“Salve, ó Santa Mãe de Deus, vós destes à
luz o Rei que governa o céu e a terra pelos séculos eternos” (Antífona de
entrada da Solenidade da Santa Mãe de Deus).
No dia 01 de
janeiro, início do ano civil, a Igreja de Rito Romano celebra a Solenidade de
Santa Maria, Mãe de Deus.
Tal tradição
remonta ao século IV, sob a influência das “festas associadas” da tradição
bizantina: após a comemoração de um evento da história da salvação celebram-se
os personagens que dele participaram.
Para conhecer o simbolismo do ícone da Sinaxe da Santa Mãe de Deus, festa celebrada pelos orientais no dia 26 de dezembro, clique aqui. Para os diferentes tipos de ícones de Nossa Senhora, por sua vez, clique aqui.
O Papa Francisco incensa a imagem da Santa Mãe de Deus (01 de janeiro de 2018) |
Com o tempo,
porém, uma vez que o dia 01 de janeiro é também o oitavo dia após a Solenidade
do Natal do Senhor, a Solenidade da Santa Mãe de Deus deu lugar à Festa da
Circuncisão do Senhor, à luz de Lc
1,21. O Papa Pio XI
(†1939) recuperaria a Festa da Mãe de Deus em 1931, transferindo-a para o dia
11 de outubro, até que a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, por fim, “devolveu-a”
ao dia 01 de janeiro.
“No ordenamento
do período natalício, conforme foi recomposto, parece-nos que as atenções de
todos se devem voltar para a reatada Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus.
Esta, colocada como está, segundo o que aconselhava o uso antigo da Urbe, no dia 1° de janeiro, destina-se a
celebrar a parte tida por Maria neste mistério de salvação e, a exaltar a
dignidade singular que daí advém para a ‘santa Mãe, pela qual recebemos o Autor
da vida’’’ (São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus, n. 5).
A celebração do dia 31 de dezembro
A celebração dos
domingos e das solenidades inicia-se sempre na tarde do dia anterior, com as
chamadas I Vésperas (cf. Normas
Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, n. 11).
Assim, pela
manhã ou à tarde do dia 31 de dezembro celebra-se a Missa do 7º dia na oitava
do Natal (Missal Romano, p. 158) ou a
Memória facultativa de São Silvestre, Papa (p. 726). A partir do pôr-do-sol do
dia 31 de dezembro, porém, celebra-se necessariamente a Missa da Solenidade da
Santa Mãe de Deus (pp. 159-160).
Quando, porém, o dia 01 de janeiro cai na segunda-feira, no dia 31 de dezembro, que neste caso é o domingo após o Natal, celebra-se a Festa da Sagrada Família (Missal Romano, p. 155). A partir do pôr-do-sol, do dia 31, porém, celebra-se sempre a Solenidade da Santa Mãe de Deus.
Essa Missa não
possui nenhuma particularidade litúrgica, exceto:
- toma-se o Prefácio da Virgem Maria I (p. 445), no
qual, ao invés de dizer “e na festa de Maria...” diz-se “e na maternidade de
Maria...”;
- recomenda-se
utilizar a Oração Eucarística I (Cânon Romano), uma vez que o texto do Communicantes (Em comunhão com...) é próprio,
o mesmo recitado na Solenidade do Natal do Senhor e durante toda a oitava (n.
365).
Além disso, uma
vez que o dia 31 de dezembro é a conclusão do ano civil, o Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia (n. 114) recomenda realizar
nesse dia:
- a exposição
prolongada do Santíssimo Sacramento;
- e o canto do hino
Te Deum em ação de graças pelo
encerramento do ano.
Nas palavras do
Monsenhor Guido Marini, então Mestre das Celebrações Litúrgicas do Santo Padre,
“nesta ocasião, a Igreja
se recolhe em oração diante de seu Senhor para reviver o ano que está para
concluir-se, considerando-o como um tempo guiado pela Providência e pelo qual
rende graças. Ao mesmo tempo, pela intercessão de Maria Santíssima confiamos à
bondade do Senhor o novo ano que está para iniciar” [1].
