sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

História da devoção à Santa Face de Jesus

“Senhor é vossa face que eu procuro, não me escondais a vossa face” (Sl 26,8).

Existem algumas devoções cristológicas que recorrem à “sinédoque” ou “metonímia”: através do culto a uma “parte” na verdade querem adorar o Cristo “todo”. É o caso das devoções ao Sagrado Coração de Jesus, ao seu Santíssimo Nome, ao seu Preciosíssimo Sangue, às suas Cinco Chagas...

Nesta postagem gostaríamos de apresentar, ainda que brevemente, a devoção à Santa Face de Nosso Senhor Jesus Cristo (Sacri Vultus Domini Nostri Jesu Christi).

Ícone da Face de Jesus do século XII
(Galeria Tretyakov, Moscou)

Jesus Cristo, “rosto da misericórdia do Pai”

Já no Antigo Testamento a imagem da “face” ou “rosto” é usada para referir-se a Deus, mais especificamente à sua vontade de revelar-se, de dar-se a conhecer ao homem.

Uma vez que é através da face que o ser humano exprime suas emoções e sentimentos (alegria, tristeza, ira...), pede-se a Deus que mostre sua “face” benévola ao orante. Destacamos, neste sentido, a célebre “bênção sacerdotal” ou “bênção de Aarão”:

“O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26).

Na primeira aliança, porém, a “face de Deus” permanece inefável, uma vez que Ele não havia se manifestado visivelmente, revelando-se aos homens através de sua Palavra e de elementos simbólicos: a sarça ardente, a coluna de nuvem...

Portanto, no Novo Testamento há um “salto” através da Encarnação do Verbo: Jesus Cristo é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), o “esplendor da sua glória” (Hb 1,3; cf. Ap 1,16). Com efeito, ao pedido de Filipe: “Mostra-nos o Pai”, Jesus atesta: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,8-9).

A imagem do rosto de Cristo (mandylion) sustentado pelos Arcanjos Miguel e Gabriel
(Ícone dos séculos XV-XVI, Museu Nacional de Cracóvia, Polônia)

“O conhecimento da glória de Deus brilha na face de Cristo” (2Cor 4,6). Assim, uma vez que, em Jesus, Deus assumiu um rosto visível e palpável (cf. 1Jo 1,1-3: “o que vimos... o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida... isto vos anunciamos”), este também pode ser representado e venerado como objeto de culto.
Sobre o fundamento teológico da veneração das imagens, confira nossa postagem sobre os ícones da tradição bizantina.

Ao mesmo tempo, porém, o rosto divino permanece aberto à perspectiva escatológica: “Agora nós vemos num espelho, confusamente, mas, então, veremos face a face” (1Cor 13,12; cf. 2Cor 3,18; 1Jo 3,1-2; Ap 22,4) [1].

A “face de Jesus” no Oriente: O mandylion de Edessa

No Oriente, a devoção à Santa Face de Jesus está ligada ao mandylion de Edessa (μανδήλιον). De acordo com a lenda, mencionada por Eusébio de Cesareia (†340) em sua História Eclesiástica [2], o rei Abgar V de Edessa (†50), estando doente, teria enviado uma carta a Jesus, pedindo o dom da cura [3].

Ainda de acordo com a lenda, Jesus teria respondido em outra carta, elogiando a fé do rei e indicando que após sua Ascensão enviaria um dos seus discípulos para curá-lo. Segundo a tradição, com efeito, o evangelizador de Edessa e do norte da Mesopotâmia foi Santo Addai ou São Tadeu. Este não é o Apóstolo Judas Tadeu, um dos Doze, mas sim um discípulo de São Tomé, geralmente contado entre os 70 ou 72 “discípulos de Jesus” (cf. Lc 10,1-20).

Em versões posteriores da lenda, o mensageiro do rei, chamado Ananias, teria pintado o rosto de Jesus em um lenço, o célebre mandylion. Em outras versões, por sua vez, o rosto do Salvador teria aparecido milagrosamente no tecido, sendo portanto uma imagem αχειροποίητα (“acheiropoieta” ou “achiropita”, isto é, “não feita por mãos humanas”), e levada por Santo Addai para curar o rei.

O rei Abgar V recebendo o mandylion de Santo Addai (ou São Tadeu)
(Imagem do século X - Mosteiro de Santa Catarina no monte Sinai, Egito) 

Não obstante, a chegada do cristianismo em Edessa teria ocorrido mais provavelmente no tempo do rei Abgar IX (†212), entre o final do século II e o início do século III. Com efeito, a “Anáfora de Addai e Mari”, uma Oração Eucarística atribuída a Santo Addai e a seu discípulo, São Mari, teria sido elaborada no século III. Esta Anáfora é utilizada até hoje pela Igreja Assíria do Oriente e pela Igreja Católica Caldeia.

