Retomamos hoje a série de postagens com a tradução do
subsídio “Un Messale per le nostre
Assemblee: La terza edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e
Catechesi” (Um Missal para as nossas Assembleias: A terceira edição
italiana do Missal Romano entre Liturgia e Catequese), elaborado pelo Ofício
Litúrgico da Conferência Episcopal Italiana (CEI) em preparação à tradução da
3ª edição do Missal Romano.
4. O Missal, modelo de oração
A Liturgia «é escola permanente de formação em torno do
Senhor Ressuscitado, “lugar educativo e revelativo” [1] no qual a fé toma forma
e é transmitida. Na celebração litúrgica o cristão aprende a “provar como é bom
o Senhor” (Sl 33,9; cf. 1Pd 2,3), passando da nutrição do
leite ao alimento sólido (cf. Hb
5,12-14), “até atingirmos a medida da plenitude de Cristo” (Ef 4,13)» (CEI, Apresentação da 3ª edição do Missal Romano, n. 11).
O Missal como livro
de oração
Existe uma relação intrínseca entre a experiência da oração
e a experiência da Liturgia. Aquilo que o Catecismo
da Igreja Católica afirma da oração, entendida como “relação viva e pessoal
com Deus” (n. 2558), pode, com razão, ser afirmado de toda celebração
litúrgica, em particular da Missa, que constitui a fonte e a forma da oração
cristã. «Por meio dos ritos e das orações», a Celebração Eucarística nos
permite entrar no mistério da fé e compreendê-lo sempre melhor (cf. Sacrosanctum
Concilium, n. 48).
O Missal Romano (MR), que contém o projeto ritual da Missa,
pode, portanto, ser considerado com razão como um livro de oração, não
simplesmente porque contém as orações a serem ditas durante o rito, mas porque
nele é guardada a norma e a forma da oração litúrgica, que possui
características próprias e particulares, que serão apresentadas a seguir.
Uma oração-ação
Qualquer que seja a celebração litúrgica, esta não pode ser
reduzida apenas às orações-palavras, das quais, porém, nunca está privada. Uma
celebração é intrinsecamente composta por uma multiplicidade de “linguagens”,
entre as quais certamente se destaca aquela propriamente verbal, mas não é
possível reduzir a oração litúrgica apenas a orações a serem ditas. Na
Celebração Eucarística se põe em ação uma rica linguagem, constituída por uma
variada gama de modalidades expressivas: junto à Palavra de Deus proclamada e à
participação no banquete do Corpo e Sangue do Senhor, há a riqueza da linguagem
ritual constituída pelas palavras da oração, pelo silêncio, pelo canto e pela
música, pelos gestos e posições corporais, pelos espaços litúrgicos, e mesmo
pelas vestes e pelas cores, pelas luzes e pelos perfumes (cf. Introdução Geral do
Missal Romano - IGMR, nn. 29-45). Na celebração litúrgica, e em particular
na Eucaristia, a oração se manifesta, na sua raiz e no seu coração, como uma
relação, um encontro feito de gestos e palavras.
Uma ação simbólica
A Eucaristia é uma oração-ação simbólica, não simplesmente
porque utiliza uma série de símbolos a serem conhecidos e valorizados, mas
porque constitui em si mesma uma ação que revela a verdade profunda das coisas
e realiza aquilo que significa. A sua riqueza simbólica tem como finalidade
fazer-nos viver a experiência da relação pessoal e da familiaridade com o
Senhor Jesus, mais do que apenas abrir a mente à compreensão dos conteúdos da
fé. Por esse motivo, os Bispos destacam como a formação para a Liturgia é antes
de tudo um deixar-se formar pela própria ação litúrgica: «Uma visão da Liturgia
apenas em perspectiva conceitual e didática vai contra a sua natureza de forma
que dá forma, segundo a qual o fiel, tendo alcançado a fé, se deixa moldar e
educar pela ação litúrgica, como expressão do culto da Igreja na sua
“fontalidade sacramental”, fonte da vida cristã. A celebração, além disso, com
suas múltiplas linguagens que interpelam o coração, a mente, os sentidos
corporais e psíquicos, e com as suas exigências comunitárias, possui um
grandíssimo potencial “educativo”» [2].
