terça-feira, 2 de março de 2021

Missas votivas da Terra Santa (6): Tiberíades, Jaffa, Magdala

Estamos dedicando uma série de postagens aqui em nosso blog às Missas votivas dos Santuários da Terra Santa. Nas duas últimas postagens apresentamos as “Missas votivas do lugar” ligadas à vida pública de Jesus (Jericó e CanáCafarnaum, o Monte das Bem-aventuranças e Tabgha).

Dando continuidade à nossa proposta, trataremos hoje dos santuários de Tiberíades e Jaffa, além de mencionar alguns outros santuários que não possuem Missas próprias.

Lembrando que apresentaremos a “oração do lugar”, as indicações de leituras e prefácio de cada celebração, além de algumas adaptações mais dignas de nota.

6. TIBERÍADES

6a. Santuário de São Pedro

Tiberíades (nomeada em homenagem ao Imperador romano Tibério) é a maior das cidades junto ao mar da Galileia, tanto que este recebe às vezes seu nome: mar de Tiberíades (também chamado de lago de Genesaré).

Desde o século IV havia uma comunidade de cristãos de origem judaica na cidade. Os cruzados construíram ali uma igreja, transformada em mesquita após a derrota na Batalha de Hattin (1187). Apenas em 1847 os franciscanos recuperariam a igreja e o mosteiro anexo, restaurados em 1870. Uma estátua de São Pedro, titular da igreja, réplica da célebre estátua venerada no Vaticano, foi colocada no pátio.

Pátio do Santuário com a imagem de São Pedro

Os dois formulários próprios do lugar são aqueles já previstos para os santuários petrinos de Cafarnaum e Tabgha: Missas votivas de São Pedro e dos Santos Apóstolos.

Missa votiva de São Pedro, Apóstolo
Tudo como no Santuário de Tabgha, incluindo as duas opções de Evangelho que referem o mar de Tiberíades: Lc 5,1-11 ou Jo 21,1-19 (Jo 21,1-24 no Missal em latim).

Missa votiva dos Santos Apóstolos

Altar do Santuário de Tiberíades

7. JAFFA

7a. Santuário de São Pedro

Embora celebre eventos pós-pascais, vale sua menção aqui pela referência ao Apóstolo Pedro: em Jaffa (em grego, Jope), atualmente parte da cidade de Tel Aviv, passaram-se os acontecimentos de At 9,36-42 e 10,9-23: a ressurreição de Dorcas ou Tabita por Pedro e sua visão sobre o puro e o impuro, que o leva a acolher os gentios na Igreja.

Em 1251, no contexto da VII Cruzada, o rei São Luís IX da França reforçou a cidade e convidou os franciscanos para ali habitarem e acolherem os peregrinos, dado que a cidade possui um importante porto. A atual igreja, junto ao mar Mediterrâneo, foi construída entre 1888 e 1894, com ajuda da Espanha.

Santuário de São Pedro em Jaffa

Missa votiva de São Pedro em Jope
Embora o Missal votivo em português traga a Missa votiva de São Pedro, com as orações e leituras que já vimos nos demais santuários petrinos (acrescentando apenas a 2ª leitura própria do lugar: At 10,1-23), nos Missais em outras línguas (incluindo a “edição típica” em latim) encontramos todas as orações e leituras próprias.

As orações foram adaptadas da Missa pela evangelização dos povos (formulário 14 das Missas para diversas necessidades), geralmente acrescentando “pela intercessão do Apóstolo Pedro”. O mesmo vale para as leituras, exceto a 2ª, que se refere aos eventos em Jope e suas consequências.

Destaque para as cinco opções de Evangelho: o primeiro associado à evangelização, o segundo e o quinto à missão de Pedro e o terceiro e o quarto ao tema da ressurreição, fazendo referência ao milagre da ressurreição de Tabita.

