segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Ângelus: VIII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 27 de fevereiro de 2022

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
No Evangelho da Liturgia de hoje (Lc 6,39-45), Jesus nos convida a refletir sobre nosso olhar e sobre nosso falar. Olhar e falar.

Antes de tudo, nosso olhar. O risco que corremos, diz o Senhor, é o de concentrarmo-nos em olhas o cisco no olho de nosso irmão sem nos darmos conta da trave que há no nosso próprio (cf. v. 41). Em outras palavras, significa estar muito atentos aos defeitos dos outros, mesmo aos que são pequenos como um cisco, e ignorarmos serenamente os nossos, dando-lhes pouco peso. É verdade o que diz Jesus: sempre encontramos motivos para culpar os outros e para justificarmos a nós mesmos. E muitas vezes nos queixamos de coisas que não funcionam em nossa sociedade, na Igreja, no mundo, sem primeiro nos questionarmos e sem nos comprometermos a mudar - toda mudança fecunda, positiva, deve começar por nós mesmos; do contrário, não haverá mudança. Mas Jesus explica que fazendo isso nosso olhar é cego. E se estamos cegos não podemos pretender ser guias e mestres para os outros: de fato, um cego não pode guiar outro cego, diz o Senhor (cf. v. 39).

Queridos irmãos e irmãs, o Senhor nos convida a limpar nosso olhar. Em primeiro lugar, nos pede que olhemos nosso interior para reconhecer nossas misérias. Porque se não somos capazes de ver nossos defeitos, estaremos sempre inclinados a exagerar os defeitos dos outros. Ao contrário, se reconhecemos nossos erros e nossas misérias, se abre para nós a porta da misericórdia.

E, depois de olharmos nosso interior, Jesus nos convida a olhar os outros como Ele o faz - este é o segredo: olhar os demais como Ele o faz -, que não vê antes de tudo o mal, mas o bem. É assim que Deus olha para nós: não vê em nós erros irredimíveis, mas filhos que cometem erros. Muda-se a ótica: Ele não se concentra nos erros, mas nos filhos que cometem erros... Deus sempre distingue a pessoa de seus erros. Ele salva sempre a pessoa. Ele acredita sempre na pessoa e está sempre pronto a perdoar os erros. Sabemos que Deus perdoa sempre. E nos convida a fazer o mesmo: não buscar nos outros o mal, mas o bem.

Depois do olhar, Jesus nos convida hoje a refletir sobre nosso modo de falar. O Senhor explica que «a boca fala do que o coração está cheio» (v. 45). É verdade, pelo modo de falar de alguém logo te dás conta do que tem em seu coração. As palavras que usamos dizem a pessoa que somos. Às vezes, porém, prestamos pouca atenção às nossas palavras e as usamos de modo superficial. Mas as palavras têm peso: elas nos permitem expressar pensamentos e sentimentos, dar voz aos medos que temos e aos projetos que queremos realizar, bendizer a Deus e aos outros. Lamentavelmente, com a língua também podemos alimentar preconceitos, levantar barreiras, agredir e até destruir; com a língua podemos destruir os irmãos: as fofocas machucam e a calúnia pode ser mais afiada que uma faca! Hoje em dia, especialmente no mundo digital, as palavras correm velozes; mas muitas vezes transmitem raiva e agressão, alimentam notícias falsas e se aproveitam dos medos coletivos para propagar ideias distorcidas. Um diplomata, que foi Secretário Geral das Nações Unidas e ganhou o Prêmio Nobel da Paz, disse que “abusar das palavras equivale a desprezar o ser humano” (Dag Hammarskjöld, Tracce di cammino, Magnano BI 1992, 131).

Perguntemo-nos então que tipo de palavras usamos: palavras que expressam atenção, respeito, compreensão, proximidade, compaixão, ou palavras que visam principalmente nos fazer parecer bem diante dos outros? E, além disso, falamos com mansidão ou poluímos o mundo espalhando venenos: criticando, lamentando-se, alimentando a agressão generalizada?

Que a Virgem Maria, cuja humildade foi contemplada por Deus, a Virgem do silêncio a quem agora rezamos, nos ajude a purificar nosso olhar e nosso modo de falar.


Tradução livre a partir do texto italiano divulgado no site da Santa Sé.

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