Uma oração comunitária
A participação “plena, consciente, ativa e piedosa” na
Eucaristia é sempre uma participação ao mesmo tempo pessoal e comunitária. Para
que todos se exprimam em uma oração comunitária, cada um deve rezar; para que
todos participem em um rito, cada um deve envolver-se. Mas para que a oração de
cada um corresponda à oração de todos, são necessários gestos e palavras
compartilhados, de modo que a oração de cada um possa confluir na oração da
Igreja. O livro do Missal, neste sentido, oferece indicações precisas para que
os gestos e as palavras sejam comunitários. O fato de que a oração litúrgica
seja quase sempre formulada no plural - “nós” - impele a sair de si mesmo, da
estreiteza das próprias visões individuais da oração, para entrar em uma oração
universal, de todos e para todos. Na oração litúrgica, cada um canta, se move,
reza em uníssono, em sintonia com a oração de todos, de modo que seja um só
corpo maior, o corpo da assembleia reunida, a rezar.
Uma oração corpórea
A Eucaristia envolve toda a pessoa e dá forma à vida do
cristão. O rito eucarístico envolve mente e corpo, sentidos e emoções,
inteligência e afetos. A intrínseca qualidade “prática” da participação
litúrgica recorda a unidade profunda que se dá, no ato da oração, entre
interioridade e exterioridade. Mesmo no caso simples e óbvio de uma oração
vocal, não está implicada apenas a interioridade do orante, mas está em ação
também a sua corporeidade: ao menos através do “dizer” a fórmula da oração, mas
na realidade também através de uma série de outras dimensões que favorecem a
experiência orante. Experimenta-se assim que a exterioridade não conspira
contra a experiência do Mistério, antes, é uma marca essencial dela.
Um modelo de oração
Ainda em relação às orações contidas no livro de MR, podemos
observar como este oferece um percurso de oração capaz de atravessar e condensar
diferentes tipologias de oração, ligadas umas às outras. Com efeito, o rito da
Missa passa da ação de graças a intercessão, do louvor ao pedido de perdão,
constituindo um processo contínuo de oração. O exemplo mais evidente é
representado pela Oração Eucarística: ela realiza um verdadeiro e próprio
exercício de oração cristã, que entrelaça organicamente a ação de graças
(prefácio) e o louvor (doxologia), a dinâmica de anamnese (isto é, de memorial)
e de epiclese (de invocação), a oferta e a intercessão.
Deste modo, o Missal constitui um modelo que inspira e orienta
as outras experiências de oração pessoal e comunitária, não eucarísticas.
Alguns exemplos:
- todas as orações possuem uma estrutura trinitária: se
dirigem ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Esta estrutura pode ser
considerada um modelo oficial para qualquer oração cristã;
- os textos das orações presidenciais possuem uma dinâmica
que une estreitamente a anamnese, ou seja, o memorial, com a epiclese, com a
súplica. Depois da invocação inicial (Ó Deus, ó Pai...), a formulação do pedido
é desenvolvida a partir da referência a uma ação salvífica da qual se fez
memória. Isto fornece uma espécie de esquema-padrão também para uma oração
pessoal de súplica;
- o rito da Missa sabiamente alterna e põe em diálogo a
palavra com o silêncio, o qual, conforme a sua colocação no rito, pode assumir
funções diversas, que vão do recolhimento à meditação, da escuta à adoração
(IGMR, n. 45);
- na sequência ritual da Liturgia da Palavra encontramos
outro aspecto da forma autêntica da oração, que alterna a escuta da Palavra de
Deus com a resposta do povo de Deus.
Àquele que fala nas leituras proclamadas, corresponde a
resposta da assembleia, feita de escuta e apropriação (silêncio e canto), de
adesão ao que foi ouvido (aclamação, profissão de fé) e de oração consequente
(Oração Universal ou Preces dos fiéis). É um convite a valorizar a dimensão
dialogal da oração cristã.
"Estrutura trinitária das orações do Missal: ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo" |
Para refletir juntos:
- Como a nossa comunidade progrediu ao longo do tempo em relação
ao modo de rezar dentro da assembleia litúrgica (formulação da Oração Universal,
escolha do repertório de cantos...)?
- Como são vividos os espaços e os tempos de silêncio
previstos no rito eucarístico?
- Come conectar iniciação à oração litúrgica e educação à oração
cristã nos diversos âmbitos e percursos da Catequese?
Notas:
[1] CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Comunicare il Vangelo in un mondo che cambia: Orientamenti pastorali
dell’Episcopato italiano per il primo decennio del 2000, 29 giugno 2001, n.
49
[2] idem. Incontriamo Gesù: Orientamenti per
l’annuncio e la catechesi in Italia, 29 giugno 2014, n. 17.
Fonte:
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Il Messale, modello di preghiera. in: Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del
Messale Romano tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi
Francesco d’Assisi e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 25-30.
Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/
Nenhum comentário:
Postar um comentário