Mensagem Urbi et Orbi do Papa
Francisco
Natal 2020
Sexta-feira, 25 de dezembro de 2020
Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!
Gostaria de fazer chegar a todos a
mensagem que a Igreja anuncia nesta festa, com as palavras do profeta Isaías:
«Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado» (Is 9,5).
Nasceu um menino: o nascimento é sempre
fonte de esperança, é vida que desabrocha, é promessa de futuro. E este Menino -
Jesus - «nasceu para nós»: um «nós» sem fronteiras, sem privilégios nem
exclusões. O Menino, que a Virgem Maria deu à luz em Belém, nasceu para todos:
é o «filho» que Deus deu à família humana inteira.
Graças a este Menino, todos podemos dirigirmo-nos
a Deus chamando-Lhe «Pai», «Papai». Jesus é o Unigênito; ninguém mais conhece o
Pai, senão Ele. Mas Ele veio ao mundo precisamente para nos revelar o rosto do
Pai celeste. E assim, graças a este Menino, todos podemos chamarmo-nos e ser
realmente irmãos: de continentes diversos, de qualquer língua e cultura, com as
nossas identidades e diferenças, mas todos irmãos e irmãs.
Neste momento histórico, marcado pela
crise ecológica e por graves desequilíbrios econômicos e sociais, agravados
pela pandemia do coronavírus, precisamos mais do que nunca de fraternidade. E
Deus no-la oferece, dando-nos o seu Filho Jesus: não uma fraternidade feita de
palavras bonitas, ideais abstratos, vagos sentimentos... Não! Uma fraternidade
baseada no amor real, capaz de encontrar o outro diferente de mim, de
compadecer-me dos seus sofrimentos, aproximar-me e cuidar dele mesmo que não
seja da minha família, da minha etnia, da minha religião; é diferente de mim,
mas é meu irmão, é minha irmã. E isto é válido também nas relações entre os
povos e as nações: todos irmãos.
No Natal, celebramos a luz de Cristo
que vem ao mundo e vem para todos: não apenas para alguns. Hoje, neste tempo de
escuridão e incerteza devido à pandemia, aparecem várias luzes de esperança,
como a descoberta das vacinas. Mas, para que estas luzes possam iluminar e dar
esperança ao mundo inteiro, hão de ser colocadas à disposição de todos. Não
podemos deixar que os nacionalismos fechados nos impeçam de viver como a
verdadeira família humana que somos. Nem podemos deixar que nos vença o vírus
do individualismo radical, tornando-nos indiferentes ao sofrimento dos outros
irmãos e irmãs. Não posso passar à frente dos outros, colocando as leis do
mercado e das patentes de invenção acima das leis do amor e da saúde da
humanidade. Peço a todos, nomeadamente aos líderes dos Estados, às empresas,
aos organismos internacionais, que promovam a cooperação, e não a concorrência,
na busca de uma solução para todos: vacinas para todos, especialmente para os mais
vulneráveis e necessitados em todas as regiões da Terra. Em primeiro lugar, os
mais vulneráveis e necessitados!
Por isso, que o Menino de Belém nos
ajude a estar disponíveis, a ser generosos e solidários, especialmente para com
as pessoas mais frágeis, os doentes e quantos neste tempo se encontram
desempregados ou estão em graves dificuldades pelas consequências econômicas da
pandemia, bem como as mulheres que nestes meses de confinamento sofreram
violências domésticas.
Perante um desafio que não conhece
fronteiras, não se podem erguer barreiras. Estamos todos no mesmo barco. Cada
pessoa é um meu irmão. Em cada um vejo refletido o rosto de Deus e, nos que
sofrem, vislumbro o Senhor que pede a minha ajuda. Vejo-O no doente, no pobre,
no desempregado, no marginalizado, no migrante e no refugiado: todos irmãos e
irmãs!
No dia em que o Verbo de Deus Se faz
menino, reparemos em tantas crianças que em todo o mundo, especialmente na
Síria, Iraque e Iêmen, ainda estão a pagar o alto preço da guerra. Os seus
rostos sensibilizem as consciências dos homens de boa vontade, para que se
enfrentem as causas dos conflitos e se trabalhe com coragem para construir um
futuro de paz.
Que este seja o tempo propício para
aliviar as tensões em todo o Oriente Médio e no Mediterrâneo oriental.
