segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Sugestão de leitura: Sacramentos e cura

O sacerdote espanhol Dionisio Borobio, grande estudioso dos sacramentos, tem nos acompanhado nas sugestões de leitura dos últimos meses:

- em dezembro de 2021 apresentamos sua obra Celebrar para viver: Liturgia e sacramentos da Igreja, uma “catequese” introdutória sobre a Liturgia e os sacramentos para leigos jovens e adultos;

- em janeiro de 2022, por sua vez, trouxemos sua História e teologia comparada dos sacramentos: O princípio da analogia sacramental, na qual analisa as semelhanças e as diferenças entre os sete sacramentos.

Neste mês, ainda no contexto do Dia Mundial do Enfermo (11 de fevereiro), quando publicamos aqui no blog a Instrução sobre as orações para alcançar a cura, promulgada pela Congregação para a Doutrina da Fé no ano 2000, propomos outra obra de Dionisio Borobio: Sacramentos e cura: Dimensão curativa da Liturgia cristã.

Capa da edição brasileira

Com sua publicação original, em espanhol (Sacramentos y sanación: Dimensión curativa de la Liturgia cristiana), realizada em 2008 pelas Ediciones Sígueme de Salamanca (Espanha), o livro foi traduzido pela Editora Ave Maria em 2011.

O texto se reveste de grande atualidade, sobretudo no contexto da pandemia do Covid-19. Da mesma forma, poderia ser amplamente enriquecido com as reflexões do Papa Francisco, que propõe sempre a visão da Igreja como “hospital”.

Após um breve Prólogo (pp. 7-8) destacando as várias dimensões do homem (física, psíquica, espiritual...) e uma Introdução (pp. 9-12) sobre os temas da saúde, da enfermidade e da cura, a obra é dividida em sete capítulos:
- os três primeiros são dedicados aos fundamentos bíblicos do “ministério da cura”;
- os três seguintes aprofundam o tema na Tradição e no Magistério da Igreja;
- e, por fim, no último capítulo, o autor reflete sobre a “dimensão curativa” de cada um dos sete sacramentos.

1. Sinais de cura no Antigo Testamento (pp. 13-16)

Seguindo a história da salvação, Borobio parte do Antigo Testamento, no qual a enfermidade aparece ligada às forças diabólicas, ao pecado humano e ao “castigo” divino. Ao mesmo tempo, há a esperança na libertação messiânica.
Aparece já aqui o uso medicinal do óleo e as liturgias penitenciais, sinais da conversão do coração, que gera reconciliação e paz.

2. Ministério de cura em Jesus (pp. 17-22)

Os Evangelhos narram diversas curas realizadas por Jesus, que vêm sempre unidas à sua atitude misericordiosa para com os enfermos. Jesus, curando, cumpre sua missão messiânica, pois veio para salvar a pessoa humana em sua totalidade.
Destaca-se também aqui como Jesus “transfigura” a enfermidade e a dor, sobretudo através do Mistério Pascal da sua Morte-Ressurreição.

3. Continuação da missão curadora de Jesus na comunidade apostólica (pp. 23-27)

Jesus veio para curar e salvar os homens e mulheres de todos os tempos e lugares. Assim, sua missão curadora continua na Igreja, através dos Apóstolos e seus sucessores. Borobio destaca três modos de continuidade da missão curadora de Cristo nas primeiras comunidades:
- de modo extraordinário: pelas curas, conforme narrado nos Atos dos Apóstolos;
- de modo comum ou ordinário: através do cuidado aos enfermos e necessitados;
- de modo sacramental: através do sinal da unção dos enfermos, como atesta sobretudo a Carta de Tiago (Tg 5,13-16).

Confira nossas postagens sobre a leitura litúrgica da Carta de Tiago clicando aqui.

Capa original do livro (em espanhol)

4. Sacramentos e cura na tradição da Igreja (pp. 29-50)

Este capítulo é subdividido em duas partes: na primeira, Borobio percorrendo brevemente a história do sacramento da Unção dos Enfermos, sobretudo durante o período da Patrística. Na segunda parte, o autor apresenta a configuração histórica de “Cristo médico” na Tradição da Igreja.

5. Os sacramentos, “medicina” que cura, no pensamento teológico (pp. 51-68)

Prosseguindo o percurso histórico iniciado no capítulo anterior, recordam-se aqui as contribuições dos teólogos escolásticos (Pedro Lombardo, Tomás de Aquino, Boaventura) e dos teólogos tridentinos, sobretudo da Escola de Salamanca (Francisco de Vitória, Melchior Cano, Domingos de Soto...), que sistematizam a teologia dos sacramentos, incluindo sua “dimensão curativa” (ilustrando-a sobretudo com a parábola do Bom Samaritano).

