Para acessar a postagem introdutória desta série, na qual explicamos os conceitos de vestes corais e vestes talares, clique aqui.
Nesta postagem vamos tratar de três coberturas para a cabeça que fazem parte das vestes talares e corais: o solidéu, o barrete e o saturno.
Nesta postagem vamos tratar de três coberturas para a cabeça que fazem parte das vestes talares e corais: o solidéu, o barrete e o saturno.
O solidéu
O solidéu (do latim soli Deo, só para Deus) é um pequeno gorro redondo de seda que se usa no alto da cabeça.
Derivado de coberturas de cabeça
ordinárias, foi reduzindo de tamanho ao longo da história e adquiriu um sentido
simbólico “inverso”, isto é, o solidéu em si não significa nada. Ele só tem
sentido quando é retirado, pois só é removido na presença do Santíssimo
Sacramento exposto e, na Sexta-feira Santa, da Santa Cruz.
Na Missa, o Bispo usa o solidéu
desde o início, depondo-o logo após a oração sobre as oferendas e repondo-o
antes da oração após a Comunhão [1], exceto na Missa da Ceia do Senhor e na
Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, quando não retoma o solidéu,
uma vez que o Santíssimo Sacramento permanece sobre o altar.
Sobre o uso do solidéu pelos
distintos membros da hierarquia:
Presbíteros, cônegos, monsenhores: Embora o Cerimonial não
prescreva, podem por tradição usar o solidéu negro fora da Missa. Todos os
antigos manuais de Liturgia são concordes em afirmar que os presbíteros não usam o solidéu na Missa [3];
Bispos: Podem usar sempre, mesmo no quotidiano, o solidéu violáceo;
Cardeais: O mesmo dos Bispos, porém com o solidéu vermelho;
Papa: Usa sempre o solidéu branco.
O barrete
Também o barrete (do latim biretum) deriva de uma cobertura de cabeça ordinária. Trata-se de um chapéu quadrado, com três palas levantadas e geralmente uma borla ao centro.
Embora o atual Cerimonial não
prescreva, tradicionalmente aquele que preside uma celebração usa o barrete nos
seguintes momentos:
- nas procissões de entrada e de
saída, exceto se o Santíssimo Sacramento estiver exposto (como na procissão de
saída de Corpus Christi);
- enquanto se está sentado, exceto
se o Santíssimo Sacramento estiver exposto (por exemplo, durante a Comunhão);
- para fazer a homilia.
Os antigos manuais de Liturgia são
enfáticos ao afirmar que não se usa
o barrete para realizar ações sagradas [4]. Por exemplo, o presbítero não pode
dar a bênção no final da Missa com o barrete, nem, administrando o Batismo,
realizar a infusão da água ou as unções endossando o barrete.
Também o barrete doutoral, com
quatro palas, usado pelos sacerdotes que possuem um Doutorado, é proibido na
Liturgia, sendo permitido apenas fora dela.
O barrete geralmente integra as
vestes corais dos diversos clérigos, podendo ser usado também com a veste talar
de uso quotidiano (exceto, como veremos, os Cardeais):
Presbíteros: Barrete negro com borla também negra;
Cônegos: conforme os estatutos de cada Cabido. Se não houver, usam
o barrete negro, como os presbíteros;
Monsenhores: para os Capelães de Sua Santidade o Cerimonial não
especifica, ficando subentendido que poderiam usar o mesmo barrete dos
presbíteros, uma vez que este é prescrito para os Monsenhores Prelados de
honra;
Protonotários apostólicos numerários: são os únicos a quem o
Cerimonial prescreve o barrete negro com borla vermelha;
Bispos: barrete violáceo com borla na mesma cor;
Cardeais: barrete vermelho sem borla. Por ser o sinal distintivo do
Cardinalato, imposto pelo Papa na cabeça de cada Cardeal, o barrete
cardinalício só pode ser usado com as vestes corais.
O saturno
Por fim, temos o saturno, um chapéu redondo de felpo preto com aba larga que é assim chamado por sua semelhança com o planeta Saturno e o anel que o rodeia.
O saturno pode ser usado em ocasiões solenes fora das
celebrações litúrgicas (e nunca dentro da Liturgia) ou no quotidiano por todos
os clérigos. O chapéu é preto para todos, exceto para o Papa, que usa um
saturno vermelho.
O saturno pode ainda ser ornado com cordões e borlas, que
são pretas para os presbíteros, verdes para os Bispos e vermelhas para os
cardeais.
Bento XVI com o saturno vermelho |
[1] cf. CERIMONIAL
DOS BISPOS, nn. 153.166.
[2] ibid., n. 322.
[3] cf. COELHO,
Dom António. Curso de Liturgia Romana. Tomo
II: Liturgia sacrifical. Editora Pax: Braga, 1943, p. 238; ROWER, Frei
Basílio. Dicionário Litúrgico para uso do
revmo. clero e dos fiéis. Petrópolis: Vozes, 1947, p. 183.
[4] cf. REUS, Pe.
João Batista. Curso de Liturgia. São
Paulo: Cultor de Livros, 2018, p. 142.
Fonte:
CERIMONIAL DOS BISPOS, Cerimonial
da Igreja. Tradução portuguesa da edição típica. Apêndice I: Vestes prelatícias.
São Paulo: Paulus, 1988, pp. 311-313.
Boa noiteAndre tudo bom?
ResponderExcluirQuando o uso do barrete é obrigatório?
Reitor de Basílica...etc ?
O barrete nunca é obrigatório. O Cerimonial dos Bispos o menciona apenas como parte da veste coral dos Cardeais, Bispos e alguns Prelados (nn. 1199-1208).
ExcluirO Decreto Domus Dei (1968, confirmado pela Congregação do Culto Divino em 1975), que elenca as concessões para as Basílicas não menciona o uso do barrete pelo reitor.