São Pedro Crisólogo
Sermão 34
Realmente,
para Deus a morte é um sono
Todas as
perícopes evangélicas, caríssimos irmãos, nos oferecem os grandes bens da vida
presente e da futura. Porém, a leitura de hoje é um compêndio perfeito de
esperança e a exclusão de qualquer motivo de desesperação.
Porém, falemos
do chefe da sinagoga, que, enquanto conduz Cristo à cabeceira de sua filha,
deixa o caminho desimpedido para que a mulher se aproxime dele. A leitura
evangélica de hoje começa assim: Aproximou-se
um chefe da sinagoga, e ao vê-lo se lançou aos seus pés, rogando-lhe com
insistência: Senhor, minha filha está morrendo. Vem, coloca as mãos sobre ela,
para que seja curada e viva. Conhecedor do futuro como era, a Cristo não
estava oculto que haveria o encontro com a sobredita mulher: dela o chefe dos
judeus haveria de aprender que a Deus não há necessidade de mudá-lo de lugar,
nem levá-lo pelo caminho, nem exigir-lhe uma presença corporal, mas crer que
Deus está presente em todos os lugares, integralmente e sempre; que pode
fazê-lo somente com uma ordem, sem esforço; infundir ânimo, não deprimi-lo;
afugentar a morte não com a mão, mas com o seu poder; prolongar a vida não com
a arte, mas com o mandato.
Minha filha está morrendo. Vem! Que é
como se dissesse: Ainda conserva o calor da vida, ainda se percebem sintomas de
animação, ainda respira, ainda o senhor da casa tem uma filha, ainda não desceu
à região dos mortos; portanto, apressa-te, não deixes que a sua alma se vá. Em
sua ignorância, acreditava que Cristo somente podia ressuscitar a morta se a
tomasse pela mão. Esta é a razão pela qual Cristo, quando, ao chegar à casa,
viu que choravam pela menina como perdida, para mover à fé os pensamentos
infiéis, disse que a menina não estava morta, mas adormecida, para
infundir-lhes esperança, pensando que era mais fácil despertar do sono que da
morte. A menina, disse, não está morta, mas dorme.
E, realmente,
para Deus a morte é um sono, pois Deus devolve mais rapidamente à vida um homem
que desperta do sono da morte do que a um adormecido; e Deus demora menos em
infundir o calor vivificante a alguns membros frios com o frio da morte do que
pode tardar um homem em infundir vigor aos corpos sepultados no sono. Escuta ao
Apóstolo: Em um instante, num abrir e
fechar de olhos, os mortos despertarão. O bem-aventurado Apóstolo, ao não
usar palavras capazes de expressar a velocidade da ressurreição, recorreu aos
exemplos. Porque como poderia imprimir agilidade ao discurso ali onde a potência
divina se adianta inclusive a essa própria agilidade? Ou em que sentido poderia
expressar-se em categorias de tempo, ali onde nos é concedido uma realidade
eterna, não submetida ao tempo? Assim como o tempo deu lugar para a
temporalidade, assim a eternidade excluiu o tempo.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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