6. Sacramentos e cura no Magistério da Igreja (pp. 69-90)

Concluindo o percurso histórico, Borobio recorda três grandes contribuições do Magistério da Igreja sobre o tema:
- o Concílio Vaticano II, que repropõe à Igreja sua missão em favor os enfermos;
- o Papa João Paulo II, através da sua Carta Apostólica Salvifici Doloris sobre o sentido cristão do sofrimento humano (1984) e das suas Mensagens para o Dia Mundial do Enfermo, instituído pelo mesmo João Paulo II em 1992;
- a Instrução sobre as orações para alcançar a cura, promulgada pela Congregação para a Doutrina da Fé no ano 2000.
Vale recordar que a edição original do livro é de 2008, razão pela qual faltam as contribuições mais recentes, como as do Papa Francisco.

7. Sacramentos e cura nos Rituais da Igreja (pp. 91-124)

Por fim, neste sétimo e último capítulo Dionisio Borobio percorre os Rituais dos sete sacramentos da Igreja, destacando alguns aspectos “curativos” de cada um deles:

a) Batismo: a “dimensão curativa” do Batismo encontra-se na nova vida que ele oferece. O batismo é o banho da regeneração, da iluminação, da purificação dos pecados...

b) Confirmação: na Confirmação destacam-se o dom da força do Espírito Santo e o caráter eclesial do sacramento, que compromete o fiel a dar testemunho de Cristo, inclusive no cuidado aos enfermos e necessitados.

c) Eucaristia: centro e ápice do organismo sacramental, a Eucaristia é também “sacramento de cura”. Borobio destaca aqui suas várias dimensões (memorial, banquete, sacrifício, comunhão) e sua dinâmica celebrativa.
São elencados ainda vários exemplos concretos da relação entre Eucaristia e cura: a Missa pelos enfermos, as várias orações que rogam a cura “no corpo e na alma” (sobretudo as orações após a Comunhão).

Detalhe da capa da edição brasileira: Crucificação de Duccio

d) Ordem: através do sacramento da Ordem, os sacerdotes (presbíteros e Bispos) são chamados a uma particular solicitude para com os enfermos, não apenas presidindo o sacramento da Unção, mas promovendo a saúde em um sentido mais amplo. Nesta última missão são ajudados também pelos diáconos.

e) Matrimônio: Borobio faz aqui uma breve mas profunda reflexão sobre a dimensão curativa do Matrimônio e da família. Aqui amor e sacrifício são duas faces da mesma realidade, curando o egoísmo e fortalecendo nas dificuldades. Os esposos cristãos, com efeito, comprometem-se “na saúde e na doença”.

f) Penitência: o autor sabiamente deixa para o final os dois “sacramentos de cura” propriamente ditos, com os quais concluiu sua obra. Borobio propõe primeiramente aqui redescobrir o valor medicinal da Reconciliação ou Penitência, infelizmente encoberto por uma visão estritamente “judicial” desse sacramento.
Recordando as várias etapas desse sacramento (exame de consciência, arrependimento, confissão, absolvição, satisfação...), o autor delineia um “percurso terapêutico” de cura interior. A cura que vem de Deus, além disso, toca o ser humano em sua totalidade, como veremos a seguir.

g) Unção dos enfermos: após recordar os fundamentos bíblicos e teológicos desse sacramento nos capítulos anteriores, Borobio centra-se aqui no Ritual da Unção dos Enfermos, o único, observa, que tem o acréscimo “e sua assistência pastoral”.
O novo Ritual destaca-se por sua visão integral do ser humano, cujas diversas dimensões estão interligadas, e por sua ênfase eclesiológica, isto é, comunitária.
À luz dessas duas premissas deve ser entendido o “efeito curativo” da Unção. Esta não é um gesto mágico: antes, comunica um novo ânimo na fé, na esperança e na caridade; desperta a uma nova relação consigo mesmo, com os outros e com Deus.

Conclusão: Celebrar e pedir a cura na atualidade (pp. 125-127)

Borobio conclui sua obra destacando os vários elementos “curativos” dos sacramentos (presença solidária da comunidade; palavras que proclamam o amor e a misericórdia de Deus; gestos que expressam a salvação, como a imposição das mãos e a unção com óleo), ao mesmo tempo em que insiste sobre o cuidado “ordinário” dos enfermos por parte da comunidade cristã, chamada à acolhida, à escuta, à solidariedade...

Dionisio Borobio

Sobre o autor

Dionisio Borobio García nasceu em Soria (Espanha) em 1938 e foi ordenado sacerdote em 1965, na Diocese de Bilbao. Obteve o Doutorado em Teologia litúrgica pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo (Roma) e o Mestrado em Filosofia pela Universidade Complutense de Madrid.
Foi professor de Liturgia e sacramentos na Universidade de Deusto (Bilbao) e na Pontifícia Universidade de Salamanca. Atualmente é professor emérito.
Possui dezenas de livros publicados sobre Liturgia, sacramentos e pastoral, além de artigos em diversas revistas especializadas.

Para adquirir o livro no site da editora, clique aqui.

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