Quanto ao mandylion, este teria sido conservado em Edessa até meados do século X, quando, devido aos ataques dos persas, foi levado a Constantinopla no tempo do Imperador Romano I (†948). No Rito Bizantino, com efeito, celebra-se a transladação do mandylion a Constantinopla no dia 16 de agosto.

Em 1204, durante a Quarta Cruzada, os cristãos latinos saquearam a cidade. O mandylion teria sido tomado pelo Rei Luís IX da França (†1270), permanecendo na Sainte-Chapelle em Paris até desaparecer durante a Revolução Francesa (1789).

Dentre as cópias célebres do mandylion de Edessa cabe destacar a “Santa Face” de Gênova (Itália), do século XIV; e a conservada em Roma, na Basílica de São Silvestre in Capite, do século XVI, atualmente no Palácio Apostólico do Vaticano.

A "Santa Face" de Gênova, Itália
(Conservada na igreja de São Bartolomeu dos Armênios)

A “face de Jesus” no Ocidente: O véu da Verônica

No Ocidente, o papel do mandylion foi ocupado pelo “véu da Verônica”.

A primeira referência à Verônica encontra-se no relato apócrifo Atos de Pilatos, escrito em grego entre o final do século II e o início do século III. Aqui a mulher curada de uma hemorragia por Jesus (cf. Mt 9,20-22; Mc 5,25-34; Lc 8,43-48) é chamada Berenice (Βερενίκη), nome de origem macedônia que significa “portadora da vitória” [4].

Quando o relato passou do grego para o latim, integrado no Evangelho de Nicodemos, o nome foi adaptado para “Verônica”. Uma vez que esse nome remete a “vera icona” (verdadeira imagem), Berenice passou a ser associada a uma imagem do Salvador.

Com efeito, no Ciclo de Pilatos, uma série de escritos em torno desse personagem elaborados a partir do século VIII, adapta-se a história do rei Abgar, com Verônica curando o Imperador romano Tibério (†37) com a Santa Face impressa em um véu [5].

Nas versões mais antigas do relato, a imagem é realizada por um pintor. Posteriormente, porém, essa é impressa no véu por Jesus de maneira miraculosa (“acheiropoieta” ou “achiropita”, como vimos acima).

Santa Verônica com o véu da "Santa Face"
(Hans Memling - National Gallery of Art, Washington)

O “véu da Verônica” passa a receber particular veneração no Ocidente a partir do século XIII, sendo sua cópia mais célebre conservada na Basílica de São Pedro no Vaticano.

O “precursor” da devoção foi o Papa Inocêncio III (†1216), que prescreveu em 1208 uma procissão com o “véu da Verônica” da Basílica Vaticana até a igreja do Espírito Santo in Sassia, junto à qual funcionava um célebre hospital, exortando assim a ver a face de Cristo no rosto dos irmãos sofredores (cf. Mt 25,31-46).

A procissão tinha lugar no II Domingo após a Epifania (II Domingo do Tempo Comum), conhecido como “Omnis terra”, em referência à antífona de entrada, que até hoje se conserva, tomada do Sl 65,4: “Omnis terra adóret te, Deus...” (“Toda terra te adore, ó Deus...”).


Essa seria, portanto, a primeira “festa” da Santa Face de Jesus. O Santuário da Santa Face de Manoppello (Itália) tem tentado recuperar a celebração do “Domingo Omnis terra” [6]. No dia 17 de janeiro de 2016, com efeito, durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, uma réplica da Santa Face de Manoppello foi conduzida em procissão da Basílica de São Pedro até a igreja do Espírito Santo in Sassia.

Procissão com a "Santa Face" de Manoppello na Praça de São Pedro
(II Domingo do Tempo Comum, 17 de janeiro de 2016)

Dom Georg Gänswein concede a bênção com a "Santa Face"

Retornando ao “véu da Verônica”, este constava entre as “Mirabilia Urbis” (Maravilhas da cidade de Roma), série de relíquias expostas solenemente durante o Jubileu de 1300, convocado pelo Papa Bonifácio VIII (†1303), como atesta Dante no canto XXXI do Paraíso [7].

A partir de então, o “véu” era exposto em ocasiões solenes, como nos Jubileus. A devoção se tornou tão popular que os Papas Paulo V (†1621) e Urbano VIII (†1644) chegaram a proibir a realização de cópias da imagem.

