Em preparação à Solenidade de São José, Esposo da Bem-aventurada Virgem
Maria, celebrada no Rito Romano no dia 19 de março, iniciamos ontem a publicação - dividida em três partes - da Exortação
Apostólica Redemptoris Custos (Guardião do Redentor) promulgada pelo Papa João
Paulo II em 1989 propriamente sobre a figura e a missão de São José na vida de Cristo e da
Igreja.
Na postagem anterior publicamos os nn. 01-08 do Documento, o capítulo 1 e parte do capítulo 2. A seguir confira os nn. 09-21, a conclusão do capítulo 2 - dedicada à participação de São José nos mistérios da vida de Cristo - e o capítulo 3 - destacando dois títulos dados a José pelo Evangelho: o homem justo e o esposo.
João Paulo II
Exortação Apostólica Redemptoris Custos
Sobre a figura e a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja
II. O depositário do Mistério de Deus
O recenseamento
9. Quando José dirigiu-se até Belém para o
recenseamento, em observância das disposições da autoridade legítima, ele
desempenhou em relação ao menino a tarefa importante e significativa de inserir
oficialmente o nome de «Jesus, filho de José de Nazaré» (cf. Jo 1,45), no registo do Império. Essa
inscrição manifesta de modo bem claro o fato de Jesus pertencer ao gênero
humano, homem entre os homens, cidadão deste mundo, sujeito às leis e
instituições civis, mas também «Salvador do mundo». Orígenes descreveu
bem o significado teológico inerente a este fato histórico, que não é nada marginal:
«Dado que o primeiro recenseamento de toda a terra se verificou no tempo de
César Augusto, e que entre todos os demais também José se foi registrar,
juntamente com Maria sua esposa, que se encontrava grávida; e dado que Jesus
veio ao mundo antes do censo ter sido feito, para quem considerar a coisa com
diligente atenção parecerá que se expressa uma espécie de mistério no fato de
que, na declaração de toda a terra, devesse ser recenseado também Cristo. Dessa
maneira, registado juntamente com os demais, a todos podia santificar; inscrito
com toda a terra no recenseamento, à terra oferecia a comunhão consigo; e,
depois desta declaração, recenseava consigo todos os homens da terra no livro
dos vivos, para que quantos viessem a acreditar nele, fossem depois inscritos
no céu, com os Santos d’Aquele a quem pertencem a glória e o império pelos
séculos dos séculos. Amém» [28].
O nascimento em Belém
10. Como depositário do mistério «escondido desde
todos os séculos em Deus» e que começa a realizar-se diante dos seus olhos na
«plenitude dos tempos», José encontra-se juntamente com Maria na noite
de Belém, qual testemunha privilegiada da vinda do Filho de Deus ao mundo.
São Lucas exprime-se assim: «Enquanto eles ali (em Belém) se encontravam,
completaram-se para ela os dias da gestação. E deu à luz o seu filho
primogénito, que envolveu em faixas e recostou em uma manjedoura, porque
não havia lugar para eles na hospedaria» (Lc 2,6-7).
José foi testemunha ocular deste nascimento, que se verificou em condições humanamente humilhantes, primeiro anúncio daquele «despojamento», no qual Cristo consentiu livremente, para a remissão dos pecados. Na mesma ocasião, José foi testemunha da adoração dos pastores, que acorreram ao lugar onde Jesus nascera, depois de um anjo lhes ter levado esta grande e jubilosa notícia (cf. Lc 2,15-16); mais tarde, foi testemunha também da homenagem dos Magos, vindos do Oriente (cf. Mt 2,11).
São José (Alonso Miguel de Tovar) |
A circuncisão
11. Sendo a circuncisão do filho o primeiro dever
religioso do pai, José, com esta cerimônia (cf. Lc 2,
21), exercitou seu direito e dever em relação a Jesus.
O princípio segundo o qual todos os ritos do Antigo
Testamento são como que a sombra da realidade (cf. Hb 9,9s; 10,1) explica o motivo porque Jesus
os aceita. Como sucedeu com os outros ritos, também o da circuncisão teve em
Jesus o seu «cumprimento». A Aliança de Deus com Abraão, da qual a circuncisão
era sinal (cf. Gn 17,13),
obteve em Jesus o seu pleno efeito e a sua cabal realização, sendo Jesus o
«sim» de todas as antigas promessas (cf.
2Cor 1,20).
