“Vou levantar-me e percorrer a cidade, procurando o Amor de minha vida” (Ct 3,2).
No dia 22 de julho as Igrejas do Oriente e do Ocidente
celebram Santa Maria Madalena, testemunha privilegiada do Mistério Pascal da
Morte-Ressurreição de Cristo. Nesta postagem gostaríamos de percorrer
brevemente a história do seu culto.
1. “Quem é essa mulher?”: As muitas faces de Madalena
Ao longo da história, sobretudo no Ocidente, Maria Madalena foi
identificada com ao menos outras duas mulheres do Evangelho: Maria, irmã de
Marta e Lázaro, e a pecadora anônima que lava os pés de Jesus com suas lágrimas.
As três, como veremos, são discípulas que se colocaram aos pés do Senhor e
estão relacionadas ao simbolismo do perfume e da unção.
Ícone bizantino de Santa Maria Madalena A cruz e o frasco de perfume aludem à Morte-Ressurreição do Senhor |
a) na Sagrada Escritura:
“Maria”, versão grega do hebraico Miriam, era o nome feminino mais comum na época do Novo Testamento.
Por isso, nossa santa aparece sempre acompanhada de um gentilício ou adjetivo
pátrio, isto é, acompanhada da referência a um lugar. Maria “Madalena” (Μαρία ἡ Μαγδαληνή),
portanto, significa Maria “de Magdala”.
Magdala (do hebraico Migdal,
“torre”) era uma aldeia na margem ocidental do mar da Galileia, destruída
pelos romanos no final do século I, durante as guerras judaicas, cujos restos arqueológicos foram encontrados apenas no início do século XXI. Para saber mais, confira nossa postagem sobre Magdala clicando aqui.
Maria Madalena é mencionada 12 vezes nos Evangelhos,
sempre ocupando uma posição de destaque entre as discípulas de Jesus:
“Jesus andava por
cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus. Os Doze
iam com Ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus
espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete
demônios (...) e várias outras
mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam” (Lc 8,1-3).
Além do seu nome, Lucas oferece aqui duas informações importantes: ela havia sido curada por Jesus de
alguma enfermidade (interpretada como a ação de “demônios”) e, junto com outras mulheres,
ajudava materialmente o grupo dos Apóstolos.
Maria é curada por Jesus (notem-se os “sete demônios” que saem dela) (Mosaico da igreja de Magdala) |
Nos Evangelhos Sinóticos, Madalena permanece junto com outras mulheres contemplando à distância a Crucificação e o Sepultamento do Senhor (Mt 27,55-56; Mc 15,40-41; Lc 23,55-56). O Evangelho de João, por sua vez, a situa aos pés da cruz, junto com a Mãe de Jesus e o “discípulo amado” (Jo 19,25).
Nos diferentes relatos da Ressurreição, ela está entre as mulheres que
levaram perfumes ao túmulo na manhã do domingo:
- em Marcos e Lucas, Madalena e as mulheres encontram um
anjo e logo levam a mensagem da Ressurreição aos Apóstolos (Mc 16,1-8; Lc 24,1-11); em Mateus, por sua vez, as
mulheres encontram tanto o anjo quanto o próprio Jesus (Mt 28,1-10);
- o relato de João,
em contrapartida, é totalmente centrado em Madalena: ela descobre o túmulo vazio, retorna
para avisar os Apóstolos e, novamente no jardim, encontra o
Ressuscitado (Jo 20,1-2.11-18; cf. também Mc 16,9-11).
Maria Madalena não é citada nos demais textos do Novo Testamento. Ela “reaparecerá” apenas entre o
final do século II e meados do século III, em alguns textos
apócrifos da tradição gnóstica [1]. Tais relatos, porém, são bastante fragmentários e apresentam diversas doutrinas contraditórias.
Em uma tentativa de fundamentar sua doutrina, os cristãos
gnósticos aludiam nesses textos a certos “conhecimentos secretos” que Jesus
teria revelado a algum personagem do Evangelho, em contraposição ao grupo dos
Doze. Dentre esses personagens está “Maria”, tanto Madalena quanto a
irmã de Lázaro que se sentava aos pés de Jesus para ouvi-lo (Lc 10,38-42).
b) na Tradição da Igreja:
Uma vez que Maria Madalena é apresentada no início do
capítulo 8 do Evangelho de Lucas, a
partir do século III alguns autores ocidentais passaram a
identificá-la com a pecadora do capítulo anterior, que lavou os pés de Jesus
com suas lágrimas e os ungiu com perfume (Lc
7,36-50).