Não obstante, até hoje se conservam importantes cópias do “véu”: em Viena (Áustria); em Alicante e Jaén (Espanha); e em Manoppello (santuário visitado pelo Papa Bento XVI em 2006). Vale lembrar também o Santo Sudário de Turim (Itália), associado, por sua vez, ao sepultamento do corpo de Jesus.

Para a nova Basílica de São Pedro no Vaticano (séculos XVI-XVII) foram realizadas quatro grandes estátuas para os nichos sob a cúpula, dentre as quais a “Santa Verônica” de Francesco Mochi (1632), associada ao respectivo “véu” [8].

"Santa Verônica de Jerusalém" de Francesco Mochi
(Basílica de São Pedro no Vaticano)

Sobre a estátua encontra-se uma loggia, isto é, uma sacada, na qual estão representados em um relevo anjos sustentando o “véu” sob a inscrição “Faciem tuam deprecabuntur” (Suplicarão à tua Face), que remete ao texto em latim de 11,19 e Sl 45,13.

Loggia da "Santa Face" sobre a estátua da Verônica

Por fim, em relação a Santa Verônica, alguns catálogos de santos da Idade Média indicavam sua celebração para o dia 12 de julho. Porém, uma vez que não é mencionada nos antigos martirológios, ela não consta oficialmente no Martirológio Romano [9].

A associação da Santa Face com a Paixão

Note-se que os relatos sobre o mandylion e o véu da Verônica colocam sua realização, seja natural ou miraculosa, sempre durante a vida pública de Jesus, antes da Paixão.

A face de Jesus aparece assim relacionada à Encarnação, atestando que Jesus é verdadeiro homem (pois tem um rosto visível e palpável) e verdadeiro Deus (pois a representação da sua face é capaz de realizar curas).

Será apenas a partir do século XIV que o véu da Verônica passaria a ser relacionado à Paixão. Surgiu então a lenda de que ela, associada às “mulheres de Jerusalém” (Lc 23,27-31), teria enxugado o rosto de Jesus a caminho do Calvário, o qual, manchado de sangue, suor e poeira da estrada, teria ficado milagrosamente estampado em seu véu.

A “face de Jesus” aqui remete ao “Servo Sofredor” celebrado nos cânticos da segunda parte do Livro de Isaías (Is 42,1-9; 49,1-7; 50,4-11; 52,13–53,12). O rosto maltratado do Servo do Senhor é sinal de salvação: “por suas chagas fomos curados” (Is 53,5; cf. 1Pd 2,21-24).

"Véu da Verônica" de Domenico Fetti
(National Gallery of Art, Washington)

Com a consolidação das “estações” da Via Sacra ou Via Crucis a partir dos séculos XVII-XVIII o “encontro de Verônica com Jesus a caminho do Calvário” passou a figurar como VI Estação.

A partir do século XVII, uma vez que a Basílica Vaticana já era a “igreja estacional” do V Domingo da Quaresma (chamado anteriormente de I Domingo da Paixão), nesse dia, após as II Vésperas recitadas pelos cônegos no altar da Cátedra, a relíquia do “véu da Verônica” é exposta à veneração dos fiéis desde a loggia sobre a imagem de Santa Verônica.

A oração que se recita na ocasião teria sido escrita pelo Papa Inocêncio III, fazendo referência ao texto de 1Cor 13,12 (com a menção à Paixão como um acréscimo posterior):

Deus, qui nobis signatis lumine vultus tui imaginem tuam relinquere voluisti: [per passionem et crucem tuam] tribue nobis, quaesumus; ut sicut nunc in terris per speculum et in aenigmate ipsam veneramur, ita facie ad faciem venientem judicem te securi videamus. Qui vivis et regnas in saecula saeculorum. Amen [10].

Ó Deus, que quiseste deixar tua imagem conosco, marcando-nos com a luz da tua face: concede-nos, [pela tua Paixão e Cruz], nós te suplicamos: que assim como agora na terra a veneramos através de um espelho e de maneira obscura, possamos com segurança ver-te face a face quando vieres para julgar. Tu que vives e reinas por todos os séculos dos séculos. Amém (Tradução livre nossa, não oficial).

Os cônegos da Basílica de São Pedro exibem o "véu da Verônica"
(II Vésperas do V Domingo da Quaresma)

A Missa votiva da Sagrada Face de Jesus

A edição do Missale Romanum promulgada em 1920 por Bento XV (†1922), no contexto das reformas de São Pio X (†1914), trazia várias Missas votivas para o Tempo da Quaresma ligadas ao mistério da Paixão. Porém, nesse Missale não consta uma Missa votiva em honra da Santa Face [11].

