São João Crisóstomo
Sermão sobre o Evangelho de São Mateus
Tenho
desejado ardentemente comer esta comida pascal
Durante a ceia, tomou o pão e o partiu.
Por que instituiu este mistério durante a Páscoa? Para que se conclua de todos
os seus atos que Ele foi o legislador do Antigo Testamento, e que todas as
coisas que nele se contêm foram esboçadas em vista à nova aliança. Por isso,
onde estava a figura, Cristo entronizou a verdade. A tarde era o símbolo da
plenitude dos tempos e indicava que as coisas já estavam chegando ao seu fim.
Pronunciou a bênção, ensinando-nos como nós temos de celebrar este mistério,
mostrando que não vai coagido para a Paixão, e preparando-nos para que tudo
quanto soframos o saibamos suportar com ação de graças, e tirando do sofrimento
um avigoramento da esperança.
Pois se já o
tipo ou a figura foi capaz de libertar de tão grande escravidão, com mais razão
libertará a verdade ao redor da terra e resultará em benefício de nossa raça.
Por isso Cristo não instituiu este mistério antes, mas tão somente no momento
em que estavam para cessaras prescrições legais. Aboliu a mais importante das
solenidades judaicas, convocando os judeus em torno a outra mesa, muito mais
santa, e disse: Tomai e comei: isto é meu
Corpo, que será entregue por vós.
E como não se
perturbaram ao ouvir isto? Porque anteriormente Cristo já lhes tinha dito
muitas e grandiosas coisas deste mistério. Por isso agora Ele não se estende em
explicações, porque já tinham escutado bastante sobre esta matéria. Apesar
disso, sei que lhes diz qual é a causa da Paixão: o perdão dos pecados. Chama a
seu Sangue “sangue da nova aliança”,
ou seja, da promessa e da nova lei. De fato, isto é o que antigamente já tinha
prometido e o confirma a nova aliança. E assim como a antiga aliança ofereceu
ovelhas e novilhos, a nova oferece o Sangue do Senhor. Esta passagem também
insinua que Ele tinha que morrer; por isso fez alusão ao testamento e menciona
também o antigo. Daí que também não faltasse sangue na inauguração da primeira
aliança. Novamente declara: Que será
derramado por muitos para o perdão dos pecados. E acrescenta: Fazei isto em minha memória.
Não percebes
como retrai e afasta os seus discípulos dos ritos judaicos? Que é como se
dissesse: Vós celebrais aquela ceia em comemoração dos prodígios operados no
Egito; celebrai a nova ceia em minha comemoração. Aquele sangue foi derramado
para salvar os primogênitos; este, para o perdão dos pecados de todo o mundo. Este é o meu Sangue, diz, que será derramado para o perdão dos pecados.
Disse isto, sem dúvida, tanto para demonstrar que a Paixão e a Morte são um
mistério, como para, desta forma, consolar novamente aos seus discípulos. E,
assim como Moisés disse: É lei perpétua
para vós, assim Ele também disse: Em
minha comemoração, até que Eu volte. Por isso afirma: Tenho desejado ardentemente comer esta comida pascal; ou seja,
desejei entregar-vos esta nova realidade, dar-vos uma Páscoa com a qual vos
convertereis em homens espirituais.
E Ele mesmo
bebeu também dele. Para evitar que, ao ouvir estas palavras, replicassem:
“Como? Vamos beber sangue e comer carne?”, e se escandalizassem - pois, falando
em outra ocasião deste tema, muitos se escandalizaram de suas palavras; pois
bem, para que não tivessem motivo de escândalo, Ele é o primeiro em dar o
exemplo, induzindo-os a participar nestes mistérios com o espírito tranquilo.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 518-519. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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