A imposição do nome
12. José deu ao menino, na ocasião em que o levou a
circuncidar, o nome de Jesus. Este nome é o único em que há salvação (cf. At 4,12); e a José
tinha sido revelado o seu significado, no momento da sua «anunciação»: E tu «lhe
porás o nome de Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt 1,21).
Quando lhe deu o nome, José declarou a própria paternidade legal em relação a
Jesus; e, pronunciando esse nome, proclamou a missão deste menino, de ser o
Salvador.
A apresentação de Jesus no Templo
13. Esta cerimônia, referida por São Lucas (Lc 2,22ss), incluía o resgate do
primogênito e projeta luz sobre o episódio posterior da permanência de Jesus no
templo aos doze anos.
O resgate do primogênito é outro
dever do pai que é cumprido por José. No primogênito estava representado o povo
da Aliança, resgatado da escravidão para passar a pertencer a Deus. Também a
propósito disto, Jesus, que é o verdadeiro «preço» do resgate (cf. 1Cor 6,20; 7,23; 1Pd 1,19),
não somente «cumpre» o rito do Antigo Testamento, mas ao mesmo tempo supera-o,
não sendo ele um simples homem sujeito a ser resgatado, mas o próprio autor do
resgate.
O Evangelista põe em relevo que «o pai e a mãe de
Jesus estavam admirados com as coisas que se diziam dele» (Lc 2,33);
e, em particular, com aquilo que Simeão disse, no seu cântico
dirigido ao Senhor, indicando Jesus como «a salvação preparada por Deus em
favor de todos os povos» e «luz para iluminar as nações e glória de Israel, seu
povo»; e, mais adiante, também como «sinal de contradição» (Lc 2,30-34).
A fuga para o Egito
14. A seguir à apresentação no Templo, o evangelista São Lucas anotou:
«Depois de terem cumprido tudo segundo a lei do Senhor, voltaram para a
Galileia, para a sua cidade de Nazaré. Entretanto, o menino crescia e
robustecia-se, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava com ele» (Lc 2,39-40).
Mas, segundo o texto de São Mateus, ainda antes deste
retorno à Galileia, tem de ser colocado um acontecimento muito importante, para
o qual a Providência Divina de novo recorre a José. Aí lemos: «Depois de eles
(os Magos) partirem, eis que um anjo do Senhor apareceu, em sonho, a José e
disse-lhe: “Levanta-te, toma o
menino e sua mãe e foge para o Egito e fica lá até eu te
avisar, porque Herodes está procurando o menino para matá-lo”» (Mt 2,
13). Na ocasião da vinda dos Magos do Oriente, Herodes tinha sabido do
nascimento do «rei dos Judeus» (Mt 2,2). E quando os Magos
partiram, ele mandou «matar todos os meninos que havia em Belém e em todo o seu
território, da idade de dois anos para baixo» (Mt 2,16). Deste
modo, matando todas as crianças, queria matar aquele recém-nascido «rei dos
Judeus», de quem chegara ao conhecimento durante a visita dos Magos à sua
corte. Então José, tendo recebido o aviso em sonho, «de noite, tomou o menino e
sua mãe e retirou-se para o Egito, onde ficou até à morte de Herodes,
para se cumprir o que o Senhor tinha anunciado por meio do profeta: “Do Egito
chamei o meu Filho”» (Mt 2,14-15; cf. Os 11,1).
Deste modo, o caminho do regresso de Jesus de Belém a Nazaré passou pelo
Egito. Assim como Israel tinha tomado o caminho do êxodo «da condição de
escravidão» para iniciar a Antiga Aliança, assim José, depositário e
cooperador do mistério providencial de Deus, também no exílio vela por
Aquele que vai tornar realidade a Nova Aliança.
A permanência de Jesus no Templo
15. Desde o momento da Anunciação, José, juntamente
com Maria, encontrou-se, em certo sentido, no íntimo do mistério escondido
desde todos os séculos em Deus e que se tinha revestido de carne: «O Verbo
fez-se carne e habitou entre nós» (Jo 1,14). Sim, Ele habitou
entre os homens e o âmbito da sua morada foi a Sagrada Família de
Nazaré, uma das tantas famílias desta pequena cidade de Galileia, uma das
tantas famílias da terra de Israel. Aí, Jesus crescia e «robustecia-se, cheio
de sabedoria, e a graça de Deus estava com ele» (Lc 2,40). Os
Evangelhos resumem em poucas palavras o longo período da vida
«oculta», durante o qual Jesus se preparou para a sua missão messiânica. Há um só
momento que é subtraído a este «escondimento» e é descrito pelo Evangelho
de São Lucas: a Páscoa de Jerusalém, quando Jesus tinha doze anos de idade.
