O sacerdote espanhol Dionisio
Borobio, grande estudioso dos sacramentos, tem nos acompanhado nas
sugestões de leitura dos últimos meses:
- em dezembro de 2021 apresentamos sua obra Celebrar para viver: Liturgia e sacramentos da Igreja, uma “catequese” introdutória sobre
a Liturgia e os sacramentos para leigos jovens e adultos;
- em janeiro de 2022, por sua vez, trouxemos sua História e teologia comparada dos sacramentos: O princípio da analogia sacramental,
na qual analisa as semelhanças e as diferenças entre os sete sacramentos.
Neste mês, ainda no contexto do Dia Mundial do Enfermo (11
de fevereiro), quando publicamos aqui no blog a Instrução sobre as orações para alcançar a cura, promulgada pela
Congregação para a Doutrina da Fé no ano 2000, propomos outra obra de Dionisio
Borobio: Sacramentos e cura: Dimensão curativa da Liturgia cristã.
Capa da edição brasileira |
Com sua publicação original, em espanhol (Sacramentos y sanación: Dimensión curativa
de la Liturgia cristiana), realizada em 2008 pelas Ediciones Sígueme de
Salamanca (Espanha), o livro foi traduzido pela Editora Ave Maria em 2011.
O texto se reveste de grande atualidade, sobretudo no
contexto da pandemia do Covid-19. Da mesma forma, poderia ser amplamente
enriquecido com as reflexões do Papa Francisco, que propõe sempre a visão da
Igreja como “hospital”.
Após um breve Prólogo
(pp. 7-8) destacando as várias dimensões do homem (física, psíquica,
espiritual...) e uma Introdução (pp.
9-12) sobre os temas da saúde, da enfermidade e da cura, a obra é dividida em
sete capítulos:
- os três primeiros são dedicados aos fundamentos bíblicos
do “ministério da cura”;
- os três seguintes aprofundam o tema na Tradição e no
Magistério da Igreja;
- e, por fim, no último capítulo, o autor reflete sobre a
“dimensão curativa” de cada um dos sete sacramentos.
1. Sinais de cura no Antigo Testamento (pp. 13-16)
Seguindo a história da salvação,
Borobio parte do Antigo Testamento, no qual a enfermidade aparece ligada às
forças diabólicas, ao pecado humano e ao “castigo” divino. Ao mesmo tempo, há a
esperança na libertação messiânica.
Aparece já aqui o uso medicinal
do óleo e as liturgias penitenciais, sinais da conversão do coração, que gera
reconciliação e paz.
2. Ministério de cura em Jesus (pp.
17-22)
Os Evangelhos narram diversas
curas realizadas por Jesus, que vêm sempre unidas à sua atitude misericordiosa
para com os enfermos. Jesus, curando, cumpre sua missão messiânica, pois veio
para salvar a pessoa humana em sua totalidade.
Destaca-se também aqui como Jesus
“transfigura” a enfermidade e a dor, sobretudo através do Mistério Pascal da
sua Morte-Ressurreição.
3. Continuação da missão curadora de Jesus na comunidade apostólica (pp. 23-27)
Jesus veio para curar e salvar os
homens e mulheres de todos os tempos e lugares. Assim, sua missão curadora
continua na Igreja, através dos Apóstolos e seus sucessores. Borobio destaca
três modos de continuidade da missão curadora de Cristo nas primeiras
comunidades:
- de modo extraordinário: pelas curas, conforme narrado nos Atos dos Apóstolos;
- de modo comum ou ordinário: através do cuidado aos enfermos e
necessitados;
- de modo sacramental: através do sinal da unção dos enfermos, como
atesta sobretudo a Carta de Tiago (Tg 5,13-16).
Confira nossas postagens sobre a leitura litúrgica da Carta de Tiago clicando aqui.
4. Sacramentos e cura na tradição da Igreja (pp. 29-50)
Este capítulo é subdividido em
duas partes: na primeira, Borobio percorrendo brevemente a história do
sacramento da Unção dos Enfermos, sobretudo durante o período da Patrística. Na
segunda parte, o autor apresenta a configuração histórica de “Cristo médico” na
Tradição da Igreja.
5. Os sacramentos, “medicina” que cura, no pensamento teológico (pp. 51-68)
Prosseguindo o percurso histórico
iniciado no capítulo anterior, recordam-se aqui as contribuições dos teólogos
escolásticos (Pedro Lombardo, Tomás de Aquino, Boaventura) e dos teólogos
tridentinos, sobretudo da Escola de Salamanca (Francisco de Vitória, Melchior
Cano, Domingos de Soto...), que sistematizam a teologia dos sacramentos,
incluindo sua “dimensão curativa” (ilustrando-a sobretudo com a parábola do
Bom Samaritano).