Oração do lugar: “Ó Deus, que pelo apóstolo Pedro, instruído por tuas divinas revelações, quisestes associar à Igreja os primeiros gentios, concedei-nos, por sua intercessão, que caminhemos com fidelidade pelo caminho dos vossos mandamentos, para encontrar graça junto ao trono da vossa divina majestade”;

Leituras: Zc 8,20-23 / Sl 18,2-5 (R: v. 5) ou Sl 97,1-6 (R: v. 2) / At 10,1-23 ou At 11,1-18 / Mt 28,16-20 ou Lc 5, 1-11 ou Lc 7, 1-10 ou Mt 8, 3-13 ou Mt 16,13-19.

Interior da igreja de Jaffa

OUTROS SANTUÁRIOS

Antes de entrarmos nos últimos dois santuários associados aos mistérios da vida pública de Jesus (o Monte Tabor e Betânia), que trataremos na próxima postagem, vamos mencionar aqui outros lugares que não possuem Missas votivas próprias, mas merecem ser recordados nessa série.

NAIM: Santuário da ressurreição do filho da viúva

Em 1881, a Custódia Franciscana da Terra Santa adquiriu um terreno na vila de Naim, próximo ao monte Tabor, onde Jesus ressuscitou o filho da viúva (Lc 7,11-17). Posteriormente, uma vez que a vila se tornou inteiramente muçulmana, a igreja foi abandonada (não por dificuldades com os muçulmanos, mas sim pela ausência de cristãos).

Porém, a igreja foi reaberta no final de 2019 e em 2021 a Custódia publicou o texto da Missa própria do lugar, a Missa votiva da ressurreição do filho da viúva (De commemoratione resurrectionis filii viduae).

Santuário de Naim

As leituras são próprias, enquanto a coleta é adaptada do XXXII Domingo do Tempo Comum. Toma-se o Prefácio dos Domingos do Tempo Comum VI (como indicado no Missal votivo em latim) ou V (indicado no Missal em italiano).

Oração do lugar: “Deus de poder e misericórdia, que quisestes que Jesus, vosso Filho, movido de compaixão, aqui devolvesse a vida ao filho da viúva, afastai todo obstáculo no nosso caminho rumo a Vós, para que, na serenidade do corpo e do espírito, possamos nos dedicar livremente ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo...”.

1ª leitura e salmo: Fora do Tempo Pascal: 1Rs 17,17-24 ou Dn 12,1-3; Sl 15,5-11 (R: 1) / Tempo Pascal: At 4,8-12 ou At 5,12-16; Sl 29,2-6.11-12a.13b (R: 2a) / 2ª leitura: Gl 1,11-19 / Evangelho: Lc 7,11-17.

Interior do Santuário de Naim

MAGDALA

A cidade de Magdala (atual Migdal), próxima a Tiberíades, é identificada como a cidade natal de Santa Maria Madalena, uma das mais importantes discípulas de Jesus, testemunha privilegiada de sua Morte e Ressurreição.

Importante centro pesqueiro às margens do mar da Galileia na época de Jesus, a cidade teria sido destruída durante a Grande Revolta Judaica (66-73), permanecendo praticamente esquecida por muitos séculos.

Entre 2006 e 2009 a Congregação dos Legionários de Cristo adquire o terreno e inicia as escavações arqueológicas, encontrando os restos de uma sinagoga do século I. Em 2014 é dedicada a igreja, intitulada “Duc in altum”, isto é, “Avancem para águas mais profundas” (Lc 5,4), em referência ao ministério de Jesus junto aos pescadores da margem do lago, que se tornaram os primeiros Apóstolos.

"Duc in altum" - Magdala

A igreja possui um amplo átrio redondo, que homenageia as mulheres: sete colunas recordam as santas mulheres do Evangelho, enquanto o oitavo é dedicado às mulheres de fé de todos os tempos. Do átrio é possível aceder às seis capelas: na direção do lago encontra-se a principal, com um altar em forma de barco e ícones dos doze Apóstolos.

Nas laterais do átrio estão quatro pequenas capelas. Duas são dedicadas a episódios do ministério de Jesus com os pescadores: o chamado dos primeiros discípulos (Mt 4,18-22) e Jesus andando sobre as águas (Mt 14,22-33). A terceira recorda a cura de Maria Madalena por Jesus (Lc 8,1-2) e a quarta a ressurreição da filha de Jairo (Mt 9,18-19.23-26), “a única mulher que Jesus ressuscitou dentre os mortos”.

