terça-feira, 19 de julho de 2022

História do culto a Santa Maria Madalena

“Vou levantar-me e percorrer a cidade, procurando o Amor de minha vida” (Ct 3,2).

No dia 22 de julho as Igrejas do Oriente e do Ocidente celebram Santa Maria Madalena, testemunha privilegiada do Mistério Pascal da Morte-Ressurreição de Cristo. Nesta postagem gostaríamos de percorrer brevemente a história do seu culto.

1. “Quem é essa mulher?”: As muitas faces de Madalena

Ao longo da história, sobretudo no Ocidente, Maria Madalena foi identificada com ao menos outras duas mulheres do Evangelho: Maria, irmã de Marta e Lázaro, e a pecadora anônima que lava os pés de Jesus com suas lágrimas. As três, como veremos, são discípulas que se colocaram aos pés do Senhor e estão relacionadas ao simbolismo do perfume e da unção.

Ícone bizantino de Santa Maria Madalena
A cruz e o frasco de perfume aludem à Morte-Ressurreição do Senhor

a) na Sagrada Escritura:

“Maria”, versão grega do hebraico Miriam, era o nome feminino mais comum na época do Novo Testamento. Por isso, nossa santa aparece sempre acompanhada de um gentilício ou adjetivo pátrio, isto é, acompanhada da referência a um lugar. Maria “Madalena” (Μαρία ἡ Μαγδαληνή), portanto, significa Maria de Magdala”.

Magdala (do hebraico Migdal, “torre”) era uma aldeia na margem ocidental do mar da Galileia, destruída pelos romanos no final do século I, durante as guerras judaicas, cujos restos arqueológicos foram encontrados apenas no início do século XXI. Para saber mais, confira nossa postagem sobre Magdala clicando aqui.

Maria Madalena é mencionada 12 vezes nos Evangelhos, sempre ocupando uma posição de destaque entre as discípulas de Jesus:
Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus. Os Doze iam com Ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios (...) e várias outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam” (Lc 8,1-3).

Além do seu nome, Lucas oferece aqui duas informações importantes: ela havia sido curada por Jesus de alguma enfermidade (interpretada como a ação de “demônios”) e, junto com outras mulheres, ajudava materialmente o grupo dos Apóstolos.

Maria é curada por Jesus (notem-se os “sete demônios” que saem dela)
(Mosaico da igreja de Magdala)

Nos Evangelhos Sinóticos, Madalena permanece junto com outras mulheres contemplando à distância a Crucificação e o Sepultamento do Senhor (Mt 27,55-56; Mc 15,40-41; Lc 23,55-56). O Evangelho de João, por sua vez, a situa aos pés da cruz, junto com a Mãe de Jesus e o “discípulo amado” (Jo 19,25).

Nos diferentes relatos da Ressurreição, ela está entre as mulheres que levaram perfumes ao túmulo na manhã do domingo:

- em Marcos e Lucas, Madalena e as mulheres encontram um anjo e logo levam a mensagem da Ressurreição aos Apóstolos (Mc 16,1-8; Lc 24,1-11); em Mateus, por sua vez, as mulheres encontram tanto o anjo quanto o próprio Jesus (Mt 28,1-10);

- o relato de João, em contrapartida, é totalmente centrado em Madalena: ela descobre o túmulo vazio, retorna para avisar os Apóstolos e, novamente no jardim, encontra o Ressuscitado (Jo 20,1-2.11-18; cf. também Mc 16,9-11).

Maria Madalena não é citada nos demais textos do Novo Testamento. Ela “reaparecerá” apenas entre o final do século II e meados do século III, em alguns textos apócrifos da tradição gnóstica [1]. Tais relatos, porém, são bastante fragmentários e apresentam diversas doutrinas contraditórias.

Em uma tentativa de fundamentar sua doutrina, os cristãos gnósticos aludiam nesses textos a certos “conhecimentos secretos” que Jesus teria revelado a algum personagem do Evangelho, em contraposição ao grupo dos Doze. Dentre esses personagens está “Maria”, tanto Madalena quanto a irmã de Lázaro que se sentava aos pés de Jesus para ouvi-lo (Lc 10,38-42). 

b) na Tradição da Igreja:

Uma vez que Maria Madalena é apresentada no início do capítulo 8 do Evangelho de Lucas, a partir do século III alguns autores ocidentais passaram a identificá-la com a pecadora do capítulo anterior, que lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e os ungiu com perfume (Lc 7,36-50).

