Retomando suas Catequeses sobre a oração após sua viagem ao Iraque, o Papa Francisco concluiu o tema da oração e a Trindade, iniciado no dia 03 de março (nn. 2664-2672 do Catecismo da Igreja Católica), detendo-se particularmente na Pessoa do Espírito Santo:
Papa Francisco
Audiência Geral
Quarta-feira, 17 de março de 2021
A oração (26): A oração e a Trindade (2)
Estimados irmãos e irmãs,
bom dia!
Hoje completamos a catequese sobre a oração como
relação com a Santíssima Trindade, em particular com o Espírito Santo.
O primeiro dom de cada existência cristã é o
Espírito Santo. Não é um dos muitos dons, mas o Dom fundamental.
O Espírito é o dom que Jesus prometeu enviar-nos. Sem o Espírito, não há
relação com Cristo e com o Pai. Porque o Espírito abre o nosso coração à
presença de Deus e atrai-o para aquele “vórtice” de amor que é o coração do
próprio Deus. Não somos apenas hóspedes e peregrinos no caminho sobre esta
terra, somos também hóspedes e peregrinos no mistério da Trindade. Somos como
Abraão, que um dia, acolhendo três caminhantes na sua tenda, encontrou Deus. Se
realmente podemos invocar Deus chamando-o “Abbá-Pai”,
é porque o Espírito Santo habita em nós; é Ele que nos transforma profundamente
e nos faz experimentar a alegria comovedora de sermos amados por Deus como
verdadeiros filhos. Todo o trabalho espiritual dentro de nós rumo a Deus é
realizado pelo Espírito Santo, este dom. Ele trabalha em nós para levar adiante
a nossa vida cristã rumo ao Pai, com Jesus.
A este propósito, o Catecismo diz:
«Todas as vezes que começamos a orar a Jesus, é o Espírito Santo que, pela sua
graça preveniente, nos atrai para o caminho da oração. Uma vez que Ele nos
ensina a orar lembrando-nos Cristo, como não orar-Lhe a Ele próprio? A Igreja
convida-nos, pois, a implorar cada dia o Espírito Santo, especialmente no
princípio e no fim de qualquer ato importante» (n. 2670). Esta é a obra do
Espírito em nós. Ele “recorda-nos” Jesus e torna-o presente a nós - podemos
dizer que é a nossa memória trinitária, é a memória de Deus em nós -, faz
presente a Jesus, para que não seja reduzido a um personagem do passado: isto
é, o Espírito traz Jesus ao presente na nossa consciência. Se Cristo estivesse
apenas distante no tempo, estaríamos sozinhos e desorientados no mundo. Sim,
recordaremos Jesus, lá, distante, mas é o Espírito que o traz hoje, agora,
neste momento ao nosso coração. Mas no Espírito tudo é vivificado: a
possibilidade de encontrar Cristo está aberta aos cristãos de todos os tempos e
lugares. Está aberta a possibilidade de encontrar Cristo não só como um
personagem histórico. Não: Ele atrai Cristo aos nossos corações, é o Espírito
que nos faz encontrar com Cristo. Ele não está distante, o Espírito está conosco:
Jesus ainda educa os seus discípulos transformando os seus corações, como fez
com Pedro, com Paulo, com Maria Madalena, com todos os Apóstolos. Mas por que
está presente Jesus? Porque é o Espírito que o traz a nós.
Foi a experiência que tantos orantes viveram:
homens e mulheres que o Espírito Santo formou segundo a “medida” de Cristo, na
misericórdia, no serviço, na oração, na catequese... É uma graça poder
encontrar pessoas assim: percebe-se que nelas pulsa uma vida diferente, o seu
olhar vê “além”. Não pensemos apenas em monges e eremitas; também os
encontramos entre pessoas comuns, pessoas que teceram uma longa história de
diálogo com Deus, em momentos de luta interior, que purifica a fé. Estas
humildes testemunhas procuraram Deus no Evangelho, na Eucaristia recebida e
adorada, no rosto do irmão em dificuldade, e conservam a sua presença como um
fogo secreto.
A primeira tarefa dos cristãos é precisamente
manter vivo este fogo, que Jesus trouxe à terra (cf. Lc 12,49), e qual é este fogo? É o amor, o
Amor de Deus, o Espírito Santo. Sem o fogo do Espírito, as profecias
extinguem-se, a tristeza suplanta a alegria, o hábito substitui o amor, o
serviço transforma-se em escravidão. Vem-me à mente a imagem da lâmpada acesa
ao lado do tabernáculo onde se conserva a Eucaristia. Até quando a igreja está
vazia e a cai noite, quando a igreja está fechada, aquela lâmpada permanece
acesa, continua a arder: ninguém a vê, mas arde perante o Senhor. Também o
Espírito no nosso coração está sempre presente como aquela lâmpada.
Encontramos novamente escrito no Catecismo:
«O Espírito Santo, cuja unção impregna todo o nosso ser, é o mestre interior da
oração cristã. É o artífice da tradição viva da oração. Há, é certo, tantos
caminhos na oração como orantes; mas é o mesmo Espírito que age em todos e com
todos. É na comunhão do Espírito Santo que a oração cristã é oração na Igreja»
(n. 2672). Muitas vezes acontece que não rezamos, não nos apetece rezar ou às
vezes rezamos como papagaios com a boca, mas o coração está ausente. Este é o
momento de dizer ao Espírito: “Vem, vem Espírito Santo, aquece o meu coração.
Vem ensinar-me a rezar, ensinar-me a olhar para o Pai, a olhar para o Filho.
Ensina-me como é o caminho da fé. Ensina-me a amar, e acima de tudo ensina-me a
ter uma atitude de esperança”. Trata-se de chamar continuamente o Espírito para
que esteja presente na nossa vida.
Portanto, é o Espírito que escreve a história da
Igreja e do mundo. Nós somos páginas abertas, disponíveis para receber a sua
caligrafia. E em cada um de nós o Espírito compõe obras originais, porque nunca
há um cristão que seja completamente idêntico a outro. No campo infinito da
santidade, o único Deus, Trindade de Amor, faz florescer a variedade das
testemunhas: todas iguais em dignidade, mas também únicas na beleza que o
Espírito quis conferir a cada um daqueles a quem a misericórdia de Deus tornou
seus filhos. Não esqueçamos, o Espírito está presente, está presente em nós.
Ouçamos o Espírito, chamemos o Espírito - é o dom, o dom que Deus nos deu - e
digamos-lhe: “Espírito Santo, não sei como é o teu rosto - não o sabemos - mas
sei que és a força, és a luz, és capaz de me fazer ir em frente e
de me ensinar a rezar. Vem Espírito Santo”. Esta é uma bonita oração, “Vem, Espírito
Santo”.
Fonte: Santa Sé
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