Em nossa série sobre as Missas votivas dos Santuários da Terra Santa, já apresentamos as “Missas votivas do lugar” celebradas nas
igrejas ligadas tanto ao mistério da Encarnação quanto à vida pública de Jesus.
Agora iniciamos um novo bloco: os santuários ligados à Paixão do Senhor, começando por Betfagé e dois dos santuários junto ao
Monte das Oliveiras, a igreja de Dominus Flevit e a Basílica da Agonia.
Vale recordar que apresentaremos a “oração do lugar”, as
indicações de leituras e do prefácio de cada celebração, além de algumas
adaptações mais dignas de nota.
1. BETFAGÉ
1a. Santuário das palmas
A localidade de Betfagé, entre Betânia e o Monte das
Oliveiras, está associada à entrada messiânica de Jesus em Jerusalém, atestada
pelos quatro Evangelhos (Mt 21,1-11; Mc 11,1-10; Lc 19,28-40; Jo 12,12-16) e
celebrada no Domingo de Ramos, abrindo a Semana Santa.
A peregrina Etéria atesta a existência de uma igreja “na
estrada de Betânia” já no século IV, que recordava o encontro de Jesus com
Marta e Maria antes da ressurreição de Lázaro. A procissão do Domingo de Ramos,
porém, partia do Monte das Oliveiras.
No século XII os cruzados construíram uma igreja em Betfagé
que comemorava tanto o ingresso de Jesus em Jerusalém quanto seu encontro com
Marta e Maria. Uma rocha deste período retratando ambos os eventos foi
descoberta nas escavações em 1876.
Santuário das palmas em Betfagé |
A Custódia Franciscana da Terra Santa construiu o atual
templo sobre os restos da igreja dos cruzados em 1883, sendo reformado em 1954.
Missa votiva da
entrada de Jesus em Jerusalém
O único formulário previsto para esta igreja é o seu
mistério titular: a entrada de Jesus em Jerusalém (“De commemoratione ingressus Domini in Ierusalem”). Parte das
orações e leituras desta Missa é adaptada do Domingo de Ramos (incluindo o
Prefácio próprio e as quatro opções de Evangelho), parte são específicas.
Antífona de entrada
(1ª opção): “Estando aqui perto
de Betfagé e de Betânia, junto ao Monte das Oliveiras, Jesus disse a seus
discípulos...” (Mc 11,1) - Esta opção
aparece apenas em português. Em latim a antífona é a mesma do Missal Romano: Mt
21,9;
Oração do lugar (2ª
opção): “Ó Deus todo-poderoso e eterno, para realizar o mistério de sua
morte e ressurreição, quisestes que o vosso Filo Jesus Cristo entrasse em
Jerusalém, montado num jumento. Fazei que acompanhemos nosso Salvador com fé e
devoção na sua entrada na cidade santa, e concedei-nos a graça de segui-Lo até
a cruz, a fim de que possamos participar da sua ressurreição” (a 1ª opção é a coleta do Domingo de Ramos);
Leituras: Zc 9,9-10 (*) / Sl 23,1-6 (R: v. 6) / Fl 2,6-11 / Mt
21,1-11 ou Mc 11,1-10 ou Lc 19,28-40 ou Jo 12,12-16;
(*) O Missal votivo em
português estranhamente propõe Gn 18,1-10a como 1ª leitura. Em português também
não aparece o Evangelho de João.
Evangelho:
“Naquele tempo, Jesus e seus discípulos aproximaram-se de Jerusalém e chegaram aqui a Betfagé, no monte das Oliveiras”
(Mt 21,1) / “Quando se aproximaram de Jerusalém, aqui na altura de Betfagé e de Betânia...” (Mc 11,1) / “Quando aqui se aproximou de Betfagé e Betânia,
perto do monte chamado das Oliveiras...” (Lc 19,29).
2. JERUSALÉM
2a. Santuário Dominus Flevit
O Evangelho de Lucas
menciona que, no contexto de sua entrada messiânica, ao contemplar a cidade de
Jerusalém, Jesus chora (em latim, “Dominus
flevit”, “o Senhor chorou”) e profetiza a destruição da cidade (Lc
19,41-44). Este texto está relacionado a outro lamento de Jesus (Lc 13,34-35).
A devoção a esse acontecimento surgiu entre os séculos
XIII-XIV. Os franciscanos adquiriram o terreno e iniciaram as escavações em
1953. Foram descobertos restos de um mosteiro da época bizantina e diversos
túmulos: alguns da época cananeia (séc. XVI-XIV a. C.), outros desde a época de
Jesus até o século IV.