Posteriormente, teria sido aprovada para alguns lugares (pro aliquibus locis) uma Missa votiva à Sagrada Face de Nosso Senhor Jesus Cristo (Sacri Vultus Dómini Nostri Jesu Christi).

As informações a respeito dessa Missa, porém, são desencontradas: alguns indicam que foi aprovada no tempo de São Pio X, em 1908 ou 1910; outros afirmam que teria sido aprovada por Pio XII em 1958 e concedida ao Brasil por João XXIII no ano seguinte, a ser celebrada na Terça-feira de Carnaval, isto é, na véspera da Quarta-feira de Cinzas. Porém, em nossa pesquisa não encontramos nenhuma referência a essa Missa na Acta Sanctae Sedis ou Acta Apostolicae Sedis, veículo oficial de informação da Santa Sé.

Aqueles que defendem a celebração da “Santa Face” na terça-feira antes das Cinzas remetem ao tema da “reparação”, isto é, ao pedido de perdão pelos “pecados cometidos durante o Carnaval”. Tal tema foi destacado pelo Papa Pio XI (†1939) na Encíclica Miserentissimus Redemptor (1928), relacionando-o porém à devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

A ênfase na “reparação”, porém, pode levar a uma visão muito estrita do tema da “ira de Deus”. Além disso, vale a pena recuperar a perspectiva cristã da Terça-feira de Carnaval como um dia festivo, uma vez que tradicionalmente comportava uma refeição mais “generosa” antes do início do jejum quaresmal. Para saber mais, confira nossa postagem sobre a “despedida do aleluia” nesse dia.

De toda forma, a oração que se costuma reproduzir para a “Missa votiva da Santa Face” é a seguinte:

Dómine Jesu Christe, cujus sacratíssimus Vultus in Passióne abscónditus sicut sol in sua virtúte relúcet; concéde propítius, ut tuis passiónibus communicántes in terris, in revelatióne glóriae tuae gaudére valeámus in coelis. Qui vivis et regnas cum Deo Patre in unitáte Spíritus Sancti Deus: per ómnia saécula saeculórum. Amen [12].

Senhor Jesus Cristo, cujo sacratíssimo Rosto, escondido na Paixão, resplandece como o sol em todo o seu esplendor; concedei-nos, propício, que participando na terra dos teus sofrimentos, possamos nos alegrar no céu com a revelação da tua glória. Tu que vives e reinais com o Pai na unidade do Espírito Santo, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém (Tradução livre nossa, não oficial).

"Santa Verônica" de Mattia Preti
(Museu de Los Angeles, EUA)

Para essa celebração aparecem indicadas as antífonas e leituras da Missa votiva da Paixão do Senhor, conhecida como Missa “Humiliávit”, em referência à antífona de entrada, tomada de Fl 2,8-9: “Humiliávit semetípsum Dóminus Jesus Christus usque ad mortem...” (O Senhor Jesus Cristo humilhou-se a si mesmo até à morte...).

Após o Concílio Vaticano II, a Missa do “Rosto sofredor de Jesus” (Volto sofferente di Gesù) aparece entre as Missas votivas próprias da Congregação da Paixão de Jesus Cristo (Passionistas), aprovadas pela Congregação para o Culto Divino em 1975.

Reproduzimos aqui a coleta da Missa do “Rosto sofredor de Jesus” em sua tradução para o italiano, a qual foi aprovada oficialmente em 1998:

O Padre, che con la Passione di Cristo hai liberato l'umanità dalla morte ereditata col peccato, rinnovaci a somiglianza del tuo Figlio, perché, cancellata l'immagine dell'uomo vecchio, rifulga in noi con la tua grazia l'immagine dell'uomo nuovo, Gesù Cristo nostro Signore. Egli è Dio, e vive e regna con te, nell'unità dello Spirito Santo, per tutti i secoli dei secoli. Amen [13].

Ó Pai, que pela Paixão de Cristo libertaste a humanidade da morte herdada com o pecado, renovai-nos à semelhança do teu Filho, para que, cancelada a imagem do homem velho, refulja em nós, com a tua graça, a imagem do homem novo, Jesus Cristo, nosso Senhor. Ele, que é Deus, e vive e reina contigo, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém (Tradução livre nossa, não oficial).

"Face de Cristo" - Raúl Berzosa Fernández

Circula na internet uma versão da tradução dessa oração, a qual, uma vez que não possui a aprovação oficial da CNBB, organismo responsável pela tradução dos textos litúrgicos para o português do Brasil, não pode ser usada nas celebrações litúrgicas, apenas na oração pessoal e em práticas da piedade popular.

