terça-feira, 8 de dezembro de 2020

O hino Akathistos no Jubileu do ano 2000

Durante o Grande Jubileu do ano 2000 (cujos vinte anos estamos recordando em nosso blog), para expressar o caráter universal da Igreja, foram programadas em Roma celebrações nos cinco grandes ritos orientais: caldeu, antioqueno, alexandrino, armênio e bizantino [1].

28 de janeiro (Memória de Santo Efrém): Divina Liturgia em rito siríaco-oriental (caldeu) na Basílica de Santa Cecília in Trastevere;

09 de fevereiro (Memória de São Maron): Divina Liturgia em rito maronita (siríaco-ocidental ou antioqueno) na Basílica de Santa Maria Maior;

26 de maio (Festa de Maria, mãe de misericórdia): Divina Liturgia em rito etíope (alexandrino) na Basílica de Santa Maria dos Anjos;

14 de agosto (Vigília da Assunção): Rito do incenso da Liturgia copta (alexandrina) na Basílica de Santa Maria Maior;

14 de setembro (Festa da Exaltação da Santa Cruz): Vésperas em rito armênio com o rito do Antasdan na Basílica do Latrão;

01 de outubro (Festa da Proteção da Mãe de Deus): Divina Liturgia em rito bizantino na Basílica de Santa Maria sopra Minerva;

21 de novembro (Festa da Apresentação de Maria): Divina Liturgia em rito siríaco-ocidental (ou antioqueno) na Basílica de Santa Maria in Trastevere.

A última celebração ocorreu no dia 08 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição: a recitação do hino Akathistos, da tradição bizantina, presidida pelo Papa João Paulo II na Basílica de Santa Maria Maior.

Ícone de Maria venerado na Basílica

A palavra “akathistos” em grego significa “não sentado”, indicando que este hino deve ser entoado em pé. Sua origem remonta ao século V, depois dos Concílios de Éfeso (431) e Calcedônia (451), que proclamaram, respectivamente, a maternidade divina de Maria e a dupla natureza de Cristo (divina e humana).

Embora tenham sido propostos alguns nomes, a maioria dos estudiosos considera o Akathistos uma composição anônima. “É bom que assim seja”, dizem os orientais, “assim é de todos, porque é da Igreja”.

No Rito Bizantino o Akathistos possui uma festa própria: o sábado que antecede o V Domingo da Quaresma. Neste dia ele é solenemente entoado, embora seja proclamado também em outros dias do ano, especialmente nas festas marianas.

O hino possui 24 estrofes - o mesmo número de letras do alfabeto grego - divididas em duas partes: as primeiras 12 são inspiradas nos textos bíblicos dos Evangelhos da infância do Senhor, enquanto as 12 últimas cantam a fé a respeito da Virgem Maria formulada nos Concílios e sua relação com o mistério de Cristo e da Igreja.

As estrofes intercalam-se em longas (ímpares) e breves (pares). As estrofes longas, após anunciar o mistério, saúdam a Virgem com 12 invocações, inspiradas tanto na Escritura quanto na tradição da Igreja, concluindo com a aclamação: “Ave, Virgem e Esposa!”. As estrofes breves, por sua vez, geralmente são dirigidas a Cristo, na forma de uma antífona seguida do triplo “Aleluia!”.

Ícone de Maria ladeada pelas 24 estrofes do Akathistos
(Notem-se as letras do alfabeto grego, de Alfa a Ômega)

I parte: “Evangélica” ou “histórica”:
Estrofes 1-4: A Anunciação do anjo
Estrofe 5: A visita de Maria a Isabel
Estrofe 6: O anúncio do anjo a José
Estrofe 7: A adoração dos pastores
Estrofes 8-10: A adoração dos magos
Estrofe 11: A fuga para o Egito
Estrofe 12: A apresentação do Senhor no Templo

II parte: “Dogmática” ou “teológica”:
Estrofe 13: A virgindade de Maria
Estrofe 15: A maternidade divina de Maria
Estrofe 17: O parto virginal de Maria
Estrofe 19: Maria, modelo de pureza e santidade
Estrofe 21: Maria, mãe de quem nasce na Igreja
Estrofe 23: Maria, protetora e auxílio de todos os cristãos

As estrofes 14, 16, 20 e 22 são louvores a Cristo por sua Encarnação, enquanto a estrofe 24 é uma súplica final à Mãe e ao Filho para que nos livrem de todos os males.

Cumpre notar que a divisão das 24 estrofes em dois grupos de 12 (tanto na temática quanto na duração) faz referência à “cidade celeste” descrita no capítulo 21 do Livro do Apocalipse, com doze portas e doze alicerces. Esta cidade é a Esposa, simbolizando ao mesmo tempo a Igreja e a Virgem Maria.

O canto ou recitação do Akathistos começa e termina, por fim, com um tropárion à Virgem Maria, provavelmente composto como ação de graças por uma vitória de Constantinopla sobre os inimigos: 

A Ti Maria, como ao general invencível, meus cantos de vitória.
A Ti, que me livraste de meus males, ofereço meus cantos de reconhecimento.
Pois que tens uma força invencível, livra-me de toda espécie de perigos,
a fim de que te aclame: Ave, Virgem e esposa!” [2].


Notas:

[1] Já no Ano Mariano de 1987-1988 haviam ocorrido celebrações nos ritos orientais em Roma, inclusive com a presença do Papa João Paulo II.

[2] SPERANDIO, João Manoel; TAMANINI, Paulo Augusto (orgs.). Ofícios Litúrgicos Bizantinos: Akathistos, Paraklises e outros. Teresina: Editora da Universidade Federal do Piauí, 2015, p. 11. Toda a oração do Akathistos, incluindo algumas orações iniciais e finais que o acompanham, encontra-se às pp. 04-29.

Referências:


TONIOLO, Ermanno. Akathistos. in: DE FIORES, Stefano; MEO, Salvatore. Dicionário de Mariologia. São Paulo: Paulus, 1995, pp. 23-30.

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