Damos continuidade à nossa série de postagens com a tradução
do subsídio “Un Messale per le nostre
Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e
Catechesi” (Um Missal para as nossas Assembleias: A terceira edição
italiana do Missal Romano entre Liturgia e Catequese), publicado pelo Ofício
Litúrgico da Conferência Episcopal Italiana (CEI) em preparação à 3ª edição do
Missal Romano.
5. A arte de celebrar
Sobre a beleza evangelizadora da Liturgia, é importante
reler as indicações do livro litúrgico no sentido de uma arte de celebrar (ars celebrandi) que nasce de uma ampla e
harmônica «atenção a todas as formas de linguagem previstas pela Liturgia:
palavra e canto, gestos e silêncios, movimento do corpo, cores das vestes
litúrgicas. Com efeito, a Liturgia, por sua natureza, possui tal variedade de
níveis de comunicação que lhe permitem cativar o ser humano na sua totalidade»
(Bento XVI, Exortação Apostólica
Sacramentum caritatis, n. 40). Nesse sentido, é necessário reiterar que o
Missal não é simplesmente uma coleção de “textos” a compreender e proclamar,
mas também, e acima de tudo, um livro que indica “gestos” a pôr em ação e
valorizar, envolvendo os vários ministérios e toda a assembleia. A beleza da
Liturgia nasce da harmonia dos gestos e palavras pelos quais nos envolvemos no
mistério celebrado. (...) As diversas linguagens que sustentam a arte de
celebrar, portanto, não constituem um acréscimo ornamental extrínseco, em vista
de uma maior solenidade, mas pertencem à forma sacramental própria do mistério
eucarístico (CEI, Apresentação da 3ª
edição do Missal Romano, n. 10).
Celebrar é uma arte
Já na Apresentação
da CEI à 2ª edição do Missal Romano (MR) em 1983, se intuía a importância da
arte de celebrar: «A Celebração Eucarística não será pastoralmente eficaz se o
sacerdote não houver adquirido a arte de presidir, isto é, de guiar e animar a
assembleia do povo de Deus» (n. 9). A expressão, que inicialmente era aplicada
ao presidente mas que logo foi estendida para toda a assembleia celebrante,
manifesta uma atenção urgente à implementação do autêntico espírito da reforma
litúrgica. Percebemos que não basta executar, e muito menos improvisar, a nova
forma ritual, mas é preciso agir de modo mais conforme à verdade da ação
litúrgica. Para que a participação no Mistério seja efetiva e eficaz, o estilo
de celebrar é uma questão substancial, não acidental, que se refere a uma
“arte”, ou seja, a uma capacidade de realizar os gestos e as palavras do rito
de maneira adequada, seguindo as normas litúrgicas e valorizando toda a riqueza
da linguagem litúrgica. O MR, neste sentido, funciona como a “partitura” diante
da qual o músico é chamado não a uma leitura, mas a uma interpretação ao mesmo
tempo fiel e criativa, capaz de fazer brotar, da partitura, uma obra de arte.
O Missal, uma "partitura" a interpretar com fidelidade e arte |
A arte de obedecer
Nos números 38-42 da Exortação
Apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja do
Papa Bento XVI (2007), a ars celebrandi
é entendida como a arte de celebrar retamente e de modo adequado os ritos
litúrgicos, segundo duas direções fundamentais: a obediência às normas
litúrgicas e a atenção às formas de linguagem previstas pela Liturgia. Sobre o
primeiro aspecto se recorda que a ars
celebrandi «resulta da fiel obediência às normas litúrgicas na sua
integridade, pois é precisamente este modo de celebrar que, há dois mil anos,
garante a vida de fé de todos os crentes, chamados a viver a celebração
enquanto povo de Deus, sacerdócio real, nação santa (cf. 1Pd 2,4-5.9)» (n. 38). Como nos recordam os Bispos italianos,
«hoje aparecem com nova clareza a importância e a exigência de apresentar com o
MR um modelo ritual unitário e compartilhado, a partir do qual possa tomar
forma toda celebração, de modo que cada assembleia eucarística individual
manifesta a unidade da Igreja orante» (CEI, Apresentação
da 3ª edição do Missal Romano, n. 7). Mais de cinquenta anos após o início
da reforma litúrgica, estamos mais conscientes do quanto a obediência litúrgica
é uma virtude a ser exercitada com sabedoria e, de fato, com arte, para que as
palavras e os gestos da Liturgia não pareçam estranhos e forçados, mas capazes
de tocar as mentes e os corações daqueles que estão dispostos a entrar na
“morada” da Liturgia. Está em jogo a capacidade da ação litúrgica de aparecer
não como uma ação nossa, mas da Igreja e, mais profundamente, do Senhor: é
disso que fala a fidelidade a uma ação que nos precede e que não foi posta em
nossas mãos para ser manipulada e adulterada.