O crescimento da devoção à Santa Face no século XX

Cabe recordar, por fim, que a devoção à Sagrada Face de Jesus ganhou destaque no século XX através da religiosa carmelita Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, Virgem e Doutora da Igreja (†1897).

Santa Teresinha com as estampas do Menino Jesus e da Sagrada Face

Em 1950, por sua vez, o Venerável Ildebrando Gregori (†1985), abade beneditino, fundou a Congregação das Irmãs Reparadoras da Sagrada Face de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Além de suas atividades caritativas, as irmãs empenham-se em promover a devoção à Santa Face, sobretudo através da difusão de uma medalha idealizada pela Beata Maria Pierina de Micheli (†1945), com a inscrição do Sl 66,2: “Illumina, Domine, vultum tuum super nos” (“Ó Senhor, que vossa face resplandeça sobre nós”).

Medalha da Sagrada Face

A Congregação, junto ao Cardeal Fiorenzo Angelini (†2014), que foi o titular da igreja do Espírito Santo in Sassia, fundou em 1997 o Instituto Internacional de Pesquisa sobre o Rosto de Cristo, dedicado a promover o estudo sobre a teologia e a espiritualidade dessa devoção.

Por ocasião do VI Congresso, em 2002, o Papa São João Paulo II (†2005) enviou uma mensagem ao Cardeal Angelini, destacando uma afirmação da sua Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte (n. 16):

“Não é porventura a missão da Igreja refletir a luz de Cristo em cada época da história e, por conseguinte, fazer resplandecer o seu Rosto também diante das gerações do novo milênio? Mas o nosso testemunho seria excessivamente pobre, se não fôssemos primeiro contemplativos do seu Rosto”.

Cardeal Fiorenzo Angelini (†2014), grande promotor da devoção à "Santa Face"

Confira também:

Notas:

[1] Sobre o tema da “face” na Sagrada Escritura, confira:
LÉON-DUFOUR, Xavier et al. Vocabulário de Teologia Bíblica. Petrópolis: Vozes, 2008, pp. 341-343.
LURKER, Manfred. Dicionário de figuras e símbolos bíblicos. São Paulo: Paulus, 1993, pp. 98-99.
McKENZIE, John Lawrence. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulus, 2013, pp. 307-308.

[2] História Eclesiástica, Livro 1, cap. 13; in: EUSÉBIO DE CESAREIA. História Eclesiástica. São Paulo: Paulus, 2000, pp. 66-70 (Coleção: Patrística, vol. 15).

[3] A cidade de Edessa (na atual Turquia, próxima à fronteira com a Síria) foi a capital do pequeno reino de Osroena (às vezes chamado de reino de Edessa), que, assim como o reino da Armênia, ao norte, serviu como “Estado tampão” (um estado “neutro” entre duas potências rivais) entre o Império Romano e o Império Parto.

[4] cf. Evangelho de Nicodemos (Atos de Pilatos), cap. 7; in: PROENÇA, Eduardo de [org.]. Apócrifos e pseudo-epígrafos da Bíblia, v. I. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p. 549.

[5] cf. Ciclo de Pilatos; in: ibid., pp. 721-745.

[6] Para saber mais, confira o site do Santuário de Manoppello: Volto Santo.

[7] cf. ALIGHIERI, Dante. Divina Comédia: Paraíso. Canto XXXI, vv. 105-111.

[8] As outras três estátuas e suas respectivas relíquias são:
- “São Longinos” de Gian Lorenzo Bernini (1639), associado à lança que perfurou o lado de Cristo (Jo 19,34);
- “Santa Helena” de Andrea Bolgi (1646), associada à relíquia da Santa Cruz;
- “Santo André” de François Duquesnoy (1640). As relíquias do Apóstolo, porém, foram devolvidas pelo Papa São Paulo VI à Igreja Ortodoxa Grega em 1964.

[9] cf. DÉGERT, Antoine. St. Veronica. in: The Catholic Encyclopedia, vol. 15, 1912. Disponível em: New Advent.


[11] O único desses formulários que foi conservado é o da Missa das “Sete Dores da Bem-aventurada Virgem Maria” (Septem Dolorum Beatae Mariae Virginis) na sexta-feira da V semana da Quaresma. A 3ª edição típica do Missal Romano (ainda sem tradução para o Brasil), propõe para esse dia uma coleta (oração do dia) opcional em honra da participação da Virgem Maria no mistério da Paixão.



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