Prossegue nossa série com a tradução do
subsídio “Un Messale per le nostre
Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e
Catechesi” (Um Missal para as nossas Assembleias: A terceira edição
italiana do Missal Romano entre Liturgia e Catequese), publicado pelo Ofício
Litúrgico da Conferência Episcopal Italiana (CEI) em preparação à 3ª edição do
Missal Romano. Esta postagem está dedicada ao tema da mistagogia, palavra que significa "conduzir ao mistério".
6. Uma catequese mistagógica
O Missal (...), junto aos outros livros em uso na Celebração
Eucarística, está a serviço do mistério que constitui a fonte e o ápice de toda
a vida cristã. Desta consciência deriva a importância de promover e encorajar
uma ação pastoral que visa valorizar o conhecimento e o bom uso do livro
litúrgico, sobre a dupla vertente da celebração e do seu aprofundamento na
mistagogia (CEI, Apresentação da 3ª
edição do Missal Romano, n. 5).
A Exortação Apostólica
pós-sinodal Sacramentum caritatis do Papa Bento XVI (2007) articula a
catequese de caráter mistagógico em torno de três núcleos: a interpretação da Celebração
Eucarística à luz dos acontecimentos salvíficos; a introdução ao sentido dos
sinais contidos na Eucaristia; o significado dos ritos em relação à vida cristã
(cf. n. 64). Em cada uma dessas
dimensões a referência ao Missal é determinante para compreender o sentido
profundo do mistério eucarístico a partir da sua celebração concreta: “a melhor
catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada” (ibid.).
Mistagogia como
celebração
Na celebração, a experiência concreta precede sempre a
reflexão sobre ela. Daí decorre a necessidade, para apreender o seu sentido
profundo, de introduzir diretamente às modalidades nas quais o rito ocorre.
Disto derivam duas consequências interessantes, de relevância também prática.
A primeira consequência importante de tal abordagem da
mistagogia é aquela pela qual o tempo no qual “ocorre” a experiência
celebrativa não deve coincidir com aquele em que se pode e se deve falar. O
momento da Missa e aquele da Catequese não podem sobrepor-se nem são
intercambiáveis entre si, mas são ambos necessários. A “explicação” de “o que”
se celebra e de “como” participar de um rito deve acontecer “em outro lugar” no
que diz respeito ao acontecimento do rito.
A segunda consequência da abordagem mistagógica está
relacionada com a importância de “entrelaçar” os diversos momentos formativos
em torno do centro celebrativo. Em busca de um método formativo respeitoso à
natureza da Eucarística e à prática iniciática que ela requer, propomos
articular a catequese mistagógica sobre a Eucaristia em torno de três verbos:
introduzir, exercitar, retomar.
Introduzir
Para entrar na experiência viva e frutuosa da Celebração
Eucarística é importante introduzir ao sentido global do rito eucarístico e às
formas em que ele ocorre. Neste nível é útil responder a pergunta sobre o “por
que” celebrar o rito eucarístico e sobre o “que” esperar dele, assim como
reforçar as razões para participar do rito e orientar as expectativas para ele.
Quanto à introdução às modalidades da experiência, é necessário que se conheça,
pelo menos resumidamente, o que se deve “fazer” no rito, para assim poder
participar de modo adequado.
Exercitar
Celebrar aprende-se celebrando. É a atenção ao ato celebrativo
que constitui a porta de entrada para a capacidade de celebrar. Aqui surge a
necessidade de criar um “tecido” de experiências celebrativas de um extremo a
outro do verdadeiro e próprio rito comunitário: um “tecido” que se apoie
necessariamente na celebração, mas que também seja “enxertado” em outras
experiências rituais. A eficácia de uma iniciação à experiência celebrativa se
fundamenta sobre a sábia e contínua integração do elemento celebrativo com as
outras dimensões da formação. A celebração não possui um caráter simplesmente
ilustrativo ou didático: propor formas de experiência ritual no itinerário
catequética possui uma intrínseca relevância pedagógica e “iniciática”, na
intersecção dos gestos sacramentais do rito com os gestos simbólicos da vida.
