Em suas Catequeses sobre a oração à luz do Catecismo da Igreja Católica, após as duas reflexões sobre a oração com a Trindade nos dias 03 de março e 17 de março, o Papa Francisco concluiu o tema do “caminho da oração” com a presença da Virgem Maria (nn. 2673-2679).
Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 24 de março de 2021
A oração (27): Rezar em comunhão com Maria
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
A catequese de hoje é dedicada à oração
em comunhão com Maria, e ocorre precisamente na véspera da Solenidade da
Anunciação. Sabemos que a via mestra da oração cristã é a humanidade de Jesus.
Com efeito, a confiança típica da oração cristã não teria sentido se o Verbo
não tivesse se encarnado, doando-nos no Espírito a sua relação filial com o
Pai. Na leitura (At 1,12-14) ouvimos
falar daquela reunião dos discípulos, das mulheres piedosas e de Maria, que
rezavam depois da Ascensão de Jesus: era a primeira comunidade cristã, que
esperava o dom de Jesus, a promessa de Jesus.
Cristo é o Mediador, a ponte que atravessamos
para nos dirigir ao Pai (cf. Catecismo
da Igreja Católica, 2674). É o único Redentor: não existem
corredentores com Cristo. É o Mediador por excelência, é o Mediador.
Cada oração que elevamos a Deus é por Cristo, com Cristo e em
Cristo, e realiza-se graças à sua intercessão. O Espírito Santo alarga
a mediação de Cristo a todos os tempos e lugares: não há outro nome no qual
podemos ser salvos (cf. At 4,12).
Jesus Cristo: o único Mediador entre Deus e os homens.
Da mediação única de Cristo adquirem
significado e valor as outras referências que o cristão encontra para a sua
oração e devoção, em primeiro lugar à Virgem Maria, Mãe de Jesus.
Ela ocupa um lugar privilegiado na vida
e, portanto, também na oração do cristão, porque é a Mãe de Jesus. As Igrejas
do Oriente representaram-na frequentemente como a Hodigítria, aquela
que “indica o caminho”, ou seja, o Filho Jesus Cristo. Vem-me à mente aquela
bonita, antiga e simples pintura da Hodigítria na Catedral de
Bari: Nossa Senhora mostra Jesus nu. Depois lhe vestiram uma camisa, para
cobrir aquela nudez, mas na verdade Jesus é representado nu, para indicar que
Ele, homem nascido de Maria, é o Mediador. E ela indica o Mediador: ela é
a Hodigítria. Na iconografia cristã a sua presença está em
toda a parte, às vezes até com grande destaque, mas sempre em relação ao Filho
e em função d’Ele. As suas mãos, o seu olhar, a sua atitude são um “catecismo”
vivo e indicam sempre o âmago, o centro: Jesus. Maria está totalmente voltada
para Ele (cf. CIC, 2674). A tal ponto
que podemos afirmar que é mais discípula do que Mãe. Aquela indicação, nas
bodas de Caná, Maria diz: “Fazei o que Ele vos disser!”. Indica sempre Cristo;
é a sua primeira discípula.
Este foi o papel que Maria desempenhou
ao longo de toda a sua vida terrena e que conserva para sempre: ser a humilde
serva do Senhor, nada mais. Em certa altura, nos Evangelhos, ela parece quase
desaparecer; mas volta nos momentos cruciais, como em Caná, quando o Filho,
graças à sua intervenção solícita, fez o primeiro “sinal” (cf. Jo 2,1-12), e depois no Gólgota, ao pé da
Cruz.
Jesus estendeu a maternidade de Maria a
toda a Igreja quando lhe confiou o discípulo amado, pouco antes de morrer na
cruz. A partir daquele momento, fomos todos colocados debaixo do seu manto,
como vemos em certos afrescos ou quadros medievais. Também na primeira antífona
latina, Sub tuum praesidium confugimus, Sancta Dei Genitrix (À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de
Deus): Nossa Senhora que, como Mãe a quem Jesus nos confiou, envolve
todos nós; mas como Mãe, não como deusa, não como corredentora: como Mãe. É
verdade que a piedade cristã sempre lhe atribui títulos bonitos, como um filho
à mãe: quantas palavras bonitas um filho dirige à sua mãe, a quem ama! Mas
tenhamos cuidado: as belas palavras que a Igreja e os Santos dirigem a Maria em
nada diminuem a singularidade redentora de Cristo. Ele é o único Redentor. São
expressões de amor, como de um filho à mãe, às vezes exageradas. Contudo, como
sabemos, o amor leva-nos sempre a fazer coisas exageradas, mas com amor.
E assim começamos a rezar a ela com
algumas expressões que lhe são dirigidas, presentes nos Evangelhos: “cheia de
graça”, “bendita entre as mulheres” (cf.
CIC, 2676ss). Em breve, à oração da Ave-Maria seria acrescentado o título Theotokos, “Mãe
de Deus”, sancionado pelo Concílio de Éfeso. E, analogamente ao que acontece no
Pai-nosso, depois do louvor acrescentamos a súplica: pedimos à Mãe que reze por
nós, pecadores, para que interceda com a sua ternura, “agora e na hora da nossa
morte”. Agora, nas situações concretas da vida, e no momento final, a fim de
que nos acompanhe - como Mãe, como primeira discípula - na passagem para a vida
eterna.
Maria está sempre presente à cabeceira
dos seus filhos que deixam este mundo. Se alguém se encontra sozinho e
abandonado, ela é Mãe, está ali perto, tal como estava próxima do seu Filho
quando todos o tinham abandonado.
Maria estava e está presente durante os
dias da pandemia, perto das pessoas que infelizmente concluíram o seu caminho
terreno em uma condição de isolamento, sem o conforto da proximidade dos seus
entes queridos. Maria está sempre presente, ao nosso lado, com a sua ternura
maternal.
As orações a ela dirigidas não são vãs.
Mulher do “sim”, que aceitou prontamente o convite do Anjo, responde também às
nossas súplicas, ouve as nossas vozes, até aquelas que permanecem fechadas no
coração, que não têm a força para sair, mas que Deus conhece melhor do que nós
mesmos. Ouve-as como Mãe. Como e mais do que todas as mães bondosas, Maria
defende-nos nos perigos, preocupa-se conosco, até quando estamos ocupados com
os nossos afazeres e perdemos o sentido do caminho, colocando em perigo não só
a nossa saúde, mas a nossa salvação. Maria está presente reza por nós, reza por
quem não ora. Reza conosco. Por quê? Porque ela é a nossa Mãe!
Fonte: Santa Sé
Para saber mais sobre sobre os ícones de Maria, incluindo o ícone da Hodigítria, clique aqui.
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