Jesus participou nesta festa, como um jovem
peregrino, juntamente com Maria e José. E eis o que aconteceu: «Passados
aqueles dias (da festa), ao regressarem, o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem
que os pais percebessem» (Lc 2,43). Depois de um dia de viagem
deram pela sua falta; e começaram a procurá-lo «entre os parentes e conhecidos...
Depois de três dias, encontraram-no no Templo, sentado no meio dos
doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos os que o ouviam ficavam
admirados da sua inteligência e das suas respostas» (Lc 2,46-47).
Maria pergunta: «Filho, por que procedeste assim conosco? Olha que teu
pai e eu andávamos aflitos à tua procura» (Lc 2,48). A resposta
de Jesus foi de tal sorte que os dois «não entenderam as palavras que lhes
disse». Tinha-lhes respondido: «Por que me procuráveis? Não sabíeis que
eu devo encontrar-me na casa de meu Pai?» (Lc 2,49-50).
Ouviu estas palavras José, em relação ao qual Maria
tinha acabado de dizer «teu pai». Com efeito, era assim que as pessoas diziam e
pensavam: Jesus, «como se supunha, era filho de José» (Lc 3,23).
Apesar disso, a resposta do próprio Jesus no templo devia reavivar na consciência
do «suposto pai» aquilo que numa noite, doze anos antes, ele tinha ouvido:
«José... não temas receber contigo Maria, tua esposa, pois o que nela
se gerou é obra do Espírito Santo». Já desde então ele sabia que era depositário
do mistério de Deus; e Jesus, com doze anos de idade, evocou
exatamente este mistério: «Devo encontrar-me na casa de meu Pai».
O sustento e a educação de Jesus em Nazaré
16. O crescimento de Jesus «em sabedoria, em
estatura e em graça» (Lc 2,52), deu-se no âmbito da Sagrada
Família, sob o olhar de São José, que tinha a alta função de «criá-lo»; ou
seja, de alimentar, vestir e instruir Jesus na Lei e num ofício, em
conformidade com os deveres estabelecidos para o pai.
No Sacrifício eucarístico a Igreja venera «a
memória da gloriosa sempre Virgem Maria... e também de São José» [29], porque
foi quem «sustentou Aquele que os fiéis deviam comer como Pão de vida eterna»
[30].
Por sua parte, Jesus «era-lhes submisso» (Lc 2,51),
correspondendo com o respeito às atenções dos seus «pais». Dessa forma quis
santificar os deveres da família e do trabalho, que ele próprio executava ao
lado de José.
Sagrada Família (Gregorio Martínez) |
III. O homem justo - O esposo
17. No decorrer da sua vida, que foi uma peregrinação na fé, José, como
Maria, permaneceu fiel até ao fim ao chamamento de Deus. A vida de Maria foi o
cumprimento até às últimas consequências daquele primeiro fiat (faça-se) pronunciado no
momento da Anunciação; ao passo que José - como já foi dito - não proferiu
palavra alguma no momento da sua «anunciação»: «fez como o anjo do Senhor lhe
ordenara» (Mt 1,24). E este primeiro «fez» tornou-se o
princípio da «caminhada de José». Ao longo desta caminhada, os
Evangelhos não registram palavra alguma que ele tenha dito. Mas esse silêncio
de José tem uma especial eloquência: graças a tal atitude, pode
captar-se perfeitamente a verdade contida no juízo que dele nos dá o Evangelho:
o «justo» (Mt 1,19).
É necessário saber ler bem esta verdade, porque nela está contido um
dos mais importantes testemunhos acerca do homem e da sua vocação. No
decurso das gerações a Igreja lê, de maneira cada vez mais atenta e mais
cônscia este testemunho, como que tirando do tesouro desta insigne figura
«coisas novas e coisas velhas» (Mt 13,52).
18. O homem «justo» de Nazaré possui sobretudo as características bem
nítidas do esposo. O Evangelista fala de Maria como de «uma virgem desposada
com um homem chamado José» (Lc 1,27). Antes de começar a
realizar-se «o mistério escondido desde todos os séculos em Deus» (Ef 3,9),
os Evangelhos põem diante de nós a imagem do esposo e da esposa.