Altar lateral: O encontro de Jesus com Maria Madalena

Por fim, na parte inferior da igreja, com parte do piso do século I, encontra-se a “Capela do encontro”, que recorda a mulher hemorroíssa que tocou as vestes de Jesus e ficou curada (Mt 9,20-22).

Não há uma Missa votiva associada a este lugar. Porém, nos dias em que estas são permitidas, o sacerdote poderia celebrar, por exemplo, a Missa votiva dos Santos Apóstolos, sobretudo nos altares a eles ligados.

Capela central

NABLUS

Diferente é a situação da cidade de Nablus, bem ao centro da Terra Santa, a 63 quilômetros de Jerusalém. Situada na antiga região da Samaria, esta cidade é identificada como o local do poço, dito “poço de Jacó”, onde Jesus teve o célebre diálogo com a samaritana (Jo 4,1-42).

O poço identificado pela tradição, porém, encontra-se dentro da igreja ortodoxa bizantina de Santa Fotina (o nome que os orientais dão à samaritana, significando “a iluminada”), em uma capela subterrânea acessada por uma escada diante da iconostase.

Igreja de Santa Fotina em Nablus
(Note-se a escada para o poço à direita)

Naturalmente, não é possível celebrar Missa neste local, mas os peregrinos católicos podem visitar a igreja e rezar diante do poço.

Capela inferior com o "poço de Jacó"

Em Nablus existe uma paróquia católica, aos cuidados do Patriarcado Latino de Jerusalém, no lado oeste da cidade, no distrito de Rafidia. Trata-se da Paróquia de São Justino, teólogo do século II que nasceu em Nablus e foi martirizado em Roma.

JERUSALÉM: Igreja do Pater noster

Por fim, dirigindo-nos à cidade de Jerusalém (sobre a qual nos deteremos em postagens futuras, ao falar das igrejas associadas aos eventos da Morte e Ressurreição de Jesus), cabe mencionar a igreja do “Pai-nosso” (ou igreja do “Pater noster”), no Monte das Oliveiras.

Igreja do Pater noster em Jerusalém

A igreja seria o local onde Jesus ensinou o Pai-nosso aos seus discípulos. No Evangelho de Mateus, este está inserido dentro do Sermão da Montanha (Mt 6,9-13), enquanto que em Lucas Jesus o ensina após rezar em “um certo lugar” (Lc 11,1-4). Provavelmente este lugar foi identificado com o Monte das Oliveiras pelo fato de Jesus costumar rezar ali com seus discípulos (Lc 22,39) e, talvez, porque o episódio anterior situa-se em Betânia (Lc 10,38-42), próximo ao Monte das Oliveiras.

A tradição mais antiga não fez esta relação, tanto que no lugar onde hoje está a igreja do Pater noster encontrava-se a igreja do Eleona (grego para “olival”), citada por Etéria em seu Itinerarium (séc. IV), conhecida como “igreja dos discípulos”, em referência à "oração do Senhor". Esta igreja foi destruída pelos persas em 614.

Interior da igreja atual

A associação do Pai-nosso com o Monte das Oliveiras vem do tempo das Cruzadas. Em 1152 foi construída uma nova igreja sobre as ruínas do Eleona, danificada pouco depois durante o cerco de Saladino a Jerusalém (1187). A igreja foi então abandonada e suas pedras foram saqueadas para fazer lápides para os cemitérios judeus dos arredores.

O local foi adquirido em 1856 pela princesa francesa Aurélie de la Tour d'Auvergne. Em 1870 foi fundado um convento carmelita no local. As ruínas da igreja do século IV foram descobertas em 1910.

A igreja do Pater noster, ainda sob responsabilidade dos carmelitas, possui dezenas de azulejos com a oração do Pai nosso em diversas línguas espalhados na igreja e no pátio.


Imagens: Wikimedia Commons.

Postagem publicada em 02 de março de 2021. Atualizada em 16 de outubro de 2023 com novas informações sobre o Santuário de Naim.

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