quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O presépio

“Encontrareis um recém-nascido deitado numa manjedoura” (Lc 2,12).

Os Tempos do Advento e do Natal são particularmente ricos em manifestações da devoção do Povo de Deus, dentre as quais uma das mais queridas é sem dúvida o presépio.

Se ao proclamarmos o Evangelho do nascimento do Senhor a fé nos entra pelos ouvidos (Rm 10,17), ao contemplarmos o presépio esta mesma “boa-nova” nos entra pelos olhos e chega à mente e ao coração.

Presépio napolitano do século XVIII
(Metropolitan Museum of Art, New York)

1. História do presépio

A palavra presépio vem do latim praesepe ou praesepium, que indica tanto o estábulo, o local onde se abrigam os animais domésticos, quanto a manjedoura, o recipiente onde se deposita a comida dos animais.

Na tradução da Sagrada Escritura para o latim, a Vulgata, São Jerônimo utiliza esse termo para representar o grego φάτνη, que significa especificamente “manjedoura”, citada três vezes no Evangelho de Lucas (Lc 2,7.12.16) como o local onde Maria depositou o Menino Jesus logo após seu nascimento e onde Ele foi visitado pelos pastores de Belém.

Com o tempo, porém, o termo passou a significar a representação da cena do nascimento de Jesus, realizada com imagens de diversos materiais, montada nas igrejas, nas praças, nas casas e em diversos lugares no Tempo do Natal.

Embora o “presépio” como o conhecemos tenha se popularizado apenas no final da Idade Média, as representações do nascimento do Senhor remontam aos primeiros séculos do Cristianismo. As imagens mais antigas do recém-nascido com sua Mãe que chegaram até nós remontam ao início do século III (Catacumbas de Priscila em Roma).


A própria celebração do Natal, porém, só se desenvolveria a partir do século IV: no Ocidente no dia 25 de dezembro, recordando o nascimento de Jesus em Belém; e no Oriente no dia 06 de janeiro, como uma celebração mais ampla da manifestação do Senhor (Epifania). Com o tempo as duas celebrações influenciaram-se mutuamente.

Imagem do Menino Jesus sobre o altar da Natividade em Belém

No Oriente essa celebração ganha impulso a partir da construção da Basílica da Natividade em Belém, sobre “a gruta onde nasceu o Senhor”, como testemunha a peregrina Etéria no final do século IV [1].


No Ocidente destaca-se a Basílica de Santa Maria Maior em Roma, construída no tempo do Papa Sisto III (†440). Nessa Basílica, com efeito, havia um oratório conhecido como Sancta Maria ad praesepe (Santa Maria do presépio), onde o Papa celebrava a Missa da Noite de Natal e que desde o tempo do Papa Teodoro I (†649) conservava as supostas relíquias da manjedoura.

O “oratório do presépio” deu lugar no final do século XVI à Capela do Santíssimo Sacramento, projetada pelo arquiteto Domenico Fontana (†1607). Sob o magnífico sacrário, porém, conserva-se um altar em honra do antigo oratório ad praesepe. As relíquias, por sua vez, foram transladadas ao hipogeu sob o altar principal da Basílica.

O Papa Francisco devolveu parte das relíquias à Terra Santa em 2019. Para saber mais, clique aqui.

Papa Francisco celebra no "altar do presépio"
(08 de dezembro de 2020)

Para conhecer um pouco da história da Basílica de Santa Maria Maior, clique aqui.

São Francisco de Assis e o “presépio” de Greccio

A tradição de montar o presépio nas igrejas e nas casas, porém, tem origem a partir de um gesto de São Francisco de Assis (†1226).

Como testemunha Tomás de Celano (†1265) no capítulo 30 de sua biografia de São Francisco (Prima vita, nn. 84-87), o santo quis celebrar a Missa da Noite do Natal de 1223 em uma gruta na localidade de Greccio, na província italiana de Rietti.

Para essa celebração foi preparada junto ao altar uma manjedoura com palha e um fazendeiro local trouxe um boi e um burro: “Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade” [2].

São Francisco, como era diácono, revestiu os paramentos litúrgicos e proclamou o Evangelho, fazendo em seguida a pregação. Tomás de Celano testemunha que um dos presentes “pareceu ver deitado no presépio um bebê sem vida, que despertou quando o santo chegou perto. E essa visão veio muito a propósito, porque o Menino Jesus estava de fato esquecido em muitos corações”.

