Ainda dentro do tema do “combate da oração” (nn. 2725-2751)
em suas Catequeses sobre a oração à luz do Catecismo da Igreja Católica, o Papa
Francisco refletiu sobre a “eficácia” da oração (nn. 2738-2741), radicada no
fato de que Jesus reza por nós:
Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 02 de junho de 2021
A oração (36): Jesus, modelo e alma de cada oração
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Os Evangelhos mostram-nos como a oração era
fundamental na relação de Jesus com os seus discípulos. Isto já é evidente na
escolha daqueles que mais tarde iriam ser os Apóstolos. Lucas coloca a eleição
deles num exato contexto de oração, dizendo assim: «Naqueles dias, Jesus foi
para o monte a fim de fazer oração, e passou a noite a orar a
Deus. Aquando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze entre
eles aos quais deu o nome de apóstolos» (Lc 6,12-13). Jesus escolhe-os depois de uma
noite de oração. Parece que não há outro critério nesta escolha senão a oração,
o diálogo de Jesus com o Pai. A julgar pela forma como esses homens se
comportarão mais tarde, parece que a escolha não foi das melhores pois todos
fugiram, deixaram-no sozinho antes da Paixão; mas é precisamente isto,
sobretudo a presença de Judas, o futuro traidor, que mostra que esses nomes
foram escritos no desígnio de Deus.
A oração a favor dos seus amigos reapresenta-se
continuamente na vida de Jesus. Os Apóstolos por vezes tornam-se um motivo de
preocupação para ele, mas Jesus, dado que os recebeu do Pai, depois da oração,
leva-os no seu coração, até com os seus erros, inclusive as suas quedas. Em
tudo isto descobrimos como Jesus foi mestre e amigo, sempre pronto a esperar
pacientemente a conversão do discípulo. O ponto mais alto desta espera paciente
é a “tela” de amor que Jesus tece à volta de Pedro. Na Última Ceia ele diz-lhe:
«Simão, Simão olha que Satanás vos reclamou para vos joeirar como o trigo. Mas Eu roguei por
ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os
teus irmãos» (Lc 22,31-32). Impressiona, no tempo da tentação,
saber que naquele momento o amor de Jesus não cessa - “mas padre, se
estou em pecado mortal, existe o amor de Jesus? - Sim - E Jesus continua a
rezar por mim? - Sim - Mas se pratiquei coisas más e muitos pecados, será
que Jesus continua a amar-me? - Sim”. O amor e a oração de Jesus por cada um de
nós não cessam, aliás, tornam-se mais intensos e nós estamos no centro da sua
oração! Devemos sempre recordar isto: Jesus está a rezar por mim, está a rezar
agora perante o Pai e mostra-lhe as feridas que carregou consigo, para que o
Pai possa ver o preço da nossa salvação, eis o amor que Ele nutre por nós. Mas,
agora, cada um de nós pense: neste momento Jesus está a rezar por mim? Sim.
Esta é uma grande certeza que devemos ter.
A oração de Jesus apresenta-se pontualmente num
momento crucial do seu caminho, o da verificação da fé dos discípulos. Ouçamos
novamente o evangelista Lucas: «Um dia em que ele estava a orar a
sós com os discípulos, perguntou-lhes: “Quem dizem as multidões que Eu sou?”.
Responderam-lhe: “João Batista; outros, Elias; outros, um dos antigos profetas
ressuscitado”. Perguntou-lhes, então: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” Pedro
tomou a palavra e respondeu, em nome de todos: “O Messias de Deus”. Ele proibiu-lhes,
formalmente, de o dizerem fosse a quem fosse» (Lc 9,18-21). As grandes mudanças da missão de Jesus são sempre
precedidas de uma oração, mas não assim en passant, mas de oração
intensa e prolongada. Há sempre naqueles momentos a oração. Esta
verificação da fé parece ser uma meta, mas ao contrário é um ponto de partida
renovado para os discípulos, pois, a dali em diante, é como se Jesus assumisse
um novo tom na sua missão, falando-lhes abertamente da sua paixão, morte e
ressurreição.
Nesta perspectiva, que instintivamente suscita
repulsa, tanto nos discípulos como em nós que lemos o Evangelho, a oração é a
única fonte de luz e força. É necessário rezar mais intensamente, cada vez que
o caminho se torna íngreme.
E de fato, depois de anunciar aos discípulos o
que o espera em Jerusalém, tem lugar o episódio da Transfiguração. «Levando
consigo Pedro, Tiago e João, Jesus subiu ao monte para orar. Enquanto
orava, modificou-se o aspecto do seu Rosto e as vestes tornaram-se de
brancura fulgurante. E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias que,
aparecendo rodeados de glória, falavam da Sua morte, que ia dar-se em
Jerusalém» (Lc 9,28-31), isto é, a Paixão. Portanto, esta
manifestação antecipada da glória de Jesus teve lugar na oração, enquanto o
Filho estava imerso em comunhão com o Pai e consentiu plenamente à sua vontade
de amor, ao seu desígnio de salvação. E daquela oração sobressai uma palavra
clara para os três discípulos envolvidos: «Este é o meu Filho dileto;
escutai-o!» (Lc 9,35). Da oração vem o convite a ouvir Jesus,
sempre da oração.
Deste rápido percurso através do Evangelho,
deduzimos que Jesus não só quer que rezemos enquanto Ele reza, mas assegura-nos
que mesmo que as nossas tentativas de oração fossem completamente vãs e
ineficazes, podemos sempre contar com a sua oração. Devemos estar conscientes:
Jesus está a rezar por mim. Uma vez, um bom Bispo disse-me que num momento
muito mau da sua vida e de uma grande provação, um momento de escuridão, ele,
na Basílica, olhou para alto e viu esta frase escrita: “Eu, Pedro, rezarei por
ti”. E isso lhe deu força e conforto. Acontece sempre, todas as vezes que cada
um de nós sabe que Jesus reza por nós. Jesus reza por nós. Neste momento, neste
momento. Fazei este exercício de memória de repetir isto. Quando há alguma
dificuldade, quando se está na órbita das distrações: Jesus está a rezar por
mim. Mas será verdade, padre? É verdade, disse-o Ele mesmo. Não esqueçamos que
o que sustenta cada um de nós na vida é a oração de Jesus por todos nós, com
nome, sobrenome, perante o Pai, mostrando-lhe as feridas que são o preço da
nossa salvação.
Mesmo que as nossas orações fossem apenas
balbúcies, se estivessem prejudicadas por uma fé vacilante, nunca devemos
deixar de confiar n’Ele, eu não sei rezar mas Ele ora por mim. Sustentadas pela
oração de Jesus, as nossas tímidas preces apoiam-se nas asas da águia e
elevam-se ao Céu. Não vos esqueçais: Jesus está a rezar por
mim - Agora? - Agora. No momento da provação, no momento do
pecado, também naquele momento, Jesus com muito amor está a rezar por mim.
Fonte: Santa Sé
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