segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Ângelus: III Domingo do Advento - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 13 de dezembro de 2020

Amados irmãos e irmãs, bom dia!
O convite à alegria é característico do tempo do Advento: a expectativa do nascimento de Jesus, a expectativa que vivemos é alegre, um pouco como quando esperamos a visita de uma pessoa que amamos muito, por exemplo, um amigo que não vemos há muito tempo, um parente... Estamos em expectativa alegre. E esta dimensão da alegria emerge especialmente hoje, III Domingo, que se abre com a exortação de São Paulo «Alegrai-vos sempre no Senhor» (Antífona de entrada; cfFl 4,4.5). «Alegrai-vos!». A alegria cristã. E qual é a razão desta alegria? Que «o Senhor está próximo» (v. 5). Quanto mais próximo está de nós o Senhor, mais estamos na alegria; quanto mais distante Ele está, mais estamos na tristeza. Esta é uma regra para os cristãos. Certa vez um filósofo disse algo mais ou menos assim: “Não compreendo como se pode acreditar hoje, pois aqueles que dizem que acreditam têm um rosto de velório. Eles não dão testemunho da alegria da Ressurreição de Jesus Cristo”. Tantos cristãos com essa cara, sim, cara de velório, cara de tristeza... Mas Cristo ressuscitou! Cristo ama-te! E não sentes alegria? Pensemos um pouco nisto e digamos: “Sinto alegria porque o Senhor está perto de mim, porque o Senhor me ama, porque o Senhor me redimiu?”.

Hoje o Evangelho segundo João apresenta-nos o personagem  bíblico que - com exceção de Nossa Senhora e de São José - foi o primeiro e viveu mais  a expectativa do Messias e a alegria de vê-Lo chegar: estamos falando, naturalmente, de João Batista (cfJo 1,6-8.19-28).

O evangelista apresenta-o solenemente: «Houve um homem, enviado por Deus (...). Veio como testemunha, para dar testemunho da luz» (vv. 6-7). O Batista é a primeira testemunha de Jesus, com a palavra e com o dom da vida. Todos os Evangelhos concordam em mostrar como ele cumpriu a sua missão apontando Jesus como o Cristo, o Enviado de Deus prometido pelos profetas. João foi um líder no seu tempo. A sua fama propagou-se  por toda a Judeia e  além,  até à Galileia. Mas ele não cedeu por um momento à tentação de chamar a atenção sobre si: apontou sempre para Aquele que haveria de vir. Ele disse: «não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias» (v. 27). Sempre indicando o Senhor. Como Nossa Senhora: indica sempre o Senhor: «Fazei o que Ele vos disser». Sempre o Senhor no centro. Os santos ao redor, indicando o Senhor. E quem não aponta o Senhor não é santo!

Eis a primeira condição da alegria cristã: descentralizar-se de si mesmo e colocar Jesus no centro. Isto não é alienação, porque Jesus  de fato é o centro, é a luz que dá pleno sentido à vida de cada homem e mulher que vem a este mundo. É o mesmo dinamismo do amor, que me leva a sair de mim, não para perder-me, mas para encontrar-me a mim mesmo à medida que me dou, à medida que procuro o bem dos outros.

João Batista percorreu um longo caminho para testemunhar  Jesus. O caminho da alegria não é um passeio. É preciso trabalho para estar sempre na alegria. João deixou tudo, desde quando era jovem, para colocar Deus em primeiro lugar, para ouvir com todo o  coração e com toda a  força a sua Palavra. João retirou-se para o deserto, despojando-se de tudo o que era supérfluo, para ser mais livre e seguir o vento do Espírito Santo. Certamente, alguns traços da sua personalidade são únicos, irrepetíveis, não são possíveis a todos. Mas o seu testemunho é paradigmático para qualquer pessoa que queira procurar o sentido da  vida e encontrar a verdadeira alegria. Em particular, o Batista é modelo para quantos na Igreja  são chamados a proclamar Cristo aos outros: só o podem fazer se afastarem-se de si mesmos e da mundanidade, não atraindo pessoas para si, mas orientando-as para Jesus. A alegria é isto: orientar para Jesus. E a alegria deve ser a característica da nossa fé. Mesmo em momentos escuros, essa alegria interior, de saber que o Senhor está comigo, que o Senhor está conosco, que o Senhor ressuscitou. O Senhor! O Senhor! O Senhor! Este é o centro da nossa vida, e este é o centro da nossa alegria. Pensai bem hoje: como me comporto? Sou uma pessoa alegre que sabe transmitir a alegria de ser cristão, ou sou sempre como os tristes, como disse antes, que parecem estar num velório? Se eu não tiver a alegria da minha fé, não poderei dar testemunho e os outros dirão: “Mas se a fé é tão triste, é melhor não a ter”.

Rezando agora o Ângelus, vemos tudo isto plenamente realizado na Virgem Maria: ela esperou em silêncio pela Palavra de salvação de Deus; ouviu-a, acolheu-a, concebeu-a. Nela  Deus tornou-se próximo. Por isso a Igreja chama Maria “Causa da nossa alegria”.

João Batista pregando
(Vitral da Basílica de Lourdes, França)

Fonte: Santa Sé.

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