“Encontrareis um recém-nascido deitado numa
manjedoura” (Lc 2,12).
Os Tempos do
Advento e do Natal são particularmente ricos em manifestações da devoção do
Povo de Deus, dentre as quais uma das mais queridas é sem dúvida o presépio.
Se ao
proclamarmos o Evangelho do nascimento do Senhor a fé nos entra pelos ouvidos (Rm 10,17), ao contemplarmos o presépio
esta mesma “boa-nova” nos entra pelos olhos e chega à mente e ao coração.
1. História do presépio
A palavra
presépio vem do latim praesepe
ou praesepium, que indica tanto o estábulo, o local onde se
abrigam os animais domésticos, quanto a manjedoura, o recipiente onde se
deposita a comida dos animais.
Na tradução da Sagrada Escritura para o
latim, a Vulgata, São Jerônimo utiliza esse termo para representar o
grego φάτνη, que significa especificamente “manjedoura”, citada três
vezes no Evangelho de Lucas (Lc 2,7.12.16) como o local onde Maria
depositou o Menino Jesus logo após seu nascimento e onde Ele foi visitado pelos
pastores de Belém.
Com o tempo,
porém, o termo passou a significar a representação da cena do nascimento de
Jesus, realizada com imagens de diversos materiais, montada nas igrejas, nas
praças, nas casas e em diversos lugares no Tempo do Natal.
Embora o
“presépio” como o conhecemos tenha se popularizado apenas no final da Idade
Média, as representações do nascimento do Senhor remontam aos primeiros séculos
do Cristianismo. As imagens mais antigas do recém-nascido com sua Mãe que
chegaram até nós remontam ao início do século III (Catacumbas de Priscila em
Roma).
Para conhecer o simbolismo do ícone bizantino do nascimento do Senhor, clique aqui.
A própria
celebração do Natal, porém, só se desenvolveria a partir do século IV: no
Ocidente no dia 25 de dezembro, recordando o nascimento de Jesus em Belém; e no
Oriente no dia 06 de janeiro, como uma celebração mais ampla da manifestação do
Senhor (Epifania). Com o tempo as duas celebrações influenciaram-se mutuamente.
No Oriente essa
celebração ganha impulso a partir da construção da Basílica da Natividade em
Belém, sobre “a gruta onde nasceu o Senhor”, como testemunha a peregrina Etéria
no final do século IV [1].
Para saber mais sobre a história da Basílica da Natividade, clique aqui.
No Ocidente destaca-se
a Basílica de Santa Maria Maior em Roma, construída no tempo do Papa Sisto III
(†440). Nessa Basílica, com efeito, havia um oratório conhecido como Sancta Maria ad praesepe (Santa Maria do
presépio), onde o Papa celebrava a Missa da Noite de Natal e que desde o tempo
do Papa Teodoro I (†649) conservava as supostas relíquias da manjedoura.
O “oratório do
presépio” deu lugar no final do século XVI à Capela do Santíssimo Sacramento,
projetada pelo arquiteto Domenico Fontana (†1607). Sob o magnífico sacrário,
porém, conserva-se um altar em honra do antigo oratório ad praesepe. As relíquias, por sua vez, foram transladadas ao
hipogeu sob o altar principal da Basílica.
O Papa Francisco devolveu parte das relíquias à Terra Santa em 2019. Para saber mais, clique aqui.
Papa Francisco celebra no "altar do presépio" (08 de dezembro de 2020) |
Para conhecer um pouco da história da Basílica de Santa Maria Maior, clique aqui.
São
Francisco de Assis e o “presépio” de Greccio
A tradição de
montar o presépio nas igrejas e nas casas, porém, tem origem a partir de um
gesto de São Francisco de Assis (†1226).
Como testemunha
Tomás de Celano (†1265) no capítulo 30 de sua biografia de São Francisco (Prima vita, nn. 84-87), o santo quis
celebrar a Missa da Noite do Natal de 1223 em uma gruta na localidade de
Greccio, na província italiana de Rietti.
Para essa
celebração foi preparada junto ao altar uma manjedoura com palha e um
fazendeiro local trouxe um boi e um burro: “Greccio tornou-se uma nova Belém,
honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade” [2].
São Francisco,
como era diácono, revestiu os paramentos litúrgicos e proclamou o Evangelho, fazendo
em seguida a pregação. Tomás de Celano testemunha que um dos presentes “pareceu
ver deitado no presépio um bebê sem vida, que despertou quando o santo chegou
perto. E essa visão veio muito a propósito, porque o Menino Jesus estava de
fato esquecido em muitos corações”.
