“Mas eles gritavam: Crucifica-O!
Crucifica-O!” (Lc 23,21).
Dom Henrique Soares da Costa
Quaresma 2019
A Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas
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Paixão
segundo Lucas XIII: Lc 23,8-12
Herodes ficou muito
contente ao ver Jesus, pois havia muito tempo desejava vê-Lo. Já ouvira falar a
Seu respeito e esperava vê-Lo fazer algum milagre. Ele interrogou-O com muitas
perguntas. Jesus, porém, nada lhe respondeu. Os sumos sacerdotes e os escribas
estavam presentes e O acusavam com insistência. Herodes, com seus soldados,
tratou Jesus com desprezo, zombou Dele, vestiu-O com uma roupa vistosa e
mandou-O de volta a Pilatos. Naquele dia Herodes e Pilatos ficaram amigos um do
outro, pois antes eram inimigos (Lc 23,8-12).
Herodes desejava conhecer Jesus, ver um milagre Seu,
presenciar um show, um espetáculo, talvez um show da fé... Trata-se de um
conhecimento exterior, sem amor, sem adesão. Um conhecimento assim não tem
serventia alguma para o Reino de Deus e para a salvação.
Conhece Jesus quem crê n’Ele, conhece Jesus quem a Ele adere
com toda a vida, conhece Jesus quem O ama e se dispõe a segui-Lo! Qualquer
outro conhecimento, o de Herodes, o do filósofo descrente, o do teólogo
racionalista e soberbo, o do ministro sagrado sem devoção e relativista, à
procura de aprovação e aplauso do mundo, o do estudante de teologia sem unção,
o do cristão sem piedade, é um conhecimento exterior, insuficiente, distorcido,
falso; não passa de despiste, de fraude, de embuste!
Pilatos condena Jesus à morte - Duccio di Buoninsegna |
Por isso mesmo, para Herodes não haverá milagre algum - não
se pode encomendar milagre, não se pode fazer do milagre um show ou um circo! O
nosso Senhor não Se presta a isto! Herodes não terá milagre e nem mesmo uma
única palavra de Cristo, uma única resposta! O Senhor não responde a quem o
indaga de modo soberbo e ímpio: para esses, Deus Se cala, Deus a esses lhe esconde
o Rosto...
Herodes dispensa Jesus com uma roupa lustrosa, ridícula, de
rei-palhaço... O Senhor mantém-Se silencioso. Quanta dignidade ante a
superficialidade e a vulgaridade de Herodes e do mundo atual, que brinca com
Deus e ridiculariza a fé cristã.
E naquele dia, na maldade, Pilatos e Herodes tornam-se
amigos... Mas, que amizade, essa, fundada na maldade, na injustiça, nos
interesses escusos; maldade tão diversa daquela que Cristo nos propõe: “Já não vos chamo servos, mas amigos!” (Jo 15,15). Amizade verdadeira é a de
Cristo e em Cristo, que enche nosso coração, que dá alento e sentido à nossa
vida.
- Obrigado, Jesus, pela Tua amizade! Para que eu fosse Teu
amigo, foste levado a Pilatos, foste conduzido a Herodes, foste ridicularizado
e tratado como um louco! Obrigado, Jesus, pelo que sofreste por mim!
Nós Vos adoramos,
Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz
remistes o mundo!
Paixão
segundo Lucas XIV: Lc 23,13-25
Então Pilatos convocou
os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, e lhes disse: “Vós me trouxestes este
homem como se fosse um agitador do povo. Pois bem! Já O interroguei diante de
vós e não encontrei Nele nenhum dos crimes de que O acusais; nem Herodes, pois
O mandou de volta para nós. Como podeis ver, Ele nada fez para merecer a morte.
Portanto, vou castigá-Lo e O soltarei”. Toda a multidão começou a gritar: “Fora
com Ele! Solta-nos Barrabás!” Barrabás tinha sido preso por causa de uma
revolta na cidade e por homicídio. Pilatos falou outra vez à multidão, pois queria
libertar Jesus. Mas eles gritavam: “Crucifica-O! Crucifica-O!” E Pilatos falou
pela terceira vez: “Que mal fez este homem? Não encontrei Nele nenhum crime que
mereça a morte. Portanto, vou castigá-Lo e O soltarei”. Eles, porém,
continuaram a gritar com toda a força, pedindo que fosse crucificado. E a
gritaria deles aumentava sempre mais. Então Pilatos decidiu que fosse feito o
que eles pediam. Soltou o homem que eles queriam - aquele que fora preso por
revolta e homicídio - e entregou Jesus à vontade deles (Lc 23,13-25).
Pilatos tinha consciência de que Jesus era inocente daquelas
acusações políticas que Lhe faziam. Pressentia claramente que a questão era
religiosa, disputas teológicas entre judeus. Por isso desejava libertar Jesus.
Lucas, aqui, na sua narrativa, é muito incompleto. É preciso recorrer aos
outros evangelhos, sobretudo aquele de João. Não foi o povo quem propôs que se
soltasse Barrabás. Foi uma estratégia de Pilatos: Barrabás era um bandido
perigoso, provavelmente temido e odiado. Se fosse colocado ao lado de Jesus,
certamente o povo escolheria que se soltasse Jesus. Pilatos estava enganado. O
ódio contra Jesus tinha sido bem disseminado. É tão fácil manipular a opinião
das massas, é tão fácil tornar um inocente em alguém execrável. Basta a
técnica, bastam pessoas sujas de intenções e consciência e meios de comunicação
bem conjugados e igualmente sujos... E, assim, a multidão preferiu Barrabás, um
bandido perigoso, a Jesus, o Inocente, o manso Cordeiro!
Há ainda um detalhe que Lucas não apresenta. Não foi uma
simples gritaria que fez Pilatos entregar Jesus. A gritaria poderia ser
resolvida a golpes de cacetetes pelos guardas. Certamente, Pilatos não tinha
medo de gritaria... A questão foi outra, a trama foi bem armada pelos homens do
Sinédrio de Israel: “Se O soltas não és
amigo de César! Todo o que se faz rei é inimigo de César!” (Jo 19,12). Os judeus colocaram Pilatos
numa armadilha! Aqui existe uma ameaça velada a Pilatos: “Se tu soltares este
homem, te denunciaremos a César, te acusaremos de fraqueza, de não defenderes
os interesses do Imperador, deixando solto um perigoso revoltoso...” E Pilatos,
covardemente, entregou Aquele que ele sabia inocente, para ser crucificado!
Tocamos, meu caro irmão, como que apalpando, o mal do mundo!
Não, não! O mundo não é bonzinho e a existência humana não é um passeio! Há o
mal, tremendo, há a mentira, há a treva, há o cego ódio do coração humano, há
interesses porcos, inconfessáveis, inclusive em muitos corações de gente de
Igreja! Não foi à toa que o Cristo precisou morrer! Não foi por nada que o
nosso Salvado nos ensinou a pedir ao Pai que nos livrasse do Maligno! Não foi
por acaso que a salvação do mundo teve que passar pelo drama tão tremendo da
Cruz e Morte do Senhor da Vida! “Vigiai e
orai para que não entreis em tentação! É a vossa hora e do poder das trevas! Se
o mundo vos odeia, sabei que primeiro Me odiou a Mim!”
Nós Vos adoramos,
Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz
remistes o mundo!
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