Segundo o costume do povo hebraico, o matrimônio constava de duas fases: primeiro,
era celebrado o matrimônio legal (verdadeiro matrimônio); e só depois, passado
certo período, é que o esposo introduzia a esposa na própria casa. Antes de
viver junto com Maria, portanto, José já era o seu «esposo»; Maria,
porém, conservava no seu íntimo o desejo de fazer o dom total de si mesma
exclusivamente a Deus. Poderíamos nos perguntar de que modo este desejo se
conciliava com as «núpcias». A resposta vem-nos somente do desenrolar dos
acontecimentos salvíficos, isto é, da ação especial do próprio Deus. Desde o
momento da Anunciação, Maria sabe que deve realizar-se o
seu desejo virginal, de entregar-se a Deus de modo exclusivo e
total, precisamente tornando-se mãe do Filho de Deus. A maternidade
por obra do Espírito Santo é a forma de doação que o próprio Deus espera da
Virgem, «desposada» com José. E Maria pronuncia o seu fiat (faça-se).
O fato de ela ser «desposada» com José está incluído no mesmo
desígnio de Deus. Isso é indicado por ambos os Evangelistas citados, mas de
maneira particular por São Mateus. São muito significativas as palavras ditas a
José: «Não temas receber contigo Maria, tua esposa, pois o que nela
se gerou é obra do Espírito Santo» (Mt 1,20). Elas explicam o
mistério da esposa de José: Maria é virgem na sua maternidade. Nela «o Filho do
Altíssimo» assume um corpo humano e torna-se «o Filho do homem».
Dirigindo-se a José com as palavras do anjo, Deus dirige-se a ele como sendo esposo da Virgem de Nazaré. Aquilo que nela se realizou por obra do Espírito Santo exprime ao mesmo tempo uma confirmação especial do vínculo esponsal, que já existia antes entre José e Maria. O mensageiro diz claramente a José: «Não temas receber contigo Maria, tua esposa». Por conseguinte, aquilo que tinha acontecido anteriormente - os seus esponsais com Maria - tinha acontecido por vontade de Deus e, portanto, devia ser conservado. Na sua maternidade divina, Maria deve continuar a viver como «uma virgem, esposa de um esposo» (cf. Lc 1,27).
19. Nas palavras da «anunciação» noturna, José escuta não
apenas a verdade divina acerca da inefável vocação da sua esposa, mas ouve
novamente também a verdade acerca da própria vocação. Este
homem «justo», que, segundo o espírito das mais nobres tradições do povo
eleito, amava a Virgem de Nazaré e a ela se encontrava ligado por amor
esponsal, é novamente chamado por Deus para este amor.
«José fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu consigo a sua
esposa»; o que se gerou nela «é obra do Espírito Santo». Ora, de tais
expressões, não se imporá porventura deduzir que também o seu amor de
homem tinha sido regenerado pelo Espírito Santo? Não se imporá
porventura pensar que o amor de Deus, que foi derramado no coração humano pelo
Espírito Santo (cf. Rm 5,5),
forma do modo mais perfeito todo o amor humano? Ele forma também - e de maneira
absolutamente singular - o amor esponsal dos cônjuges, nele dando profundidade
a tudo aquilo que seja humanamente digno e belo e tenha as marcas da exclusiva
entrega, da aliança das pessoas e da comunhão autêntica, a exemplo de Mistério
Trinitário.
«José... recebeu consigo a sua esposa, a qual, sem que ele a
conhecesse, deu à luz um filho» (Mt 1,24-25). Estas palavras
indicam ainda outra proximidade esponsal. A profundeza desta proximidade, a
intensidade espiritual da união e do contato entre pessoas - do homem e da
mulher - provêm em última análise do Espírito que dá a vida (cf. Jo 6,63). José,
obediente ao Espírito, encontra precisamente nele a fonte do amor, do seu
amor esponsal de homem; e este amor foi maior do que aquele «homem justo»
poderia esperar, segundo a medida do próprio coração humano.
