Prosseguimos nesta postagem com a tradução do subsídio “Un Messale per le nostre Assemblee: La terza
edizione italiana del Messale Romano tra Liturgia e Catechesi” (Um Missal
para as nossas Assembleias: A terceira edição italiana do Missal Romano entre
Liturgia e Catequese), publicado pelo Ofício Litúrgico da Conferência Episcopal
Italiana (CEI) em preparação à 3ª edição do Missal Romano. Ainda sobre o tema da mistagogia (conduzir ao mistério), o 7º encontro formativo destaca a importância dos cinco "sentidos" na Celebração Eucarística.
7. Uma mistagogia dos sentidos espirituais
«Nos sacramentos “comunica-se uma memória encarnada, ligada
aos lugares e épocas da vida, associada com todos os sentidos. (...) O
despertar da fé passa pelo despertar de um novo sentido sacramental na vida do
homem e na existência cristã, mostrando como o visível e o material se abrem
para o mistério do eterno” (Papa Francisco, Encíclica Lumen fidei, n. 40)» (CEI, Apresentação
da 3ª edição do Missal Romano, n. 9).
A Eucaristia e os
sentidos do corpo
O Missal é um livro no qual o texto está a serviço do gesto,
a tradução está a serviço da ação do rezar e do escutar, do encontrar e do
agradecer. A ação litúrgica da Eucaristia é chamada a envolver o corpo pessoal
e comunitário dos fiéis no Mistério da Páscoa do Senhor. Neste encontro, todos
os sentidos do fiel são reunidos e envolvidos, em uma progressão que vai do ver
ao escutar, até ao contato mais íntimo que se dá na experiência do comer e do
beber.
Sob o olhar do Senhor
misericordioso: Os ritos iniciais
No início é envolvido de modo particular o sentido da visão.
Nos “ritos do limiar”, que têm por objetivo reunir a comunidade e dispô-la à
celebração, a assembleia assume a própria fisionomia de corpo reunido em torno
da mesa da Palavra e do Pão, para reconhecer-se imediatamente como Corpo de
Cristo e família de Deus. Reunindo-se “em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo”, a assembleia se reconhece já visitada pela presença do Senhor prometida
aos que se reúnem em seu nome (cf. Mt
18,20). Antes de ver qualquer coisa, nós olhamos para nós mesmos como irmãos e
irmãs na fé; revivemos a memória de que a fé - como a vida - vem da comunhão e
tende à comunhão; colocamo-nos diante do olhar do Senhor misericordioso. O Kyrie eleison, que na nova edição
italiana do Missal foi conservado em grego, na língua original com a qual os
Evangelhos foram escritos, é um rito autônomo em relação ao Ato Penitencial: é
uma aclamação a Cristo e, ao mesmo tempo, uma invocação do olhar do Senhor
misericordioso sobre nós, para acolher a sua benevolência e o seu perdão. Neste
sentido, os ritos iniciais parecem invocar uma imagem do Senhor para a qual
todos, presidente e assembleia, podem orientar-se: uma imagem epifânica - seja
do Crucificado ou do Senhor glorioso - que requer atenção especial ao espaço
acima e atrás do altar (abside).
A nova edição do Missal nos repropõe a forma ritual dos
ritos iniciais sem variações relevantes. Sabemos como nas preocupações da vida
é particularmente difícil atravessar o limiar da oração para sentirmo-nos
envolvidos na “morada da Liturgia”: por este motivo, a atenção aos ritos
iniciais e aos seus gestos que vão em busca do Senhor misericordioso
constituirá um ponto de particular importância na recepção da nova edição do
livro litúrgico.