Fica claro,
portanto, que o “presépio” de Greccio foi constituído somente pela manjedoura
com palha junto ao altar e pela presença do boi e do burro. Ao contrário do que
às vezes se diz, não foram realizadas figuras dos personagens do Evangelho e a
presença do Menino Jesus sobre a manjedoura teria sido uma “visão”. Não
obstante, o gesto de Francisco de Assis seria o “pontapé inicial” da tradição
do presépio como o conhecemos, difundido por seus seguidores.
Atribui-se ao
arquiteto e escultor Arnolfo di Cambio (†1310) a realização de um dos primeiros
“presépios” no sentido de conjunto de esculturas do mistério do Natal.
Este presépio
foi realizado em 1291 justamente para o oratório de Sancta Maria ad praesepe, atualmente conservado no museu da
Basílica. É formado por cinco peças esculpidas em mármore: as cabeças do boi e
do burro; São José; a Virgem Maria com o Menino; um Mago ajoelhado; e outros
dois Magos em pé [3].
A devoção do
presépio logo foi rapidamente difundida, sendo um excelente meio de catequese
sobre o mistério da Encarnação, de evangelização e de inculturação. Com efeito,
em muitos presépios se acrescentam aos personagens do Evangelho figuras da
cultura local: pessoas com vestes típicas realizando atividades cotidianas,
animais de cada região, ornamentação com plantas locais...
Assim, há presépios
mais simples, com as três figuras centrais de Jesus, Maria e José, e presépios
que são quase “cidades em miniatura”, com dezenas ou mesmo centenas de
personagens, como os artísticos presépios realizados em Nápoles (Itália) no
século XVIII.
2. Os personagens do presépio e seu
simbolismo
O
ambiente: uma casa ou uma gruta?
O estábulo onde
estava a manjedoura é representado nos presépios ora como uma “casa” ou
construção de madeira ou pedra, ora como uma gruta ou caverna. A caverna faz um
paralelo com o sepulcro, assim como a madeira da manjedoura remete-nos ao lenho
da cruz, recordando portanto a unidade do mistério de Cristo [4].
Alguns presépios
situam a cena do nascimento do Senhor entre as ruínas de um templo antigo,
indicando que com Ele “o mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo” (2Cor 5,17).
Às vezes ao
redor do estábulo ou gruta incluem-se vários elementos do relevo (montanhas, colinas,
estradas, fontes...) remetendo-nos à exortação do profeta Isaías, retomada por
São João Batista e proclamada pela Igreja no Advento: “Preparai o caminho do Senhor,
endireitai suas veredas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão
rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas, e os caminhos acidentados
serão aplainados” (Lc 3,4-5; cf. Is 40,3-4).
A
Sagrada Família: Jesus, Maria e José
O centro do
presépio é formado, naturalmente, por “Maria e José, e o recém-nascido deitado
na manjedoura” (Lc 2,16), embora a
imagem do Menino Jesus raramente reflita a de um recém-nascido, sendo às vezes
desproporcional às demais figuras (perspectiva hierárquica) para facilitar sua
veneração pelos fiéis.
Ao lado do
Menino está sempre sua Mãe, geralmente reclinada, em uma atitude orante. José,
que nas imagens antigas aparecia distante ou mesmo adormecido (indicando sua
participação passiva no mistério da Encarnação), no presépio ladeia a
manjedoura junto à esposa. Ora traz um bordão e/ou lanterna, indicando a caminhada
de Nazaré a Belém (Lc 2,4) e prefigurando
a fuga ao Egito (Mt 2,13ss), ora sustenta
uma haste florida, símbolo de eleição divina (cf. Nm 17,16-26), tema
retomado nos Evangelhos apócrifos.
O boi
e o burro
Embora o boi e o
burro não sejam mencionados no Evangelho, muito cedo os dois animais foram
acrescentados à cena à luz de uma profecia de Isaías: “O boi reconhece o seu
dono e o burro, a manjedoura do seu senhor; mas Israel não me conhece, meu povo
não quer entender” (Is 1,3).
O boi e o burro
seriam assim uma “crítica” silenciosa àqueles, judeus e pagãos, que não foram
capazes de acolher o Salvador (cf. Jo
1,10-11).
