"A vós, ó Deus, louvamos, a vós, Senhor, cantamos...".
Além dos salmos e dos cânticos bíblicos do Antigo e do Novo
Testamento, a Igreja louva o Senhor com uma série de hinos que são frutos da tradição,
compostos ao longo de sua história.
Dentre estas composições, uma das mais eminentes é o Te Deum laudamus (A vós, ó Deus, louvamos), entoado na
Liturgia das Horas, mais especificamente no Ofício das Leituras dos domingos (exceto na Quaresma), nas Oitavas da Páscoa e do Natal e nas solenidades e festas (Introdução Geral da Liturgia das Horas,
n. 68).
O Te Deum é
previsto ainda como hino de ação de graças em algumas das celebrações mais
solenes do Rito Romano:
- na Ordenação Episcopal, enquanto o novo Bispo percorre a
igreja abençoando os fiéis (Cerimonial
dos Bispos, n. 594);
- na Bênção de Abade ou Abadessa, como canto final (Cerimonial dos Bispos, nn. 693.714);
- na conclusão de um Concílio ou Sínodo (Cerimonial dos Bispos, n. 1175) e, tradicionalmente, também dos Jubileus;
- no Conclave, após o novo Papa revestir suas vestes
próprias na Capela Sistina (Ordo Rituum Conclavis, n. 73);
- ao longo da história era previsto nas coroações dos
reis católicos e em outros acontecimentos importantes da nação;
- no encerramento do ano civil, diante do Santíssimo
Sacramento exposto (Diretório sobre
Piedade Popular e Liturgia, n. 114).
A origem do Te Deum
Uma versão lendária atribui a origem do hino a Santo
Ambrósio e a Santo Agostinho, como ação de graças pelo Batismo desse último
(ano 387). Porém, uma hipótese mais aceita atualmente é sua autoria por
Nicetas, Bispo de Remesiana (na atual Sérvia), que viveu entre 335 e 414.
Porém, é importante considerar as diferenças existentes nos
termos, no ritmo e na melodia entre as diversas partes do hino, razão pela qual se
propõe que diferentes textos dos séculos III a V foram unidos em sua
composição. Alguns sugerem inclusive que, pela presença do Sanctus na primeira parte, alguns trechos poderiam ser fragmentos
de uma Anáfora, isto é, uma Oração Eucarística antiga.
Não obstante, a partir do século VI já consta na Liturgia
romana como hino para o Ofício das Matinas dos domingos, além de outras
celebrações mais solenes. Além disso, tornou-se muito popular entre os monges:
São Cesário de Arles e seu sucessor, São Aureliano, assim como São Bento
prescrevem sua recitação em suas Regras monásticas.
O texto do Te Deum
Em latim, o texto é dividido em três partes, cada uma com
sete estrofes. A primeira (Te Deum laudamus), provavelmente a mais antiga, é um louvor ao Pai no
céu e na terra - louvor este entoado pelos anjos e santos (Apóstolos, Profetas e
Mártires) no céu e pela Igreja na terra -, concluindo com uma doxologia que estende a adoração ao
Filho e ao Espírito Santo.
A segunda parte (Tu rex gloriae, Christe) é dirigida ao Filho, glorificando-o por sua
obra redentora: Encarnação, Morte e Exaltação, concluindo com uma súplica,
pedindo o dom da salvação.
Por fim, a terceira parte (Salvum fac pópulum tuum, Dómine) não fazia originalmente parte do
hino, razão pela qual é facultativa na recitação litúrgica. É composta por frases inspiradas nos Salmos, nas quais predomina o caráter de súplica.
Segue, pois, o texto do Te
Deum em português e em latim conforme constam na Liturgia das Horas e no
Pontifical Romano (pp. 579-580). Cumpre notar que, embora existam versões "populares" do Te Deum com letras distintas, nas celebrações litúrgicas deve-se entoar o hino em sua versão oficial:
A vós, ó Deus,
louvamos, a vós, Senhor, cantamos.
A vós, Eterno Pai,
adora toda a terra.
A vós cantam os
anjos, os céus e seus poderes:
Sois Santo, Santo,
Santo, Senhor, Deus do universo!