Exposição do Santíssimo Sacramento na Basílica de São Pedro (31 de dezembro de 2018) |
A exposição do
Santíssimo Sacramento pode ser celebrada como rito próprio, como uma espécie de
“vigília”; unida à oração das I Vésperas ou do Ofício das Leituras da
Solenidade; ou mesmo unida à Missa, como veremos a seguir.
O canto do Te Deum, por sua vez, insere-se
justamente durante essa adoração, podendo ser realizadas também leituras,
cânticos e sobretudo momentos de silêncio.
O Papa sempre
celebra na tarde do dia 31 de dezembro as I Vésperas da Solenidade da Santa Mãe
de Deus, no final da qual se expõe o Santíssimo Sacramento, há um breve momento
de adoração silenciosa, entoa-se o Te Deum
e o Papa concede a bênção eucarística.
Em nossas
comunidades, caso se deseje unir essa exposição do Santíssimo Sacramento à
Missa, após a Comunhão o diácono (se estiver presente) ou o próprio sacerdote expõe
a hóstia consagrada na Missa no ostensório sobre o altar.
Recitada a
oração após a Comunhão, o sacerdote pode retirar a casula e revestir o pluvial
branco. Nesse momento, enquanto se entoa um canto adequado, o sacerdote impõe
incenso no turíbulo e incensa o Santíssimo Sacramento, ajoelhado diante do
altar. Convém que neste momento todos igualmente se ajoelhem.
Durante a
adoração, pode ser proferida uma leitura e/ou entoado um salmo ou outro cântico,
intercalando-se com momentos de oração silenciosa.
Antes da bênção, todos se levantam e é cantado ou recitado o Te Deum laudamus (A vós, ó Deus louvamos), hino de ação de graças a Deus entoado aqui “como expressão comunitária de louvor e de agradecimento pelos benefícios obtidos de Deus durante o ano que está terminando” (Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 114).
Partitura medieval do Te Deum |
Cumpre notar que, embora existam versões “populares” do Te Deum com letras distintas, nas celebrações litúrgicas deve-se entoar o hino em sua versão oficial, em latim ou na tradução oficial para o português do Brasil, conforme indicado na Liturgia das Horas (vol. I, pp. 591-593.1471-1472) e no Pontifical Romano (pp. 579-580).
Para acessar nossa postagem sobre o Te Deum, com seu texto oficial em latim e em português, clique aqui.
Concluída a
adoração, todos se ajoelham novamente e se entoa o hino Tantum ergo sacramentum (Tão
sublime sacramento) ou outro canto eucarístico (cf. Sagrada Comunhão e Culto Eucarístico fora da Missa, nn.
192-199), enquanto o sacerdote incensa novamente o Santíssimo Sacramento.
Em seguida,
ainda de joelhos, o sacerdote pode proferir a invocação: “Do céu lhes destes o Pão”, à qual a assembleia responde “Que contém todo sabor”.
O sacerdote então se levanta e
profere a oração “Senhor Jesus Cristo, neste admirável Sacramento...” ou outra
oração indicada no Ritual da Sagrada
Comunhão e do Culto Eucarístico (n. 98).
Após a oração,
um acólito entrega ao sacerdote o véu umeral e este toma o ostensório e traça
com ele o sinal da cruz sobre o povo, em silêncio. Enquanto isso, o Santíssimo
Sacramento é incensado pelo acólito e podem tocar-se as sinetas, se for
costume.
O Papa Francisco concede a Bênção com o Santíssimo Sacramento (31 de dezembro de 2017) |
O sacerdote em
seguida repõe o ostensório sobre o altar, ajoelha-se novamente, depõe o véu umeral
e, embora não conste no Ritual, comumente
profere com o povo a “Fórmula de louvores”: “Bendito seja Deus. Bendito seja o seu
santo nome...”.