Representação do "presépio de Greccio"
(Antonio Vite, Pistoia)

Fica claro, portanto, que o “presépio” de Greccio foi constituído somente pela manjedoura com palha junto ao altar e pela presença do boi e do burro. Ao contrário do que às vezes se diz, não foram realizadas figuras dos personagens do Evangelho e a presença do Menino Jesus sobre a manjedoura teria sido uma “visão”. Não obstante, o gesto de Francisco de Assis seria o “pontapé inicial” da tradição do presépio como o conhecemos, difundido por seus seguidores.

Atribui-se ao arquiteto e escultor Arnolfo di Cambio (†1310) a realização de um dos primeiros “presépios” no sentido de conjunto de esculturas do mistério do Natal.

Este presépio foi realizado em 1291 justamente para o oratório de Sancta Maria ad praesepe, atualmente conservado no museu da Basílica. É formado por cinco peças esculpidas em mármore: as cabeças do boi e do burro; São José; a Virgem Maria com o Menino; um Mago ajoelhado; e outros dois Magos em pé [3].

O presépio de Arnolfo di Cambio
Museu da Basílica de Santa Maria Maior, Roma

A devoção do presépio logo foi rapidamente difundida, sendo um excelente meio de catequese sobre o mistério da Encarnação, de evangelização e de inculturação. Com efeito, em muitos presépios se acrescentam aos personagens do Evangelho figuras da cultura local: pessoas com vestes típicas realizando atividades cotidianas, animais de cada região, ornamentação com plantas locais...

Assim, há presépios mais simples, com as três figuras centrais de Jesus, Maria e José, e presépios que são quase “cidades em miniatura”, com dezenas ou mesmo centenas de personagens, como os artísticos presépios realizados em Nápoles (Itália) no século XVIII.

2. Os personagens do presépio e seu simbolismo

O ambiente: uma casa ou uma gruta?

O estábulo onde estava a manjedoura é representado nos presépios ora como uma “casa” ou construção de madeira ou pedra, ora como uma gruta ou caverna. A caverna faz um paralelo com o sepulcro, assim como a madeira da manjedoura remete-nos ao lenho da cruz, recordando portanto a unidade do mistério de Cristo [4].

Alguns presépios situam a cena do nascimento do Senhor entre as ruínas de um templo antigo, indicando que com Ele “o mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo” (2Cor 5,17).

Presépio napolitano do século XVIII
(Museu de Arte Sacra de São Paulo)

Às vezes ao redor do estábulo ou gruta incluem-se vários elementos do relevo (montanhas, colinas, estradas, fontes...) remetendo-nos à exortação do profeta Isaías, retomada por São João Batista e proclamada pela Igreja no Advento: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas, e os caminhos acidentados serão aplainados” (Lc 3,4-5; cf. Is 40,3-4).

A Sagrada Família: Jesus, Maria e José

O centro do presépio é formado, naturalmente, por “Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2,16), embora a imagem do Menino Jesus raramente reflita a de um recém-nascido, sendo às vezes desproporcional às demais figuras (perspectiva hierárquica) para facilitar sua veneração pelos fiéis.

Ao lado do Menino está sempre sua Mãe, geralmente reclinada, em uma atitude orante. José, que nas imagens antigas aparecia distante ou mesmo adormecido (indicando sua participação passiva no mistério da Encarnação), no presépio ladeia a manjedoura junto à esposa. Ora traz um bordão e/ou lanterna, indicando a caminhada de Nazaré a Belém (Lc 2,4) e prefigurando a fuga ao Egito (Mt 2,13ss), ora sustenta uma haste florida, símbolo de eleição divina (cf. Nm 17,16-26), tema retomado nos Evangelhos apócrifos.

A Sagrada Família e os animais
Presépio no Santuário de Greccio, Itália

O boi e o burro

Embora o boi e o burro não sejam mencionados no Evangelho, muito cedo os dois animais foram acrescentados à cena à luz de uma profecia de Isaías: “O boi reconhece o seu dono e o burro, a manjedoura do seu senhor; mas Israel não me conhece, meu povo não quer entender” (Is 1,3).

O boi e o burro seriam assim uma “crítica” silenciosa àqueles, judeus e pagãos, que não foram capazes de acolher o Salvador (cf. Jo 1,10-11).