Os
pastores e as ovelhas
O Evangelho de Lucas apresenta-nos os
pastores e seus rebanhos como primeiras testemunhas do nascimento do Senhor (Lc 2,8-20). O simbolismo do pastor e do
rebanho, com efeito, é recorrente na Sagrada Escritura para expressar a relação
entre Deus e seu povo (cf. Ez 34; Jo 10...).
O número de
pastores varia, embora costumem ser três, em paralelo aos três magos, ou quatro,
com idades distintas: uma criança, um jovem, um adulto, um idoso, representando
assim toda a humanidade.
Dentre as
ovelhas, uma pode aparecer deitada no chão com os pés atados, apontando para
sacrifício de Cristo, “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Também é comum que uma das
ovelhas seja levada aos ombros por um pastor, remetendo-nos à célebre parábola
de Lc 15,4-7.
Os anjos
É também do Evangelho de Lucas o testemunho sobre a
presença de um “anjo do Senhor” que fala aos pastores (Lc 2,9-12) e de uma “uma multidão da coorte celeste” (v. 13).
No presépio
podem aparecer, portanto, um ou mais anjos, às vezes com instrumentos musicais
e/ou sustentando uma faixa com as palavras do cântico: “Glória a Deus no mais
alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados” (v. 14).
Os
magos e a estrela
O Evangelho de Mateus fala-nos de “magos
do Oriente” que visitaram o Menino e lhe presentearam com “ouro, incenso e
mirra” (Mt 2,1-12). A partir do
número dos presentes a tradição cristã logo fixou também em três o número dos
magos.
Posteriormente,
à luz do Sl 71 (72), se interpretou
que os magos seriam também reis. Com o tempo foram sendo-lhes acrescentados
outros simbolismos para expressar que através deles Cristo se manifestava a
toda a humanidade: as três idades do homem, como vimos acima (infância,
maturidade e velhice); os três continentes então conhecidos (África, Ásia e
Europa)...
No presépio os
magos costumam ainda vir montados ou acompanhados de camelos ou dromedários (cf. Is 60,4-6) e às vezes tendo junto a
si alguns servidores.
Raramente falta no
presépio ou na árvore de Natal junto a ele a estrela que guiou os magos a
Belém. Essa ora é uma espécie de “cometa” ora é uma estrela de oito pontas, indicando que com o nascimento de
Cristo começa uma “nova criação” (os sete dias do Gênesis + o oitavo dia, o dia eterno).
Outros
personagens
Por fim, como
afirmamos anteriormente, muitos presépios trazem outros personagens, geralmente
vestidos com roupas típicas de cada tempo e lugar, realizando atividades
cotidianas: homens e mulheres que tiram água de um poço, que assam pão em um
forno, que praticam as obras de misericórdia (cf. Mt 25,31-46). Não raro esses personagens são acompanhados de
animais domésticos (cães, galos e galinhas, patos...).
Essas imagens,
além de propor o diálogo entre Evangelho e cultura, nos recordam o valor da
santidade do quotidiano, da qual a Sagrada Família é o grande exemplo.
3. Quando montar e quando desmontar o
presépio?
Não há uma
normativa específica sobre quando montar e desmontar o presépio. Esta está
longe de ser a questão mais importante sobre essa devoção: vale nesse sentido
uma sadia criatividade e os legítimos costumes locais.
Porém, podemos aproveitar a pergunta para recordar alguns dados sobre os Tempos do Advento e do Natal [5]:
Presépio da Praça de São Pedro no Vaticano (2014) |
a)
Quando montar o presépio?
- no 1º
Domingo do Advento: a Igreja inicia a preparação para o nascimento do
Senhor quatro domingos antes do Natal, os quais integram o Tempo do Advento;
- no
dia 17 de dezembro: o Advento é marcado por duas etapas: do 1º Domingo
até o dia 16 de dezembro a Liturgia é centrada na expectativa da última vinda de
Cristo e no convite à conversão feito por São João Batista; os dias 17 a 24 de
dezembro, por sua vez, são marcados pela preparação próxima para o Natal do
Senhor, com a leitura dos “Evangelhos da infância”. Assim, se poderia montar o
presépio no dia 17 de dezembro ou próximo a ele, dando início à “novena de
Natal”.
- montar
o presépio pouco a pouco: uma proposta pastoral seria montar o presépio
progressivamente, um elemento a cada domingo do Advento, de maneira pedagógica,
ou melhor, mistagógica (palavra que significa “conduzir ao mistério”),
remetendo-nos às várias etapas da história da salvação.