Assim, foi dado ao exorcismo dos “sete demônios” de Madalena (Lc 8,2) um caráter penitencial, o que não está fora de lugar, uma vez
que as curas operadas por Jesus eram realmente acompanhadas pelo perdão dos
pecados (cf. Mc 2,1-12).
A unção de Jesus pela mulher pecadora (Frans Francken II) Na ”moldura”, cenas da vida de Madalena |
A unção de Lc 7,
por sua vez, logo foi associada à “unção de Betânia” (Jo 12,1-8). Maria de Betânia, com efeito, unge os pés do
Senhor com perfume; contudo,
este gesto não possui o caráter penitencial do relato lucano, sendo na verdade
um “sinal” que antecede a Paixão [2].
Em 591, o Papa São Gregório Magno (†604) em duas Homilias sobre os Evangelhos (nn. 25 e 33) cimentou a visão de Madalena como uma “pecadora arrependida”, associando os “sete demônios” com os sete pecados capitais. A partir de então, Madalena, a mulher pecadora e a irmã de Marta e Lázaro no Ocidente passaram a ser consideradas como a mesma pessoa.
A tradição da “Madalena penitente” foi influenciada também
pela história de Santa Maria Egipcíaca (séc. IV-V), muito venerada no Oriente, uma mulher devassa (em algumas versões também uma prostituta), natural de
Alexandria do Egito. Após visitar Jerusalém, esta converteu-se e retirou-se para
o deserto, vivendo seus últimos anos como eremita.
A partir do século XIII a história é enriquecida pela Legenda Aurea de Jacopo de Varazze
(†1298), uma compilação de vidas de santos. Segundo a lenda, após a Ascensão do
Senhor, Madalena teria se dirigido com Marta, Lázaro e outros cristãos para a
região da Provença (sul da França), vivendo como penitente em uma gruta nas
montanhas de Sainte-Baume, próximo à cidade de Marselha (Marseille).
Não obstante seu caráter de “pecadora”, porém, Madalena sempre
foi elogiada pelos Padres da Igreja e por outros autores como modelo de
conversão, de oração, de contemplação e de amor. Libertada do pecado, ela “mostrou muito amor” (Lc 7,47),
permanecendo em pé junto à cruz, como a “torre” em seu nome (migdal), e buscando o Mestre com ardente
amor na madrugada do domingo, como a amada do Cântico dos Cânticos.
Estátua de “Madalena penitente” Gruta da região de Sainte-Baume (França) |
2. “Peccatrícem qui solvísti”: O culto a Maria Madalena até o Concílio Vaticano II
No Oriente, Madalena, Maria de Betânia e a pecadora de Lc 7 sempre foram consideradas como três
pessoas distintas. Assim, além de receber o prestigioso título de
“igual-aos-Apóstolos” (ἰσαπόστολος) como testemunha da Ressurreição, nossa santa é celebrada no Rito Bizantino como uma das
“miróforas” (ou “mirróforas”).
Do grego myron (perfume), as “miróforas” são as “portadoras de perfumes” que foram
ao sepulcro na manhã da Ressurreição para ungir o corpo do Senhor. São celebradas no
III Domingo da Páscoa, chamado justamente “Domingo das Miróforas”. Para saber mais, confira nossa postagem sobre os santos do Novo Testamento clicando aqui.
A partir do século X, cada uma das miróforas começou a receber também uma festa própria. Assim, surge no Oriente a celebração
de Santa Maria Madalena no dia 22 de
julho, data da transladação de suas supostas relíquias de Éfeso até Constantinopla, fazendo eco à tradição oriental de que ela teria
passado seus últimos anos em Éfeso (Turquia), junto à Virgem Maria e o
Apóstolo João.
No final da Idade Média, por sua vez, surge no Oriente a
lenda de que Maria Madalena teria anunciado a Ressurreição em Roma ao Imperador
Tibério (†37), história associada no Ocidente à Verônica. Para saber mais, confira nossa postagem sobre a devoção à Santa Face de Jesus.
Segundo essa lenda, Maria teria feito o anúncio ao Imperador durante uma
refeição. Como este duvidou, um ovo que tinha nas mãos se tornou vermelho, como sinal do poder de Cristo. A lenda, portanto, aparece relacionada à
tradição pascal dos ovos coloridos, muito forte nos países eslavos.
Maria Madalena com o célebre ovo de Páscoa colorido (Mosaico de Viktor Vasnetsov) |
A festa do dia 22 de julho se popularizou primeiro no
Oriente, sendo acolhida, por exemplo, por siríacos e coptas. No Ocidente ela chega um pouco mais tarde, entre os séculos XI e XII, quando se desenvolve a lenda da presença de Madalena no sul
da França, onde se conservam até hoje suas supostas relíquias. Cópias do Martirológio de São Beda (†735) que remontam a esse período, com efeito, atestam sua comemoração em Marselha no dia 22 de julho.