Os pastores e as ovelhas

O Evangelho de Lucas apresenta-nos os pastores e seus rebanhos como primeiras testemunhas do nascimento do Senhor (Lc 2,8-20). O simbolismo do pastor e do rebanho, com efeito, é recorrente na Sagrada Escritura para expressar a relação entre Deus e seu povo (cf. Ez 34; Jo 10...).

O número de pastores varia, embora costumem ser três, em paralelo aos três magos, ou quatro, com idades distintas: uma criança, um jovem, um adulto, um idoso, representando assim toda a humanidade.

Dentre as ovelhas, uma pode aparecer deitada no chão com os pés atados, apontando para sacrifício de Cristo, “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Também é comum que uma das ovelhas seja levada aos ombros por um pastor, remetendo-nos à célebre parábola de Lc 15,4-7.

Presépio da Basílica de São Pedro no Vaticano

Os anjos

É também do Evangelho de Lucas o testemunho sobre a presença de um “anjo do Senhor” que fala aos pastores (Lc 2,9-12) e de uma “uma multidão da coorte celeste” (v. 13).

No presépio podem aparecer, portanto, um ou mais anjos, às vezes com instrumentos musicais e/ou sustentando uma faixa com as palavras do cântico: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados” (v. 14).

Os magos e a estrela

O Evangelho de Mateus fala-nos de “magos do Oriente” que visitaram o Menino e lhe presentearam com “ouro, incenso e mirra” (Mt 2,1-12). A partir do número dos presentes a tradição cristã logo fixou também em três o número dos magos.

Posteriormente, à luz do Sl 71 (72), se interpretou que os magos seriam também reis. Com o tempo foram sendo-lhes acrescentados outros simbolismos para expressar que através deles Cristo se manifestava a toda a humanidade: as três idades do homem, como vimos acima (infância, maturidade e velhice); os três continentes então conhecidos (África, Ásia e Europa)...

No presépio os magos costumam ainda vir montados ou acompanhados de camelos ou dromedários (cf. Is 60,4-6) e às vezes tendo junto a si alguns servidores.

Presépio napolitano do Museu de Arte Sacra de São Paulo

Raramente falta no presépio ou na árvore de Natal junto a ele a estrela que guiou os magos a Belém. Essa ora é uma espécie de “cometa” ora é uma estrela de oito pontas, indicando que com o nascimento de Cristo começa uma “nova criação” (os sete dias do Gênesis + o oitavo dia, o dia eterno).

Outros personagens

Por fim, como afirmamos anteriormente, muitos presépios trazem outros personagens, geralmente vestidos com roupas típicas de cada tempo e lugar, realizando atividades cotidianas: homens e mulheres que tiram água de um poço, que assam pão em um forno, que praticam as obras de misericórdia (cf. Mt 25,31-46). Não raro esses personagens são acompanhados de animais domésticos (cães, galos e galinhas, patos...).

Essas imagens, além de propor o diálogo entre Evangelho e cultura, nos recordam o valor da santidade do quotidiano, da qual a Sagrada Família é o grande exemplo.

3. Quando montar e quando desmontar o presépio?

Não há uma normativa específica sobre quando montar e desmontar o presépio. Esta está longe de ser a questão mais importante sobre essa devoção: vale nesse sentido uma sadia criatividade e os legítimos costumes locais.

Porém, podemos aproveitar a pergunta para recordar alguns dados sobre os Tempos do Advento e do Natal [5]:

Presépio da Praça de São Pedro no Vaticano (2014)

a) Quando montar o presépio?

- no 1º Domingo do Advento: a Igreja inicia a preparação para o nascimento do Senhor quatro domingos antes do Natal, os quais integram o Tempo do Advento;

- no dia 17 de dezembro: o Advento é marcado por duas etapas: do 1º Domingo até o dia 16 de dezembro a Liturgia é centrada na expectativa da última vinda de Cristo e no convite à conversão feito por São João Batista; os dias 17 a 24 de dezembro, por sua vez, são marcados pela preparação próxima para o Natal do Senhor, com a leitura dos “Evangelhos da infância”. Assim, se poderia montar o presépio no dia 17 de dezembro ou próximo a ele, dando início à “novena de Natal”.

