São Cirilo de Alexandria
Sermão 12 sobre diversas matérias
Ao
assumir a condição de escravo, Cristo, de certo modo, foi contado entre os
servos
Acabamos de ver
ao Emanuel recostado em um presépio como um menino recém-nascido, envolto em
panos conforme o costume humano, porém divinamente celebrado pelo santo
exército dos anjos. Serão eles os encarregados de anunciar aos pastores o seu
nascimento, pois Deus Pai concedeu aos espíritos celestes este altíssimo privilégio:
serem os primeiros em anunciar a Cristo.
Também acabamos
de ver hoje como Cristo se submete às leis mosaicas; ainda mais, temos visto
como Deus, o legislador, se submetia como um homem comum a suas próprias leis.
Esta é a razão pela qual o sapientíssimo Paulo nos dá esta lição: Quando éramos menores estávamos escravizados
pelo rudimentar do mundo. Porém, quando se cumpriu o tempo, enviou Deus a seu
Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, para resgatar aos que estavam
sob a lei.
Assim, Cristo
resgatou da maldição da lei aos que estavam debaixo dela, porém não aos que
eram observantes da lei. E como os resgatou? Cumprindo-a, ou, dito de outra
forma, mostrando-se e obediente em tudo a Deus Pai, a fim de reparar os pecados
de prevaricação cometidos em Adão. Pois está escrito que assim como pela desobediência de um só homem todos foram estabelecidos
como pecadores, assim também pela obediência de um só todos serão constituídos
justos. Portanto, submeteu como nós a cerviz ao jugo da lei, e o fez por
razões de justiça.
Convinha, na
realidade, que Ele cumprisse toda a justiça. Pois ao assumir realmente a
condição de servo, ficava, por sua humanidade, inscrito no número dos súditos:
pagou, como muitos, aos que cobravam o imposto das duas dracmas, e mesmo quando
por sua qualidade de Filho era naturalmente livre e isento do tributo.
Contudo, ao
ver-lhe observar a lei, cuidado, não te escandalizes nem o classifique entre os
servos, a Ele que é livre; esforça-te mais em penetrar a profundidade do plano
divino. Ao cumprir-se, pois, os oito dias, em cuja data e por prescrição da lei
era costume praticar a circuncisão da carne, impuseram-lhe um nome, e
precisamente o nome de Jesus, que
significa salvação do povo.
Tal foi, de
fato, o nome que Deus Pai escolheu para seu Filho, nascido de mulher segundo a
carne. Pois foi certamente nesse momento, quando de maneira muito singular se
levou a bom termo a salvação do povo: e não só de um povo, mas de muitos, ou
melhor, de todas as nações e da universalidade da terra. Ao mesmo tempo foi
circuncidado e lhe impuseram o nome, convertendo-se Cristo realmente em luz que
ilumina as nações e, ao mesmo tempo, em glória de Israel. E embora existissem
em Israel alguns injustos, obstinados e insensatos, apesar disso houve um resto
que foi salvo e glorificado por Cristo. As primícias foram os discípulos do
Senhor, cuja glória resplandece em todo o mundo. Outra glória de Israel é que
Cristo, segundo a carne, procede de sua raça, se bem que, enquanto Deus, está
acima de todos e é bendito pelos séculos. Amém.
Presta-nos,
pois, um bom serviço o sábio Evangelista ao relatar-nos tudo o que por nós e
para nós suportou o Filho feito carne, sem fazer pouco caso em assumir a nossa
pobreza, a fim de que o glorifiquemos como Redentor, como Senhor, como Salvador
e como Deus, porque a Ele, e, com Ele a Deus Pai, lhe é devida a glória e o
poder, juntamente com o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.
Fonte: Lecionário Patrístico Dominical, pp.
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