20. Na Liturgia, Maria é celebrada como tendo estado «unida a José,
homem justo, por um vínculo de amor esponsal e virginal» [31]. Trata-se, de
fato, de dois amores que, conjuntamente, representam o mistério da
Igreja, virgem e esposa, a qual tem no matrimônio de Maria e José o seu
símbolo. «A virgindade e o celibato por amor do Reino de Deus não só não se contrapõem
à dignidade do matrimônio, mas a pressupõem e confirmam. O matrimônio e a
virgindade são os dois modos de exprimir e de viver o único Mistério da Aliança
de Deus com o seu povo» [32], que é comunhão de amor entre Deus e os homens.
Mediante o sacrifício total de si mesmo, José exprime o seu amor
generoso para com a Mãe de Deus, fazendo-lhe «dom esponsal de si». Muito embora
decidido a afastar-se, para não ser obstáculo ao plano de Deus que nela estava
a realizar-se, por ordem expressa do anjo ele manteve-a consigo e respeitou a
sua condição de pertencer exclusivamente a Deus.
Por outro lado, foi do matrimônio com Maria que advieram para José a sua
dignidade singular e os seus direitos em relação a Jesus. «É certo que a
dignidade da Mãe de Deus chega tão alto que nada pode haver de mais sublime;
mas, por isso mesmo que entre a Santíssima Virgem a José foi estreitado o
vínculo conjugal, não há dúvida de que ele se aproximou como ninguém dessa
altíssima dignidade, em virtude da qual a Mãe de Deus ocupa lugar eminente, a
grande distância de todas as criaturas. Uma vez que o casamento é a comunidade
e a amizade máxima a que, por sua natureza, anda ligada a comunhão de bens,
segue-se que, se Deus quis dar José como esposo à Virgem, deu-lo não apenas
como companheiro na vida, testemunha da sua virgindade e garante da sua
honestidade, mas também para que ele participasse, mediante o pacto
conjugal, na sua excelsa grandeza» [33].
21. Tal vínculo de caridade constituiu a vida da Sagrada Família;
primeiro, na pobreza de Belém, depois, durante o exílio no Egito e, em seguida,
quando ela morava em Nazaré. A Igreja rodeia de profunda veneração esta
Família, apresentando-a como modelo para todas as famílias. A Família de
Nazaré, diretamente inserida no mistério da Encarnação, constitui ela mesma um
mistério particular. E ao mesmo tempo - como na EIncarnação - é a este mistério
que pertence a verdadeira paternidade: a forma humana da família do
Filho de Deus, verdadeira família humana, formada pelo mistério
divino. Nela, José é o pai: a sua paternidade, porém,
não é só «aparente», ou apenas «substitutiva»; mas está dotada
plenamente da autenticidade da paternidade humana, da autenticidade da
missão paterna na família. Nisto está contida uma consequência da união
hipostática: humanidade assumida na unidade da Pessoa divina do Verbo-Filho,
Jesus Cristo. Juntamente com a assunção da humanidade, em Cristo foi
também «assumido» tudo aquilo que é humano e, em particular, a família,
primeira dimensão da sua existência na terra. Neste contexto foi «assumida»
também a paternidade humana de José.
Com base neste princípio, adquirem o seu significado profundo as
palavras dirigidas por Maria a Jesus, no templo, quando ele tinha doze anos:
«Teu pai e eu andávamos à tua procura». Não se trata de uma frase convencional:
as palavras da Mãe de Jesus indicam toda a realidade da Encarnação, que
pertence ao mistério da Família de Nazaré. José, que desde o princípio aceitou,
mediante «a obediência da fé», a sua paternidade humana em relação a Jesus,
seguindo a luz do Espírito Santo que por meio da fé se doa ao homem, por certo
ia descobrindo cada vez mais amplamente o dom inefável desta sua
paternidade.
São José com o Menino Jesus (Vicente López Portaña) |
Notas:
[28] Orígenes, Hom. XIII in Lucam, 6: S. Ch. 87,
pp. 195-197.
[29] cf. Missale
Romanum, Prex Eucaristica I.
[30] Congregatio Sacrorum Rituum, Decreto Quemadmodum Deus: loc
.cit., p. 282.
[31] Collectio Missarum de Beata Maria Virgine, «Sancta Maria de Nazareth», Praefatio.
[32] Exortação Apostólica Familiaris consortio (22 de novembro
de 1981), n. 16: AAS 74 (1982), p. 98.
[33] Leão XIII, Carta Encíclica Quamquam pluries : loc
.cit., pp. 177-178.
[Atualização: Para acessar a terceira parte do Documento, com os nn. 22-32 (capítulos 04 a 06), clique aqui]
Fonte: Santa Sé
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