- montar o presépio pouco a pouco: uma proposta pastoral seria montar o presépio progressivamente, um elemento a cada domingo do Advento, de maneira pedagógica, ou melhor, mistagógica (palavra que significa “conduzir ao mistério”), remetendo-nos às várias etapas da história da salvação.

As etapas poderiam ser as seguintes (esta é apenas uma sugestão):
1º Domingo do Advento: apenas o ambiente do presépio;
2º Domingo: os pastores com seus rebanhos;
3º Domingo (Domingo da Alegria): os anjos;
4º Domingo: a Virgem Maria e São José;
Noite de Natal: o Menino Jesus;
Solenidade da Epifania: os magos.

O mesmo pode ser feito com a árvore de Natal junto ao presépio: ao longo dos domingos do Advento essa iria recebendo seus enfeites, pouco a pouco, culminando na Noite de Natal.

Presépio e árvore de Natal
(Metropolitan Museum of Art, New York)

Essa montagem progressiva do presépio, na qual convém envolver sobretudo as crianças (cf. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 104), poderia ser destacada na comunidade antes da celebração dominical, acompanhada da iluminação da respectiva vela da coroa do Advento e de um breve momento de oração.

Nas casas essa montagem do presépio é “ocasião para que os vários membros da família se coloquem em contato com o mistério do Natal e se recolham de vez em quando para um momento de oração ou de leitura das páginas bíblicas referentes ao nascimento de Jesus” (ibid.).

b) A “inauguração do presépio” na noite de Natal

Seja montado progressivamente ou “de uma só vez”, é tradição depositar a imagem do Menino Jesus na manjedoura apenas na noite de Natal. Na Missa da Noite, com efeito, esse gesto tem lugar no final da celebração, quando a imagem é conduzida em procissão ao presépio (ibid., n. 111).

Vale recordar que nas igrejas é importante montar o presépio fora do presbitério, em uma capela lateral ou outro local adequado, pois esse é um elemento devocional, não litúrgico. No espaço litúrgico nada pode desviar a atenção do altar, do ambão e da cadeira presidencial.

O mesmo vale para as encenações, “autos de Natal” ou “presépios vivos”: são muito recomendados, mas sempre fora das celebrações litúrgicas. O Diretório sobre Piedade Popular adverte sobre “a profunda diferença que existe entre a ‘encenação’, que é mimese [repetição ou memória], e a ‘ação litúrgica’, que é anamnese, presença mistérica do evento salvífico” (n. 144).

Na celebração, com efeito, convém valorizar as “presenças de Cristo”: na Palavra proclamada, no pão e no vinho partilhados, na comunidade reunida, como indica o Evangelho do Dia do Natal: “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14; cf. At 2,42; Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 7).

Papa Francisco incensa o presépio após a deposição da imagem do Menino Jesus
(Missa da Noite de Natal, 24 de dezembro de 2016)

Nas casas, por sua vez, a inauguração do presépio na noite de Natal “pode dar lugar a um momento de oração de toda a família: oração que implique a leitura da narrativa lucana do nascimento de Jesus (Lc 2,1-14 ou Lc 2,1-20), na qual ressoem os cânticos típicos do Natal e se elevem a súplica e o louvor, sobretudo das crianças, protagonistas deste encontro familiar” (Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 109).


c) Quando desmontar o presépio?

- na Solenidade da Epifania: muitos desmontam o presépio logo após o dia 06 de janeiro, Solenidade da Epifania (manifestação) do Senhor. No Brasil, porém, essa Solenidade é transferida para o domingo entre os dias 02 e 08 de janeiro.

- no domingo após a Epifania, Festa do Batismo do Senhor: com efeito, esta seria a opção mais adequada liturgicamente, pois o Tempo do Natal não termina na Epifania, mas sim no Batismo do Senhor, quando a voz do Pai confirma o que celebramos: “Este é o meu Filho amado...” (Mt 3,17 e paralelos) e “faz a ponte” com o Tempo Comum, durante o qual contemplamos a vida pública de Jesus.

- na Festa da Apresentação do Senhor: esta festa é um “eco” do Tempo do Natal, sendo celebrada 40 dias após o nascimento do Senhor (02 de fevereiro).

Papa Bento XVI reza diante do presépio da Praça de São Pedro
(31 de dezembro de 2009)

Sobre as imagens dos magos, estas podem ser inseridas apenas na Solenidade da Epifania ou, se colocadas anteriormente, movidas dentro do presépio ao longo do Advento, aproximando-se pouco a pouco da manjedoura.