Assim, foi dado ao exorcismo dos “sete demônios” de Madalena (Lc 8,2) um caráter penitencial, o que não está fora de lugar, uma vez que as curas operadas por Jesus eram realmente acompanhadas pelo perdão dos pecados (cf. Mc 2,1-12).

A unção de Jesus pela mulher pecadora (Frans Francken II)
Na ”moldura”, cenas da vida de Madalena

A unção de Lc 7, por sua vez, logo foi associada à “unção de Betânia” (Jo 12,1-8). Maria de Betânia, com efeito, unge os pés do Senhor com perfume; contudo, este gesto não possui o caráter penitencial do relato lucano, sendo na verdade um “sinal” que antecede a Paixão [2].

Em 591, o Papa São Gregório Magno (†604) em duas Homilias sobre os Evangelhos (nn. 25 e 33) cimentou a visão de Madalena como uma “pecadora arrependida”, associando os “sete demônios” com os sete pecados capitais. A partir de então, no Ocidente Madalena, a mulher pecadora e a irmã de Marta e Lázaro passaram a ser consideradas como a mesma pessoa.

A tradição da “Madalena penitente” foi influenciada também pela história de Santa Maria Egipcíaca (séc. IV-V), muito venerada no Oriente, uma mulher devassa (em algumas versões também uma prostituta), natural de Alexandria do Egito. Após visitar Jerusalém, esta converteu-se e retirou-se para o deserto, vivendo seus últimos anos como eremita.

A partir do século XIII a história é enriquecida pela Legenda Aurea de Jacopo de Varazze (†1298), uma compilação de vidas de santos. Segundo a lenda, após a Ascensão do Senhor, Madalena teria se dirigido com Marta, Lázaro e outros cristãos para a região da Provença (sul da França), vivendo como penitente em uma gruta nas montanhas de Sainte-Baume, próximo à cidade de Marselha (Marseille).

Não obstante seu caráter de “pecadora”, porém, Madalena sempre foi elogiada pelos Padres da Igreja e por outros autores como modelo de conversão, de oração, de contemplação, de amor. Liberta do pecado, ela “mostrou muito amor” (Lc 7,47), permanecendo em pé junto à cruz, como a “torre” em seu nome (migdal), e buscando o Mestre com ardente amor na madrugada do domingo, como a amada do Cântico dos Cânticos.

Estátua de “Madalena penitente”
Gruta da região de Sainte-Baume (França)

 2. “Peccatrícem qui solvísti”: O culto a Maria Madalena até o Concílio Vaticano II

No Oriente, Madalena, Maria de Betânia e a pecadora de Lc 7 sempre foram consideradas como três pessoas distintas. Assim, além de receber o prestigioso título de “igual-aos-Apóstolos” (ἰσαπόστολος) como testemunha da Ressurreição, nossa santa é celebrada no Rito Bizantino como uma das “miróforas” (ou “mirróforas”).

Do grego myron (perfume), as “miróforas” são as “portadoras de perfumes” que foram ao sepulcro na manhã do domingo para ungir o corpo do Senhor. São celebradas no III Domingo da Páscoa, chamado justamenteo “Domingo das Miróforas”. Para saber mais, confira nossa postagem sobre os santos do Novo Testamento clicando aqui.

A partir do século X, cada uma das miróforas começou a receber também uma festa própria. Assim, surge no Oriente a celebração de Santa Maria Madalena no dia 22 de julho, data da transladação de suas supostas relíquias de Éfeso até Constantinopla, fazendo eco à tradição oriental de que ela teria passado seus últimos anos em Éfeso (na atual Turquia), junto à Virgem Maria e o Apóstolo João.

No final da Idade Média, por sua vez, surge no Oriente a lenda de que Maria Madalena teria anunciado a Ressurreição em Roma ao Imperador Tibério (†37), história associada no Ocidente à Verônica. Para saber mais, confira nossa postagem sobre a devoção à Santa Face de Jesus.

Segundo essa lenda, Maria teria feito o anúncio ao Imperador durante uma refeição. Como este duvidou, o ovo que ele segurava no momento se tornou vermelho, como sinal do poder de Cristo. A lenda aparece, pois, relacionada à tradição pascal dos ovos coloridos, muito forte nos países eslavos.