Vale destacar aqui a presença de Madalena na sequência do
Domingo de Páscoa, Victimae paschali
laudes, do século XI, “dialogando” com os Apóstolos nas
estrofes 4-6: “Dic nobis, Maria, quid vidisti in via?” - “Sepulcrum Christi viventis, et gloriam vidi resurgentis...”.
Após o Concílio de Trento (séc. XVI), porém, foi enfatizado
seu caráter de “pecadora arrependida”, a ponto de figurar no Missale Romanum com o título de
“Penitente” (Sanctae Mariae Magdalenae,
Paenitentis).
Tal associação era reforçada pelo Evangelho proclamado nesse
dia: o episódio da pecadora perdoada por Jesus (Lc 7,36-50). A leitura e o salmo, em contrapartida, destacavam sua
“procura” pelo Amado na manhã da Páscoa (Ct
3,2-5; 8,6-7; Sl 44,8).
3. “Vi o Senhor!”: Maria Madalena na reforma do Concílio Vaticano II
Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, buscou-se
distinguir Maria Madalena das outras mulheres do Evangelho, como Maria de
Betânia e a pecadora.
Com a publicação do novo Calendário
Romano Geral em 1969, foi conservada sua Memória no dia 22 de julho, suprimindo-se porém o título de “Penitente”. Da mesma forma, a publicação do Missal e do Lecionário
levou à revisão de vários textos.
A extraordinária “Madalena Penitente” de Donatello (Inspirada na iconografia de Santa Maria Egipcíaca) |
A nova coleta (oração do dia) destaca em sua anamnese (memorial) o caráter “apostólico” de Maria, a quem o Senhor
“confiou o primeiro anúncio da alegria pascal”. Em seguida, na epiclese (súplica) da oração,
pedimos seguir o seu exemplo, “anunciando que Cristo vive”.
A oração sobre as oferendas recebeu apenas um pequeno retoque,
substituindo-se a referência ao “serviço” de Maria (oblatiónis obséquium), em alusão à “unção de Betânia”, pela
proclamação do seu “amor” por Cristo (caritátis
obséquium).
Na oração após a Comunhão, por fim, a
súplica genérica pela proteção “contra todos os males” foi substituída por um pedido mais
específico: que perseveremos “naquele amor que levou Maria Madalena a jamais
separar-se do Mestre” [4].
As leituras também estão centradas no amor de Maria por
Jesus e no seu encontro com o Ressuscitado na manhã da Páscoa, como proclamado no
Evangelho (Jo 20,1-2.11-18). Conservou-se
a leitura do Cântico dos Cânticos,
ligeiramente reduzida (Ct 3,1-4a),
além de outra leitura à escolha (2Cor 5,14-17), e o Sl 62 (63), o cântico da alma que busca a
Deus “desde a aurora”.
Quanto à Liturgia das Horas, os três hinos entoados
anteriormente - Pater superni luminis,
Maria castis osculis e Summi Parentis Unice - foram suprimidos,
pois associavam Madalena com a pecadora de Lc 7 e com Maria de Betânia.
Portanto, a comissão coordenada pelo Padre Anselmo Lentini
(†1989) compôs dois textos novos:
Vésperas (e Ofício): Mágdalae
sidus, múlier beáta (Ó estrela feliz de Magdala).
A 2ª leitura do Ofício, por sua vez, é tomada das Homilias de São Gregório Magno.
Da mesma forma, o texto da sequência Dies irae - antes entoada nas Missas dos defuntos e atualmente
proposta como hino da Liturgia das Horas para a última semana do Tempo Comum -
sofreu uma ligeira alteração: na 13ª estrofe substitui-se “Qui Maríam absolvísti” por “Peccatrícem
qui solvísti”. A tradução brasileira, porém, manteve erroneamente “Maria”, que deveria ser alterada para “pecadora”.
O encontro de Maria Madalena com o Ressuscitado (Alexander Ivanov) |
4. “Apostola apostolorum”: A reforma da festa sob o Papa Francisco
Nosso percurso pela história do culto a Santa Maria Madalena conduz-nos ao dia 03 de junho de 2016, quando foi promulgado o Decreto da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos através do qual sua celebração no Rito Romano, até então uma Memória Obrigatória, é elevada ao grau de Festa.