Proclamam céus e
terra a vossa imensa glória.
A vós celebra o coro
glorioso dos Apóstolos,
Vos louva dos
Profetas a nobre multidão
e o luminoso exército
dos vossos santos Mártires.
A vós por toda a
terra proclama a Santa Igreja,
ó Pai onipotente, de
imensa majestade,
e adora juntamente o
vosso Filho único,
Deus vivo e
verdadeiro, e ao vosso Santo Espírito.
Ó Cristo, Rei da
glória, do Pai eterno Filho,
nascestes duma
Virgem, a fim de nos salvar.
Sofrendo vós a morte,
da morte triunfastes,
abrindo aos que têm
fé dos céus o reino eterno.
Sentastes à direita
de Deus, do Pai na glória.
Nós cremos que de
novo vireis como juiz.
Portanto, vos
pedimos: salvai os vossos servos,
que vós, Senhor,
remistes com sangue precioso.
Fazei-nos ser
contados, Senhor, vos suplicamos,
em meio a vossos
santos na vossa eterna glória.
(A parte que se segue pode ser omitida, se for oportuno).
Salvai o vosso povo.
Senhor, abençoai-o.
Regei-nos e
guardai-nos até a vida eterna.
Senhor, em cada dia,
fiéis, vos bendizemos,
louvamos vosso nome
agora e pelos séculos.
Dignai-vos, neste
dia, guardar-nos do pecado.
Senhor, tende piedade
de nós, que a vós clamamos.
Que desça sobre nós,
Senhor, a vossa graça,
porque em vós pusemos
a nossa confiança.
Fazei que eu, para
sempre, não seja envergonhado:
Em vós, Senhor,
confio, sois vós minha esperança!
Te Deum laudámus: te
Dóminum confitémur.
Te aetérnum Patrem,
omnis terra venerátur.
Tibi omnes ángeli,
tibi caeli, et univérsae potestátes:
tibi chérubim et
séraphim incessábili voce proclámant:
Sanctus, Sanctus,
Sanctus Dóminus Deus Sábaoth.
Pleni sunt caeli et
terra maiestátis glóriæ tuae.
Te gloriósus
Apostolórum chorus,
te prophetárum
laudábilis númerus,
te mártirum
candidátus laudat exércitus.
Te per orbem terrárum
sancta confitétur Ecclésia:
Patrem imménsae
maiestátis,
venerádum tuum verum
et únicum Fílium;
Sanctum quoque
Paráclitum Spíritum.
Tu rex glóriae,
Christe.
Tu Patris sempitérnus
es Fílius.
Tu, ad liberándum
susceptúrus hóminem, non horruísti Vírginis uterum.
Tu, devícto mortis
acúleo, aperuísti credéntibus regna caelórum.
Tu ad déxteram Dei
sedes in glória Patris.
Iudex créderis esse
ventúrus.
Te ergo quæsumus,
tuis fámulis súbveni, quos pretióso sánguine redemisti.
Aetérna fac cum sanctis
tuis in glória numerári.
Salvum fac pópulum
tuum, Dómine, et bénedic hereditáti tuæ.
Et rege eos, et
extólle illos usque in aetérnum.
Per síngulos dies
benedícimus te;
et laudámus nomen
tuum in sáeculum, et in sáeculum saeculi.
Dignáre, Domine, die
isto, sine peccáto nos custodíre.
Miserére nostri,
Dómine, miserére nostri.
Fiat misericórdia
tua, Dómine, super nos,
quamádmodum
speravimus in te.
In te, Dómine,
sperávi: non confúndar in aetérnum.
Referências:
BERGER, Rupert. Te
Deum. in: Dicionário de Liturgia Pastoral: Obra de consulta sobre todas as
questões referentes à Liturgia. São Paulo: Loyola, 2010, p. 392.
RIGHETTI, Mario. Historia
de la Liturgia, v. I: Introducción general; El año litúrgico; El Breviario.
Madrid: BAC, 1955, pp. 224-227.
Te Deum. in: The Catholic Encyclopedia.
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