As etapas
poderiam ser as seguintes (esta é apenas uma sugestão):
1º Domingo do
Advento: apenas o ambiente do presépio;
2º Domingo: os
pastores com seus rebanhos;
3º Domingo (Domingo
da Alegria): os anjos;
4º Domingo: a
Virgem Maria e São José;
Noite de Natal:
o Menino Jesus;
Solenidade da
Epifania: os magos.
O mesmo pode ser
feito com a árvore de Natal junto ao presépio: ao longo dos domingos do Advento
essa iria recebendo seus enfeites, pouco a pouco, culminando na Noite de Natal.
Essa montagem
progressiva do presépio, na qual convém envolver sobretudo as crianças (cf. Diretório
sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 104), poderia ser destacada na
comunidade antes da celebração dominical, acompanhada da iluminação da respectiva
vela da coroa do Advento e de um breve momento de oração.
Nas casas essa
montagem do presépio é “ocasião para que os vários membros da família se
coloquem em contato com o mistério do Natal e se recolham de vez em quando para
um momento de oração ou de leitura das páginas bíblicas referentes ao
nascimento de Jesus” (ibid.).
b) A
“inauguração do presépio” na noite de Natal
Seja montado
progressivamente ou “de uma só vez”, é tradição depositar a imagem do Menino
Jesus na manjedoura apenas na noite de Natal. Na Missa da Noite, com efeito, esse
gesto tem lugar no final da celebração, quando a imagem é conduzida em
procissão ao presépio (ibid., n. 111).
Vale recordar
que nas igrejas é importante montar o presépio fora do presbitério, em uma
capela lateral ou outro local adequado, pois esse é um elemento devocional, não
litúrgico. No espaço litúrgico nada pode desviar a atenção do altar, do ambão e
da cadeira presidencial.
O mesmo vale para
as encenações, “autos de Natal” ou “presépios vivos”: são muito recomendados, mas
sempre fora das celebrações litúrgicas. O Diretório
sobre Piedade Popular adverte sobre “a profunda diferença que existe entre
a ‘encenação’, que é mimese
[repetição ou memória], e a ‘ação litúrgica’, que é anamnese, presença mistérica do evento salvífico” (n. 144).
Na celebração,
com efeito, convém valorizar as “presenças de Cristo”: na Palavra proclamada, no
pão e no vinho partilhados, na comunidade reunida, como indica o Evangelho do
Dia do Natal: “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14; cf. At 2,42; Constituição Sacrosanctum
Concilium, n. 7).
Papa Francisco incensa o presépio após a deposição da imagem do Menino Jesus (Missa da Noite de Natal, 24 de dezembro de 2016) |
Nas casas, por
sua vez, a inauguração do presépio na noite de Natal “pode dar lugar a um
momento de oração de toda a família: oração que implique a leitura da narrativa
lucana do nascimento de Jesus (Lc
2,1-14 ou Lc 2,1-20), na qual ressoem os cânticos típicos do Natal e se elevem a súplica e o
louvor, sobretudo das crianças, protagonistas deste encontro familiar” (Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia,
n. 109).
Dentre os cânticos típicos de Natal encontra-se o Adeste fideles (Cristãos, vinde todos) ao qual também dedicamos uma postagem aqui em nosso blog.
c)
Quando desmontar o presépio?
- na
Solenidade da Epifania: muitos desmontam o presépio logo após o dia 06
de janeiro, Solenidade da Epifania (manifestação) do Senhor. No Brasil, porém,
essa Solenidade é transferida para o domingo entre os dias 02 e 08 de janeiro.
- no
domingo após a Epifania, Festa do Batismo do Senhor: com efeito, esta
seria a opção mais adequada liturgicamente, pois o Tempo do Natal não termina
na Epifania, mas sim no Batismo do Senhor, quando a voz do Pai confirma o que
celebramos: “Este é o meu Filho amado...” (Mt
3,17 e paralelos) e “faz a ponte” com o Tempo Comum, durante o qual contemplamos
a vida pública de Jesus.
- na Festa
da Apresentação do Senhor: esta festa é um “eco” do Tempo do Natal,
sendo celebrada 40 dias após o nascimento do Senhor (02 de fevereiro).
Sobre as imagens
dos magos, estas podem ser inseridas apenas na Solenidade da Epifania ou, se
colocadas anteriormente, movidas dentro do presépio ao longo do Advento,
aproximando-se pouco a pouco da manjedoura.
