Estamos dedicando uma série de postagens aqui em nosso blog às
Missas votivas dos Santuários da Terra Santa. Nas duas últimas postagens
apresentamos as “Missas votivas do lugar” ligadas à vida pública de Jesus (Jericó e Caná; Cafarnaum, o Monte das Bem-aventuranças e Tabgha).
Dando continuidade à nossa proposta, trataremos hoje dos
santuários de Tiberíades e Jaffa, além de mencionar alguns outros santuários que não possuem
Missas próprias.
Lembrando que apresentaremos a “oração do lugar”, as
indicações de leituras e prefácio de cada celebração, além de algumas
adaptações mais dignas de nota.
6. TIBERÍADES
6a. Santuário de São Pedro
Tiberíades (nomeada em homenagem ao Imperador romano
Tibério) é a maior das cidades junto ao mar da Galileia, tanto que este recebe
às vezes seu nome: mar de Tiberíades (também chamado de lago de Genesaré).
Desde o século IV havia uma comunidade de cristãos de origem
judaica na cidade. Os cruzados construíram ali uma igreja, transformada em
mesquita após a derrota na Batalha de Hattin (1187). Apenas em 1847 os
franciscanos recuperariam a igreja e o mosteiro anexo, restaurados em 1870. Uma
estátua de São Pedro, titular da igreja, réplica da célebre estátua venerada no
Vaticano, foi colocada no pátio.
Pátio do Santuário com a imagem de São Pedro |
Os dois formulários próprios do lugar são aqueles já
previstos para os santuários petrinos de Cafarnaum e Tabgha: Missas votivas de
São Pedro e dos Santos Apóstolos.
Missa votiva de São
Pedro, Apóstolo
Tudo como no Santuário de Tabgha, incluindo as duas opções
de Evangelho que referem o mar de Tiberíades: Lc 5,1-11 ou Jo 21,1-19 (Jo 21,1-24 no Missal em latim).
Missa votiva dos
Santos Apóstolos
Tudo como nos Santuários de Tabgha e Cafarnaum.
Altar do Santuário de Tiberíades |
7. JAFFA
7a. Santuário de São
Pedro
Embora celebre eventos pós-pascais, vale sua menção aqui pela
referência ao Apóstolo Pedro: em Jaffa (em grego, Jope), atualmente parte da
cidade de Tel Aviv, passaram-se os acontecimentos de At 9,36-42 e 10,9-23: a
ressurreição de Dorcas ou Tabita por Pedro e sua visão sobre o puro e o impuro,
que o leva a acolher os gentios na Igreja.
Em 1251, no contexto da VII Cruzada, o rei São Luís IX da
França reforçou a cidade e convidou os franciscanos para ali habitarem e
acolherem os peregrinos, dado que a cidade possui um importante porto. A atual
igreja, junto ao mar Mediterrâneo, foi construída entre 1888 e 1894, com ajuda
da Espanha.
Missa votiva de São
Pedro em Jope
Embora o Missal votivo em português traga a Missa votiva de
São Pedro, com as orações e leituras que já vimos nos demais santuários
petrinos (acrescentando apenas a 2ª leitura própria do lugar: At 10,1-23), nos
Missais em outras línguas (incluindo a “edição típica” em latim) encontramos
todas as orações e leituras próprias.
As orações foram adaptadas da Missa pela evangelização dos
povos (formulário 14 das Missas para diversas necessidades), geralmente
acrescentando “pela intercessão do
Apóstolo Pedro”. O mesmo vale para as leituras, exceto a 2ª, que se refere
aos eventos em Jope e suas consequências.
Destaque para as cinco opções de Evangelho: o primeiro
associado à evangelização, o segundo e o quinto à missão de Pedro e o terceiro
e o quarto ao tema da ressurreição, fazendo referência ao milagre da
ressurreição de Tabita.
