segunda-feira, 1 de março de 2021

Ângelus: II Domingo da Quaresma - Ano B

Papa Francisco
Ângelus
Domingo, 28 de fevereiro de 2021

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Este II Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar a transfiguração de Jesus no monte, diante de três dos seus discípulos (cfMc 9,2-10). Pouco antes, Jesus tinha anunciado que em Jerusalém sofreria muito, seria rejeitado e condenado à morte. Então podemos imaginar o que deve ter acontecido no coração dos seus amigos, daqueles amigos íntimos, dos seus discípulos: a imagem de um Messias forte e triunfante é posta em crise, os seus sonhos são destruídos, e são tomados pela angústia diante do pensamento de que o Mestre em quem tinham acreditado seria morto como o pior dos malfeitores. E precisamente naquele momento, com a angústia da alma, Jesus chama Pedro, Tiago e João, e leva-os consigo para o monte.

O Evangelho diz: «Conduziu-os ao monte» (v. 2). Na Bíblia, o monte tem sempre um significado especial: é o lugar elevado, onde o céu e a terra se tocam, onde Moisés e os profetas tiveram a extraordinária experiência do encontro com Deus. Subir ao monte significa aproximar-se um pouco de Deus. Jesus sobe com os três discípulos e param no cimo do monte. Ali, Ele transfigura-se diante deles. O seu rosto radiante e as suas vestes resplandecentes, que antecipam a imagem do Ressuscitado, oferecem àqueles homens assustados a luz, a luz da esperança, a luz para atravessar as trevas: a morte não será o fim de tudo, porque se abrirá para a glória da Ressurreição. Assim, Jesus anuncia a sua morte, leva-os ao monte e mostra-lhes o que acontecerá depois, a Ressurreição.

Como exclamou o Apóstolo Pedro (cf. v. 5), é bom estar com o Senhor no monte, viver a “antecipação” da luz no centro da Quaresma. É um convite a recordar-nos, especialmente quando passamos por uma provação difícil - e muitos de vós sabeis o que significa passar por uma provação difícil - que o Senhor ressuscitou e não permite que as trevas tenham a última palavra.

Às vezes acontece que passamos por momentos de escuridão na vida pessoal, familiar ou social, e temos medo que não haja uma saída. Sentimo-nos apavorados perante os grandes enigmas, como a doença, a dor inocente ou o mistério da morte. No mesmo caminho de fé, tropeçamos frequentemente face ao escândalo da cruz e às exigências do Evangelho, que nos pede para dedicar a vida ao serviço e para perdê-la no amor, em vez de guardá-la para nós próprios e de defendê-la. Então, precisamos de outro olhar, de uma luz que ilumine profundamente o mistério da vida e nos ajude a superar os nossos esquemas e os critérios deste mundo. Também nós somos chamados a subir ao monte, a contemplar a beleza do Ressuscitado que acende centelhas de luz em cada fragmento da nossa vida, ajudando-nos a interpretar a história a partir da vitória pascal.

Mas tenhamos cuidado: o sentimento de Pedro, de que «é bom para nós estar aqui», não deve tornar-se preguiça espiritual. Não podemos permanecer no monte e desfrutar sozinhos da bem-aventurança deste encontro. É o próprio Jesus que nos reconduz ao vale, entre os nossos irmãos e irmãs, à vida quotidiana. Devemos evitar a preguiça espiritual: estamos bem com as nossas orações e Liturgias, e para nós isto é suficiente. Não! Subir ao monte não quer dizer esquecer a realidade; rezar nunca significa evitar as dificuldades da vida; a luz da fé não serve para uma boa emoção espiritual. Não, esta não é a mensagem de Jesus! Somos chamados a experimentar o encontro com Cristo para que, iluminados pela sua luz, possamos propagá-la e fazê-la resplandecer em toda a parte. Acender pequenas luzes no coração das pessoas; ser pequenas lâmpadas do Evangelho que transmitem um pouco de amor e esperança: esta é a missão do cristão!

Oremos a Maria Santíssima, a fim de que nos ajude a receber com admiração a luz de Cristo, a preservá-la e a partilhá-la.

Transfiguração do Senhor - Ticiano
(Igreja do Santíssimo Salvador - Veneza)

Fonte: Santa Sé.

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