Maria Madalena com o célebre ovo de Páscoa colorido
(Mosaico de Viktor Vasnetsov)

A festa do dia 22 de julho se popularizou primeiro no Oriente, sendo acolhida, por exemplo, por siríacos e coptas. No Ocidente ela chega um pouco mais tarde, entre os séculos XI e XII, quando se desenvolve a lenda da presença de Madalena no sul da França, onde se conservam até hoje suas supostas relíquias. Cópias do Martirológio de São Beda (†735) que remontam a esse período, com efeito, atestam sua comemoração em Marselha no dia 22 de julho.

Vale destacar aqui a presença de Madalena na sequência do Domingo de Páscoa, Victimae paschali laudes, do século XI, com o seu diálogo os Apóstolos nas estrofes 4-6: “Dic nobis, Maria, quid vidisti in via?” - “Sepulcrum Christi viventis, et gloriam vidi resurgentis...”.

Após o Concílio de Trento (séc. XVI), porém, foi enfatizado seu caráter de “pecadora arrependida”, a ponto de figurar no Missale Romanum com o título de “Penitente” (Sanctae Mariae Magdalenae, Paenitentis).

Tal associação era reforçada pelo Evangelho proclamado nesse dia: o episódio da pecadora perdoada por Jesus (Lc 7,36-50). A leitura e o salmo, em contrapartida, destacavam sua “procura” pelo Amado na manhã da Páscoa (Ct 3,2-5; 8,6-7; Sl 44,8).

3. “Vi o Senhor!”: Maria Madalena na reforma do Concílio Vaticano II

Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, buscou-se distinguir Maria Madalena das outras mulheres do Evangelho, como Maria de Betânia e a pecadora.

Com a publicação do novo Calendário Romano Geral em 1969, foi conservada sua Memória no dia 22 de julho, suprimindo-se porém o título de “Penitente”. Da mesma forma, a publicação do Missal e do Lecionário levou à revisão de vários textos.

A extraordinária "Madalena Penitente" de Donatello
(Inspirada na iconografia de Santa Maria Egipcíaca)

A nova coleta (oração do dia) destaca em sua anamnese (memorial) o caráter “apostólico” de Maria, a quem o Senhor “confiou o primeiro anúncio da alegria pascal”. Em seguida, na epiclese (súplica) da oração, pedimos seguir o seu exemplo “anunciando que Cristo vive”.

A oração sobre as oferendas recebeu apenas um pequeno retoque, substituindo-se a referência ao “serviço” de Maria (oblatiónis obséquium), em alusão à “unção de Betânia”, pela proclamação do seu “amor” por Cristo (caritátis obséquium).

Na oração após a Comunhão, por fim, a súplica genérica pela proteção “contra todos os males” foi substituída por um pedido mais específico: que perseveremos “naquele amor que levou Maria Madalena a jamais separar-se do Mestre” [4].

As leituras também estão centradas no amor de Maria por Jesus e no seu encontro com o Ressuscitado na manhã da Páscoa, como proclamado no Evangelho (Jo 20,1-2.11-18). Conservou-se a leitura do Cântico dos Cânticos, ligeiramente reduzida (Ct 3,1-4a), além  de outra leitura à escolha (2Cor 5,14-17), e o Sl 62 (63), o cântico da alma que busca a Deus “desde a aurora”.

Quanto à Liturgia das Horas, os três hinos entoados anteriormente - Pater superni luminis, Maria castis osculis e Summi Parentis Unice - foram suprimidos, pois associavam Madalena com a pecadora de Lc 7 e com Maria de Betânia.

Portanto, a comissão coordenada pelo Padre Anselmo Lentini (†1989) compôs dois textos novos:

A 2ª leitura do Ofício, por sua vez, é tomada das Homilias de São Gregório Magno.

Da mesma forma, o texto da sequência Dies irae - antes entoada nas Missas dos defuntos e atualmente proposta como hino da Liturgia das Horas para a última semana do Tempo Comum - sofreu uma ligeira alteração: na 13ª estrofe substitui-se “Qui Maríam absolvísti” por “Peccatrícem qui solvísti”. A tradução brasileira, porém, manteve erroneamente “Maria”, que deveria ser alterada para “pecadora”.

O encontro de Maria Madalena com o Ressuscitado (Alexander Ivanov)

4. “Apostola apostolorum”: A reforma da festa sob o Papa Francisco

Nosso percurso pela história do culto a Santa Maria Madalena conduz-nos ao dia 03 de junho de 2016, quando foi promulgado o Decreto da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos através do qual sua celebração no Rito Romano, até então uma Memória Obrigatória, é elevada ao grau de Festa.