Dominus flevit - Jerusalém |
A atual igreja foi construída entre 1953 e 1955. Atrás do
altar encontra-se a célebre janela de vidro transparente pela qual é possível
ver a cidade de Jerusalém.
Missa votiva do
pranto do Senhor
Como de costume, a Missa votiva do lugar celebra o mistério
titular da igreja. No caso, o pranto do Senhor (“De fletu Domini”) sobre a cidade. Esta é uma Missa específica deste
lugar, sem paralelos no Missal Romano, como podemos ver por suas orações e
leituras, que indicamos a seguir:
Antífona de entrada
(1ª opção): “Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e daqui viu a cidade, começou a chorar...” (Lc 19,41);
Antífona de entrada (2ª
opção): “Disse o Senhor Jesus sobre esta cidade: ‘Jerusalém,
Jerusalém...’” (Lc 13,34) - Em português
a expressão “sobre esta cidade” não aparece, apenas em latim;
Oração do lugar:
“Pai de bondade, vosso Filho, Jesus Cristo nosso Senhor, aqui derramou lágrimas de compaixão por causa da situação de
Jerusalém: mostrai-nos a vossa compaixão e fazei que pela confissão de nossas
culpas obtenhamos o perdão”;
Leituras: Jr
14,17-22 / Sl 78,8-9.11.13 (R: v. 9) / Fl 3,17–4,1 / Lc 19,41-44;
Evangelho:
“Naquele tempo, quando Jesus se aproximou de Jerusalém e daqui viu a cidade, começou a chorar...” (Lc 19,41);
Prefácio: O Missal
votivo em português indica o Prefácio dos Domingos do Tempo Comum II, que faz
referência à compaixão de Jesus: “Compadecendo-se da fraqueza humana...”. O
Missal em latim indica também os Prefácios da Paixão I e Comum I.
2b. Basílica do Getsêmani
O Getsêmani (aramaico para “prensa de azeite”) é um jardim
situado no Monte das Oliveiras, onde a Escritura indica que Jesus costumava ir
rezar com os Apóstolos (Lc 22,39). Ali Ele rezou após a Última Ceia (Mt
26,36-46 e paralelos) e, traído por Judas, foi preso (Mt 26,47-56 e paral.).
A peregrina Etéria
testemunha a existência de uma igreja neste local já no século IV, sob o
patrocínio do Imperador Teodósio. Esta, porém, teria sido incendiada pelos
persas em 614. Os cruzados ergueram outra igreja no século XII, que ficou em
ruínas após o fim do reino cristão de Jerusalém.
Os franciscanos da Custódia da Terra Santa levaram cerca de
três séculos para adquirir o terreno do Getsêmani, de 1661 a 1905. A
propriedade compreende três lugares: o jardim com as oliveiras centenárias, a
Basílica da Agonia e a gruta do Getsêmani, dedicada aos Apóstolos.
Basílica do Getsêmani - Jerusalém |
As escavações arqueológicas que iniciaram em 1891
descobriram restos das duas igrejas, do século IV e do século XII, ao redor das
quais foi construída a atual Basílica, dedicada em 1924. Esta é conhecida
também como “a igreja de todas as nações”, uma vez que dezesseis países
colaboraram em sua construção (incluindo o Brasil).
A maioria dos países é homenageada nas doze cúpulas que
integram a igreja, enquanto outros três foram responsáveis pelos mosaicos (que
retratam a agonia de Jesus e sua prisão) e pela “coroa” que circunda a pedra da
agonia. Esta pedra remonta ao menos à igreja do século XII, sendo
tradicionalmente venerada como o lugar onde Jesus prostrou-se para rezar e suou
sangue.
Cumpre mencionar ainda a Gruta do Getsêmani, próxima à
Basílica. Segundo a tradição, era aqui que Jesus costumava rezar com os
Apóstolos e, na noite da Última Ceia, teria sido aqui que estes esperaram o
Mestre. A pintura sobre o altar da gruta retrata justamente o Senhor em oração
com os Doze. Um altar lateral homenageia a Assunção de Maria, uma vez que uma
tradição situa este fato também no Getsêmani.
Missa votiva da
agonia do Senhor
A primeira das Missas votivas do lugar celebra,
naturalmente, o mistério titular da Basílica: a agonia do Senhor (“In commemoratione agoniae Domini”). Esta
é uma celebração específica desta igreja, tomando do Missal Romano apenas o Prefácio
da Paixão I, como veremos a seguir.