Oração do lugar:
“Ó Deus, que pelo apóstolo Pedro, instruído por tuas divinas revelações, quisestes
associar à Igreja os primeiros gentios, concedei-nos, por sua intercessão, que
caminhemos com fidelidade pelo caminho dos vossos mandamentos, para encontrar
graça junto ao trono da vossa divina majestade”;
Leituras: Zc 8,20-23
/ Sl 18,2-5 (R: v. 5) ou Sl 97,1-6 (R:
v. 2) / At 10,1-23 ou At 11,1-18 / Mt 28,16-20 ou Lc 5, 1-11 ou Lc 7,
1-10 ou Mt 8, 3-13 ou Mt 16,13-19.
Interior da igreja de Jaffa |
OUTROS SANTUÁRIOS
Antes de entrarmos nos últimos dois santuários associados
aos mistérios da vida pública de Jesus (o Monte Tabor e Betânia), que
trataremos na próxima postagem, vamos mencionar aqui outros lugares que não
possuem Missas votivas próprias, mas merecem ser recordados nessa série.
NAIM: Santuário da ressurreição do filho da viúva
Em 1881, a Custódia Franciscana da Terra Santa adquiriu um terreno na vila de Naim, próximo ao monte Tabor, onde Jesus ressuscitou o filho da viúva (Lc 7,11-17). Posteriormente, uma vez que a vila se tornou inteiramente muçulmana, a igreja foi abandonada (não por dificuldades com os muçulmanos, mas sim pela ausência de cristãos).
Porém, a igreja foi reaberta no final de 2019 e em 2021 a Custódia publicou o texto da Missa própria do lugar, a Missa votiva da ressurreição do filho da viúva (De commemoratione resurrectionis filii viduae).
Santuário de Naim |
As leituras são próprias, enquanto a coleta é adaptada do XXXII Domingo do Tempo Comum. Toma-se o Prefácio dos Domingos do Tempo Comum VI (como indicado no Missal votivo em latim) ou V (indicado no Missal em italiano).
Oração do lugar: “Deus de poder e misericórdia, que quisestes que Jesus, vosso Filho, movido de compaixão, aqui devolvesse a vida ao filho da viúva, afastai todo obstáculo no nosso caminho rumo a Vós, para que, na serenidade do corpo e do espírito, possamos nos dedicar livremente ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo...”.
1ª leitura e salmo: Fora do Tempo Pascal: 1Rs 17,17-24 ou Dn 12,1-3; Sl 15,5-11 (R: 1) / Tempo Pascal: At 4,8-12 ou At 5,12-16; Sl 29,2-6.11-12a.13b (R: 2a) / 2ª leitura: Gl 1,11-19 / Evangelho: Lc 7,11-17.
MAGDALA
A cidade de Magdala (atual Migdal), próxima a
Tiberíades, é identificada como a cidade natal de Santa Maria Madalena, uma das
mais importantes discípulas de Jesus, testemunha privilegiada de sua Morte e
Ressurreição.
Importante centro pesqueiro às margens do mar da Galileia na
época de Jesus, a cidade teria sido destruída durante a Grande Revolta Judaica
(66-73), permanecendo praticamente esquecida por muitos séculos.
Entre 2006 e 2009 a Congregação dos Legionários de Cristo
adquire o terreno e inicia as escavações arqueológicas, encontrando os restos
de uma sinagoga do século I. Em 2014 é dedicada a igreja, intitulada “Duc in altum”, isto é, “Avancem para
águas mais profundas” (Lc 5,4), em referência ao ministério de Jesus junto aos
pescadores da margem do lago, que se tornaram os primeiros Apóstolos.
"Duc in altum" - Magdala |
A igreja possui um amplo átrio redondo, que homenageia as
mulheres: sete colunas recordam as santas mulheres do Evangelho, enquanto o
oitavo é dedicado às mulheres de fé de todos os tempos. Do átrio é possível
aceder às seis capelas: na direção do lago encontra-se a principal, com um
altar em forma de barco e ícones dos doze Apóstolos.
Nas laterais do átrio estão quatro pequenas capelas. Duas
são dedicadas a episódios do ministério de Jesus com os pescadores: o chamado
dos primeiros discípulos (Mt 4,18-22) e Jesus andando sobre as águas (Mt
14,22-33). A terceira recorda a cura de Maria Madalena por Jesus (Lc 8,1-2) e a
quarta a ressurreição da filha de Jairo (Mt 9,18-19.23-26), “a única mulher que
Jesus ressuscitou dentre os mortos”.