6. Sacramentos e cura no Magistério da Igreja (pp. 69-90)
Concluindo o percurso histórico,
Borobio recorda três grandes contribuições do Magistério da Igreja sobre o
tema:
- o Concílio Vaticano II, que repropõe
à Igreja sua missão em favor os enfermos;
- o Papa João Paulo II, através
da sua Carta Apostólica Salvifici Doloris
sobre o sentido cristão do sofrimento humano (1984) e das suas Mensagens para o
Dia Mundial do Enfermo, instituído pelo mesmo João Paulo II em 1992;
- a Instrução sobre as orações para alcançar a cura, promulgada pela
Congregação para a Doutrina da Fé no ano 2000.
Vale recordar que a edição
original do livro é de 2008, razão pela qual faltam as contribuições mais
recentes, como as do Papa Francisco.
7. Sacramentos e cura nos Rituais da Igreja (pp. 91-124)
Por fim, neste sétimo e último
capítulo Dionisio Borobio percorre os Rituais dos sete sacramentos da Igreja,
destacando alguns aspectos “curativos” de cada um deles:
a) Batismo: a “dimensão curativa” do Batismo encontra-se na nova
vida que ele oferece. O batismo é o banho da regeneração, da iluminação, da
purificação dos pecados...
b) Confirmação: na Confirmação destacam-se o dom da força do
Espírito Santo e o caráter eclesial do sacramento, que compromete o fiel a dar
testemunho de Cristo, inclusive no cuidado aos enfermos e necessitados.
c) Eucaristia: centro e ápice do organismo sacramental, a
Eucaristia é também “sacramento de cura”. Borobio destaca aqui suas várias
dimensões (memorial, banquete, sacrifício, comunhão) e sua dinâmica
celebrativa.
São elencados ainda vários
exemplos concretos da relação entre Eucaristia e cura: a Missa pelos enfermos,
as várias orações que rogam a cura “no corpo e na alma” (sobretudo as orações
após a Comunhão).
Detalhe da capa da edição brasileira: Crucificação de Duccio |
d) Ordem: através do sacramento da Ordem, os sacerdotes
(presbíteros e Bispos) são chamados a uma particular solicitude para com os
enfermos, não apenas presidindo o sacramento da Unção, mas promovendo a saúde
em um sentido mais amplo. Nesta última missão são ajudados também pelos
diáconos.
e) Matrimônio: Borobio faz aqui uma breve mas profunda reflexão
sobre a dimensão curativa do Matrimônio e da família. Aqui amor e sacrifício
são duas faces da mesma realidade, curando o egoísmo e fortalecendo nas
dificuldades. Os esposos cristãos, com efeito, comprometem-se “na saúde e na
doença”.
f) Penitência: o autor sabiamente deixa para o final os dois
“sacramentos de cura” propriamente ditos, com os quais concluiu sua obra.
Borobio propõe primeiramente aqui redescobrir o valor medicinal da
Reconciliação ou Penitência, infelizmente encoberto por uma visão estritamente
“judicial” desse sacramento.
Recordando as várias etapas desse
sacramento (exame de consciência, arrependimento, confissão, absolvição, satisfação...),
o autor delineia um “percurso terapêutico” de cura interior. A cura que vem de
Deus, além disso, toca o ser humano em sua totalidade, como veremos a seguir.
g) Unção dos enfermos: após recordar os fundamentos bíblicos e
teológicos desse sacramento nos capítulos anteriores, Borobio centra-se aqui no
Ritual da Unção dos Enfermos, o
único, observa, que tem o acréscimo “e
sua assistência pastoral”.
O novo Ritual destaca-se por sua visão integral do ser humano, cujas
diversas dimensões estão interligadas, e por sua ênfase eclesiológica, isto é,
comunitária.
À luz dessas duas premissas deve
ser entendido o “efeito curativo” da Unção. Esta não é um gesto mágico: antes,
comunica um novo ânimo na fé, na esperança e na caridade; desperta a uma nova
relação consigo mesmo, com os outros e com Deus.
Conclusão: Celebrar e pedir a cura na atualidade (pp. 125-127)
Borobio conclui sua obra
destacando os vários elementos “curativos” dos sacramentos (presença solidária
da comunidade; palavras que proclamam o amor e a misericórdia de Deus; gestos
que expressam a salvação, como a imposição das mãos e a unção com óleo), ao
mesmo tempo em que insiste sobre o cuidado “ordinário” dos enfermos por parte
da comunidade cristã, chamada à acolhida, à escuta, à solidariedade...
Sobre o autor
Dionisio Borobio García nasceu em Soria (Espanha) em 1938 e
foi ordenado sacerdote em 1965, na Diocese de Bilbao. Obteve o Doutorado em
Teologia litúrgica pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo (Roma) e o
Mestrado em Filosofia pela Universidade Complutense de Madrid.
Foi professor de Liturgia e sacramentos na Universidade de
Deusto (Bilbao) e na Pontifícia Universidade de Salamanca. Atualmente é
professor emérito.
Possui dezenas de livros publicados sobre Liturgia,
sacramentos e pastoral, além de artigos em diversas revistas especializadas.
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