segunda-feira, 21 de março de 2022

Ângelus do Papa: III Domingo da Quaresma - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 20 de março de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom domingo!
Estamos no coração do caminho quaresmal e hoje o Evangelho apresenta inicialmente Jesus que comenta alguns acontecimentos. Enquanto a memória de dezoito pessoas que morreram quando uma torre desabou ainda estava viva na sua mente, falam-lhe de alguns galileus que Pilatos tinha mandado matar (cf. Lc 13,1). E há uma questão que parece acompanhar estes trágicos relatórios: quem é o culpado destes terríveis acontecimentos? Eram porventura estas pessoas mais culpadas do que outras e Deus castigou-as? São interrogações sempre atuais; quando nos sentimos esmagados pelas notícias do crime e nos sentimos impotentes perante o mal, perguntamo-nos frequentemente: será talvez o castigo de Deus? É Ele que nos envia uma guerra ou uma pandemia para nos castigar pelos nossos pecados? E por que o Senhor não intervém?
Devemos estar atentos: quando o mal nos oprime, corremos o risco de perder a lucidez e, a fim de encontrar uma resposta fácil para o que não podemos explicar, acabamos por culpar Deus. E muitas vezes o terrível e mau hábito da blasfêmia vem daqui. Quantas vezes atribuímos a Ele as nossas desgraças, as desventuras do mundo Àquele que, ao contrário, nos deixa sempre livres e por isso nunca intervém impondo-se, apenas propondo; Àquele que nunca usa a violência e, aliás, sofre por nós e conosco! Na realidade, Jesus recusa e desafia fortemente a ideia de imputar os nossos males a Deus: as pessoas assassinadas por Pilatos e aquelas que morreram debaixo da torre não eram mais culpadas do que outras e não são vítimas de um Deus impiedoso e vingativo, que não existe! O mal nunca pode vir de Deus porque Ele «não nos trata segundo os nossos pecados» (Sl 103,10), mas segundo a sua misericórdia. Esse é o estilo de Deus. Ele não pode tratar-nos de outra forma. Trata-nos sempre com misericórdia.
Mas em vez de culpar Deus, diz Jesus, devemos olhar dentro de nós mesmos: é o pecado que produz a morte; é o nosso egoísmo que dilacera as relações; são as nossas escolhas erradas e violentas que desencadeiam o mal. Nesta altura, o Senhor oferece a verdadeira solução. Qual é? A conversão: «Se não vos converterdes», diz, «todos perecereis do mesmo modo» (Lc 13,5). É um convite urgente, especialmente neste tempo de Quaresma. Aceitemo-lo com o coração aberto. Convertamo-nos do mal, renunciemos ao pecado que nos seduz, abramo-nos à lógica do Evangelho: pois onde reina o amor e a fraternidade, o mal já não tem poder!
Contudo, Jesus sabe que a conversão não é fácil e quer ajudar-nos nisto. Ele sabe que muitas vezes voltamos a cair nos mesmos erros e pecados; que nos desencorajamos e talvez nos pareça que o nosso compromisso com o bem é inútil num mundo onde o mal parece reinar. E assim, após o seu apelo, encoraja-nos com uma parábola que fala da paciência de Deus. Devemos pensar na paciência de Deus, na paciência de Deus conosco. Ele oferece-nos a imagem consoladora de uma figueira que não dá frutos no momento estabelecido, mas que não é cortada: é-lhe dado mais tempo, outra possibilidade. Gosto de pensar que um bom nome para Deus seria “o Deus de outra possibilidade”: Ele dá-nos sempre outra possibilidade, sempre, sempre. Essa é a sua misericórdia. Isto é o que o Senhor faz conosco: não nos corta do seu amor, não perde a coragem, não se cansa de nos devolver a nossa confiança com ternura. Irmãos e irmãs, Deus acredita em nós! Deus confia em nós e acompanha-nos com paciência, a paciência de Deus conosco. Não desanima, mas coloca sempre esperança em nós. Deus é Pai e olha para ti como um pai: como o melhor dos pais, Ele não vê os resultados que ainda não conseguiste, mas os frutos que ainda podes dar; Ele não conta os teus fracassos, mas encoraja as tuas possibilidades; não se detém no teu passado, mas aposta confiante no teu futuro. Porque Deus está perto de nós, Ele está perto de nós. O estilo de Deus, não nos esqueçamos é a proximidade, Ele está perto, com misericórdia e ternura. E é assim que Deus nos acompanha: próximo, misericordioso e terno. Portanto, peçamos à Virgem Maria que nos dê esperança e coragem, e que acenda em nós o desejo da conversão.

Jesus poda a videira para que dê fruto

Fonte: Santa Sé.

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