Retomar
Para deixar-se plasmar pelo rito não é suficiente apenas a
sua execução pontual. Não se trata, com
efeito, apenas de conhecê-lo, mas de compreendê-lo de modo adequado e, para
atingir este último objetivo, não basta apenas a sua repetição mais ou menos
frequente. A apropriação de um rito acontece sempre de maneira historicamente
determinada, ou seja, correspondente à maturidade humana e cristã, à cultura e
à experiência de vida, de quem, aqui e agora, realiza e vive o rito. Por este
motivo, o exercício ritual deve ser acompanhado de uma retomada mistagógica,
capaz de reler a experiência vivida em relação aos eventos salvíficos narrados
na Escritura e em relação aos eventos da vida, que se deixam iluminar pelo
sacramento.
Um exemplo: a
Liturgia da Palavra
Introduzir: Deus, também hoje, nos fala e tem algo de
importante a dizer para a nossa vida. Sua palavra interpela e aguarda uma
resposta. Limitar-se, porém, a dizer simplesmente “Deus nos fala” não é
suficiente. O problema está no significado concreto do verbo “falar”, que,
embora possa ser claro quando em relação à ação de pessoas humanas, não o é
quando atribuído a Deus. Quem, de fato, já ouviu a voz de Deus com os próprios
ouvidos? Para que a fórmula não permaneça apenas teórica, é necessário que
todos sejam introduzidos com paciência na experiência de uma escuta pessoal e
comunitária da Palavra de Deus, na qual cada um aprenda a descobrir que
verdadeiramente ela pode “falar” a cada um e como isso acontece. A Liturgia da
Palavra, através do seu dinamismo de proclamação, aclamação e veneração, está
estruturada de modo que a própria pessoa experimente que Deus entra em relação
conosco e nos fala.
Exercitar: Se nos interrogamos sobre o modo mais apropriado
para introduzir a Liturgia da Palavra de forma experiencial, no contexto da
Catequese e em vista do momento da sua celebração efetiva, notamos que existem
experiências prévias que devem ser vividas antes de aproximar-se da Liturgia da
Palavra e da forma como ela ocorre: a educação ao silêncio e à escuta; a
introdução a um método acessível com o qual concretamente realizar uma leitura
espiritual da Escritura, particularmente do Evangelho. Depois, será oportuno
favorecer a experiência da resposta orante ao que foi ouvido: também neste
caso, se realizará na medida em que as orações que iniciam ou concluem um
momento de catequese tenham uma ligação temática perceptível com a Palavra que
se ouvirá ou que foi ouvida. Por fim, será necessário adquirir familiaridade
ritual com os principais gestos e sinais que normalmente formam parte da
Liturgia da Palavra, em particular no rito do Evangelho.
Retomar: Trata-se certamente de educar para cultivar o “fazer
ecoar” na vida o que foi escutado na celebração; e isso pode acontecer ao menos
em duas direções: o prolongamento na oração, ou seja, mediante a retomada do
texto bíblico ouvido e a sua re-expressão orante; e o prolongamento na vida
vivida, ou seja, através da formulação de uma pequena (ou grande) decisão, para
traduzir existencialmente o ensinamento recebido na escuta celebrativa.
Para refletir juntos:
- Onde, na prática usual da nossa comunidade, costuma
acontecer a iniciação à Celebração Eucarística?
- Onde parece haver acordo e sinergia entre
introdução-explicação-retomada catequética e atuação celebrativa? E onde não
há?
- Quais experiências rituais no itinerário catequético podem
ajudar a introduzir à experiência da Celebração Eucarística?
Fonte:
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Una catechesi mistagogica. in: Un
Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano
tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi Francesco d’Assisi
e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 37-41.
Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/
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