sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Homilia: Natal do Senhor - Missa do Dia

Santo Agostinho
Sermão 191 no Nascimento do Salvador
Aquele que fez o homem se fez homem

A Palavra do Pai, pela qual foram feitos os tempos, ao fazer-se carne nos presenteou com o dia de seu nascimento no tempo; em sua origem humana quis ter também um dia Aquele que sem sua anuência divina não transcorre nem um dia. Estando junto ao Pai, precede há todos os séculos; nascendo da mãe, introduziu-se neste dia no curso dos anos.

Aquele que fez o homem se fez homem, de forma que se amamenta do peito Aquele que governa os astros; sente fome o pão; sede a fonte; dorme a luz; o caminho se fadiga na marcha; a verdade é acusada por falsas testemunhas; o juiz de vivos e mortos é julgado por um juiz mortal; a justiça, condenada por gente injusta; a disciplina, castigada com açoites; o racemo, coroado de espinhos; o apoio, suspenso de um madeiro; a fortaleza, debilitada; a saúde, chagada; a vida morre. Ainda que Ele, que por nós sofreu tantos males, não fez mal algum; nem nós, que por Ele recebemos tantos bens, merecíamos bem nenhum, para livrar-nos, apesar de sermos indignos, aceitou sofrer todas aquelas indignidades e outras semelhantes.

Com essa finalidade, pois, o que existia como Filho de Deus desde antes de todos os séculos sem começo de dias, dignou-se fazer-se Filho do homem nos últimos dias, e Aquele que tinha nascido do Pai sem ter sido feito por Ele, foi feito na mãe que Ele havia feito, para encontrar-se aqui, em um momento determinada, nascido daquela que nunca e em nenhum lugar teria podido existir a não ser por Ele.

Assim se cumpriu o que tinha predito o Salmo: A verdade brotou da terra. Maria foi virgem antes de conceber e depois de dar à luz. Longe de nós o pensar que desapareceu a integridade daquela terra, ou seja, daquela carne de onde brotou a verdade! Realmente, depois de sua Ressurreição, a quem acreditava que Ele era um espírito, e não um corpo, lhes disse: Apalpai e vede, que um espírito não tem carne nem osso como vedes que Eu tenho. Contudo, a solidez daquele corpo de homem maduro se introduziu até a presença dos discípulos sem que as portas estivessem abertas. Se, pois, o que sendo grande, pode entrar através de portas fechadas, por que não pôde igualmente sair, quando era pequeno, através de membros íntegros? Porém os incrédulos não querem crer nem uma coisa nem outra. Uma razão a mais para que a fé creia em ambas as coisas, que a incredulidade não as crê.

Justamente isto caracteriza a incredulidade: o opinar que Cristo não tem nada a ver com a divindade. Porém, para a fé, ao crer que Deus nasceu na carne, não lhe cabe dúvida de que ambas as coisas são possíveis para Deus, a saber: que o corpo de uma pessoa maior se apresente diante dos que estavam dentro da casa sem que lhe abrissem as portas, e que o Esposo-Menino saísse de seu leito nupcial, isto é, do seio da Virgem, mantendo intacta a virgindade da Mãe.


Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp. 288-289. Para adquiri-lo no site da Editora Vozes, clique aqui.

Confira também uma homilia de São Proclo de Constantinopla para essa Missa clicando aqui.

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