Em anexo ao Decreto, Dom Arthur Roche, então Secretário da Congregação (atual Prefeito), explica as três razões da mudança, realizada por expresso desejo do Papa Francisco: “A decisão inscreve-se no atual contexto eclesial, que pede uma reflexão mais profunda sobre a dignidade da mulher, a nova evangelização e a grandeza do mistério da misericórdia divina”.
Sobre a dignidade da mulher, o texto remete-nos à Carta Apostólica Mulieris dignitatem de São João Paulo II (†2005). Ao falar das “mulheres do Evangelho” no capítulo V, o Papa polonês louva Maria Madalena como testemunha da Ressurreição e “apóstola dos apóstolos” (n. 16).
O título de “apóstola dos apóstolos” (Apostola Apostolorum) remonta aos escritos de Rabano Mauro (†856) e Santo Tomás de Aquino (†1274), sublinhando aqui a importância da nova evangelização. Maria Madalena é proposta como modelo da mulher que evangeliza, anunciando aos Onze: “Vidi Dominum!” - “Vi o Senhor!” (Jo 20,18).
É também por sua associação aos Apóstolos que, como atesta o Bem-aventurado Cardeal Alfredo Ildefonso Schuster (†1954), anteriormente no dia 22 de julho sempre se recitava o Creio, a síntese das verdades de fé anunciadas pelos discípulos do Senhor “até os confins da terra” (At 1,8). Confira nossa postagem sobre a associação dos Apóstolos com os artigos do Creio clicando aqui.
Por fim, a instituição da festa deu-se no contexto do Jubileu Extraordinário da Misericórdia (2015-2016) convocado pelo Papa Francisco. Já São Gregório Magno, em suas Homilias sobre os Evangelhos, indicava Madalena como “testemunha da misericórdia divina” (testis divinae misericordiae): ao encontrá-la chorando junto ao sepulcro, o Senhor “teve misericórdia dela, fazendo-se reconhecer como Mestre e transformando suas lágrimas em alegria pascal”.
Maria Madalena vai ao túmulo na manhã do domingo (Vasily Polenov) |
Todas essas reflexões são sintetizadas no novo Prefácio próprio da Festa, intitulado justamente “De apostolorum apostola”. Vale dizer que até então, no Rito Romano, além da Virgem Maria, possuíam Prefácio próprio apenas São José, São João Batista e os Apóstolos Pedro e Paulo, o que demonstra a importância de Maria Madalena.
No Rito Ambrosiano, próprio da Arquidiocese de Milão (Itália), por sua vez, Maria Madalena já contava com um Prefácio próprio. Inspirado nas Homilias de São Gregório Magno, este destaca “o fogo do imenso amor a Cristo” que inflamava seu coração, infundindo nela a coragem para segui-lo até à Cruz e a “paixão” para anunciar sua Ressurreição.
O novo Prefácio do Rito Romano, como indicam os textos do Cardeal Robert Sarah e de Dom Arthur Roche publicados na
edição de 2016 da Revista Notitiae [4],
está inspirado sobretudo nos textos de Rabano Mauro.
A introdução do Prefácio é um louvor à misericórdia do Senhor, que
não é menor do que seu poder (“cuius
non minor est misericordia quam potestas”), expressão que remonta ao Missale Gothicum (séc. VII).
A anamnese (memorial) do texto narra a participação de
Maria no Mistério Pascal de Cristo de maneira bastante poética: “Qui in horto manifestus apparuit Maríae
Magdalenae, quippe quae eum dilexerat viventem, in cruce víderat morientem, quaesierat
in sepulcro iacentem, ac prima adoraverat a mortuis resurgentem...”.
A aparição de Cristo a Maria no jardim (in horto) traça um paralelo com o relato da queda no Livro do Gênesis, associação que já havia sido feita por São Gregório Magno e
outros Padres da Igreja, como Santo Ambrósio (†397).
Dom Arthur Roche destaca “o contraste entre as duas mulheres
presentes no jardim do paraíso e no jardim da Ressurreição. A primeira [Eva] difunde
a morte onde estava a vida; a segunda [Madalena] anunciou a Vida a partir de um
sepulcro, lugar de morte”.
Maria Madalena anuncia a Ressurreição aos Apóstolos e às mulheres (Vasily Polenov) |
É digno de nota também o paralelismo entre os quatro verbos que sintetizam a vida de Madalena - amou, viu, buscou e adorou (dilexerat, viderat, quaesierat, adoraverat) - e os quatro verbos do mistério de Cristo: viveu, morreu, jazeu, ressuscitou (viventem, morientem, iacentem, resurgentem).