A arte de harmonizar
O segundo aspecto da arte de celebrar evidenciado pela
Exortação Sacramentum caritatis é
aquele de um “acordo” ritual capaz de harmonizar a rica variedade de registros
comunicativos envolvidos no encontro sacramental. A arte de celebração é
definida como a arte de coordenar de modo orgânico os diversos elementos e
linguagens do rito - a arquitetura, as imagens, o canto, as palavras, os
movimentos... -, para que sejam adequados tanto ao mistério celebrado quanto à
assembleia concreta. O princípio conciliar da “nobre simplicidade” (Sacrosanctum Concilium, n. 34) é
retomado pelos Bispos italianos na perspectiva de «uma Liturgia séria, simples
e bela, que seja veículo do mistério, permanecendo ao mesmo tempo inteligível,
capaz de narrar a perene aliança de Deus com os homens» [1]. A busca pela
sobriedade, contra a artificialidade de acréscimos inoportunos, se une a um
fundamental respeito pela linguagem singular da Liturgia, que não confunde a
simplicidade com o desleixo e que não renuncia à busca de uma linguagem “digna”
da grandeza do Senhor, atenta à qualidade “poética” de uma linguagem que, assim
como a poesia, se apresenta como uma “diferença que atrai”.
A “regra de ouro” da
caridade
Acima de tudo, por fim, vigia a “regra de ouro” da caridade,
que se traduz em um vivo senso da gratuidade, capaz de articular a relação
entre disciplina e espontaneidade, envolvimento pessoal e esvaziamento de si
mesmo, atenção aos aspectos técnicos (relativos ao canto, à música, à leitura,
ao modo de mover-se) e espírito de oração. Na Liturgia o cuidado pelos detalhes
e o empenho em garantir que tudo se desenvolva do modo mais correto não deve,
de modo algum, distrair a atenção do objetivo da oração, que é aquele de estar
juntos, na simplicidade, diante do Senhor. A celebração, da preparação à sua
realização, seja vivida pelos ministros e pelos fiéis com mansidão e paciência;
não haja espaço para censuras, nem para palavras ou gestos que possam, de
qualquer forma, ferir a dignidade dos participantes.
Para refletir juntos:
- O que merece atenção para que as múltiplas linguagens da
celebração (espaço, tempo, canto, imagens...) sejam implementadas em verdade e
plenitude, de modo que não apareçam como elementos decorativos, mas sejam valorizadas
para uma autêntica experiência do Mistério?
- Quais percursos formativos podem ser implementados para
sensibilizar os ministros e todos os fiéis para a arte de celebrar, sabendo
utilizar as diversas linguagens da Liturgia?
- Em quais linguagens a nossa comunidade mais sente a
necessidade de crescer em sensibilidade?
Nota:
[1] CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Comunicare il Vangelo in un mondo che cambia: Orientamenti pastorali
dell’Episcopato italiano per il primo decennio del 2000, 29 giugno 2001, n.
49.
Fonte:
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. L’arte di celebrare. in: Un
Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano
tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi Francesco d’Assisi
e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 31-35.
Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/
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