Antífona de entrada
(1ª opção): “Chegando a este
lugar chamado Getsêmani, Jesus disse aos discípulos: 'Orai para não entrardes
em tentação’” (Lc 22,40) - Esta opção
aparece apenas em português. Em latim a 1ª opção de antífona é Mt 6,9-10.13. A
2ª opção é a mesma tanto em latim como em português: Sl 17,5-7;
Oração do lugar:
“Deus eterno e todo-poderoso que escutastes o grito de oração do vosso Filho
Jesus Cristo, quando passava por profundas angústias aqui no Getsêmani, fazei que, (instruídos pela fraqueza dos
Apóstolos), aprendamos a conformar-nos sempre com a vossa vontade, e que, por
uma vida de oração e de vigilância, possamos ficar livres da escravidão do mal”
- A frase entre parênteses não aparece em
português;
Leituras: Is
53,1-7 com o Sl 30,2.6.12-13.15-17.25 (R: Lc 23,46) ou Is 38,1-6 com Sl 70,3-6.10-11.14-15 (R: v. 1) / Hb 5,7-9 / Mt
26,36-46 ou Lc 22,39-46 (*);
(*) A 2ª opção de 1ª
leitura com o salmo e a 2ª opção de Evangelho aparecem só em português.
Evangelho:
“Naquele tempo, Jesus foi com eles a este
lugar chamado Getsêmani...” (Mt 26,36) / “Jesus saiu e, como de costume, veio aqui para o monte das Oliveiras” (Lc
22,39).
Missa votiva do
Preciosíssimo Sangue do Senhor
Em referência ao “sudor
sanguineus” (suor de sangue) mencionado em Lc 22,44, pode-se celebrar
também a Missa votiva do Sangue do Senhor. Esta toma as orações e leituras do
respectivo formulário no Missal Romano (incluindo o Prefácio da Paixão I).
Oração do lugar:
“Ó Deus, que resgatastes a todos pelo Sangue precioso do vosso Filho, conservai
em nós a obra de vossa misericórdia para que, celebrando sem cessar o mistério
de nossa salvação, posamos alcançar os seus frutos”;
Leituras: Ex 12,21-28
ou 1Pd 1,17-21 (*) / Sl 115,12-.1315-18
(R: 1Cor 10,16) / Ap 7,9-14 / Lc 22,39-44;
(*) O Missal em
português indica 1Pd 1,17-21 como única leitura.
Evangelho:
“Chegando a este lugar, Jesus lhes
disse: 'Orai para não entrardes em tentação’” (Lc 22,40).
Missa votiva da
prisão do Senhor
Como temos visto, o Missal votivo em português costuma
omitir alguns textos presentes em outras línguas. Porém, aqui acontece o
oposto: o Missal em português é o único a propor a Missa votiva da prisão do
Senhor.
Esta também é uma Missa específica, sem paralelos no Missal
Romano, tomando deste apenas o Prefácio da Paixão I. A 1ª leitura e o salmo,
por sua vez, são os da segunda-feira da II semana da Quaresma.
Oração do lugar:
“Olhai, Senhor, esta vossa família pela qual nosso Senhor Jesus Cristo, traído
por Judas com um beijo, se entregou nas mãos de seus algozes para libertar-nos
da escravidão do pecado”;
Leituras: Dn 9,4b-10
/ Sl 78,8-9.11.13 (R: Sl 102,10a) / At 1,15-17 / Mc 14,43-52.
Missa votiva da
Assunção de Maria
Como afirmamos acima, uma das tradições coloca a morte e a
Assunção de Maria no Getsêmani (outra tradição localiza estes eventos no Monte
Sião, junto ao Cenáculo). Ao lado da Gruta do Getsêmani há a igreja da Tumba de
Maria, pertencente aos ortodoxos.
Fiel a esta tradição, a Custódia celebra a Solenidade da
Assunção, no dia 15 de agosto, na Basílica da Agonia. Portanto, propõe-se
também aqui a Missa votiva deste mistério, com as orações e leituras da
respectiva Solenidade.
Oração do lugar:
“Deus eterno e todo-poderoso, que elevastes à glória do céu em corpo e alma a
imaculada Virgem Maria, Mãe do vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do
alto, a fim de participarmos da sua glória”;
Leituras: Ap 11,19a;
12,1-6a.10ab / Sl 44,10-12.16 (R: v. 10) / 1Cor 15,20-27a ou 1Cor 15,53-57 (*) / Lc 1,39-56;
(*) A 2ª opção da 2ª
leitura aparece só em latim.
Prefácio: Em
português indica-se o Prefácio próprio da Assunção (omitindo apenas a palavra
“hoje”), enquanto que em latim é indicado o Prefácio da Virgem Maria I.
Imagens: Wikimedia Commons
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