O Cardeal Sarah destaca em sua reflexão os verbos amar e adorar. Celebrando a Festa de Maria Madalena, somos exortados a seguir seu exemplo, “buscando” o Senhor, “encontrando-o” na adoração e anunciando-o aos irmãos. “Caritas Christi urget nos”: “O amor de Cristo nos impele” à evangelização (2Cor 5,14).
A missão ou “ofício apostólico” (apostolátus offício) de Maria Madalena é, pois, o “tema” da última
parte do Prefácio. Seguindo os passos dela, modelo de discípula-missionária, também nós somos chamados a “anunciar
a alegria da vida nova até os confins da terra”.
“Seguiste a Cristo, nascido para nós da Virgem Maria, venerável Santa Maria Madalena, guardando os seus ensinamentos e as suas leis. Festejando hoje a tua santa memória, nós te louvamos com fé e, com amor, te
honramos”
(Tropárion de Santa Maria
Madalena - Rito Bizantino) [5].
Notas:
[1] O gnosticismo (do grego gnose, “conhecimento”) é um conjunto de doutrinas que surgiram no
início do Cristianismo, misturando tradições esotéricas, pensamentos
filosóficos e outros elementos.
Em linhas gerais, caracteriza-se por um dualismo radical
entre corpo e alma, entre matéria e espírito: o espírito, que é bom, deveria
“libertar-se” da matéria, que é má, através da gnose, uma espécie de
“conhecimento secreto” reservado aos “iniciados”.
A Igreja condenou o gnosticismo como heresia em diferentes
ocasiões. Vale mencionar aqui dois textos de 2018: a Carta Placuit Deo da Congregação para a Doutrina da Fé e a Exortação
Apostólica Gaudete et Exsultate do
Papa Francisco.
[2] Lucas situa o
episódio da mulher pecadora durante a vida pública de Jesus, na casa de um
fariseu, provavelmente em Naim, cidade da Galileia mencionada no mesmo capítulo
(Lc 7,11).
A unção de Betânia, em contrapartida, teria ocorrido poucos
dias antes da Paixão. Mateus e Marcos a situam na casa de “Simão, o leproso”
e não mencionam o nome da mulher que unge os pés do Senhor (Mt 26,6-13; Mc 14,3-9). João, por sua
vez, cita explicitamente Maria, irmã de Marta e Lázaro, fazendo-nos supor que o
evento ocorreu em sua casa.
[3] MISSAL ROMANO. Tradução
portuguesa da 2ª edição típica para o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991, pp.
618-619.
[4] cf.
CONGREGATIO DE CULTU DIVINO ET DISCIPLINA SACRAMENTORUM. Notitiae: Commentarii ad nuntia et studia de re liturgica. Nova series 1 (n. 593), vol. 52 (2016),
pp. 22-35.63-93.
[5] SPERANDIO, João Manoel; TAMANINI, Paulo Augusto [org.]. Pequeno Menologion: Calendário Bizantino.
Teresina: Editora da Universidade Federal do Piauí, 2015, p. 82.
Maria Madalena meditando (Georges de la Tour) O crânio remete à mortalidade, a lamparina à vigilância |
Confira também:
Catequese do Papa Francisco: Maria Madalena, Apóstola da esperança (17 de maio de 2017)
Referências:
BUTLER, Alban. Il
primo grande Dizionario dei Santi secondo il Calendario. Casale Monferrato:
Edizioni Piemme, 2001, pp. 713-714.
SCATTIGNO, Anna. María
Magdalena. in: LEONARDI, Claudio; RICCARDI, Andrea; ZARRI, Gabriella
[org.]. Diccionario de los Santos.
Madrid: San Pablo, 2000, vol. II, pp. 1615-1620.
LODI, Enzo. Os Santos
do Calendário Romano: Rezar com os Santos na Liturgia. São Paulo: Paulus,
1992, pp. 266-268.
SCHUSTER, Cardeal Alfredo Ildefonso. Liber Sacramentorum: Note storiche e liturgiche sul Messale Romano; v.
VIII: I Santi nel Mistero della Redenzione (Le Feste dei Santi dall'ottava dei Principi degli Apostoli alla
Dedicazione di S. Michele). Torino-Roma: Marietti, 1932, pp. 92-94.
Excelente artigo
ResponderExcluirSanta Maria Madalena é minha santa de devoção
O prefácio próprio dela que o senhor citou estará na nova reforma do missal romano?
Muito provavelmente. O Prefácio foi promulgado em 2016, enquanto a nova tradução do Missal foi concluída em 2022, e recentemente confirmada pela Santa Sé.
ExcluirBoa lindo demais!
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