Nas duas meditações
dessa postagem, o Papa reflete sobre a 17ª e a 18ª invocações da Ladainha:
Cor Iesu, desiderium
collium aeternorum, miserere nobis.
Cor Iesu, patiens et
multae misericordiae, miserere nobis.
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19. Coração de Jesus,
desejo das colinas eternas
Ângelus do dia 20 de
julho de 1986
1. Coração de Jesus,
desejo das colinas eternas...
Ao longo destes domingos, enquanto nos reunimos para a oração
do meio-dia, recitamos a Ladainha do Sagrado Coração em união particular com a
Mãe de Jesus. O Ângelus dominical é,
com efeito, nosso encontro de oração com Maria. Junto com ela recordamos a
Anunciação, que foi certamente um acontecimento decisivo em sua vida. E aqui, no
centro deste acontecimento, descobrimos o Coração. Trata-se do amor do Filho de
Deus, que desde o momento da Encarnação começa a desenvolver-se sob o Coração
da Mãe, junto com o Coração humano do seu Filho.
2. É este Coração o “desejo” do mundo? Contemplando o mundo
tal como visivelmente nos rodeia, devemos constatar com São João que está
submetido à concupiscência da carne, à concupiscência dos olhos e à soberba da
vida (cf. 1Jo 2,16).
Este “mundo” parece estar longe do desejo do Coração de Jesus.
Não compartilha seus desejos. Permanece alheio e, às vezes, inclusive hostil em
relação a Ele.
Este é o “mundo”, o qual o Concílio Vaticano II diz que está
“escravizado sob a escravidão do pecado” (Constituição Gaudium et spes, n. 2). E o diz de acordo com toda a Revelação: com
a Sagrada Escritura e com a Tradição (e inclusive, digamos também, com nossa
experiência humana).
3. Contemporaneamente, todavia, o mesmo “mundo” foi chamado
à existência pelo amor do Criador, e por este amor é constantemente mantido na
existência. Trata-se do mundo como o conjunto das criaturas visíveis e invisíveis,
e em particular “a inteira família humana, com todas as realidades no meio das
quais ela vive” (Gaudium et spes, n.
2).
É o mundo que, precisamente por causa da “escravidão do
pecado”, foi submetido à caducidade - como ensina São Paulo - e, por isso, geme
e sofre em dores de parto, esperando com impaciência a manifestação dos filhos
de Deus, porque só por este caminho pode ser realmente liberto da escravidão da
corrupção, para participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus (cf. Rm 8,19-22).
4. Este mundo - apesar do pecado e da tríplice
concupiscência - está orientado para o amor, que preenche o Coração humano do
Filho de Maria. E por isso, unindo-nos a ela, peçamos: Coração de Jesus, desejo
das colinas eternas, traz aos corações humanos, traz aos nossos tempos essa
libertação que está no Evangelho, na tua Cruz e Ressurreição: que está em teu
Coração!
20. Coração de Jesus,
paciente e de muita misericórdia
Ângelus do dia 27 de
julho de 1986
1. Hoje, por ocasião da oração do Ângelus, desejamos reler uma vez mais, junto com Maria, o
Evangelho; em certo sentido o relemos todo inteiro, e imediatamente. Nele
aparece o Coração de Jesus, paciente e de
muita misericórdia.
Não é assim, pois, o Coração d’Aquele que “passou fazendo o
bem” a todos (cf. At 10,38)? D’Aquele
que fez com que os cegos recuperassem a vista, os coxos caminhassem, os mortos
ressuscitassem? Que anunciou aos pobres a Boa Nova (cf. Lc 7,22)?
Não é assim, pois, o Coração de Jesus, que não tinha Ele
mesmo onde reclinar a cabeça, enquanto os lobos têm suas tocas e os pássaros seus
ninhos (cf. Mt 8,20)?
Não é assim, pois, o Coração de Jesus, que defendeu a mulher
adúltera do apedrejamento e em seguida lhe disse: “Podes ir, e de agora em
diante não peques mais” (cf. Jo
8,3-10)?
Não é assim, pois, o Coração d’Aquele que foi chamado “amigo
de publicanos e pecadores” (cf. Mt
11,19)?
2. Contemplemos, junto com Maria, o interior deste Coração!
Releiamo-lo em todo o Evangelho! Releiamos este Coração sobretudo no momento da
Crucificação. Quando foi transpassado pela lança. Quando foi revelado até o fundo
o mistério n’Ele escrito.
O Coração paciente porque aberto a todos os sofrimentos do
homem. O Coração paciente, porque disposto Ele mesmo a aceitar um sofrimento incomensurável
na medida humana! O Coração paciente porque imensamente misericordioso!
De fato, o que é a misericórdia senão essa medida
particularíssima do amor, que se expressa no sofrimento?
O que é a misericórdia senão essa medida definitiva do amor,
que desce ao próprio centro do mal para vencê-lo com o bem?
O que é senão o amor que vence o pecado do mundo mediante o
sofrimento e a morte?
Coração de Jesus, paciente e de muita misericórdia!
3. Mãe, que contemplaste este Coração quando estiveste
presente ao pé da cruz!
Mãe, que por vontade deste Coração te fizeste Mãe de todos
nós.
Quem conhece como Tu o mistério do Coração de Jesus em Belém,
em Nazaré, no Calvário?
Quem como Tu sabe que Ele é paciente e de muita misericórdia?
Quem como Tu dá testemunho d’Ele incessantemente?
Imagem de Cristo com o lado aberto No halo, a inscrição: "Misericordia volo" - "Quero a misericórdia" (Mt 9,13) (Madre Luisa Margarida Claret de la Touche) |
Fonte:
Santa Sé - 20 de julho e 27 de julho de 1986 (italiano; tradução nossa).
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