Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 13 de junho de 2021
Prezados irmãos e irmãs,
bom dia!
Na Liturgia de hoje narra-se o episódio da
tempestade acalmada por Jesus (Mc 4,35-41). O barco em que os
discípulos atravessam o lago é acometido pelo vento e pelas ondas e eles têm medo
de afundar. Jesus encontra-se com eles no barco, mas está na popa, deitado na
almofada, e dorme. Cheios de medo, os discípulos gritam com Ele: «Mestre, não
te importas que pereçamos?» (v. 38).
E muitas vezes também nós, assaltados pelas
provações da vida, gritamos ao Senhor: “Por que permaneces em silêncio e não
fazes nada por mim?”. Sobretudo quando temos a impressão de afundar, porque
esvaece o amor ou o projeto em que tínhamos colocado grandes esperanças; ou
quando estamos à mercê das ondas insistentes da ansiedade; ou quando nos
sentimos esmagados pelos problemas ou desorientados no meio do mar da vida, sem
rota e sem porto. Ou ainda, nos momentos em que falta a força para ir em
frente, porque não há trabalho ou um diagnóstico inesperado nos faz temer pela
saúde, nossa ou de um ente querido. Há muitos momentos em que nos sentimos numa
tempestade, em que nos sentimos quase perdidos.
Nestas situações e em muitas outras, também nós nos
sentimos sufocados pelo medo e, como os discípulos, corremos o risco de perder
de vista o que é mais importante. Com efeito, no barco, embora durma, Jesus
está presente, e partilha com os seus tudo o que acontece. O seu sono,
se por um lado nos surpreende, por outro, põe-nos à prova. O Senhor está ali,
está presente; efetivamente, espera - por assim dizer - que o interpelemos, que
o invoquemos, que o coloquemos no centro do que vivemos. O seu sono
estimula-nos a despertar. Pois para ser discípulo de Jesus, não basta acreditar
que Deus está presente, que existe, mas é preciso pôr-se em jogo com Ele, é
necessário levantar a voz com Ele. Escutai isto: é preciso gritar com
Ele. Muitas vezes a oração é um grito: “Senhor, salva-me!”. Hoje, Dia
do Refugiado, vi no programa “À sua imagem” muitos que vêm em embarcações e no
momento do naufrágio gritam: “Salva-nos!”. A mesma coisa acontece na nossa
vida: “Senhor, salva-nos!”, e a oração torna-se um clamor!
Hoje podemos perguntar-nos: quais são os ventos que
se abatem sobre a minha vida, quais são as ondas que impedem a minha navegação
e colocam em perigo a minha vida espiritual, a minha vida familiar, inclusive a
minha vida psíquica? Digamos tudo isto a Jesus, contemos-lhe tudo. Ele deseja
isto, quer que nos apeguemos a Ele para encontrar abrigo contra as ondas anômalas
da vida. O Evangelho narra que os discípulos se aproximam de Jesus, que o
acordam e falam com Ele (cf. v. 38).
Eis o início da nossa fé: reconhecer que sozinhos não somos capazes de
permanecer à tona, que precisamos de Jesus, como os marinheiros precisam das
estrelas para encontrar a rota. A fé começa quando acreditamos que não somos
autossuficientes, quando nos sentimos necessitados de Deus. Quando
vencemos a tentação de nos fecharmos em nós próprios, quando superamos a falsa
religiosidade que não quer incomodar Deus, quando clamamos a Ele, Ele pode
fazer maravilhas em nós. É a força suave e extraordinária da oração, que faz
milagres.
Suplicado pelos discípulos, Jesus acalma o vento e
as ondas. E faz-lhes uma pergunta, uma interrogação que também nos diz
respeito: «Por que tendes medo? Ainda não tendes fé?» (v. 40). Os discípulos
deixaram-se surpreender pelo medo, pois tinham fixado mais as ondas do que
Jesus. E o medo leva-nos a olhar para as dificuldades, para os problemas graves
e não para o Senhor, que muitas vezes dorme. Acontece o mesmo conosco: quantas
vezes olhamos para os problemas, em vez de ir ter com o Senhor para depor nele
as nossas preocupações! Quantas vezes deixamos o Senhor num canto, no fundo do
barco da vida, para acordá-lo apenas no momento da necessidade! Hoje peçamos a
graça de uma fé que não se canse de procurar o Senhor, de bater à porta do seu
Coração. A Virgem Maria, que na sua vida nunca deixou de confiar em Deus, volte
a despertar em nós a necessidade vital de nos confiarmos a Ele todos os dias.
A tempestade no Mar da Galileia (Eugène Delacroix) |
Fonte: Santa Sé.
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