Em anexo ao Decreto, Dom Arthur Roche, então Secretário da Congregação (atual Prefeito), explica as três razões da mudança, realizada por expresso desejo do Papa Francisco: “A decisão inscreve-se no atual contexto eclesial, que pede uma reflexão mais profunda sobre a dignidade da mulher, a nova evangelização e a grandeza do mistério da misericórdia divina”.

Sobre a dignidade da mulher, o texto remete-nos à Carta Apostólica Mulieris dignitatem de São João Paulo II (†2005). Ao falar das “mulheres do Evangelho” no capítulo V, o Papa polonês louva Maria Madalena como testemunha da Ressurreição e “apóstola dos apóstolos” (n. 16).

O título de “apóstola dos apóstolos” (Apostola Apostolorum) remonta aos escritos de Rabano Mauro (†856) e Santo Tomás de Aquino (†1274), sublinhando aqui a importância da nova evangelização. Maria Madalena é proposta, pois, como modelo da mulher que evangeliza, anunciando aos Onze: “Vidi Dominum!”; “Vi o Senhor!” (Jo 20,18).

É também por sua associação aos Apóstolos que, como atesta o Bem-aventurado Cardeal Alfredo Ildefonso Schuster (†1954), anteriormente no dia 22 de julho sempre se recitava o Creio, a síntese das verdades de fé anunciadas pelos discípulos do Senhor “até os confins da terra” (At 1,8). Confira nossa postagem sobre a associação dos Apóstolos com os artigos do Creio clicando aqui.

Por fim, a instituição da festa deu-se no contexto do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (2015-2016) convocado pelo Papa Francisco. Já São Gregório Magno, em suas Homilias sobre os Evangelhos, indicava Madalena como “testemunha da misericórdia divina” (testis divinae misericordiae): ao encontrá-la chorando junto ao sepulcro, o Senhor “teve misericórdia dela, fazendo-se reconhecer como Mestre e transformando suas lágrimas em alegria pascal”.

Maria Madalena vai ao túmulo na manhã do domingo
(Vasily Polenov)

Todas essas reflexões são sintetizadas no novo Prefácio próprio da Festa, intitulado justamente “De apostolorum apostola”. Vale dizer que até então, no Rito Romano, além da Virgem Maria, apenas outros dois santos possuíam um Prefácio próprio (São José e São João Batista), o que demonstra a importância de Maria Madalena.

No Rito Ambrosiano, próprio da Arquidiocese de Milão (Itália), por sua vez, Maria Madalena já contava com um Prefácio próprio. Inspirado nas Homilias de São Gregório Magno, este destaca “o fogo do imenso amor a Cristo” que inflamava seu coração, infundindo nela a coragem para segui-lo até à Cruz e a “paixão” para anunciar sua Ressurreição.

O novo Prefácio do Rito Romano, como indicam os textos em anexo do Cardeal Robert Sarah e de Dom Arthur Roche, publicados na edição de 2016 da Revista Notitiae [4], está inspirado sobretudo nos textos de Rabano Mauro.

A introdução do Prefácio é um louvor à misericórdia do Senhor, que não é menor do que seu poder (“cuius non minor est misericordia quam potestas”), expressão que remonta ao Missale Gothicum (séc. VII).

A anamnese (memorial) do texto narra a participação de Maria no Mistério Pascal de Cristo de maneira bastante poética: “Qui in horto manifestus apparuit Maríae Magdalenae, quippe quae eum dilexerat viventem, in cruce víderat morientem, quaesierat in sepulcro iacentem, ac prima adoraverat a mortuis resurgentem...”.

A aparição de Cristo a Maria no jardim (in horto) traça um paralelo com o relato da queda no Livro do Gênesis, associação que já havia sido feita por São Gregório Magno e outros Padres da Igreja, como Santo Ambrósio (†397).

Dom Arthur Roche destaca “o contraste entre as duas mulheres presentes no jardim do paraíso e no jardim da Ressurreição. A primeira [Eva] difunde a morte onde estava a vida; a segunda [Madalena] anunciou a Vida a partir de um sepulcro, lugar de morte”.

Maria Madalena anuncia a Ressurreição aos Apóstolos e às mulheres
(Vasily Polenov)

É digno de nota também o paralelismo entre os quatro verbos que sintetizam a vida de Madalena - amouviubuscou e adorou (dilexerat, viderat, quaesierat, adoraverat) - e os quatro verbos do mistério de Cristo: viveumorreujazeuressuscitou (viventem, morientem, iacentem, resurgentem).

