São João Crisóstomo
Sermão sobre a Carta aos Efésios
Fez-nos
seu corpo e nos deu o seu corpo
Visto que
tratamos do corpo do Senhor, reflitamos quantos de nós participamos do corpo,
quantos degustamos este sangue, que somos participantes do corpo que em nada
difere ou se distingue daquele corpo de Cristo, porque degustamos daquele que
está sentado no alto, e daquele que é adorado pelos anjos e que está junto da
virtude incorruptível. Ai de mim! Quantos são os caminhos para a nossa
salvação! Fez-nos seu corpo e nos deu o seu corpo, e, apesar de tudo, nada
disto nos aparta do mal. Ó trevas, ó abismo profundo, ó insensibilidade! Degustai, diz, as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. E
depois disto ainda há aqueles que estão preocupados pelo dinheiro, e outros que
são escravos das paixões.
Não vês que até
mesmo no nosso corpo se corta e amputa o que é inútil e supérfluo? E que a
isto, uma vez amputado, morto, putrefato e corrompido, nada lhe aproveita o fato
de ter pertencido ao corpo? Não nos fiemos de sermos uma vez do corpo. Se este
corpo, apesar de ser algo natural, chega a dividir-se, que mal não padecerão as
normas de vida se não permanecem firmes e estáveis? Quando o corpo não é
partícipe deste alimento corporal, quando os canais estão entupidos, então
morre; quando tem algum membro entrevado, então fica mutilado. Da mesma forma
nós, quando fechamos os ouvidos, mutilamos nossa alma; quando não participamos
do alimento espiritual, quando as maldades, como humores putrefatos, nos
corrompem, tudo isto gera enfermidade, enfermidade grave, que atrai a
decomposição, e depois se necessitará aquele fogo, será necessária a amputação.
Porque Cristo não suportará entrar no tálamo com tal corpo. Se aquele ao qual ia
vestido com um traje manchado o dispensa e lança fora, o que não fará com o que
manchou o seu corpo? O que não lhe infligirá?
Vejo que muitos
participam do Corpo do Senhor de forma temerária e rotineira, mais por costume
e prescrição do que por consideração e desejo. Quando chegue, diz, o tempo da
santa Quaresma, quem quer que seja, participa dos mistérios, e ocorre o mesmo
no dia da Epifania. Contudo, este não é o momento de aproximar-se, porque a
Epifania e a Quaresma não nos tornam dignos da aproximação, mas sim a pureza e
a sinceridade de alma. Com estas virtudes aproxima-te sempre, e sem elas
jamais. Quantas vezes, disse, fizerdes isto, anunciais a morte do Senhor.
Isto é, recordais vossa salvação, meu benefício.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 519-250. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.
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