
bate em seu coração um só desejo: fazer a vontade do Pai. Contemplando esta
vida, unificada pela obediência filial ao Pai, compreendemos a palavra do
Apóstolo: “Pela obediência de um só todos serão constituídos justos” (Rm 5,19); e a outra, misteriosa e
profunda, da Carta aos Hebreus: “Mesmo
sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele
sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para
todos os que lhe obedecem” (Hb
5,8-9).
Que Maria Santíssima, a Virgem do “faça-se” trêmulo e generoso, ajude também a nós a “aprender” esta lição
fundamental.
Imagem do Sagrado Coração de Jesus com os instrumentos da Paixão (Igreja de São Brício de Tours - Radfeld, Áustria) |
Fonte: Santa Sé - 31 de agosto de 1986 e 23 de julho de 1989
(italiano; tradução nossa).
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