Em escuta e em
diálogo de oração: Liturgia da Palavra
Na Liturgia da Palavra é sem dúvida o sentido da audição que
está particularmente envolvido, onde Deus fala ao seu povo para nutri-lo com
sua Palavra e o povo responde a essa Palavra com palavras de fé, aclamações e
orações. Neste dinamismo dialogal, a audição se abre à escuta, a voz de
desdobra no canto e na aclamação, os ouvidos se aguçam à profundidade da
comunicação, a mente e o coração se dilatam na meditação, no justo equilíbrio
entre palavra e silêncio. Embora a nova edição do Missal nos proponha intacto o
projeto ritual da Liturgia da Palavra, sem variações em relação à edição
precedente, há muito trabalho a fazer para que nossas assembleias eucarísticas
passem de “ler as leituras” a “celebrar a Palavra”: a Liturgia da Palavra é
muitas vezes ainda posta em ação de maneira um tanto didática; portanto, o que
é proclamado é acolhido como uma mensagem a ler e explicar mais do que como uma
Pessoa a encontrar e um Evento a celebrar. Isto aparece de modo evidente na
gestualidade empregada no ato de proclamar e escutar a Palavra (em pé, sentados,
com o olhar voltado ao ambão para o Evangelho) e no envolvimento dos sentidos
(se ouve, se se vê, se percebe o perfume do
incenso, se beija o livro), na
importância do silêncio, do canto, do lugar do qual se proclama, dos ministros,
dos livros utilizados. Sob a perspectiva da escuta, trata-se de formar para uma
proclamação preparada e capaz de favorecer uma melhor acolhida da Palavra; de
educar para a beleza do silêncio que presta atenção, recebe e guarda no coração
a Palavra do Senhor. Também uma melhor adequação do espaço pode ser feita para
limitar os “ruídos” ou “distúrbios” auditivos e visuais (ruídos e movimentos,
barulhos impróprios) que assinalam uma percepção ainda insuficiente da presença
d’Aquele «que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura» (Sacrosanctum Concilium, n. 7).
Do tato ao paladar:
Liturgia Eucarística
Na Liturgia Eucarística há um contato progressivo com o
gesto de amor de Jesus que doa a vida, através das mãos que se abrem
(apresentação das oferendas), se elevam para bendizer e dar graças (prefácio),
se estendem para invocar (epiclese) e se elevam para oferecer (Oração
Eucarística), para em seguida abrir-se novamente para o sinal da paz, para
partir o pão e para receber o Dom na Comunhão. A Comunhão eucarística é o ápice
do contato espiritual, que se faz assimilação e gosto, para “provar e ver como
o Senhor é bom” (cf. Sl 33,9). A
intimidade e a proximidade dos “códigos do encontro” (tato, olfato, paladar)
fazem da Comunhão eucarística a fonte e o ápice de uma mística cristã que não
teme entregar o dom mais espiritual na experiência mais material. À linguagem
intensa e “arriscada” do tato e do paladar - como tocar e saborear Deus,
respeitando sua transcendência? - corresponde a linguagem intensa e fugaz do olfato,
que acompanha silenciosamente os vários momentos da Missa, destacando-se
sobretudo as fases de passagem: o incenso na procissão de entrada, na
proclamação do Evangelho, na passagem à Liturgia Eucarística, durante a
apresentação das oferendas.
Uma mistagogia dos
sentidos
A nova edição do Missal, com a riqueza dos seus textos e dos
seus gestos - como o de cantar as partes rituais da Missa - é um convite a uma
mistagogia que confia aos sentidos do corpo a descoberta e a experiência do
sentido mais profundo da Celebração Eucarística. Trabalhar a riqueza dos
códigos sensoriais a serem ativados, em conexão com a linguagem das Escrituras,
constitui um caminho privilegiado para favorecer aquela participação global no
Mistério celebrado, do qual ninguém está excluído, nem mesmo aqueles que por
qualquer motivo (idade, deficiência) estão limitados ou privados do exercício
de um ou mais sentidos. Onde, com efeito, um sentido tem dificuldade, os outros
sentidos podem “vir em socorro”, de modo que a experiência litúrgica possa ser
vivida com uma participação igualmente consciente, piedosa e ativa.
Para refletir juntos:
- Como evitar que as nossas Eucaristias sejam
“anestesiantes” e “prolixas”?
- Como vigiar sobre o risco oposto de celebrações nas quais
sejam exaltados sentimentos e sensações que, deste modo, ao invés de orientar
para o Mistério, distraem dele?
- Em nossos percursos de formações, é prevista uma
introdução mistagógica à Eucaristia, compreendida em relação ao seu valor
profundo e aos sentidos que ela deve ativar?
Fonte:
CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA. Una mistagogia dei sensi spirituali. in: Un Messale per le nostre Assemblee: La terza edizione italiana del
Messale Romano tra Liturgia e Catechesi. Fondazione di Religione Santi
Francesco d’Assisi e Caterina da Siena: Roma, 2020, pp. 43-47.
Disponível em: https://liturgico.chiesacattolica.it/un-messale-per-le-nostre-assemblee/
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