Durante
o Grande Jubileu do ano 2000 (cujos vinte anos estamos recordando em nosso
blog), para expressar o caráter universal da Igreja, foram programadas em Roma
celebrações nos cinco grandes ritos orientais: caldeu, antioqueno, alexandrino,
armênio e bizantino [1].
28
de janeiro (Memória de Santo Efrém): Divina Liturgia em rito siríaco-oriental (caldeu)
na Basílica de Santa Cecília in
Trastevere;
09
de fevereiro (Memória de São Maron): Divina Liturgia em rito maronita
(siríaco-ocidental ou antioqueno) na Basílica de Santa Maria Maior;
26
de maio (Festa de Maria, mãe de misericórdia): Divina Liturgia em rito etíope
(alexandrino) na Basílica de Santa Maria dos Anjos;
14
de agosto (Vigília da Assunção): Rito do incenso da Liturgia copta (alexandrina)
na Basílica de Santa Maria Maior;
14
de setembro (Festa da Exaltação da Santa Cruz): Vésperas em rito armênio com o
rito do Antasdan na Basílica do
Latrão;
01
de outubro (Festa da Proteção da Mãe de Deus): Divina Liturgia em rito
bizantino na Basílica de Santa Maria sopra Minerva;
21
de novembro (Festa da Apresentação de Maria): Divina Liturgia em rito
siríaco-ocidental (ou antioqueno) na Basílica de Santa Maria in Trastevere.
A última celebração ocorreu no dia 08 de dezembro, Solenidade
da Imaculada Conceição: a recitação do hino Akathistos, da tradição bizantina, presidida pelo Papa João Paulo
II na Basílica de Santa Maria Maior.
Ícone de Maria venerado na Basílica |
A
palavra “akathistos” em grego
significa “não sentado”, indicando que este hino deve ser entoado em pé. Sua
origem remonta ao século V, depois dos Concílios de Éfeso (431) e Calcedônia
(451), que proclamaram, respectivamente, a maternidade divina de Maria e a
dupla natureza de Cristo (divina e humana).
Embora
tenham sido propostos alguns nomes, a maioria dos estudiosos considera o Akathistos uma composição anônima. “É
bom que assim seja”, dizem os orientais, “assim é de todos, porque é da
Igreja”.
No
Rito Bizantino o Akathistos possui
uma festa própria: o sábado que antecede o V Domingo da Quaresma. Neste dia ele
é solenemente entoado, embora seja proclamado também em outros dias do ano,
especialmente nas festas marianas.
O
hino possui 24 estrofes - o mesmo número de letras do alfabeto grego -
divididas em duas partes: as primeiras 12 são inspiradas nos textos bíblicos
dos Evangelhos da infância do Senhor, enquanto as 12 últimas cantam a fé a
respeito da Virgem Maria formulada nos Concílios e sua relação com o mistério
de Cristo e da Igreja.
As
estrofes intercalam-se em longas (ímpares) e breves (pares). As estrofes
longas, após anunciar o mistério, saúdam a Virgem com 12 invocações, inspiradas
tanto na Escritura quanto na tradição da Igreja, concluindo com a aclamação:
“Ave, Virgem e Esposa!”. As estrofes breves, por sua vez, geralmente são
dirigidas a Cristo, na forma de uma antífona seguida do triplo “Aleluia!”.
Ícone de Maria ladeada pelas 24 estrofes do Akathistos (Notem-se as letras do alfabeto grego, de Alfa a Ômega) |
I parte: “Evangélica” ou
“histórica”:
Estrofes
1-4: A Anunciação do anjo
Estrofe
5: A visita de Maria a Isabel
Estrofe
6: O anúncio do anjo a José
Estrofe
7: A adoração dos pastores
Estrofes
8-10: A adoração dos magos
Estrofe
11: A fuga para o Egito
Estrofe
12: A apresentação do Senhor no Templo
II parte: “Dogmática” ou
“teológica”:
Estrofe
13: A virgindade de Maria
Estrofe
15: A maternidade divina de Maria
Estrofe
17: O parto virginal de Maria
Estrofe
19: Maria, modelo de pureza e santidade
Estrofe
21: Maria, mãe de quem nasce na Igreja
Estrofe
23: Maria, protetora e auxílio de todos os cristãos
As
estrofes 14, 16, 20 e 22 são louvores a Cristo por sua Encarnação, enquanto a estrofe 24 é uma súplica final à Mãe e ao Filho para que nos livrem de todos os
males.
Cumpre
notar que a divisão das 24 estrofes em dois grupos de 12 (tanto na temática
quanto na duração) faz referência à “cidade celeste” descrita no capítulo 21 do
Livro do Apocalipse, com doze portas e doze alicerces. Esta cidade é a Esposa,
simbolizando ao mesmo tempo a Igreja e a Virgem Maria.
O
canto ou recitação do Akathistos
começa e termina, por fim, com um tropárion
à Virgem Maria, provavelmente composto como ação de graças por uma vitória de
Constantinopla sobre os inimigos:
“A Ti Maria, como ao general invencível, meus
cantos de vitória.
A Ti, que me livraste de meus
males, ofereço meus cantos de reconhecimento.
Pois que tens uma força
invencível, livra-me de toda espécie de perigos,
a fim de que te aclame: Ave,
Virgem e esposa!” [2].
Notas:
[1]
Já no Ano Mariano de 1987-1988 haviam ocorrido celebrações nos ritos orientais
em Roma, inclusive com a presença do Papa João Paulo II.
[2]
SPERANDIO, João Manoel; TAMANINI, Paulo Augusto (orgs.). Ofícios Litúrgicos Bizantinos: Akathistos, Paraklises e outros. Teresina:
Editora da Universidade Federal do Piauí, 2015, p. 11. Toda a oração do Akathistos, incluindo algumas orações
iniciais e finais que o acompanham, encontra-se às pp. 04-29.
Referências:
TONIOLO,
Ermanno. Akathistos. in: DE FIORES,
Stefano; MEO, Salvatore. Dicionário de
Mariologia. São Paulo: Paulus, 1995, pp. 23-30.
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