Também não
consta no Ritual a “Oração pela
Igreja e pela pátria” que costuma ser recitada no Brasil: “Deus e Senhor nosso,
protegei a vossa Igreja...”. Nada impede, porém, que seja recitada. Comumente
incluem-se aqui também um Pai nosso,
uma Ave Maria e um “Glória ao Pai...” nas intenções do Papa.
Recitadas as
orações, o diácono ou o próprio sacerdote retira a hóstia consagrada do ostensório,
coloca-a em uma teca e o repõe no sacrário, enquanto se entoa um canto
adequado. A celebração encerra-se com a despedida (uma vez que já foi dada a
bênção) e a procissão de saída
A celebração do dia 01 de janeiro
Durante todo o
dia 01 de janeiro se celebra a Missa da Solenidade da Santa Mãe de Deus. A
Missa “No início do ano civil” (Missal
Romano, p. 914) não pode ser celebrada nesse dia, mas sim em um dia em que
sejam permitidas as Missas votivas [2].
Valem aqui as mesmas orientações que indicamos acima sobre o Prefácio e a Oração Eucarística. Para a bênção, convém tomar o formulário “No início do ano” indicado no Missal Romano (p. 520).
Além disso, na Oração dos Fiéis (Preces), proponha-se sempre uma súplica pela promoção da paz, uma vez que no dia 01 de janeiro celebra-se o “Dia Mundial da Paz”, instituído em 1967pelo Papa São Paulo VI (†1978) (cf. Marialis Cultus, n. 5; Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 117).
Vitral do Espírito Santo na Basílica de São Pedro |
O Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia recomenda recitar ou cantar nesse dia, início do ano civil, “o hino Veni, Creator Spíritus, para que o Espírito do Senhor dirija os pensamentos e as ações de cada um dos fiéis e das comunidades cristãs durante o decorrer do ano” (n. 116).
O Veni, Creator Spíritus (Vinde, Espírito
Criador) é entoado pela Igreja na semana do Pentecostes e
em outras ocasiões solenes. Seu texto, em latim e na tradução oficial para o
português do Brasil, encontra-se no livro da Liturgia das Horas (vol. II, pp. 842.2051) e no Pontifical Romano (p. 578).
Para acessar nossa postagem sobre o Veni, Creator, com seu texto oficial em latim e em português, clique aqui.
O Diretório não indica o momento em que se deve entoar
o hino no dia 01 de janeiro. O mais adequado seria imediatamente antes da
Missa: todos se levantam, cantam ou rezam o Veni,
Creator e a Missa então se inicia como de costume, com a procissão de
entrada.
Nesse caso, após
o hino, poderia ser recitada a coleta da Missa no início do ano civil (Missal Romano, p. 914) ou mesmo outra oração
em honra do Espírito Santo (pp. 947-951):
“Ó Deus, que,
sem princípio e sem fim, sois o início de todas as coisas, dai-nos viver de tal
modo durante este ano que vos consagramos, que gozemos a fartura dos bens
materiais e possamos nos distinguir pelas obras de santidade. Por nosso Senhor
Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”.
Notas:
[1] Mons. Guido
Marini. Il Natale dell’Anno della Fede. Colloquio
com Gianluca Biccini. 19 de dezembro de 2012. Disponível no site da Santa Sé.
[2] Nos dias de
semana do Tempo do Natal, mesmo que ocorra uma Memória obrigatória, as Missas para
diversas necessidades e votivas são permitidas, a juízo do sacerdote (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano,
3ª edição, nn. 368-378). Assim, a Missa “No início do ano civil” poderia ser
celebrada em um dos dias feriais da primeira semana de janeiro.
Referências:
CONGREGAÇÃO PARA
O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia. São Paulo: Paulinas,
2003.
MISSAL ROMANO. Tradução portuguesa da 2ª edição típica para
o Brasil. São Paulo: Paulus, 1991.
SAGRADA COMUNHÃO
e o culto do Mistério Eucarístico fora da
Missa. Edição típica em tradução portuguesa para o Brasil. São Paulo:
Paulus, 2000, pp. 56-63.
Postagem publicada originalmente em 27 de dezembro de 2012. Revista e ampliada em 25 de novembro de 2021.
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