Entre a Epifania e o Batismo do Senhor, por sua vez, as imagens poderiam ser novamente afastadas da manjedoura, porém no lado oposto do presépio, recordando que, após o encontro com o Senhor, os magos “retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho” (Mt 2,12), o que aqui simboliza conversão, mudança de vida.

4. “Se não vos fizerdes como crianças...”: Uma espiritualidade do presépio

Desde o ano de 1982 se realiza anualmente a montagem de um grande presépio na Praça de São Pedro, cada ano emprestado de um lugar diferente do mundo. Porém, foi com a eleição do primeiro Papa latino-americano que tanto a devoção do presépio quanto a piedade popular em geral ganharam maior destaque na Igreja.

Em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (nn. 122-126), com efeito, Francisco destaca a “força evangelizadora da piedade popular”. No dia 01 de dezembro de 2019, por sua vez, o Bispo de Roma foi a Greccio, onde outrora o diácono Francisco entoara o Evangelho da noite de Natal diante de uma manjedoura. Na gruta de Greccio, com efeito, o Papa Francisco promulgou a Carta Apostólica Admirabile signum sobre o significado e valor do Presépio.

Papa Francisco em Greccio

Foi a publicação dessa Carta que motivou-nos a revisar e ampliar esta postagem neste ano de 2021, dez anos após sua publicação original. A montagem do presépio pode ser amplamente enriquecida se acompanhada da leitura desse breve documento, de apenas dez parágrafos, mas profundo de sentido.

“Não sorrio quando te vejo fazer as montanhas de musgo do presépio e dispor as ingênuas figuras de barro em volta da gruta. Nunca me pareceste mais homem do que agora, que pareces uma criança” (São Josemaría Escrivá, Caminho, 557).

A devoção do presépio toca profundamente as crianças, mas também a cada um de nós, a quem o Senhor adverte: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18,3).

A Constituição Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II afirma que “Cristo revela o homem ao homem” (n. 22), e o faz com toda a sua vida. “Toda a vida de Cristo é mistério”. Assim, contemplando o presépio, aprendemos d’Ele, de sua humildade, de seu silêncio, de seu esvaziamento (kenosis)...

Imagem do Menino Jesus sobre a rocha da gruta de Greccio

São Paulo exorta-nos: “Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus” (Fl 2,5), e arremata, fazendo suas as palavras com as quais a Igreja nascente rezava: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas Ele esvaziou-se a si mesmo assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente...” (Fl 2,6-8).

Confira também:
Homilia do Papa Francisco em Belém (2014) -Quem somos nós diante de Jesus Menino?

Notas:

[1] cf. ETÉRIA, Peregrinação ou Diário de Viagem, n. 42; in: CORDEIRO, José de Leão [org.]. Antologia Litúrgica: Textos litúrgicos, patrísticos e canónicos do primeiro milénio. Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2003, p. 460.

[2] Tomás de Celano, Prima Vita (1Cel), cap. 30, nn. 84-86. Texto em latim e em português disponível no site do Centro Franciscano de Espiritualidade, ligado à Província dos Capuchinhos de São Paulo.

[3] Considera-se que a imagem da Virgem Maria tenha sido realizada posteriormente, talvez durante o século XV, substituindo a original que teria se perdido.

[4] cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 512-521: “Toda a vida de Cristo é mistério”. Augusto Bergamini recorda ainda outros paralelos entre o Natal e o Mistério Pascal da Morte-Ressurreição de Cristo: o simbolismo das faixas e do sudário; os pastores que correm e os magos com presentes ao encontro do Menino e as mulheres e Apóstolos que correm ao túmulo... (cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo, festa da Igreja: O ano litúrgico. São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 215-216).

[5] cf. Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, nn. 32-42. in: MISSAL ROMANO, Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991, pp. 105-106.

Referências:

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2003, pp. 97-102.

DONOVAN, Stephen. Crib. in: The Catholic Encyclopedia. vol. 4, 1908. Disponível em: New Advent.


RATZINGER, Joseph (Bento XVI). A infância de Jesus. São Paulo: Planeta, 2012.

Imagens: Wikimedia Commons / Vatican News.

Postagem publicada originalmente em 21 de dezembro de 2011. Revista e ampliada em 11 de novembro de 2021.

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