Jesus Menino cure as feridas do amado
povo sírio, que está exausto com um decênio de guerra e suas consequências,
agravadas ainda mais pela pandemia. Leve conforto ao povo iraquiano e a todos
os povos incluídos no caminho da reconciliação, em particular os yazidis
duramente atingidos pelos últimos anos de guerra. Dê paz à Líbia e permita que
a nova fase de negociações em curso ponha fim a todas as formas de hostilidade
no país.
O Menino de Belém conceda fraternidade
à terra que O viu nascer. Possam israelitas e palestinos recuperar a confiança
mútua para procurarem uma paz justa e duradoura através de um diálogo direto,
capaz de vencer a violência e superar ressentimentos endêmicos, testemunhando
ao mundo a beleza da fraternidade.
A estrela que iluminou a noite de Natal
sirva de guia e encorajamento para o povo libanês, a fim de não perder a
esperança no meio das dificuldades que tem vindo a enfrentar, com o apoio da
comunidade internacional. O Príncipe da Paz ajude os responsáveis do país a deixar
de lado interesses particulares e empenhar-se com seriedade, honestidade e
transparência para que o Líbano possa empreender um caminho de reformas e
continuar na sua vocação de liberdade e convivência pacífica.
O Filho do Altíssimo sustente o empenho
da comunidade internacional e dos países envolvidos na manutenção do
cessar-fogo no Nagorno-Karabakh, bem como nas regiões orientais da Ucrânia,
promovendo o diálogo como único caminho que conduz à paz e reconciliação.
O Deus Menino alivie o sofrimento das populações
do Burkina Faso, Mali e Níger, atingidas por uma grave crise humanitária, na
base da qual estão extremismos e conflitos armados, mas também a pandemia e
outros desastres naturais; Ele faça cessar as violências na Etiópia, onde
muitas pessoas são forçadas a fugir devido aos confrontos; o Deus Menino dê
conforto aos habitantes da região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique,
vítimas da violência do terrorismo internacional; Ele incite os responsáveis do
Sudão do Sul, Nigéria e Camarões a continuar pelo caminho de fraternidade e
diálogo empreendido.
O Verbo eterno do Pai seja fonte de
esperança para o continente americano, particularmente afetado pelo
coronavírus, que exacerbou os inúmeros sofrimentos que o oprimem, muitas vezes
agravados pelas consequências da corrupção e do narcotráfico. Ajude a superar
as recentes tensões sociais no Chile e a pôr fim aos sofrimentos do povo
venezuelano.
O Rei do Céu proteja as populações
flageladas por calamidades naturais no sudeste asiático, de modo particular nas
Filipinas e no Vietnam, onde numerosas tempestades têm causado inundações com
devastadoras repercussões sobre as famílias, que moram naquelas terras, em
termos de perdas de vidas humanas, danos ao meio ambiente e consequências para
as economias locais.
E pensando na Ásia, não posso esquecer
o povo rohingya: Jesus, nascido pobre entre os pobres, leve esperança às suas
tribulações.
Queridos irmãos e irmãs!
«Um menino nasceu para nós» (Is 9,5). Veio para nos salvar!
Anuncia-nos que o sofrimento e o mal não são a última palavra. Resignar-se à
violência e à injustiça significaria recusar a alegria e a esperança do Natal.
Neste dia de festa, dirijo uma saudação
particular a todas as pessoas que não se deixam subjugar pelas circunstâncias
adversas, mas esforçam-se por levar esperança, consolação e ajuda, socorrendo
quem sofre e acompanhando quem está sozinho.
Jesus nasceu num estábulo, mas
envolvido pelo amor da Virgem Maria e de São José. Nascendo na carne, o Filho
de Deus consagrou o amor familiar. Neste momento, penso de modo especial nas
famílias que hoje não se podem reunir, como também naquelas que são obrigadas a
permanecer em casa. E, para todos, seja o Natal a ocasião propícia para
redescobrirem a família como berço de vida e de fé, lugar de amor acolhedor, de
diálogo, perdão, solidariedade fraterna e alegria partilhada, fonte de paz para
toda a humanidade.
Feliz Natal para todos!
Após a Bênção:
Queridos irmãos e irmãs, renovo os meus
votos de Feliz Natal a todos vós que de todo o mundo estais conectados através
da rádio, televisão e outros meios de comunicação. Agradeço a vossa presença
espiritual neste dia, marcado pela alegria. Nestes dias em que o clima do Natal
convida os seres humanos a tornarem-se melhores e mais fraternos, não nos
esqueçamos de rezar pelas famílias e comunidades atribuladas por tantos
sofrimentos. E, por favor, continuai a rezar também por mim. Bom almoço de
Natal! Adeus.
Fonte: Santa Sé
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