O Cardeal Sarah destaca em sua reflexão os verbos amar e adorar. Celebrando a Festa de Maria Madalena, somos exortados a seguir seu exemplo, “buscando” o Senhor, “encontrando-o” na adoração e anunciando-o aos irmãos. “Caritas Christi urget nos”: “O amor de Cristo nos impele” à evangelização (2Cor 5,14).

A missão ou “ofício apostólico” (apostolátus offício) de Maria Madalena é, pois, o “tema” da última parte do Prefácio. Seguindo os passos dela, modelo de discípula-missionária, também nós somos chamados a “anunciar a alegria da vida nova até os confins da terra”.

Seguiste a Cristo, nascido para nós da Virgem Maria, venerável Santa Maria Madalena, guardando os seus ensinamentos e as suas leis. Festejando hoje a tua santa memória, nós te louvamos com fé e, com amor, te honramos
(Tropárion de Santa Maria Madalena - Rito Bizantino) [5].

Notas:

[1] O gnosticismo (do grego gnose, “conhecimento”) é um conjunto de doutrinas que surgiram no início do Cristianismo, misturando tradições esotéricas, pensamentos filosóficos e outros elementos.
Em linhas gerais, caracteriza-se por um dualismo radical entre corpo e alma, entre matéria e espírito: o espírito, que é bom, deveria “libertar-se” da matéria, que é má, através da gnose, uma espécie de “conhecimento secreto” reservado aos “iniciados”.
A Igreja condenou o gnosticismo como heresia em diferentes ocasiões. Vale mencionar aqui dois textos de 2018: a Carta Placuit Deo da Congregação para a Doutrina da Fé e a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate do Papa Francisco.

[2] Lucas situa o episódio da mulher pecadora durante a vida pública de Jesus, na casa de um fariseu, provavelmente em Naim, cidade da Galileia mencionada no mesmo capítulo (Lc 7,11).
A unção de Betânia, em contrapartida, teria ocorrido poucos dias antes da Paixão. Mateus e Marcos a situam na casa de “Simão, o leproso” e não mencionam o nome da mulher que unge os pés do Senhor (Mt 26,6-13; Mc 14,3-9). João, por sua vez, cita explicitamente Maria, irmã de Marta e Lázaro, fazendo-nos supor que o evento ocorreu em sua casa.

[3] MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991, pp. 618-619.

[4] cf. CONGREGATIO DE CULTU DIVINO ET DISCIPLINA SACRAMENTORUM. Notitiae: Commentarii ad nuntia et studia de re liturgica. Nova series 1 (n. 593), vol. 52 (2016), pp. 22-35.63-93.

[5] SPERANDIO, João Manoel; TAMANINI, Paulo Augusto [org.]. Pequeno Menologion: Calendário Bizantino. Teresina: Editora da Universidade Federal do Piauí, 2015, p. 82.

Maria Madalena meditando (Georges de la Tour)
O crânio remete à mortalidade, a lamparina à vigilância

Confira também:
Catequese do Papa Francisco: Maria Madalena, Apóstola da esperança (17 de maio de 2017)

Referências:

BUTLER, Alban. Il primo grande Dizionario dei Santi secondo il Calendario. Casale Monferrato: Edizioni Piemme, 2001, pp. 713-714.

SCATTIGNO, Anna. María Magdalena. in: LEONARDI, Claudio; RICCARDI, Andrea; ZARRI, Gabriella [org.]. Diccionario de los Santos. Madrid: San Pablo, 2000, vol. II, pp. 1615-1620.

LODI, Enzo. Os Santos do Calendário Romano: Rezar com os Santos na Liturgia. São Paulo: Paulus, 1992, pp. 266-268.

SCHUSTER, Cardeal Alfredo Ildefonso. Liber Sacramentorum: Note storiche e liturgiche sul Messale Romano; v. VIII: I Santi nel Mistero della Redenzione (Le Feste dei Santi dall'ottava dei Principi degli Apostoli alla Dedicazione di S. Michele). Torino-Roma: Marietti, 1932, pp. 92-94.

3 comentários:

  1. Excelente artigo
    Santa Maria Madalena é minha santa de devoção
    O prefácio próprio dela que o senhor citou estará na nova reforma do missal romano?

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    1. Muito provavelmente. O Prefácio foi promulgado em 2016, enquanto a nova tradução do Missal foi concluída em 2022, e recentemente confirmada pela Santa Sé.

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