Entre a Epifania
e o Batismo do Senhor, por sua vez, as imagens poderiam ser novamente afastadas
da manjedoura, porém no lado oposto do presépio, recordando que, após o
encontro com o Senhor, os magos “retornaram para a sua terra, seguindo outro
caminho” (Mt 2,12), o que aqui
simboliza conversão, mudança de vida.
4. “Se
não vos fizerdes como crianças...”: Uma espiritualidade do presépio
Desde o ano de
1982 se realiza anualmente a montagem de um grande presépio na Praça de São
Pedro, cada ano emprestado de um lugar diferente do mundo. Porém, foi com a
eleição do primeiro Papa latino-americano que tanto a devoção do presépio
quanto a piedade popular em geral ganharam maior destaque na Igreja.
Em sua Exortação
Apostólica Evangelii Gaudium (nn.
122-126), com efeito, Francisco destaca a “força evangelizadora da piedade
popular”. No dia 01 de dezembro de 2019, por sua vez, o Bispo de Roma foi a
Greccio, onde outrora o diácono Francisco entoara o Evangelho da noite de Natal
diante de uma manjedoura. Na gruta de Greccio, com efeito, o Papa Francisco
promulgou a Carta Apostólica Admirabile
signum sobre o significado e valor do Presépio.
Foi a publicação
dessa Carta que motivou-nos a revisar e ampliar esta postagem neste ano de
2021, dez anos após sua publicação original. A montagem do presépio pode ser amplamente
enriquecida se acompanhada da leitura desse breve documento, de apenas dez
parágrafos, mas profundo de sentido.
“Não sorrio
quando te vejo fazer as montanhas de musgo do presépio e dispor as ingênuas
figuras de barro em volta da gruta. Nunca me pareceste mais homem do que agora,
que pareces uma criança” (São Josemaría Escrivá, Caminho, 557).
A devoção do
presépio toca profundamente as crianças, mas também a cada um de nós, a quem o
Senhor adverte: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes, e não vos
tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18,3).
A Constituição Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II
afirma que “Cristo revela o homem ao homem” (n. 22), e o faz com toda a sua
vida. “Toda a vida de Cristo é mistério”. Assim, contemplando o presépio,
aprendemos d’Ele, de sua humildade, de seu silêncio, de seu esvaziamento (kenosis)...
São Paulo
exorta-nos: “Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus” (Fl 2,5), e arremata, fazendo suas as
palavras com as quais a Igreja nascente rezava: “Jesus Cristo, existindo em
condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas Ele esvaziou-se
a si mesmo assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado
com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente...” (Fl 2,6-8).
Confira também:
Notas:
[1] cf. ETÉRIA, Peregrinação ou Diário de Viagem, n. 42; in: CORDEIRO, José de Leão [org.]. Antologia Litúrgica: Textos litúrgicos, patrísticos e canónicos do
primeiro milénio. Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2003, p. 460.
[2] Tomás de
Celano, Prima Vita (1Cel), cap. 30, nn.
84-86. Texto em latim e em português disponível no site do Centro Franciscano de Espiritualidade, ligado à Província dos Capuchinhos de São Paulo.
[3] Considera-se que a imagem da Virgem Maria tenha sido realizada
posteriormente, talvez durante o século XV, substituindo a original que teria
se perdido.
[4] cf. Catecismo da Igreja Católica, nn.
512-521: “Toda a vida de Cristo é mistério”. Augusto Bergamini recorda ainda
outros paralelos entre o Natal e o Mistério Pascal da Morte-Ressurreição de
Cristo: o simbolismo das faixas e do sudário; os pastores que correm e os magos
com presentes ao encontro do Menino e as mulheres e Apóstolos que correm ao
túmulo... (cf. BERGAMINI, Augusto. Cristo, festa da Igreja: O ano litúrgico.
São Paulo: Paulinas, 2004, pp. 215-216).
[5] cf. Normas Universais sobre o Ano Litúrgico
e o Calendário, nn. 32-42. in: MISSAL
ROMANO, Tradução portuguesa da 2ª edição
típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991, pp. 105-106.
Referências:
CONGREGAÇÃO PARA
O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia. São Paulo: Paulinas,
2003, pp. 97-102.
FRANCISCO
(PAPA). Carta Apostólica Admirabile signum sobre o significado e valor do presépio. 01 de dezembro de 2019.
RATZINGER,
Joseph (Bento XVI). A infância de Jesus.
São Paulo: Planeta, 2012.
Imagens: Wikimedia Commons / Vatican News.
Postagem
publicada originalmente em 21 de dezembro de 2011. Revista e ampliada em 11 de
novembro de 2021.
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