Altar lateral: O encontro de Jesus com Maria Madalena |
Por fim, na parte inferior da igreja, com parte do piso do
século I, encontra-se a “Capela do encontro”, que recorda a mulher hemorroíssa
que tocou as vestes de Jesus e ficou curada (Mt 9,20-22).
Não há uma Missa votiva associada a este lugar. Porém, nos
dias em que estas são permitidas, o sacerdote poderia celebrar, por exemplo, a
Missa votiva dos Santos Apóstolos, sobretudo nos altares a eles ligados.
NABLUS
Diferente é a situação da cidade de Nablus, bem ao centro da
Terra Santa, a 63 quilômetros de Jerusalém. Situada na antiga região da
Samaria, esta cidade é identificada como o local do poço, dito “poço de Jacó”,
onde Jesus teve o célebre diálogo com a samaritana (Jo 4,1-42).
O poço identificado pela tradição, porém, encontra-se dentro
da igreja ortodoxa bizantina de Santa Fotina (o nome que os orientais dão à
samaritana, significando “a iluminada”), em uma capela subterrânea acessada por
uma escada diante da iconostase.
Igreja de Santa Fotina em Nablus (Note-se a escada para o poço à direita) |
Naturalmente, não é possível celebrar Missa neste local, mas
os peregrinos católicos podem visitar a igreja e rezar diante do poço.
Capela inferior com o "poço de Jacó" |
Em Nablus existe uma paróquia católica, aos cuidados do
Patriarcado Latino de Jerusalém, no lado oeste da cidade, no distrito de
Rafidia. Trata-se da Paróquia de São Justino, teólogo do século II que nasceu
em Nablus e foi martirizado em Roma.
JERUSALÉM: Igreja do Pater noster
Por fim, dirigindo-nos à cidade de Jerusalém (sobre a qual
nos deteremos em postagens futuras, ao falar das igrejas associadas aos eventos da Morte e
Ressurreição de Jesus), cabe mencionar a igreja do “Pai-nosso” (ou igreja do “Pater noster”), no Monte das Oliveiras.
Igreja do Pater noster em Jerusalém |
A igreja seria o local onde Jesus ensinou o Pai-nosso aos
seus discípulos. No Evangelho de Mateus,
este está inserido dentro do Sermão da Montanha (Mt 6,9-13), enquanto que em Lucas Jesus o ensina após rezar em “um
certo lugar” (Lc 11,1-4). Provavelmente este lugar foi identificado com o Monte
das Oliveiras pelo fato de Jesus costumar rezar ali com seus discípulos (Lc
22,39) e, talvez, porque o episódio anterior situa-se em Betânia (Lc 10,38-42),
próximo ao Monte das Oliveiras.
A tradição mais antiga não fez esta relação, tanto que no
lugar onde hoje está a igreja do Pater
noster encontrava-se a igreja do Eleona (grego para “olival”), citada por
Etéria em seu Itinerarium (séc. IV), conhecida
como “igreja dos discípulos”, em referência à "oração do Senhor". Esta igreja foi destruída pelos persas em 614.
Interior da igreja atual |
A associação do Pai-nosso com o Monte das Oliveiras vem do
tempo das Cruzadas. Em 1152 foi construída uma nova igreja sobre as ruínas do
Eleona, danificada pouco depois durante o cerco de Saladino a Jerusalém (1187). A
igreja foi então abandonada e suas pedras foram saqueadas para fazer lápides
para os cemitérios judeus dos arredores.
O local foi adquirido em 1856 pela princesa francesa Aurélie
de la Tour d'Auvergne. Em 1870 foi fundado um convento carmelita no local. As
ruínas da igreja do século IV foram descobertas em 1910.
A igreja do Pater
noster, ainda sob responsabilidade dos carmelitas, possui dezenas de
azulejos com a oração do Pai nosso em diversas línguas espalhados na igreja e
no pátio.
Imagens: Wikimedia Commons.
Postagem publicada em 02 de março de 2021. Atualizada em 16 de outubro de 2023 com novas informações sobre o Santuário de Naim.
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